FCH_1 MIOLO FINAL[1].pdf - Universidade Católica Portuguesa
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A modernidade estética<br />
A .Modernidade .(alguns .aspectos) . .| 45 .<br />
A .divergência .que .tenho .procurado .ilustrar .entre .a .modernidade .social .<br />
e .a .modernidade .estética .não .é .compreensível .sem .retomarmos .a .questão<br />
.fundamental .da .autonomia da arte, .a .partir .das .perspectivas .modernas<br />
.ditadas .por .Kant .e .por .Hegel<br />
A .autonomia .da .arte .é .um .novo .conceito .que .separa .a .reflexão .sobre .<br />
“o .belo” .da .reflexão .sobre .“o .bom” .(ou .“o .bem”), .cortando, .assim, .com .uma .<br />
longa .tradição, .que .vem .pelo .menos .de .Platão .Este .corte .é .radicalizado .<br />
por .Baudelaire, .em .Les .Fleurs du mal .(1857), .e .é .parte .do .seu .escândalo .<br />
Esta .separação .entre .a .estética .e .a .moral .é .acompanhada .pela .emergência<br />
.da .questão .(crítica) .do .“julgamento .do .gosto”, .doravante .associado .<br />
à .avaliação .da .beleza .das .obras .de .arte .Hegel .acrescenta .ainda .o .conceito<br />
.de .autonomia .com .a .afirmação .da .superioridade .da .arte .em .relação<br />
.à .natureza, .estabelecendo .uma .separação .entre .o .“belo .artístico” .e .o .<br />
“belo .natural”, .ao .mesmo .tempo .que .funda .a .noção .de .“mundo .da .arte” .<br />
(retomada .nos .nossos .dias .por .Arthur .Danto, .por .exemplo): .“O .mundo .<br />
da .arte .é .mais .verdadeiro .do .que .os .mundos .da .natureza .e .da .história” .<br />
(Hegel .2003, .42)<br />
O .primeiro .estudo .das .relações .entre .a .arte .e .a .modernidade .é .feito .<br />
por .Baudelaire, .em .1863, .numa .série .de .artigos .publicados .no .jornal .Le<br />
Figaro, .de .Paris, .sob .o .título .“O .pintor .da .vida .moderna”, .embora .as .suas .<br />
reflexões .sobre .a .questão .remontem .ao .“Salon .de .1846” .O .próprio .termo .<br />
modernité .é .aí .usado .pela .primeira .vez .num .sentido .positivo .e .em .ligação<br />
.com .a .experiência .da .vida .urbana 15 .Mas .antes .ainda .de .formulado, .<br />
o .conceito .de .modernidade .começa .a .definir-se .na .escolha .que .Baudelaire<br />
.faz .do .material .que .serve .de .pretexto .(realmente, .de .pré-texto) .ao .<br />
seu .objecto .de .reflexão: .um .conjunto .de .gravuras, .de .desenhos .e .esboços,<br />
.de .Constantin .Guys, .sobre .a .vida, .as .figuras .e .os .costumes, .da .cidade .<br />
de .Paris<br />
A .modernidade .tem .um .espaço .único: .a .cidade .A .cosmopolis .moderna, .<br />
a .grande .metrópole, .é .um .espaço .dominado .pelo .movimento .incessante,<br />
.pela .velocidade .crescente, .pela .fugacidade .das .relações .huma-<br />
15 A .palavra .aparece, .em .1848, .nas .Mémoires d’outre‑tombe, .de .Chateaubriand, .mas .em .sentido .<br />
depreciativo .e .sem .ligação .ao .mundo .da .arte