Cultura e globalização – incentivo à análise crítica dos ... - serex 2012
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<strong>Cultura</strong> e <strong>globalização</strong> <strong>–</strong> <strong>incentivo</strong> <strong>à</strong> <strong>análise</strong> <strong>crítica</strong> <strong>dos</strong><br />
meios de comunicação de massa.<br />
FRUTUOSO, Tomé de Pádua 1 .<br />
Palavras-chave: Televisão; <strong>Cultura</strong> de massas; Globalização.<br />
Introdução<br />
A valorização da cultura local, bem como a reafirmação da identidade, são<br />
ambições necessárias para que haja uma consciência coletiva de resistência e,<br />
simultaneamente, de progresso civilizador. Isso quer dizer que a comunidade é um<br />
organismo vivo e que suas práticas sociais, culturais e espaciais são próprias e<br />
adaptáveis de acordo com a necessidade local.<br />
Contudo, devemos sempre ter em mente uma definição de cultura que<br />
funcione ao menos como um orientador para a investigação. Roque de Barros Laraia<br />
(2006) nos dirá que cultura é tudo aquilo que não é natural ou biológico, ou seja,<br />
tudo aquilo que é produzido pela cognição, tudo que é processado pelo intelecto e<br />
transformado em signos, em linguagem. Este trabalho tem por objetivo Introduzir o<br />
debate sobre a influência da <strong>globalização</strong> e do capitalismo na cultura local, bem<br />
como, fomentar o olhar crítico por parte do participante em relação aos conteú<strong>dos</strong> de<br />
mídia que lhe são apresenta<strong>dos</strong> e mostrar a influência do modelo cultural dominante.<br />
Metodologia<br />
Esta atividade foi aplicada no Itapoã, Região Administrativa do Distrito<br />
Federal, no dia 26 de novembro de 2011, em um trabalho de campo do Núcleo do<br />
Projeto Rondon da Universidade de Brasília; a atividade foi iniciada com uma<br />
dinâmica em que foram mostradas algumas imagens de personagens do filme O Rei<br />
Leão e os participantes deveriam escolher os personagens que achavam bonitos e<br />
os que achavam pareci<strong>dos</strong> em algo com eles mesmos.<br />
A escolha desse filme foi feita devido <strong>à</strong> sua grande difusão televisiva e<br />
subsequente popularidade; por ser um filme acessível <strong>à</strong> maior parte da população,<br />
no nosso entendimento, sua <strong>análise</strong> pôde ser feita com maior facilidade.<br />
1 Universidade de Brasília <strong>–</strong> tomedepadua@hotmail.com
As imagens são:<br />
Os participantes escolheram os personagens “bons” do filme como os mais<br />
bonitos e apenas um deles relacionou a própria imagem com a do vilão do filme, por<br />
relacionar com semelhanças físicas. A partir dessa escolha, questionamos o motivo<br />
das suas escolhas e eles não souberam responder muito bem o porque.<br />
Tratamos com eles, nesse ponto, sobre a influência da mídia em nossa<br />
percepção de coisas simples, como o belo e o feio. Depois de assistir dois trechos<br />
do filme (trecho em que Mufasa mostra o reino para Simba, e o trecho em que Scar<br />
aparece com a tropa de hienas) com mais atenção, pudemos distinguir alguns<br />
padrões, simbolismos e estereótipos presentes na caracterização das personagens.<br />
Como poderemos ver a seguir.<br />
Mufasa Scar<br />
Resulta<strong>dos</strong> e discussões<br />
Mostramos que a personagem do rei imponente, Mufasa, caracterizado por<br />
cores quentes, sua grande juba simbolizando uma coroa transmitia leveza e beleza;<br />
enquanto seu irmão Scar tem feições mais magras e angulosas, lembrando feições<br />
conhecidas como demoníacas, demonstrando também não ter força; sua pele mais
escura, suas orelhas grandes, comparadas <strong>à</strong>s de Mufasa e seus cabelos negros que<br />
nem parecem muito com uma juba, afastando-o da figura do leão como sendo o “rei<br />
das selvas”, pois, mesmo sendo leão, sua imagem é transmitida para não ser<br />
associada <strong>à</strong> da realeza, nem da força.<br />
Nesse caso, a figura de Mufasa poderia ser associada <strong>à</strong> população branca<br />
devido aos seus cabelos lisos e bem pentea<strong>dos</strong> e suas feições suaves, enquanto <strong>à</strong><br />
figura de Scar poderia ser associada <strong>à</strong> figura de uma pessoa parda ou negra, se<br />
levada em consideração a cor do cabelo. “O desenho de Mufasa transmite a<br />
mensagem de bom pai, de bom rei, que sabe transmitir bons aconselhamentos, já o<br />
de Scar transmite maldade e inveja.” (Maia, 2008, p. 94). Exemplo que também pode<br />
ser seguido no caso das hienas.<br />
Hienas<br />
“a imagem que as hienas transmitem no imaginário coletivo é puramente<br />
mundana, não há nela nenhuma transcendência, como há no caso <strong>dos</strong> leões.”<br />
(Maia, 2008, p. 96). No filme, os leões se preocupam com a continuidade do reino,<br />
da espécie; Mufasa conversa com Simba sobre o ciclo da vida, enquanto as hienas<br />
só se preocupam em comer, sem parecer se importar com “algo maior”.<br />
Com esses exemplos, pudemos fomentar o desenvolvimento crítico do<br />
morador sobre a influência da mídia em seu cotidiano, não passando um juízo de<br />
valor, mas fazendo com que o mesmo adquira capacidade para interpretar os fatos e<br />
se posicionar da maneira que lhe for conveniente. Eles puderam ver o que é<br />
transmitido implicitamente para seus filhos quando veem filmes; indiretamente, os<br />
espectadores que não se enquadram no estereótipo <strong>dos</strong> personagens “bonitos” são<br />
associa<strong>dos</strong> <strong>à</strong> maldade e perversidade, não sendo, a exemplo do filme, permitido<br />
viver no mesmo local que as personagens “bonitos”.<br />
Mostramos como um filme pode nos influenciar a seguir uma determinada<br />
organização social; se não nos enquadramos nessa organização, somos excluí<strong>dos</strong>.
“Os sistemas de comunicação em tempo real determinam a estrutura de<br />
organização do planeta.” (Mattelart, 2000, p. 12). Essa organização está<br />
demonstrada no filme O Rei Leão que, de forma implícita, nos direciona a seguir a<br />
organização nele proposta.<br />
Usamos esse filme como um exemplo do que nos é exposto o tempo todo,<br />
através <strong>dos</strong> jornais, da televisão, de revistas, etc.<br />
Usamos o gancho do filme para abordar a questão da <strong>globalização</strong>, de como<br />
a cultura de um lugar distante, geograficamente, pode influenciar nossa forma de<br />
pensar. Como os participantes eram adultos e dois deles tinham filhos, salientamos<br />
a importância do acompanhamento <strong>dos</strong> pais no cotidiano <strong>dos</strong> filhos, de saber o que<br />
eles assistem, pois, isso pode influenciar diretamente na sua formação como<br />
cidadão.<br />
Conclusões<br />
Por meio do filme, ressaltando sua carga simbólica, pudemos explicar o que é<br />
o modelo econômico capitalista, como se articula e suas influências no cotidiano.<br />
Mostramos<br />
que o filme reproduz alguns traços da cultura norte americana, e que essa cultura<br />
nos é repassada como se fosse autenticamente nossa.<br />
A discussão sobre a influência da mídia no nosso cotidiano nem sempre faz<br />
parte do mesmo; é imprescindível que, cada vez mais, seja discutido o modo como a<br />
cultura popular muitas vezes dá lugar <strong>à</strong> uma cultura alóctone que se sobrevive em<br />
detrimento de manifestações singulares que, muitas vezes, não são vistas.<br />
Referências Bibliográficas<br />
LARAIA, Roque de Barros. <strong>Cultura</strong>: um conceito antropológico. Jorge Zahar,<br />
2006.<br />
MAIA, Tadeu Queiroz. Sobre filmes infantis e linguagem audiovisual: o caso d’O<br />
Rei Leão. 2008. 129 f. Dissertação (Mestrado em educação) Universidade de<br />
Brasília, Brasília, 2008.<br />
MATTELART,Armand. A <strong>globalização</strong> da comunicação/Armand Matttelart;<br />
tradução Laureano Pelegrin. - - Bauru,SP: EDUSC, 2000.<br />
SANTOS, Milton. A urbanização desigual. Petrópolis: Vozes, 1980.