ESE Jean Piaget - joraga
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ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO <strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong><br />
Almada<br />
Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas<br />
em<br />
Animação Sociocultural<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico<br />
Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
Tema:<br />
MÉRTOLA<br />
A TRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE DE UM POVO<br />
Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58<br />
Corroios<br />
Março de 2003
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO <strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong><br />
Almada<br />
Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico<br />
Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
Tema:<br />
MÉRTOLA<br />
A Tradição Oral na Identidade de um Povo<br />
Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58<br />
Mértola – “um esporão rochoso” que se ergue entre-ambas-as-águas “aberto aos mares do Sul” ou<br />
O Penedo húmido (em que se transformou NÍOBE) donde correm, constantemente, dois rios de lágrimas, para o grande Mar...<br />
Março de 2003<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Trabalho no âmbito do Curso:<br />
Qualificação Para o Exercício de<br />
Outras Funções Educativas em -<br />
Animação Sociocultural - Disciplina:<br />
Gestão de Espaços Culturais e<br />
Património Histórico – leccionada<br />
pelo Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
PENSAMENTO<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Título A Tradição Oral na Identidade de um Povo –<br />
Área de Estudo - Mértola<br />
Autora Maria de Fátima da Vinha Borges – Aluna nº 58<br />
ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO<br />
<strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong> – Almada – Março de 2003<br />
«Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e<br />
as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 1<br />
Miguel Torga:<br />
1<br />
TORGA, Miguel (1986). “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed. (pp. 27 – 44),<br />
Coimbra: Gráfica de Coimbra.<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Índice breve – relação entre os TEMAS abordados e as RECOLHAS em ANEXO<br />
Índice do desenvolvimento do tema Índice dos ANEXOS – Colectânea de textos<br />
A Tradição Oral na Identidade de um Povo 2<br />
Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO<br />
ORAL na Identidade de um Povo: 5<br />
ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS<br />
6<br />
0. – INTRODUÇÃO 7<br />
1. FALAM OS MESTRES 9 71<br />
1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de<br />
Colonização...16<br />
78<br />
2. - Mértola – os Nomes 20 81<br />
2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo<br />
NOME 20<br />
82<br />
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-<br />
86<br />
latina 20<br />
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-<br />
86<br />
latina 21<br />
2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as<br />
Freguesias e Lugares.22<br />
88<br />
2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais<br />
numerosos e raros. 24<br />
97<br />
2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um<br />
98<br />
mundo delicado, pouco estudado... 26<br />
2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a<br />
104<br />
Flora... 27<br />
PEIXES 28 105<br />
AVES 30 107<br />
Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto<br />
sobre as AVES 31<br />
109<br />
2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS<br />
COMIDAS.. 32<br />
115<br />
Saudações, formas de tratamento... 32 115<br />
3. – Outras Formas de Expressão 36 119<br />
3.1 – LENDA/s 37 120<br />
3.1.1 – Mitologia Greco-Latina 42 141<br />
3.2 – CONTO/s 44 166<br />
3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem:-<br />
Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...<br />
47<br />
176<br />
3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas –<br />
Orações..50<br />
179<br />
3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS 55 202<br />
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as<br />
outras 58<br />
220<br />
Conclusão 61<br />
BIBLIOGRAFIA 62<br />
BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso<br />
Brasileira de Cultura – in Mértola: 62<br />
BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos<br />
da Tradição Oral – Literatura Popular e Informação<br />
complementar, como alguns dados sobre a<br />
MITOLOGIA GRECO LATINA: 64<br />
BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas<br />
e Outras Publicações Periódicas 66<br />
BIBLIOGRAFIA - 4. Artigos do Professor in Vilas e<br />
Cidadades 68<br />
MULTIMEDIA: 68<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO ORAL na Identidade de um Povo:<br />
- 0 - Introdução<br />
- PLANO D<strong>ESE</strong>NVOLVIDO a partir do MATERIAL que foi possível recolher e<br />
organizar:<br />
- 1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o<br />
PATRIMÓNIO.<br />
- 1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização...<br />
- 2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES:<br />
- 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e<br />
- 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina<br />
- 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...<br />
- 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...<br />
- 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado...<br />
- 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...<br />
- 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: Comidas - Saudações, formas de<br />
tratamento...<br />
- 3. – Outras Formas de Expressão<br />
- 3.1 – LENDA/s<br />
- 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO...<br />
- 3.2 – CONTO/s<br />
- 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...<br />
- 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...<br />
- 3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS<br />
- 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...<br />
Conclusão<br />
- Bibliografia –<br />
1. citada na Verbo e C. Arq. M –<br />
2. Fontes das Recolhas Lit Pop. e Mitos –<br />
3. Artigos em diversas Publicações e<br />
4. Artigos do Dr. Francisco Jacinto, Professor da Cadeira...<br />
4. MULTIMÉDIA.<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS<br />
para desenvolvimento de cada item do TEMA proposto... e portanto com o ESQUEMA em<br />
SINTONIA ou CONTRAPONTO com os diversos CAPÍTULOS...<br />
- 1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o<br />
PATRIMÓNIO.<br />
- 1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização...<br />
- 2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES:<br />
- 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e<br />
- 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina<br />
- 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...<br />
- 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...<br />
- 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado...<br />
- 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...<br />
- 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: Comidas - Saudações, formas de<br />
tratamento...<br />
- 3. – Outras Formas de Expressão<br />
- 3.1 – LENDA/s<br />
- 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO...<br />
- 3.2 – CONTO/s<br />
- 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...<br />
- 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...<br />
- 3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS<br />
- 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...<br />
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0. – INTRODUÇÃO<br />
Ser alentejana será sempre motivo de orgulho. Continuo a sonhar em voltar para o Alentejo pois<br />
só aí me sinto em “casa”. A forma de estar da minha gente, o nosso modo de falar são realmente<br />
o que me fascina.<br />
Em MÉRTOLA vivi um ano, sentei-me à mesa com as gentes do lugar e fui acolhida como filha<br />
da terra.<br />
Fazer um trabalho sobre Mértola, para mim só faz realmente sentido se poder partilhar estes<br />
encantos que passam despercebidos aos que por lá passam mas servem de motivo de anedotas<br />
para muitos que não sabem lêr o que nós dizemos.<br />
Pretendo com este trabalho fazer a PROPOSTA – sugestão da criação de um CDI (Centro de<br />
Documentação Investigação e Divulgação)... Mértola tem muitos museus mas ainda não existe<br />
um espaço que dê voz às gentes do lugar, onde os mais velhos divulguem junto dos mais novos e<br />
ao “vivo” as suas tradições, as suas lendas enfim o testemunho vivo da nossa forma de falar e de<br />
nos expressarmos.<br />
Em relação a este trabalho considero-o um trabalho rico especialmente pela trabalhosa e<br />
inesperada RECOLHA de diversificadas manifestações da TRADIÇÃO ORAL –<br />
LITERATURA POPULAR que vai em ANEXO e pode parecer desproporcionada em relação ao<br />
trabalho... e por isso a apresento como COLECTÂNEA DE TEXTOS, que foi possível recolher,<br />
como base e/ou contributo para um trabalho mais desenvolvido a realizar por quem seja e esteja<br />
mais habilitado do que eu....<br />
O trabalho em si, vai consistir na transcrição de um ou outro exemplo de cada FORMA de<br />
EXPRESSÃO, tentando ver em cada uma as manifestações da Identidade duma região –<br />
Mértola... Inserida no Alentejo e vizinha e fronteira e ligada pelo rio ao Algarve...<br />
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Os exemplares recolhidos, que são necessariamente limitados, deixam o campo aberto para<br />
futuras recolhas e fica como desafio a outros mais competentes e mais ligados ao ambiente que<br />
possam desenvolver este trabalho...<br />
Julgo que pode ser uma maneira “fabulosa” de envolver cada vez mais gente da população no<br />
projecto local que já leva duas décadas de iniciativas notáveis...<br />
Corroios, Fevereiro de 2003<br />
Maria de Fátima da Vinha Borges<br />
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1. FALAM OS MESTRES<br />
Da Importância dos NOMES e de conhecer a Identidade de um Povo...<br />
O que caracteriza a Identidade de um Povo na Literatura (Oral) Popular...<br />
Um pouco de Teoria como referência... de J. Leite a Viegas Guerreiro, de Zaluar Nunes, a<br />
Francisco Jacinto... como fundamentação teórica para justificar a importância ou a falta de<br />
importância que é dada à tradição oral na identidade de um povo.<br />
Este trabalho talvez se pudesse chamar – NOMINALIA – uma palavra latina, usada no plural,<br />
que nos dicionários de Latim significa, simplesmente, «Dia solene em que se punha o NOME a<br />
uma criança.» mas que evoca os dias de festa para celebrar os NOMES, como as conhecidas<br />
BACCHANALIA – as festas em honra de Baco... a princípio só destinadas às Bacantes, mas<br />
que, depois de abertas a homens se transformaram em “bacanais” de tal maneira que tiveram de<br />
ser interditas pelo Senado em 186 a. C..<br />
Definição da Gramática do Português Contemporâneo:<br />
- A LÍNGUA... A FALA...<br />
«Expressão da consciência de uma colectividade, a LÍNGUA é o meio por que ela concebe o<br />
mundo que a cerca e sobre ele age. Utilização social da faculdade da linguagem, criação da<br />
sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à<br />
do organismo social que a criou.» 2<br />
Epicteto citado por Mesquitela Lima:<br />
«O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca<br />
das coisas.» Epicteto – Daí a importância de chamar as “coisas” ou os “bois” pelos nomes e de<br />
sabermos quem e como foi dado um determinado NOME e o que significa. Se conseguirmos<br />
saber o NOME das “coisas”, estamos a entrar no mundo da Cultura Humana «Aquela que estuda<br />
2 CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley (1985). - Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa: Ed. João Sá da<br />
Costa.<br />
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a CULTURA integrada nas relações, nas constelações de relações que os homens tecem entre<br />
si.», como nos diz Mesquitela Lima. 3<br />
Fernão Lopes: In PRÓLOGO da PRIMEIRA PARTE DA «CRÓNICA DE EL-REI D.<br />
JOÃO I DE BOA MEMÓRIA»:<br />
Para justificar o empenho que vai pôr na sua maneira de contar a História tentando relatar tudo<br />
com objectividade, Fernão Lopes, neste Prólogo, explica porque é que os outros historiadores<br />
erravam tão facilmente: é que a sua maneira de pensar estava de tal maneira ligada à Cultura, à<br />
Terra, aos Parentes, aos Senhores... que erravam quase sem querer!!!<br />
«Grande licença deu a afeição a muitos que tiveram cárrego de ordenar histórias, mormente dos<br />
senhores em cuja mercê e terra viviam e hu foram nados seus antigos avós, sendo-lhe muito<br />
favoráveis no recontamento de seus feitos.»<br />
Ver citação mais completa em ANEXOS 1.<br />
Gil Vicente:<br />
Toda a obra do genial Mestre do Teatro em Portugal assenta num conhecimento profundo da<br />
cultura popular, adágios, maneiras de ser e pensar, usos e costumes do povo.<br />
Miguel Torga:<br />
«Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e<br />
as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 4<br />
Cláudio Torres:<br />
«Proteger as tradições artesanais é também impedir que a nossa escola continue a insultar<br />
aqueles a quem chama “analfabetos” corrigindo o seu falar, o seu gosto e a sua cultura para<br />
impor o modelo dominante de Lisboa – Cascais.» Cláudio Torres 5 .<br />
Francisco Jacinto 6 :<br />
3<br />
LIMA, Mesquitela (1983).- Antropologia do Simbólico (ou o Simbólico da Antropologia), Lisboa: Editorial<br />
Presença.<br />
4<br />
TORGA, Miguel (1986). “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed. (pp. 27 – 44),<br />
Coimbra: Gráfica de Coimbra.<br />
5<br />
TORRES, Cláudio et allii, Mantas Tradicionais do Baixo Alentejo, (Ângela Luzia – Isabel Magalhães) –,<br />
Caderno N.1 - Campo Arqueológico de Mértola – Edição da Câmara Municipal de Mértola, Abril de 1984.<br />
6<br />
JACINTO, Francisco – “Património Cultura Memória Social – O passado preservado no presente” in «VILAS E<br />
CIDADES» Ano IV - Mensal N.º 40 – Fevereiro / 2000.<br />
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Cita Carlos Antero Ferreira: «A ideia de defesa e salvaguarda do património cultural radica na<br />
convicção, cada vez mais alargada e generalizada, de que a manutenção das expressões do<br />
passado histórico é um dos mais relevantes factores de continuidade na construção da memória<br />
colectiva dos povos, concorrendo para a definição e a fixação da identidade social e cultural.»<br />
Acrescenta depois a ideia de património imaterial e cultura:<br />
«Assim sendo, a noção de património está – ainda que mais “vagamente” – ligada à ideia de<br />
cultura imaterial (crenças, lendas, tradições, contos e, dum modo geral, a tudo o que é<br />
transmitido por via oral ou integra um conjunto de valores vividos e assumidos por uma<br />
sociedade ou por grupos dela constituintes.»<br />
Será importante ver neste artigo a visão do autor, como as alusões ao antropólogo Jorge Dias,<br />
Helder Pacheco; a evocação de Heródoto «... e a forma como ele entendia a “história”... um<br />
património não só digno de ser preservado como transmitido aos vindouros.»; fala ainda de<br />
Nuno Santos Pinheiro e de José Mattoso para nos dizer o que se deve entender por património e<br />
da necessidade de «... o concurso, em pé de igualdade, da interdisciplinaridade das ciências.»<br />
Ver também José Rabaça Gaspar: (Citação mais completa a consultar in ANEXO 1.)<br />
In IV Jornadas da <strong>ESE</strong>/Beja, 2 de Junho de 1995 - A «LITERATURA (CULTURA)<br />
TRADICIONAL) e o Desenvolvimento e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO<br />
DE CULTURA /D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO» in Revista da Escola superior de Educação de Beja –<br />
LER EDUCAÇÃO – N.º 17 7 18 – Março Dezembro de 1995 – pp. 167 - 220<br />
A Literatura (Cultura) Tradicional é, terá de ser, a base, raiz e condição de um desejável,<br />
correcto e eficiente D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO.<br />
DELGADO:<br />
Manuel Joaquim Delgado in “A ETNOGRAFIA E FOLCLORE - BAIXO ALENTEJO”, 1ª<br />
ed. 1957/58, como separata da Revista “Ocidente”, 2ª Ed. da Assembleia distrital de Beja, 1985,<br />
cito apenas, da p.17:<br />
“Necessidade da criação de uma cadeira de folclore nas Escolas do Magistério Primário, dado<br />
o valor Cultural e formativo que esse ramo do saber humano pode e deve desempenhar nas<br />
Escolas Primárias.”<br />
J. L. Vasconcellos:<br />
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De José Leite de Vasconcelos, in “ETNOGRAFIA PORTUGUESA - Tentame de<br />
Sistematização” - vol. I, p. 328, 343, ed. da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1980 (em<br />
1985 já estava publicado o VII vol.), algumas citações e um apanhado do que parece mais<br />
gritante e era urgente fazer na 2ª metade do séc. XIX e na 1ª do século XX. (07/07/1859 -<br />
17/05/1941) (Em 41, com 82 anos ainda escreve o prefácio do III vol. do Cancioneiro).<br />
O essencial do que se vai transcrever, já o mestre o tinha escrito 1882 e 1919.<br />
(Perante estas afirmações de um Mestre consagrado, não será de admirar a importância que não<br />
se tem dado a estes temas?...)<br />
«A necessidade / imperativo de estudar as manifestações de um Povo nasce da “máxima antiga:<br />
, isto é, nosce te ipsum” - conhece-te a ti próprio. Se isto é importante como base<br />
para todo o desenvolvimento individual, “maior aplicação tem” no que diz respeito “a um Povo,<br />
olhando no seu conjunto: apreciar como ele interpreta a Natureza que o rodeia, qual a<br />
vivacidade ou torpor do seu engenho, a feição e grau de vitalidade da sua literatura, arte e<br />
indústria tradicionais, as suas aptidões, génio, tendências religiosas, manifestações psíquicas<br />
expontâneas, como julga os povos que o convizinham, ou como se considera a si próprio com<br />
relação aos outros; o que são para ele a família e a sociedade; como é que ama, e como é que<br />
odeia.” ... Tudo isto é fundamental para quem tenha de, verdadeiramente, penetrar no espírito<br />
das sociedades. através do vocabulário usual, relatos do quotidiano, como reflexo da vida<br />
normal, podem conhecer-se as pessoas... Aí têm de ir a Etnografia e a Filologia de mãos<br />
dadas.»<br />
Diz ainda o Mestre: «Empenhemo-nos por isso na investigação das tradições populares;<br />
façamos reviver ou conservemos as que forem úteis; rejeitemos ou substituamos as que forem<br />
más; e em todo o caso, estudemos tudo,...».<br />
ZALUAR NUNES:<br />
Para nos atrevermos a desenvolver qualquer abordagem à LITERATURA POPULAR torna-se<br />
indispensável conhecer os estudos daqueles que seguiram o grande MESTRE J. L. Vasconcellos:<br />
Ver – Maria Arminda Zaluar Nunes – O CANCIONEIRO POPULAR EM PORTUGAL –<br />
Instituto de Cultura Portuguesa – M. E. C. – Secretaria de Estado da Cultura – Julho de 1978;<br />
VIEGAS GUERREIRO.<br />
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Manuel Viegas Guerreiro – PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA -<br />
Instituto de Cultura Portuguesa – M. E. C. – Secretaria de Estado da Cultura – Março de 1983;<br />
para se não falar do ABC das REGRAS elementares e do respeito devido às populações a<br />
contactar, de qualquer um que se atreva a meter nestas andanças que é:<br />
de Manuel Viegas Guerreiro – GUIA DE RECOLHA DE LITERATURA POPULAR, Lisboa,<br />
Ministério da Educação e investigação Científica, 1976. – é neste ponto e recomendações do<br />
Mestre que, como se explica à frente, este trabalho peca, por não se estar integrado, nem<br />
relacionado com a população de Mértola e com quem está a desenvolver iniciativas notáveis para<br />
o seu desenvolvimento.<br />
Entretanto, apoiado-se no pensamento destas autoridades na matéria e outras citadas em ANEXO<br />
1, este tema:<br />
A TRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE DE UM POVO pretende ser uma sugestão para o<br />
desenvolvimento de um trabalho que complemente e de certa maneira dê sentido a TODO o<br />
notável e profundo trabalho de escavações, investigação e divulgação que tem sido notória e<br />
notavelmente desenvolvido desde 1979 pelo Campo Arqueológico de Mértola.<br />
Não pretende ser uma descoberta genial!!! Estamos convencidos que os mentores e obreiros<br />
desse enorme projecto têm constantemente em mente isto mesmo que aqui propomos e de certa<br />
maneira o vão desenvolvendo e apresentando como se pode verificar pela imensa bibliografia...<br />
Ao ser-nos proposta, nesta Cadeira – Gestão dos Espaços Culturais e Património Histórico, do<br />
Professor Dr. Francisco Jacinto, um trabalho sobre Mértola, e constatando o que se tem feito e<br />
dito, a primeira reacção foi: - porquê mais um estudo sobre uma zona que já tem tantos<br />
especialistas e trabalho realizado; porque não dar atenção a outras zonas mais carenciadas?! Mas,<br />
por fim, ao olhar para o conjunto bem estruturado de Núcleos e Actividades já existentes,<br />
pareceu-nos que este, sobre a tradição oral, seria um contributo com algum préstimo.<br />
UM RISCO ASSUMIDO:<br />
Corremos um sério risco e estamos perfeitamente conscientes dele. Contrariando todas as<br />
indicações e lições de vários Mestres, em especial Viegas Guerreiro, no seu «Guia de Recolhas<br />
de Literatura Popular», este é precisamente o TEMA que não deve, nem poderia ser levado a<br />
cabo por pessoas que não estejam fortemente integradas na região, no local, nos seus envolventes<br />
e por conseguinte, se possível, com raízes ou ligações significativas a Mértola e sua Região.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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Porque o fazemos apesar disso? Porque, para nós está a ser um desafio interessante e desafiador<br />
e porque nos pareceu que pode ser um contributo válido a ser continuado e desenvolvido pelas<br />
Pessoas ou Entidades adequadas e competentes. Sem grandes ligações directas com Mértola, a<br />
partir das primeiras investigações que nos pareceram um “deserto” sobre Literatura Popular<br />
relacionada com Mértola, a partir de certa altura e com a contribuição de muitos colegas e<br />
amigos, pareceu-nos, já no final do ano 2002, ter “material” rico em diversidade e quantidade e<br />
até certa qualidade, para nos permitir um CONTRIBUTO que pode ser útil.<br />
É esta, tão só, a nossa pretensão. Um trabalho que nos permitiu uma difícil e proveitosa<br />
investigação... Um trabalho que julgamos ÚTIL e pode ser APROVEITADO pelos seus<br />
legítimos, indiscutíveis e inalienáveis herdeiros e proprietários que são os Habitantes de Mértola<br />
e as Pessoas que investiram e investem o seu saber, labor e vida num Projecto cujas dimensões<br />
não sabemos nem temos a pretensão de avaliar, nem muito menos ajuizar.<br />
Esperamos, um dia, poder partilhar convosco, um SERÃO de CONVÍVIO no CDI – ou o<br />
equivalente que vier a ser criado ou que já estará a funcionar...<br />
– Os exemplos apresentados para caracterizar a Identidade de um Povo na Literatura Popular –<br />
apresentados por Manuel Viegas Guerreiro, nessa obra, foram:<br />
- O Conto -- A Anedota - - A Lenda - - O Romance - - As Décimas - - As Cantigas - - As<br />
Adivinhas - - Os Provérbios - - Os Ensalmos - - A Oração.<br />
À medida que fomos desenvolvendo o trabalho e fomos pesquisando e encontrando exemplos<br />
que pudessem ilustrar aquilo que nos propusemos no título:<br />
ATRADIÇÃO ORAL NA IDENTIDADE CUTURAL DE UM POVO<br />
Pouco a pouco, foi-se-nos impondo uma organização diferente, de modo a que o texto a<br />
apresentar nesta cadeira:<br />
No Curso:<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico<br />
Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural<br />
Ministrado na:<br />
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ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO <strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong><br />
Almada<br />
aparecesse de uma maneira mais lógica e fluente de modo a chegar a uma conclusão, que, como<br />
que se impõe por si, e, segundo nos parece, dentro do espírito que norteia não só a disciplina<br />
ministrada pelo Professor Francisco Jacinto, como também o do curso em Animação<br />
Sociocultural.<br />
Daí a alteração do esquema inicial que apresentámos no PLANO DE TRABALHO e<br />
confirmámos na INTRODUÇÃO e agora passamos a explicar melhor para que todo o<br />
desenvolvimento tenha uma sequência mais compreensível.<br />
A proposta – sugestão da criação de um Centro de Convívio (CDI ou outro nome) que implicasse<br />
a participação activa da população com eventuais convidados “estramgeiros”, abrangendo os<br />
diversos níveis etários e onde os “velhos” teriam o seu lugar de “sábios” ou de guardiões dos<br />
saberes acumulados, e a FALA , a oralidade, como ALMA de um POVO, tivesse o papel<br />
principal, visto por mim, a esta distância, e como não mertolense, e como trabalho académico,<br />
creio que seria, mais uma maneira interessante de levar TODA A POPULAÇÃO a sentir-se<br />
envolvida no conjunto desse “fabuloso” projecto que, desde 1979, com o Campo Arqueológico<br />
de Mértola, tem desenvolvido uma notável série de realizações que pode pôr Mértola, de novo,<br />
na encruzilhada das vias do futuro.<br />
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1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de Colonização...<br />
Ver Delgado, Cláudio Torres, Mattoso (História) e Rabaça (Linguística) - “ O que perturba e<br />
alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.” –<br />
Epicteto<br />
ANEXO 3 – MARCAS DE COLONIZAÇÃO<br />
Delgado:<br />
In - Estudos Linguísticos – o Idioma Português – Manuel Joaquim Delgado – Editorial Império,<br />
L.da Lisboa 1968, p. 111<br />
Sobre o nome ALENTEJO de marca colonialista e outros nomes...<br />
1 Na citada obra (Religiões da Lusitânia, Cap. I - Época Lusitano-Romana, vol. III) de J. L. de<br />
Vasconcelos da pág. 138, diz:<br />
«Entre-Tejo-e-Guadiana ou Entre-Tejo-e-Odiana é designação geográfica usada pelos nossos<br />
antigos AA. e corresponde pouco mais ou menos à do Alentejo no sentido primitivo da expressão<br />
(=além-Tejo). Os antigos costumavam designar muito naturalmente as zonas geográficas pelos<br />
nomes dos rios».<br />
Ver, sobre o mesmo tema, NOTA 2, p. 104 – 2 Região Entre-Tejo-e-Guadiana.<br />
Idem p. 106<br />
«Alguns termos que designam cargos, postos ou profissões, etc., que caíram em desuso mas que<br />
sobrevivem ainda em topónimos:<br />
Adaíl, Aguazil, alvazir ou alvazil, alcaide) almoxarife, alvanel, alvenel ou alvanéu, alfageme,<br />
almocadém, almotacé, etc.<br />
Na toponímia: Casas Novas do Adaíl, freg.a de Vila Nova de Milfontes. conc. de Odemira,<br />
Horta dos Alvazíis, na freg.a de Selmes, conc. de Vidigueira, Vale de Alcaide de Cima e Vale de<br />
Alcaide de Baixo, na freg.a de Quintos, conc. de Beja, Vale de Alcaide, na freg.a e conc. de<br />
Ourique, Almoxarifes, na freg.a e conc. de Barrancos, Barranco dos Alcaides, na freg.a de<br />
Corte do Pinto, conc. de Mértola.»<br />
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Mattoso – ver Arquivo de Beja I jornadas:<br />
Ver - «ALENTEJO NÃO TEM SOMBRA SENÃO A QUE VEM NO CÉU» - José Mattoso, in<br />
Revista Arquivo de Beja, Actas das II Jornadas, ALENTEJO E OS OUTROS MUNDOS, vol.s<br />
VII e VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 –30.<br />
Começa assim: «Toda a gente sabe que uma das características mais salientes do Alentejo é o<br />
seu isolamento.» p. 15<br />
Mais à frente ao tentar descrever a situação do Alentejo antes do século XIII: «As condições<br />
geográficas favoreciam portanto, estas estruturas de produção e de circulação...»<br />
Descreve depois as grandes vias de circulação... «...a importância do eixo económico do<br />
Guadiana desde a antiguidade até ao século XIII»... e «...a sua íntima ligação com o<br />
Mediterrâneo... e não com o Atlântico...» e... «Beja era um grande centro do GARB<br />
muçulmano... em relação... com outros mundos de que o Mediterrâneo era a grande<br />
encruzilhada.»<br />
«O que se passou para que Beja (o Alentejo - Mértola...) entre o século XIII e o século XX...»<br />
para, de um grande centro, passar a um dos níveis mais afastados deles (dos grandes circuitos<br />
internacionais)...<br />
As respostas são muitas e complexas... não se deve facilitar nem generalizar... Vale a pena ler<br />
todo o trabalho deste Mestre, muito cuidado e abordando as críticas violentas com uma<br />
delicadeza que é apanágio deste grande Histotiador e Pensador... mas, conseguimos ler que,<br />
afinal, as grandes vias de circulação, terrestres e fluviais, terão sido mais para levar e exportar as<br />
"riquezas" do Alentejo do que para contribuir para o seu progresso e desenvolvimento... e<br />
portanto com a marca “ferrete” de região “colonizada” explorada em proveito de outros...<br />
FIM DE CITAÇÃO. fica o apelo à leitura do Artigo completo que podemos ter interpretado<br />
mal!!!<br />
Ver em Anexo 1.1 (Não o artigo completo mas a chamada para ele.)<br />
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Rabaça Gaspar:<br />
Ver «INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO (IAC/D)» José<br />
Rabaça Gaspar, in Revista ARQUIVO DE BEJA, ACTAS DAS I JORNADAS - CULTURA E<br />
SOCIEDADE NO BAIXO ALENTEJO, vol. II / III, série III, Dezembro de 1996, pp. 237 - 248.<br />
1 -«... Afinal, aquilo que o Mestre em História mostrava com tantos dados e pormenores... podia<br />
LER-SE, através de uma análise linguística, na própria palavra ALENTEJO...<br />
O determinante ALÉM, mostra que o sujeito está distante do "objecto". Enquanto o "EU"<br />
implica "AQUI" o "ALÉM" indica que foram estranhos que deram NOME ao ALÉM-TEJO... e<br />
como o nome indica relação ou apropriação de algo... parece que comparando com a História,<br />
este "dar NOME"... tem significado, exploração... colonização... isolamento... apropriação<br />
indevida do que pertence a um Povo e a uma Região... ALENTEJO tem a marca de um NOME<br />
imposto pelos “Senhores” - conquistadores que vieram do norte... e nem sempre foi assim.»<br />
Ver também - Rabaça Gaspar – in Actas I Congresso sobre o Alentejo – Out 1985. e a citação<br />
mais completa em ANEXOS, 1.1<br />
Vale a pena repetir aqui Cláudio Torres – in Palavras Prévias de «MANTAS Tradicionais do<br />
Baixo Alentejo», já citado anteriormente em ponto 1 – Ver também Anexos 1.<br />
Mértola “integrada” no BAIXO ALENTEJO – no ALENTEJO e no PAÍS<br />
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ALÉM – Tejo, como Além – Garbe e como Além – Mar... é possivelmente a região que ficou<br />
com uma marca mais profunda de NOME imposto por gente de fora... Todos podem dizer,<br />
correctamente: «Nós somos daqui - aqui... Os Alentejanos, dizem: Somos daqui - além!!!»<br />
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2. - Mértola – os Nomes<br />
2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME<br />
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina<br />
Quando se fala de MÈRTOLA evocam-se, quase sempre, para simplificar, as TRÊS formas<br />
predominantes pela qual esta povoação ficou conhecida na história, evocando as épocas e os seus<br />
presumíveis fundadores e conquistadores:<br />
MYRTILIS – para evocar a possível fundação fenícia e ocupação romana da qual há numerosos<br />
vestígios... e portanto desde as origens (ca. De 1000 anos aC – à invasão árabe –<br />
715?...)<br />
MĀRTULA – a marcar a ocupação árabe, desde 711 – Tarik desembarca em Gilbraltar e vence<br />
Rodrigo, o rei visigodo, em Guadalete e em 712 toma Leão e as Astúrias,<br />
enquanto Murça ocupa já a Galiza – de mais de 5 séculos... ate 1538.<br />
MÉRTOLA - 1238 – D. Sancho I – integrada no Reino de Portugal... - 1250 - foral por D.<br />
Afonso III – confirmado em 1287 por D. Dinis e reformado em 1512 por D.<br />
Manuel I<br />
- Entretanto pudemos observar, muitas outras formas de grafar o nome, a que talvez se deva dar<br />
alguma atenção – podendo ver um leque alargado em ANEXOS 2 – com informação recolhida<br />
em vários textos e tendo recorrida ainda, na WEB, a Carlos Leite Ribeiro – in<br />
cidadevirtual/mertola, em trabalhos de António Marques de Faria e muitas citações de Mantas.<br />
- Podemos também ver outros NOMES e PALAVRAS relacionadas com MÉRTOLA, como:<br />
MIRTILO – MIRTO – MURTA... ver em ANEXOS 2.<br />
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2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina<br />
«Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram<br />
uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de<br />
Mercúrio.»<br />
in Serpínia, A Princesa Feliz - In http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpi.htm e / ou<br />
ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), de João Cabral, Serpa 1971, pp. 165- 167<br />
Embora partindo de uma Lenda, podemos presumir então que MÉRTOLA terá sido fundada<br />
pelos fenícios, que possivelmente já por aqui se dedicavam ao comércio..<br />
Outras fontes apresentam-nos MÉRTOLA « MYRTILIS ou NOVA TIRO - nome dado,<br />
provavelmente, pelos Fenícios que aqui se homiziaram quando Alexandre Magno conquistou<br />
TIRO... (333-332 a. C.)» - ver in Alentejo virtual e outras fontes.<br />
Quem será então este personagem da mitologia greco-latina, MYRTILIS, que vai dar nome a<br />
esta cidade, ainda por cima, fundada pelos fenícios que fugiam aos romanos... e chamam-lhe<br />
MIRTILIS para ser NOVA TIRO que tinha sido conquistada por Alexandre!!?<br />
Que relação entre NOVA TIRO e MÉRTOLA?<br />
E porquê dar o nome de MIRTILIS em honra da Deusa MIRTO, uma Deusa que não<br />
encontrámos em nenhum elenco destas divindades, mas sabemos que Vénus / Afrodite tem o<br />
MIRTO como sua árvore sagrada...<br />
Mas o MIRTILIS que encontrámos, aparece como cocheiro do rei ENUMÃO ou ENUMAU, pai<br />
da princesa HIPODAMIA, que vai permitir que PÉLOPS, ganhe a corrida que o rei propunha aos<br />
pretendentes da filha, contra a sua parelha mágica... e acaba por ser assassinado por PÉLOPS?!<br />
Problemas levantados pelas brumas da história e reinventadas e efabuladas pelas lendas, aspectos<br />
que iremos desenvolver em 3.1 AS LENDAS, porque, apesar de LENDAS, talvez valha a pena<br />
dar-lhes alguma atenção, porque como diz «Ovídio, o poeta latino, que escreveu durante o<br />
reinado de Augusto. – Ovídeo é um autêntico compêndio de mitologia. ... “Não importa serem<br />
absurdos (os mitos); apresentar-vo-los-ei com tão belos artifícios que haveis de gostar”.» e<br />
possivelmente aprender alguma coisa...<br />
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2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...<br />
Para conhecermos uma determinada terra ou região, para além de tentarmos saber o NOME e o<br />
que possivelmente quer dizer, é, parece-nos, importante fazer um levantamento de toda uma<br />
toponímia, que, para além de servir de referência às pessoas que aí habitam, os nomes, em si,<br />
uns, possivelmente muito antigos, dos quais se terá perdido o significado e outros mais recentes,<br />
e por vezes demasiado oportunistas, têm com certeza muito a revelar das características desse<br />
povo que se revelou e continua a revelar através da linguagem...<br />
Deixamos aqui só uns breves apontamentos, remetendo o levantamento que foi feito para<br />
ANEXOS 2.2 – na COLECTÂNEA DE TEXTOS.<br />
O nome da 9 freguesias – o que significam? Quem os deu? De que época são?:<br />
Mértola - Concelho do Distrito e Diocese de Beja, comarca de M. - O Concelho (1279 km2)<br />
Tem nove freguesias:<br />
1. Alcaria Ruiva (orago - Nossa Senhora da Conceição),<br />
2. Corte do Pinto (Nossa Senhora da Conceição),<br />
3. Espírito Santo (Espírito Santo),<br />
4. Mértola (Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas),<br />
5. Santana de Cambas (Sta. Ana),<br />
6. São João dos Caldeireiros (S. João Baptista),<br />
7. São Miguel do Pinheiro (S. Miguel),<br />
8. São Pedro de Solis (S. Pedro Apóstolo),<br />
9. São Sebastião dos Carros (S. Sebastião).<br />
Características gerais:<br />
Com uma população total residente de 9805 habitantes. (1991).<br />
Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro.<br />
Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite.<br />
Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e<br />
olaria.<br />
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Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no<br />
último fim-de-semana de Setembro.<br />
Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha,<br />
beijinhos de Mértola e pão alentejano.<br />
O que nos pode ensinar cada um destes elementos para tentarmos conhecer a identidade de uma região.<br />
Para além destes elementos, tentámos um levantamento dos principais lugares de cada freguesia, um<br />
trabalho que como já dissemos só será possível completar por alguém ou por grupos de trabalho que<br />
estejam bem inseridos no local e, por conseguinte, aqui deixamos, só, como pista de estudo a desenvolver.<br />
Freguesia Orago Total de<br />
Nomes no<br />
levantamento<br />
Alcaria Ruiva Nossa Senhora da<br />
Conceição<br />
Corte do Pinto Nossa Senhora da<br />
Conceição<br />
Exemplos escolhidos História ou e<br />
significado<br />
51 Amendoeira /várias<br />
Atafona<br />
Boisões<br />
59 Alfadega<br />
Barranco dos Alcaides<br />
Chança<br />
Dominante nomes<br />
que diremos “típicos”<br />
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Ilha<br />
Espírito Santo Espírito Santo 28 Álamo<br />
Bramafão<br />
Mértola Nossa Senhora de<br />
Entre-as-Vinhas<br />
Santana de<br />
Cambas<br />
São João dos<br />
Caldeireiros<br />
São Miguel do<br />
Pinheiro<br />
São Pedro de<br />
Solis<br />
São Sebastião dos<br />
Carros<br />
Roncão (vários)<br />
85 Altura dos Coitos<br />
Achada<br />
Cachopo<br />
Sta. Ana 18 Picoitos<br />
Serralhas<br />
Moreanes<br />
S. João Baptista 17 Alvares<br />
Martinhanes<br />
Tacões<br />
S. Miguel 30 Castanhos<br />
Espragosa<br />
Milhalvo<br />
S. Pedro Apóstolo 17 Bicada<br />
Giralheira<br />
Monte de Negas<br />
S. Sebastião 12 Belo<br />
Boisões<br />
Papa Leite.../inho<br />
Total 317<br />
Já com muitos nomes<br />
modernizados como a<br />
vila de Mértola<br />
Dominante<br />
“típicos”...<br />
Uma “saudável”<br />
mistura de momes<br />
“típicos” e<br />
“modernizados”...?<br />
Dominante<br />
“típicos”...<br />
Dominante<br />
“típicos”...<br />
Dominante<br />
“típicos”...<br />
Dominante<br />
“típicos”...<br />
Dominante<br />
“típicos”...<br />
Ficamos assim, só neste capítulo, com um levantamento de 317 nomes que poderão revelar muito, tanto<br />
da história, como das ocupações e características da região e revelam sem dúvida uma maneira de pensar<br />
e uma mentalidade...<br />
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2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...<br />
É um capítulo que, necessariamente, fica muito incompleto e se apresenta só como “amostra”.<br />
Esperávamos encontrar uma série de nomes que nos levassem à revelação da quantidade de<br />
povos e gentes que passaram por esta “encruzilhada”, mas nem a fonte a que recorremos, nem os<br />
conhecimentos que temos sobre o assunto nos permitem tirar conclusões...<br />
Este é um estudo que nos escapa e normalmente é apresentado como diversão em vez de tentar<br />
perceber como é que a evolução da mentalidade das Pessoas vai ficando registada nos NOMES...<br />
e falta um estudo a partir de um levantamento das ALCUNHAS, para perceber, até que ponto se<br />
impõem os NOMES ou MÁ NOMES aos APELIDOS ditos de REGISTO... para definir a<br />
mentalidade e evolução de um POVO...<br />
Além do NOME - PALMA - 113 - QUE SE DESTACA DE TODOS OS OUTROS e de haver<br />
muitos nomes que consideramos PRÓPRIOS como AFONSO... JOSÉ... JOÃO... aparecerem<br />
com APELIDOS DE FAMÍLIA... salientamos o APELIDO - LAMPREIA pela relação com um<br />
peixe que tem imagem de marca na região, ainda na actualidade, início do século XXI.<br />
NOMES MAIS REPETIDOS:<br />
Acima dos 50 - PALMA - COSTA - MARTINS - PEREIRA - SANTOS - SILVA<br />
Próximos dos 50 - GUERREIRO - RAMOS - RAPOSO - RODRIGUES - ROSA - TEIXEIRA<br />
Em jeito de brincadeira, como estes temas costumam ser apresentados, imaginemos uma sessão<br />
em que apresentamos uma REGIÃO onde há:<br />
- 12 ALHOS; - 1 ANSEITEIRO; - 8 BAIOAS; - 11 BARÕES; - 25 BENTOS; - 14 BRANCOS;<br />
- 17 CANDEIAS; - 1 CANGALHINHAS; - 1 CARANGUEJO; - 3 CARRASCOS; - 16<br />
CAVACOS; - 8 COELHOS; - 11 CONDUTOS; - 17 CORREIA; - 61 COSTA; - 22 CRUZ; - 29<br />
DIAS; - 38 FERNANBDES; - 47 GUERREIRO; - 14 HORTA; - 15 JESUS; - 10 LAMPREIA; -<br />
16 LOPES; - 86 MARTINS; - 10 MATIAS; - 37 MESTRE; - 113 PALMA; - 70 PEREIRA; - 10<br />
PIRES; - 5 ROMANA; - 3 ROMÃO; - 12 RAMOS; - 42 RAPOSO; - 19 REIS; - 41<br />
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RODRIGUES; - 4 ROLHA; - 42 ROSA; - 7 RUAS; - 7 RUIVO; - 56 SANTOS; - 52 SILVA; -<br />
16 VALENTE; - 12 VARGAS; e - 1 VIRIATO -<br />
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2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado...<br />
ALCUNHAS – NOMES NÃO DE REGISTO mas pelo qual as pessoas se conhecem...<br />
Embora se verifique com bastante facilidade que muitos dos APELIDOS ou NOMES de<br />
FAMÍLIA derivaram possivelmente de antigas ALCUNHAS devido à profissão e outros<br />
factores que seria preciso estudar, fica ainda um MUNDO a desvendar para recolher,<br />
investigar e estudar o significado desta quase necessidade secular de atribuir outro nome às<br />
pessoas que não o de registo...<br />
Não sabemos o que se passa em Mértola... mas é importante saber...<br />
Como dissemos sobre o trabalho em geral, este capítulo, em especial, pela delicadeza e<br />
melindre que muitos nomes podem apresentar, não deve ser feito por quem não estiver<br />
integrado no meio, ou pelo menos, nunca deve aparecer como uma intromissão ou, muito<br />
menos, uma agressão... Trata-se de, como acontece com cada pessoa individualmente, querer<br />
ou não querer conhecer-se a si próprio, com as qualidades e defeitos que se têm, com os<br />
aspectos positivos e negativos que revelam o que somos.<br />
Como pista para este estudo, ver diversos trabalhos de Francisco Martins Ramos, de quem<br />
só consultámos:<br />
ALCUNHAS ALENTEJANAS – Estudo Etnográfico, Edição da Associação d Defesa dos<br />
Interesses de Monsaraz (ADIM), Monsaraz, Dezembro de 1990;<br />
mas temos conhecimento de, pelo menos, mais duas obras, tendo sabido já em 2003 de um<br />
TRATADO das ALCUNHAS Alentejanas, da autoria do Dr. Francisco Ramos – Carlos<br />
Alberto da Silva, Editora Colibri., 2003.<br />
Ver ANEXO 2.4 - correspondente em COLECTÂNEA<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...<br />
Neste Capítulo, fomos encontrar, no Parque Natural do Vale do Guadiana, pelo menos duas<br />
obras fundamentais, pelo que verificamos que já não será uma sugestão nossa que vai alertar<br />
para o estudo deste tema, nem era esse o nosso propósito.<br />
Trata-se de um trabalho notável. É preciso descobrir entretanto como é que este trabalho vai<br />
fazer parte do quotidiano das pessoas como afirmação da sua cultura.<br />
Todos nós temos assistido um pouco a um fenómeno estranho, que tem acontecido durante<br />
algumas décadas e caricaturado naquela anedota do ancinho: o filho sai de ao pé dos pais para ir<br />
estudar, e como já sabe muito, quando volta a casa e vai ao campo com o pai, já não sabe como<br />
se chama aquela alfaia com dentes para juntar a palha e as folhas, a não ser quando o pisa e leva<br />
com ele na cara. À medida que as pessoas “vão saindo” para saberem mais, aquilo que sabiam<br />
em crianças, quando corriam livres pelos campos atrás dos pássaros e dos animais, depois de<br />
alguns anos de estudo, já não sabem!?? Como se chama aquela árvore? Como se chama aquela<br />
flor? Como se chama aquela ave? NADA!!! Será que ficam ao menos a saber o nome científico?<br />
Dá-se uma total descaracterização cultural ou o que é que se passa?<br />
É importante tomar consciência que o Universo da Linguagem de tudo o que nos rodeia, constrói<br />
e define o nosso Universo Cultural – caracteriza o Universo Cultural de uma região. Não<br />
estamos a sugerir que as pessoas não devem estudar e saber mais. Estamos a dizer exactamente o<br />
contrário. O que não devem, é esquecer aquilo que antes aprenderam, nem rejeitá-lo, antes<br />
assumi-lo e desenvolvê-lo ou corrigi-lo, se for o caso.<br />
O nosso contributo neste capítulo é apreciar o trabalho realizado que fomos encontrar, como todo<br />
o restante das várias entidades de Mértola, e sugerir que se descubram os meios mais eficientes e<br />
até lúdicos para que estes conhecimentos não se percam e junto com os nomes dos livros, se<br />
continuem a saber os nomes que os antepassados da região nos legaram com o seu significante,<br />
significado e talvez com o seu simbolismo...<br />
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PEIXES<br />
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1. PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Leonor Rogado (Texto), Carlos Carrapato<br />
(fotografia), Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2001<br />
Com um Glossário no final que, segundo pensámos nos ia facilitar o trabalho, encontrando a lista<br />
dos PEIXES, com o seu nome científico e nome popular por que são conhecidos, mas que afinal<br />
contém, o que seria mais importante para os autores e organizadores, a lista das palavras que<br />
ofereceriam mais dificuldade aos possíveis leitores.<br />
Entretanto, basta recorrer ao índice para termos o levantamento do nome dos PEIXES, segundo<br />
as várias espécies e até menciona os secundários...<br />
Como aparece no ANEXO correspondente, além desta obra especificamente dedicada aos peixes<br />
pode ainda ser complementado com os dados fornecidos por mais duas obras:<br />
1. AS TERRAS – AS SERRAS E OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do Concelho de<br />
Mértola, Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a<br />
História Local 1 – Edição do Campo Arqueológico de Mértola, 1995. VER:<br />
Página 42 - peixe: PICOIS – BOGAS – PERDELHOS – EYROZES – CAGAÇOS -<br />
BORDOLOS;<br />
Página 50 - BARBOS – EIRÓS – MUGES e alguas SOLHOS;<br />
Página 56 - PEXES LISSAS (SAVES – LAMPREYAS – SOLHOS) (as ribeiras enumeradas<br />
são: COBRES – TERGES – OUEYRAS – LAMPREYA e VASCAM);<br />
Página 73 - SOLHOS – SAFIOS – MUGES – SABOGAS – PICOENS;<br />
Página 81 – PICOIS;<br />
Página 94 – PARDELLAS.<br />
2. COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e<br />
Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara<br />
Municipal de Mértola, 1997.<br />
Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio:<br />
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- Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas...<br />
Ver ANEXO 2.5 – PEIXES<br />
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AVES<br />
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2. AVES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Ana Cristina Cardoso (texto) Carlos<br />
Carrapato (fotografia)- Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2000.<br />
Esta obra, além de um Glossário importante, tem ainda uma listagem das espécies citadas no<br />
texto como FLORA e MAMÍFEROS e uma TABELA com o nome científico e o nome vulgar,<br />
além de outras anotações importantes...<br />
AVES - as 170 espécies que se podem encontrar no PARQUE NATURAL DO VALE DO<br />
GUADIANA e estão agrupadas pelos principais habitates existentes dentro do Parque:<br />
Habitat rupícola – margens e leitos de cursos de água com afloramentos rochosos...<br />
Zonas húmidas - os pegos dos cursos de água na estação seca...<br />
Charcas – pequenos olhos de água... Com elevada biodiversidade...<br />
Matagal mediterrânico – em vales encaixados dos cursos de água... e vertente Norte de Alcaria<br />
Ruiva... com estrato arbustivo bastante diversificado<br />
Montados – com povoamento mais ou menos disperso de azinheira e sobreiro...<br />
Sub-coberto – Abaixo das árvores... variando conforme a cultura realizada...<br />
Matos – vastas áreas de charneca arbustiva resultado do abandono da exploração agrícola<br />
extensiva...<br />
Estepe cerealífera – campos de cultivo...<br />
Pousio – Tempo durante o qual se deixa a terra em repouso – pousio...<br />
Alqueive – Terra preparada mas não semeada como preparação para futura sementeira...?<br />
Meio urbano – os aglomerados populacionais que datamde vários séculos a. C.<br />
1. ordem seguida no livro – AVES DO PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA, Ana<br />
Cristina Cardoso - Texto, Carlos Carrapato – fotografia, edição do Parque Natural do vale do<br />
Guadiana, 2000.<br />
2. Lista por ordem alfabética com os NOMES vulgares – 2ª coluna<br />
Ver ANEXO 2.5 - AVES<br />
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Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto sobre as AVES<br />
ANEXO 2.5<br />
– A FLORA – ÁRVORES E PLANTAS – Nomes de cerca de 3 dezenas de ÁRVORES<br />
- MAMÍFEROS – a lista de animais que se podem ou podiam encontrar na regiaão, cerca de uma<br />
dezena....<br />
Ver ainda in AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do<br />
Concelho de Mértola, Estudos e fontes para a História Local 1 - Joaquim Ferreira Boiça – Maria<br />
de Fátima Rombouts Barros, as referências a<br />
AVES – por exemplo cisões... - p. 121<br />
Plantas já vimos o DARO - p. 121<br />
ANIMAIS – por exemplo “muitas cilhas de colmeas... p. 121<br />
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2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS...<br />
Saudações, formas de tratamento...<br />
Ver ANEXO 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... Saudações,<br />
formas de tratamento... – com uma TABELA dos principais PRATOS / RECEITAS no final para<br />
enriquecimento do vocabulário e não só...<br />
Outro aspecto importante a desenvolver e que pode ajudar a definir a identidade de uma<br />
população pela consagração de fórmulas sedimentadas ao longo dos tempos, mas que, mais ainda<br />
do que todas as outras, só poderá ser levada a cabo por quem esteja perfeitamente inserido no<br />
meio...<br />
Como este aspecto não é realizável à distância, decidimos recorrer a outro aspecto do quotidiano<br />
que pode ser estudado em conjunto.<br />
COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e<br />
Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara<br />
Municipal de Mértola, 1997.<br />
As receitas distribuídas pelas quatro estações é uma decisão notável e ficamos a saber, como<br />
sugere Fernão Lopes:<br />
«Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns,<br />
dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e<br />
espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta<br />
conformidade.»<br />
Afinal, somos, também, aquilo que comemos!<br />
E como tão bem diz aquele “saboroso” livro paciente e “amorosamente” feito por tanta gente,<br />
“COMER”, em português (e também em castelhano e galego), ao contrário do que acontece nas<br />
outras línguas, vem de “cum” + “edere”. Ora “edere” já significa “comer” só por si e assim, para<br />
as gentes da Península Ibérica, comer era já um acto social – “comer com... alguém”... e como se<br />
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afirma no mesmo livro, «Fazer este livro sobre a gastronomia do quotidiano mertolense foi<br />
também... um acto de generosidade, de partilha e de convívio.», e portanto, além do social e do<br />
convívio, implica “partilha”, talvez solidariedade, amizade, fraternidade... e a distribuição das<br />
receitas pelas estações do ano, revela, para além da culinária, a vida das pessoas com a sua<br />
ligação à Terra, a sua inserção com os “envolventes” – o que a terra produz..., o que a terra dá...,<br />
a sabedoria secular de saber colher, “caçar”, “pescar”, “apanhar”, conservar os vários tipos de<br />
alimentos e condimentos... e “ao ritmo das estações”..., revelando a maneira de ser de uma região<br />
e denunciando até, como observam os anexos finais, do médico e do arqueólogo, o “estatuto<br />
social” de quem come o quê... e da “sabedoria” das donas de casa que sabiam substituir por<br />
exemplo o arroz com feijão, quando não havia carne ou peixe e assim mantinham a família bem<br />
alimentada, recorrendo também à migas e açordas para que não dissessem: “saco vazio não se<br />
pode erguer... saco cheio não se pode dobrar...”; para não falarmos já da comida que é o centro<br />
das festas que marcam a vida social das famílias – os baptizados, casamentos e até a morte... e<br />
onde a “fala”, os “cumprimentos”, a diversão, os “discursos” e até os “tratos” e “negócios” se<br />
firmavam à mesa, por vezes bem “comida” e bem regada...<br />
Como pistas de trabalho fica-nos uma vontade de fazer um levantamento completo dos nomes<br />
dos ingredientes, temperos e “rituais”, mas deixamos isso para alguém mais habilitado como os<br />
que realizaram este “saboroso” livro de “aromas e sabores” ou como diz outra obra de “sabores e<br />
saberes”.<br />
Algumas recolhas como exemplo:<br />
Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar:<br />
“Deus te acrescente no alguidar<br />
Como Deus Nosso Senhor está no altar”...<br />
Importante é saber também como algumas padeiras conheciam “o som de pão” para reconhecer<br />
que a massa estava “lêveda” ou não!<br />
E depois de meter todo o pão no forno:<br />
“Deus te acrescente,<br />
que é para muita gente”<br />
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E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem: «Faz-se um benzido com o sinal da<br />
cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as saias e diz:<br />
Cresças tu, pão<br />
Como as saias afastadas do cu estão».<br />
A matança do porco é outro ritual até com vários significados no decorrer do tempo... desde o<br />
tempo dos arábes em que para eles seria proibido, até ao tempo dos cristãos novos em que seria<br />
obrigatório como mostra pública de conversão convicta, até ao tempo em que significava casa<br />
farta ou em que não haveria fome durante todo o ano e “entre-ajuda” entre várias famílias e a<br />
sabedoria do tempo próprio, as luas... e das preparações a fazer... saber se as porca “ressaem”<br />
(estão com o cio) e se é preciso capa-las... a distribuição das tarefas entre os homens e as<br />
mulheres, “aos homens cabe matar, musgar e desmanchar...” e “do porco tudo se aproveita<br />
menos as castanholas (unhas)” que até podem servir de amuletos.<br />
“O fel serve para curar as chagas das patas dos animais”...<br />
“A passarinha (baço) junta-se à cachola para engrossar o molho”<br />
“Os lombinhos eram para o padre”.<br />
Dos muitos termos usados podemos ainda tentar um pequeno levantamento.<br />
As acelgas – (Beta vulgaris L. Ssp. Maritima l.)<br />
Tingarrinhas – (Scolymus Maculatus L.)<br />
Túberas – (Terfezia leonis tul.) Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe<br />
de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem encontrar-se junto das raízes das<br />
estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo.<br />
Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio:<br />
Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas...<br />
Até as rãs... cobras... lagarto... cágado... ouriços servem ou serviam para petiscos, além das<br />
cabeças de carneiro...<br />
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Para os caçadores os passarinhos fritos metem: POMBO – TORDO – MELRO TARAMBOLA...<br />
E o doce da primavera é o NÓGADO!<br />
No Verão. O GASPACHO – SOPAS DE TOMATE – TOMATADA – SOPA DE<br />
BELDROEGAS...<br />
Encontramos ainda no final, (Santiago Macías)<br />
O CHÍCHARO – “... vegetal.... que se consumiria cozido... e na região até há uma dezena de<br />
anos.”<br />
E tudo isto envolvido numa deliciosa história ... do rei que tinha três filhas... e a mais nova,<br />
afinal a que gostava mais disse: «Eu gosto tanto do meu pai como a comida gosta do sal...» ...<br />
como o célebre bispo de Viseu dizia da religião «Nem de mais, nem de menos... mas como o sal<br />
na comida.» Como nós dizemos das palavras e conversas: Nem de mais, nem de menos... para<br />
um bom convívio e comunicação sã entre as pessoas!<br />
Ver Anexo 2.5<br />
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3. – Outras Formas de Expressão<br />
LENDAS<br />
CONTOS<br />
ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...<br />
POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...<br />
MODAS & GRUPOS CORAIS<br />
PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...<br />
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3.1 – LENDA/s<br />
Uma estranha LENDA de SERPA – em pelo menos 3 versões - que dá pistas para as origens de<br />
Mértola) - para dar uma explicação ao NOME – MÉRTOLA...<br />
UMA (possível) LENDA DE MÉRTOLA<br />
Ver ANEXO 3.1 – 1 (Voltando ao NOME e à possível fundação de MÉRTOLA)<br />
«Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram<br />
uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de<br />
Mercúrio.»<br />
in Serpínia, A Princesa Feliz - http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpa.htm e também in:<br />
ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), - João Cabral - Edição Câmara Municipal de<br />
Serpa” 1971 – ver Bibliografia.<br />
Nota do autor nessa obra, o autor afirma: - «Contada também por C. Gonçalves Serpa em<br />
“Serpínea e a Fundação de Serpa” que diz ter ido “... bebe-la a velhos documentos perdidos,<br />
esquecidos no pó dos tempos”.»<br />
Ver ANEXO 3.1 – 2<br />
in - A LENDA DE SERPÍNEA - in CANCIONERO DE SERPA, Maria Rita Ortigão Pinto<br />
Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994 - pp. 347 - 349.<br />
Outra versão da mesma LENDA:<br />
«No dia seguinte os construtores lançaram mãos à obra, e assim nasceu Serpe. Daqui, Cófilas<br />
partiu para novas expedições, dominando toda a região vizinha, e fundou outras cidades a<br />
Ocidente, atravessando o rio Ana, e encontrando-se finalmente com os Fenícios, que nos seus<br />
navios subiam este rio até ao ponto em que vieram a fundar Mirtilis. Estabeleceu-se um tratado<br />
de amizade, e em breve Serpínea ficava noiva do belo príncipe fenício Polípio. Porém, este teve<br />
de partir novamente em viagem, prometendo à inconsalável Serpínea regressar depressa para o<br />
casamento.»<br />
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Baseada, segundo a autora, que escreve todo este livro à mão, com uma caligrafia deliciosamente<br />
legível e com muitas ilustrações, que vale a pena admirar, em «SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO<br />
DE SERPA» de C. Gonçalves Serpa.<br />
Ver ANEXO 3.1 – 3<br />
SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA – por C. Gonçalves Serpa, Composto e impresso na<br />
Gráfica Torriense, Torres Novas, s/d – uma brochura, fotocopiada, de 32 páginas.<br />
Finalmente e para grande surpresa nossa, alguns amigos a quem falámos destas LENDAS<br />
fizeram-nos chegar uma cópia dessa LENDA de C. Gonçalves de Serpa, em que os dois autores<br />
atrás citados dizem ter-se baseado.<br />
Mesmo como LENDA que o autor diz: «Fomos bebê-la a velhos documentos perdidos,<br />
esquecidos no pó dos arquivos.», é uma LENDA que salienta bastante as ligações entre SERPA<br />
e MÉRTOLA desde a fundação de ambas e remete para nomes e lugares, como o rio Limosino e<br />
o Castelo das Loendreiras, como lugares de ligação entre as dua cidades...<br />
Ver ANEXO 3.1 - 4<br />
SERPA ENCANTADA EM LENDAS, José Rabaça Gaspar, com versos de José Penedo de<br />
Serpa, publicado como separata – SERPA ANTIGA – in SERPA INFORMAÇÃO, 4ª série,<br />
Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17- no segundo andamento refere uma das três<br />
LENDAS que tentam explicar o nome de SERPA e com as referências que esta tem sobre as<br />
origens de MÉRTOLA:<br />
«Chegaram barcos fenícios / que vinham comerciar. / Outra cidade nasceu / (com ligações com<br />
o MAR...) / MIRTILIS foi o seu nome / por ser o filho de MIRTO / que o teve de MERCÚRIO / o<br />
Deus dos comerciantes / mensageiro dos amantes.»<br />
Ora, voltando ao NOME DE MÉRTOLA (2.1 e 2.1.1) e sabendo, como Ovídio, já atrás citado,<br />
que LENDAS são LENDAS, mas... pode ser que tragam alguma coisa para nos encantar ou para<br />
nos fazer pensar, a partir destas duas ou três versões da mesma LENDA de SERPÍNEA, que se<br />
baseiam numa outra versão mais antiga de C. Gonçalves Serpa, que diz ter ido “... bebe-la a<br />
velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos tempos.”, partimos à procura de uma<br />
explicação para a seguinte passagem «... Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a<br />
que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.»<br />
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Quem seria esse MYRTILIS que levou os FENÍCIOS a escolherem esse nome para uma nova<br />
cidade que queriam construir?<br />
O que teria levado os Fenícios, que tinham a sua religião e a sua cultura, a recorrerem à religião e<br />
cultura greco-latina para “darem nome” a uma nova cidade que queriam como “Nova Tiro”?<br />
Após algumas penosas pesquisas, conseguimos enfim descobrir que aparecia, na mitologia<br />
Greco-Latina e não na mitologia Fenícia, um personagem chamado MYRTILIS.<br />
Aparece-nos como cocheiro do rei ENUMAU ou ENUMÃO, rei da ÉLIDA, pai da princesa<br />
HIPODAMIA ou HIPODÂMIA, e acontece que esse cocheiro do rei, vai trair o seu rei em favor<br />
de PÉLOPS ou PÉLOPE a fim de este poder vencer a tremenda corrida de quadrigas, que era<br />
proposta aos pretendentes, como condição para conseguirem a mão da princesa e caso<br />
perdessem, pagariam com a morte.<br />
Mas os cavalos do rei eram superiores a quaiquer cavalos dos mortais pois tinham sido oferta de<br />
Ares (Marte o Deus da guerra), e assim muitos valentes perderam a vida. Pélops, que saberia do<br />
segredo, decidiu correr, pois a sua parelha tinha sido oferta de Poseidon – Neptuno, o Deus dos<br />
mares, mas o certo é que a princesa leva Myrtilis, o cocheiro a trair o pai para acabar de vez com<br />
aquela mortandade e MYRTILIS vai pagar a traição com a morte e foi colocado, no céu, na<br />
constelação de Cocheiro; mas morre às mãos de Pélops a quem tinha ajudado com a sua traição e<br />
antes de morrer roga a maldição ao assassino e seus descendentes que afinal já estava<br />
amaldiçoado. PÉLOPS era irmão de NÍOBE, a princesa que teve tudo para ser feliz, mas ambos<br />
eram filhos de TÂNTALO, o que ousou desafiar os Deuses do Olimpo, mandando servir, como<br />
majar, o próprio filho (Pélops) morto e cozinhado num grande caldeirão. Tântalo vai ter o<br />
tremendo suplício de ter tudo perto e não lhe poder chegar... Pélops, depois de regressar à vida,<br />
por intervenção condoída dos Deuses ofendidos, vai ser o assassino de Myrtilis, o cocheiro que<br />
traiu o seu rei para o favorecer... e Níobe, a orgulhosa mãe dos sete jovens mais valentes e<br />
destemidos e das sete jovens mais belas entre as belas, vai pagar pelo desafio que faz a Leto que<br />
só tinha tido dois filhos, Apolo e Artemisa (Diana) e assiste à morte dos sete rapazes e das sete<br />
belas, varados pelas setas certeiras dos dois implacáveis filhos de Letona.<br />
Assim de busca em busca, e para descobrir como é que, possivelmente, MÉRTOLA está ligada a<br />
todos estes NOMES e vatícinios que vêm do fundo dos tempos, fomos recolher uma série de<br />
elementos sobre a mitologia Greco Latina e um breve apontamento sobre a mitologia Fenícia<br />
(que damos em 3.1.1) e fomos encontrar, in www.<strong>joraga</strong>.net/mertola os caminhos que apontam<br />
no sentido de MÉRTOLA estar ligada, por intervenção de POLÍPIO, o fenício que se veio<br />
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apaixonar por SERPÍNEA, a princesa, que veio com seu pai Cófilas, rei dos Túrdulos fundar em<br />
SERPA a nova capital da TURDETÂNIA e faz alinaça com os fenícios fugidos de TIRO,<br />
conquistada por Alexandre Magno, que foi discípulo de Aristóteles, o Rei da Macedónia,<br />
ambicioso conquistador, que «em sete anos consegue reunir num único império todos os povos<br />
do Próximo Oriente até ao Ganges na Índia»e decidem fundar MÉRTOLA como NOVA TIRO.<br />
Ora, contam as LENDAS que este príncipe fenício, Polipo, à semelhança de Alexandre, fora<br />
educado e instruído por filósofos e sábios, que tinham sido escravizados pelos romanos<br />
conquistadores, mas difundiam a cultura dominante da bacia do Mediterrânio, naquela época,<br />
mesmo quando eram mal vistos pelos Césares e Imperadores, que não suportavam o seu livre<br />
pensamento e a maneira como cativavam discípulos das mais diversas regiões... Estaríamos no<br />
ano 332 a. C. – da conquista de TIRO por Alexandre Magno (rei da Macedónia, o grande<br />
onquistador, também ele educado por Aristóteles). Aliás, tanto as cidades fenícias, como<br />
Penísula Ibérica vêm a ficar sob o domínio romano por volta de um século a. C., com Augusto o<br />
1º imperador de Roma.<br />
Toda esta mistura de culturas vêm cruzar-se na grande encruzilhada que era MÉRTOLA, desde,<br />
possivelmente um milénio a. C. e assim julgamos que MÉRTOLA ficou e está ligada a:<br />
MYRTILIS – o cocheiro do rei ENUMÂO pai da princesa HIPODAMIA...<br />
PÉLOPS (Pélope) – que acaba por assassinar o seu adjuvante na conquista de Hipodamia...<br />
MIRTO – Uma Deusa que não existe na Mitologia Greco-Latina, mãe de Myrtilis que o teve de<br />
Mercúrio (Hermes)<br />
VÉNUS – AFRODITE - Ora a Deusa que tem o MIRTO como árvore consagrada é VÉNUS<br />
(Afrodite) a Deusa do amor, nascida da cabeça de Zeus ou da espuma do Mar...;<br />
MERCÚRIO – HERMES - o Deus mensageiro dos Deuses com asas nos pés... e Deus dos<br />
Rebanhos, dos Pastores, dos Comerciantes e dos Ladrões (nos tempos em que o gado<br />
era o padrão da riqueza)...<br />
TÂNTALO – o pai de PÉLOPS, que afronta os favores dos Deuses mandando-lhes servir o seu<br />
filho como majar e é precipitado no Hades, num jardim de delícias onde não pode<br />
chegar a nada...<br />
NÍOBE – a irmã de Pélops, também filha digna do orgulho e insolência do seu pai que vai ser<br />
transformada em PEDRA húmida donde correm dois rios de lágrimas...<br />
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Por tudo isto, transcrevemos a possível LENDA DE MÉRTOLA – de MYRTILIS em honra da<br />
Ver ANEXO 3.1 – 4<br />
deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO, de Josephus – o Esturjão in<br />
www.<strong>joraga</strong>.net/mertola :<br />
Em ANEXO 3.1 – 5 Aparece ainda a LENDA – A TESOURINHA DA MOURA, por Fernanda<br />
Frazão a pedir a continuação da recolha de outras LENDAS que corram por<br />
MÉRTOLA...<br />
E damos em separado 3.1.1 – elementos sobre a mitologia greco romana, com dados mais<br />
alargados, que permitirão uma possível viagem às mais remotas raízes até Homero ou<br />
alguns milénios a. C. e talvez nos possam ajudar a “ler” em profundidade as “marcas”<br />
que podem caracterizar a verdadeira identidade do povo desta região que já foi<br />
“encruzilhada de grandes rotas terrestres e marítimas”, “...foi a mais poderosa<br />
fortaleza de todo o Mediterrâneo ibérico”; mergulhou em séculos de isolamento e<br />
esquecimento, e parece agora ressurgir, para se colocar, de novo, como centro<br />
irradiante de Cultura. Talvez, quem sabe, possam permitir o aparecimento dos novos<br />
Homeros e Ovídios do terceiro milénio?!...<br />
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3.1.1 – Mitologia Greco-Latina<br />
- “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO”...<br />
Para nos documentarmos sobre MYRTILIS & MIRTO e a possível ligação com MÉRTOLA e a<br />
possível ligação de MÉRTOLA com as fontes mais ricas e inspiradas e mais antigas da história<br />
da humanidade recorremos a:<br />
A MITOLOGIA, Edith HAMILTON, Publicações Dom Quixote, 2ª ed. Lisboa, 1979, para ver:<br />
AFRODITE (VÉNUS) – o MIRTO ERA A SUA ÁRVORE... pp. 39 – 41 – Mãe de Mirtilis? Ou<br />
filho de Mirto e Mercúrio... (Vide Lenda de Serpínea)<br />
HERMES (MERCÚRIO) filho de Zeus e Maia... pp. 41 e 42<br />
TÂNTALO e NÍOBE... p. 358<br />
PÉLOPE ou PÉLOPS... 359<br />
A princesa HIPODAMIA filha do rei (ENOMÃO) que propunha aos pretendentes uma corrida...<br />
PÉLOPE E MÍRTILO o cocheiro da quadriga do pai... p. 360<br />
NÍOBE (esposa de ANFIÃO rei de Tebas o músico...) - a maldição da Filha de TÂNTALO que<br />
desafiou LETO a mãe dos gémeos APOLO e ARTMISA (Diana) p 361<br />
Vimos também in<br />
MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. HOPE MONCRIEFF, Editorial Estampa /<br />
Círculo de Leitores, Lisboa, 1992<br />
AFRODITE – VÉNUS - a Deusa do amor que brotou do mar... p. 9<br />
HERMES – MERCÚRIO – pai de Myrtilis – p. 12<br />
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ARES – MARTE – que ofereceu os cavalos a ENOMÃO, pai da princesa Hipodamia... p. 12<br />
POSEIDON – NEPTUNO – que ofereceu a quadriga a Pélope ou Pélops... p. 13<br />
Recorremos ainda a algumas PÁGINAS da internet, para alargar o leque de informações e ao<br />
mesmo tempo fornecer elementos aos que se propuserem e tiverem melhores condições de<br />
desenvolver este tema, que talvez possa contribuir para uma compreensão melhor de Mértola e<br />
região envolvente.<br />
Consultámos neste sentido:<br />
http://mithos.cys.com.br/<br />
http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm<br />
Talvez a estrela da Constelação de Cocheiro – MYRTILIS - que brilha no céu estrelado de<br />
Mértola, sirva de inspiração às novas gerações que despertam para a vida. Embora sendo<br />
LENDAS e até “possam ser absurdas” talvez apareçam os que “... as saibam contar de tal<br />
maneira que vão encantar aqueles que as ouvirem...”<br />
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3.2 – CONTO/s<br />
No ANEXO 3.2 – correspondente aos CONTOS, na impossibilidade de os recolher directamente<br />
no terreno, recorremos, como aliás a respeito dos outros temas, aos contos recolhidos pelo ilustre<br />
mestre José Leite de Vasconcellos. É verdade que não nos despertaram grande entusiasmo, mas<br />
podem servir de indicação de que há, como em todas as terras, que viveram num isolamento<br />
talvez imerecido, um filão riquíssimo a explorar de brilhantes “Conatadores de estórias...”<br />
CONTO 1 – A COMADRE MORTE<br />
In CONTOS POPUARES PORTUGU<strong>ESE</strong>S - inéditos – estudo Coordenação e<br />
Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. I - Centro de<br />
Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1984, pp. 239 –<br />
240<br />
n.º 157<br />
157 [A COMADRE MORTE]<br />
Conclusão - E por isso o Pouco-Juízo e a Pouca-Vergonha não morre. Esses nã morrem. Existem<br />
sempre.<br />
[José Raposo, 77 anos de idade, alfaiate, natural de Facões, f. de S. João dos Caldeireiros, c. de<br />
Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976].<br />
CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA<br />
In CONTOS POPUARES PORTUGU<strong>ESE</strong>S inéditos – Estudo Coordenação e Classificação<br />
– Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos<br />
Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 409 – 410<br />
620 [MAIS FACILIDADE DE ESCOLHA]<br />
resumo, conclusão - - Olha, filha, e, se tu te portares mal, se não tomares juízo, ainda melhor<br />
escapas: tens aonde escolhas.<br />
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CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR<br />
In CONTOS POPUARES PORTUGU<strong>ESE</strong>S inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda<br />
da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto<br />
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 418 – 421 Nº 633<br />
633<br />
[AS PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR]<br />
Final do conto:<br />
- Ah, o nosso divertimento ora, Senhor Professor!<br />
- Não, diga lá!<br />
- Ora, olhe, o nosso divertimento. Olhe, o mê pai dá pêdos e a gente ri-se.<br />
Diz ele:<br />
- Sim, também está uma música muito boa, pois nã podem adquirir outra, „tá certo, sim, senhor.<br />
Ficou, antão, coisa concluída perante os três alunos.<br />
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros,<br />
c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de recolha: 1976.<br />
Vid. o número seguinte].<br />
CONTO 4 – BOA RESPOSTA<br />
In CONTOS POPUARES PORTUGU<strong>ESE</strong>S inéditos – Estudo Coordenação e Classificação<br />
– Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos<br />
Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 422 - 423 - n.º<br />
634<br />
[BOA RESPOSTA!]<br />
Trata-se de testar um aluno muito inteligente que tinha sempre respostas para tudo e<br />
Acaba assim:<br />
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- O que é que acontece, quando o senhor vai a qualquer parte com a sua senhora? Qual é o<br />
sistema do despedimento, diz ela?<br />
O Senhor Profesor disse:<br />
- Pois, a minha senhora dá-me um beijo no rosto.<br />
Responde-lhe o aluno assim:<br />
- Atão, pois, por qué que a sua senhora não lhe dá um bejo no cu, pois s'é do mesmo corpo?<br />
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos Caldeireiros,<br />
c. de Mértola, d. de Beja, de 61 anos de idade. Colector: Adélia Grade, professora primâria. Ano<br />
de recolha: 1976. Vid. o número anterior].<br />
Consideramos uma pena o facto de termos encontrado só estes exemplos. As recolhas referem<br />
todas a data de 1976, e a colectora e a professora Adélia Grade. Honra lhe seja feita. Se, como<br />
têm recomendado os grandes mestres, os professores, ao longo dos tempos tivessem incentivado<br />
os alunos a recolher junto dos avós e parentes estes e outros saborosos contos, poderíamos ter e<br />
acreditamos que há um número suficiente para uma ANTOLOGIA de CONTADORES do<br />
Concelho de Mértola.<br />
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ANEDOTAS<br />
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3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem:<br />
- Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...<br />
As anedotas que correm sobre alentejanos são às centenas, e mais ou menos bastante conhecidas.<br />
(Ver AlentejANEDOTAS in www.<strong>joraga</strong>.net ).<br />
De entre elas fomos encontrar duas directamente relacionadas com MÉRTOLA e nos anexos<br />
atrevemo-nos a acerscentar mais algumas que nos surgiram...<br />
O Alentejano e com um RÁDIO portátil, que tem AM e FM:<br />
- Atão cumpadre, o sê rádio tem aí umas letrinhas: AM e FM... Pra que raio serve essa coisa?...<br />
- Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... FM é Fora de Mértola!!!...???<br />
(Isto parece mesmo ser verdade, porque uns amigos, que têm passado em Mértola, e vão no seu<br />
belo carro, ouvindo uma das estações de música, daquelas que se ouvem em todo o território<br />
nacional, começam a ter ruídos esquisitos, logo que entram nas curvas, mesmo antes de se ver<br />
Mértola e depois de atravessarem a vila, só voltam a poder ouvir, quase no cimo da serra, já<br />
quase à vista do Algarve!!!)<br />
O Alentejano e com um RELÓGIO, que tem AM e PM...<br />
- Atão p‟ra qui‟é que serve?...<br />
- Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... PM é PRA Fora de<br />
Mértola!!!...???<br />
Pistas para um ESQUEMA e, entre OUTROS, do modo como se podem organizar e LER as<br />
ANEDOTAS<br />
(é uma modesta, respeitável e discutível opinião... resumo do que é apresento em<br />
www.<strong>joraga</strong>.net - no Espaço das AlentejANEDOTAS)<br />
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O QUE SE PODE ESTUDAR A PARTIR DAS ANEDOTAS?<br />
Dada a presença contante das interrelações, tanto quanto aos temas como quanto aos<br />
personagens e características implicados em cada ANEDOTA, como ainda quanto à<br />
oportunidade de a contar, (... a propósito, lembras-te daquela...), qualquer ESQUEMA ou<br />
ORGANIZAÇÃO, se torna aleatória e daí esta divsão ser, já em si, uma perfeita ANEDOTA...<br />
como qualquer outra...<br />
Seguindo a sugestão de Arnaldo Saraiva (ver nas Pistas para uma Bibliografia) citado por A.<br />
Machado Guerreiro in LIVRO DE ANEDOTAS, Edições Colibri, Lisboa, Maio de 1995, p. 12:<br />
«... a anedota pode dar um bom contributo para o estudo de uma comunidade - suas manias e<br />
fobias, seus hábitos sociais, seus desejos e recalcamentos, seus heróis e suas vítimas, sua visão<br />
do mundo e do destino».<br />
Uma ANEDOTA pode servir, também, para um excelente treino da oralidade...<br />
Tal como no CONTO, a Estrutura com suas: Sequências... núcleos... indícios... informantes...,<br />
enfim estudar a linguagem como marca de uma identidade Cultural...<br />
Podem-se contar ANEDOTAS das ANEDOTAS e das AlentejANEDOTAS...<br />
ANEDOTA/s para mostrar o estilo de "regatinhar", “aciganado”, sem ofensa para os ciganos...<br />
... para mostrar a ligação à Terra...<br />
...para ver a lhaneza e simplicidade...<br />
... responder aos Lisboetas, como ini/a/migos de estimação...<br />
... a esperteza saloia...<br />
... a lei do menor esforço...<br />
Talvez, como reflexão principal, é dar conta que neste MUNDO DAS ANEDOTAS, afinal se<br />
passa o mesmo que no MUNDO REAL - a LINGUAGEM e os VALORES das PESSOAS de<br />
REGIÕES diferentes são, mesmo DIFERENTES...<br />
A respeito das Outras formas de expressão como: – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas –<br />
Cantilenas...<br />
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não nos foi possível recolher, pelos motivos que já foram apresentados e só podem ser recolhidos<br />
e estudados por alguém que esteja mesmo ligado ao meio.<br />
Ver ANEXO correspondente: ANX 3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem<br />
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3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...<br />
Este capítulo, em que pensavamos ter mais dificuldade de apresentar exemplos, tornou-se, afinal,<br />
um filão tão abundante que tivemos dificuldade em organizá-lo e pode, só por si, servir de base<br />
para uma RECOLHA separada com os estudos e divulgação adequados.<br />
No final, após laboriosas e penosas buscas viemos a encontrar em Mértola uma recolha feita por<br />
um artista natural e residente e amante da sua terra: Mário Elias.<br />
SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE<br />
MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.<br />
Verificamos que muitas das suas recolhas têm as mesmas fontes que as nossas, especialmente M<br />
J Delgado e Leite de Vasconcelos, mas Elias, tanto ele próprio como conviva de muitos poetas<br />
populares, contribui com muitos elementos a que nós não podemos ter acsso, na linha do que<br />
assumimos desde o início: todo este trabalho deve e tem de ser feito por alguém muito ligado à<br />
terra, que se estuda. A nós, cabe-nos dar também algum contributo e proporcionar uma visão<br />
mais distanciada que é a vantegem de quem está de fora e pode ver as coisas de maneira<br />
diferente e assim enriquecer este aspecto.<br />
ASPECTOS MAIS RELEVANTES e as FONTES E DE CADA GRUPO de QUADRAS,<br />
CANTIGAS DÉCIMAS ORAÇÕES e... recolhidas:<br />
Ponto inicial. A PSICOLOGIA (ver ANX 3.4 – 12)<br />
In SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE<br />
MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.:<br />
A PSICOLOGIA de um Povo, a sua espontaneidade e singualridade pode estudar-se “nas suas<br />
manifestações espontâneas... as vivências populares... nas mais diversas circunstância...”<br />
Tudo isto e muito mais podemos encontrar na obra citada de Mário Elias, que nos fornece ainda<br />
o nome de colaboradores e poetas populares e cita António Louro Carrilho, no prefácio de<br />
“TERRA POUSIA” de António Vitorino (Ti Zé do Santo), poeta popular de Nisa...– ver<br />
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ANEXO correspondente ANX 3.4 – 12 POESIA, ao qual iremos ainda recorrer a prpósito das<br />
DÉCIMAS. (ANX 3.4 – 12)<br />
1. OS DIVERSOS TEMAS VERSADOS NAS QUADRAS E CONTIGAS ver anx 3.4 – 1):<br />
In CORAIS ALENTEJANOS, de José Francisco Pereira – Edições Margem 1997; ver por<br />
exemplo:<br />
p. 25 sobre a Flora...;Ver p. 21... O que exprimem as CANTIGAS Populares: “sentimentos:<br />
Paixão do amor... prazer, dor, alegria e tristeza, ódio, ciúme, inveja, desgosto, resignação,<br />
saudade, melancolia, orgulho... tudo nela se versa...” “Os próprios sentimentos – religioso,<br />
moral, intelectual, estético, aí se retratam”; Ver ainda fenómenos e figuras de estilo...na mesma<br />
obra, pp. 34 e 35 e Ainda:<br />
1. Toponímia – Mértola... Guadiana...<br />
2. Fauna – Passarinhos... animais existentes na região... animais do trabalho... bois...<br />
3. Flora – Plantas flores... lírio roxo... Vivo no jardim do mundo... rosa roseira botão...<br />
4. Comoções, paixões, sentimentos... - (medo cólera, ternura, amor, ciúme, ódio, inveja orgulho,<br />
alegria e tristeza, prazer e dor, melancolia, desgosto, resignação, saudade... Ó minha mãe,<br />
minha mãe...<br />
5. Partes e órgãos do corpo humano – olhos... rosto... coração...<br />
6. Peças de vestuário e objectos de adorno... saia... anel... lenço...chapéu...<br />
7. Astros – Sol Lua...<br />
8. elementos da natureza... – água... montes... serras... terra<br />
Vivo no jardim do Mundo,<br />
Nos treze ramos matrizes,<br />
Com cinquenta e duas flores<br />
E vinte e cinco raízes.<br />
(Mértola)<br />
2. As QUADRAS podem falar do OLHOS, de cenas do quotidiano, dos Santos populares...<br />
VER (ANX 3.4 - 2):<br />
In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - Manuel Joaquim<br />
Delgado – Com. Rec. Notas – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial<br />
império 2ª Ed. 1980: ver, por exemplo as quadras iniciadas por:<br />
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O nosso olhar é espelho... - Ó olhos azuis... - Ó olhos doa minha cara... - Onze horas, meia-<br />
noite... - Fui um dia à tua horta... - Todas as Marias são... - Tenho carta no correio... -<br />
Sant’Entónio é bom rapaz... - S. João à minha porta... - Raparigas d’hoje em dia... - A nobre<br />
vila de Mért’la...<br />
3. Outros temas diversos – ocupações como as do MINEIRO, podemos ver (ANX 3.4 - 3):<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado<br />
e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS<br />
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1975<br />
ofícios e ocupações - Meu amor é barreneiro - (os barreneiros (= mineiros) cantam estas<br />
quadras enquanto trabalham - Ó Senhora Santa «Barba» - AMORES, AMORES.. –<br />
DECISÃO - AMOR PERFEITO – ALEGRIA - DESDÉNS E D<strong>ESE</strong>NGANOS - BEIJOS E<br />
ABRAÇOS – RETRATO - O CORAÇÃO MAIS OS OLHOS...<br />
4. SENTIMENTOS – RIQUEZA E POBREZA – USOS E COSTUMES... ver (anx 3.4 – 4)<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado<br />
e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS<br />
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979;<br />
Cap. XI – AMOR E TRISTEZAS p. 1 3. AUSÊNCIA p.13 - em 4. SAUDADES p. 23 - em 3.<br />
DINHEIRO E POBREZA p. 191 - No cap. XVII USOS E COSTUMES p. 197 - Cap. XX –<br />
CANTIGAS CONCEITUOSAS P. 235 - Cap. XXIV BOCAS DO MUNDO p. 289 - XXV<br />
GRAÇAS, CHALAÇAS E «CANTIGAS às AVESSAS» p. 303 - XXXIII - XXVI – CANTIGAS<br />
SATÍRICAS p. 339<br />
5. TOPONIMICAS OU GEOGRÁFICAS ver (anx 3.4 – 5)<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e<br />
com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS<br />
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1983<br />
- XXXIII CANTIGAS GEOGRÁFICAS E TÓPICAS p. 1<br />
- p. 21 - p.22 Beja - Adeus, cidade de Beja, - Mértola - Adeus, ó vila de Mértola, - Mina de S.<br />
Domingos - - Serpa – Guadiana – Vila Real de s. António...<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
6. JANEIRAS – «Janeiras - Uma tradição que se cantava em grupos de Monte em monte, de<br />
casa em casa...» (ver ANX 3.4 – 6)<br />
In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - II Vol. - Com. Rec.<br />
Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. –<br />
Editorial império 2ª Ed. 1980, p. 147<br />
7. ORAÇÕES – simples (Ver ANX 3.4 – 7)<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado<br />
e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS<br />
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1975:<br />
P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas:<br />
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />
Para comer é que se faz isto!<br />
8. ORAÇÕES DO RITUAL DO PÃO - Ver (ANX. 3.4 – 8) também as já referidas no<br />
RITUAL DO PÃO – no anterior ANX 2.6 ver :<br />
in COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e<br />
Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara<br />
Municipal de Mértola, 1997.<br />
9. ORAÇÕES – ROMANCEIRO (ver ANX 3.4 – 9)<br />
in ROMANCEIRO POPULAR PORTUGUÊS, II Vol. - organização, introdução notas e<br />
Bibliografia de Maria Aliete dores Galhoz, Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional<br />
de Investigação Científica, Lisboa, 1988:<br />
- ORAÇÃO DAS ALMAS – algo de mais elaborado e completo...<br />
10. DÉCIMAS – (ANX. 3.4 – 10 A – B – C – DÉCIMAS)<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado<br />
e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS<br />
CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979<br />
ASSUNTOS VÁRIOS VERSADOS EM DÉCIMAS (Dado o apreço em que tinha estas décimas,<br />
o Prof. Leite de Vasconcellos conserva-as em maços à parte de outras composições. Versando<br />
vários assuntos, servem, na maioria dos casos, de glosas de quadras.)<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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O mineiro traja bem - DESPIQUE DO ALENTEJO E DO ALGARVE - I - DESPIQUE<br />
ALENTEJO ALGARVE – II –<br />
10 DÉCIMAS (ANX 3.4 – 10 D) - Como Décimas mais genuínas e recolhidas in loco<br />
voltamos agora à citada obra no início deste capítulo:<br />
SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE<br />
MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.; com<br />
as DÉCIMAS de:<br />
- p. 106 – ÉS JOVEM , SOU REFORMADO... – de Manuel Guerreiro Martins (Mina deS.<br />
Domingos);<br />
- p. 143 - VIVA AMENDOEIRA DA SERRA... de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da<br />
Serra.<br />
11 – RIMANCE (ANX 3.4 – 11)<br />
In Subsídio para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO - II Vol. - Com. Rec.<br />
Notas de Manuel Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. –<br />
Editorial império 2ª Ed. 1980;<br />
- ANX. 3.4 – 11 A – RIMANCE - in Delgado – LAURA LINDA<br />
- ANX. 3.4 – 11 B – RIMANCE - in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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ou melhor dizendo: apresentamos<br />
- as 12 MODAS recolhidas por<br />
3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS<br />
João RANITA da Nazaré in MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO – Cancioneiro<br />
da Tradição Oral – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – 1986. – Capítulo: Quintas variações:<br />
Mértola pp. 269 – 296:<br />
Profanas:<br />
- O meu anel<br />
- Rio Guadiana<br />
- As cobrinhas de água<br />
- Mértola do Guadiana<br />
- Nossa Senhora das Neves<br />
- Passarinho prisioneiro<br />
- Não quero que vás à monda<br />
- Maria pega na carta<br />
- Ao romper da bela aurora<br />
- Lírio Roxo<br />
Religiosas:<br />
- Os Reis<br />
- As Janeiras<br />
Quadra transcrita na mesma obra de Ranita da Nazaré::<br />
Mértola estás situada<br />
Entre o rio e a ribeira,<br />
Firme nas tuas muralhas<br />
A viver de cantaneira.<br />
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- os 3 GRUPOS CORAIS relacionados com MÉRTOLA<br />
GRUPO CORAL «GUADIANA»DE MÉRTOLA<br />
GRUPO CORAL DA MINA DE SÃO DOMINGOS<br />
GRUPO CORAL DOS AMIGOS DA MINA DE SÃO DOMINGOS EM SACAVÉM<br />
que constam da obra de:<br />
José Francisco Pereira, CORAIS ALENTEJANOS, Editor Manuel Geraldo, Edições Margem,<br />
Lisboa, 1997.<br />
Tecer aqui grandes teorias sobre a importância, a originalidade, e as características do CANTE,<br />
MODAS e GRUPOS CORAIS do ALENTEJO, tanto os sediados, evidentemente, no Alentejo<br />
como os de Alentejanos sediados, sobretudo, na zona da Gande Lisboa, seria uma tarefa<br />
supérflua e demasiado ambiciosa.<br />
Deixamos simplesmente o testemunho do Maestro F. Lopoes Graça e de M. J. Delgado, citados<br />
por Ranita de Salomé na obra supra citada:<br />
Lopes Graça sobre a canção Alentejana:<br />
«Tem de ir ao coração do Alentejo, a Serpa e seu termo quem quiser conhecer uma das mais<br />
genuínas e curiosas manifestações do génio do nosso povo: as canções corais, que os íncolas da<br />
região, na sua maioria rudes trabalhadores do campo e pequenos mesteirais, cantam com uma<br />
admirável musicalidade nata e a compenetração de quem cumpre um velho ritual».<br />
MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS:<br />
«O valor das 'modas' alentejanas está em serem um canto misteriosamente afectivo, apaixonado,<br />
tendo algo de religioso e místico, como se desprende dos acordes e melodias.»<br />
Podemos e devemos ainda consultar, pelo menos, as duas obras, mais o grande Mestre do<br />
CANTE, o Padre António Marvão, de quem infelizmente não pudemos consultar nenhuma obra<br />
e do Grande Musicólogo que foi Michel Giacometti, por exemplo no CANCIONEIRO<br />
POPULAR PORTUGUÊS, Michel Giacometti, com a colaboração de Fernando Lopes Graça,<br />
Círculo de Leitores, Agosto de 1981, e teremos os dados essenciais para nos apercebermos da<br />
importância de recolher, estudar e divulgar o CANTE ALENTEJANO.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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Como expressão Popular Artística, o CANTE – a «VOZ DO VENTRE DA TERRA» na<br />
expressão de José Rabaça Gaspar, repetida nos diversos trabalhos citados na bibliografia e nos<br />
POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA, Beja, 1987, como arte musical que escapa<br />
a qualquer influência, definição e intervenção erudita, aparece-nos como o sinal mais profundo e<br />
sentido da Alma de um Povo e que merece, por isso, uma atenção especial.<br />
Ver ANEXO correspondente ANX. 3.5<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...<br />
Como não somos Arqueólogos nem peritos em Epigrafia, mas como aluna de um Curso: de<br />
Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural e<br />
num TRABALHO para uma Disciplina de Gestão de Espaços Culturais e Património<br />
Histórico, pareceu-me importante, guardar para o final, um TEMA que servisse de ligação entre<br />
todos os capítulos em que dividi o meu trabalho e se foram ampliando à medida que a<br />
investigação ia evoluindo e o trabalho excepcional, de uma dimensão e envergadura que não me<br />
compete qualificar nem muito menos avaliar, que tem sido desenvolvido, pelo menos desde os<br />
finais dos anos setenta (1975), pelo dinamismo do falecido primeiro presidente da Câmara de<br />
Mértola, pós 25 de Abril, Dr. António Manuel Serrão Martins; e por intermédio dele, pelo<br />
“milagre” do aparecimento do Campo Arqueológico de Mértola (1979); e pela Câmara<br />
Municipal de Mértola; e pela Assocoiação de Defesa do Património de Mértola; e pelo Parque<br />
Natural do Vale do Guadiana... e talvez outros que não conhecemos; e apresentar aqui, quase<br />
como ilustração, alguma PEDRAS QUE FALAM, possivelmente, mais do que as outras, porque<br />
têm algo escrito...<br />
Ver ANEXO correspondete ANX. 4.<br />
Alguns exemplos:<br />
Fig. 1<br />
«ESTA TORRE MANDOU FAZER DOM JOÃO FERNANDES PRIMEIRO MESTRE QUE<br />
HOUVE EM PORTUGAL ERA DE 1330 0U SEJA 1292»<br />
Fig. 2<br />
Em destaque o símbolo dos Templários e no cruzeiro a palavra "OBLATVS" part. de offero -<br />
apresentar - expor - oferecer...<br />
Incricção em redor da base da Cruz: «OBLATVS EST QUIA IPSE VOLUIT ...???»<br />
Vide Antifona da Feria V in Coena Domini<br />
- (in LIBER USUALIS MISSAE ET OFFICII PRO DOMINICIS ET FESTIS CUM<br />
CANTU GREGORIANO EX EDITIONE VATICANA... Typis Societatis S. Joannis<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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Evangelistae - Desclée & Socii - S. Sedis Apostolicae et Sacrorum Rituum<br />
Congregationis Typographi - Parisiis, Tornaci, Romae - 1950 - p. 651)<br />
«Oblatus est, quia ipse voluit, et peccata nostra ipse portavit.»<br />
«Foi oferecido, porque Ele próprio o quis, e Ele carregou com os nossos pecados.»<br />
Fig. 3<br />
«As suas cinco naves são cobertas por um belo reticulado de abóbadas»<br />
Fig 4<br />
«Dos poucos elementos da Antiga Mesquita restam dois capitéis reutilizados na reconstrução do<br />
século XVI»<br />
Fig 5<br />
Porta da Igreja que segue o modelo do Renascimento Italiano<br />
Fig. 6<br />
«Esta peça excepcional, fabricada no século XI, na antiga Tunísia, mostra, em traços rápidos,<br />
uma cena de caça, em que um corso é atacado por um galgo e um falcão»<br />
Fig. 7<br />
«Os motivos decorativos animais ou vegetais passam a geométricos ou epigráficos.»<br />
Fig.8<br />
Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas: «ANTÓNIA ...<br />
Fig 9<br />
FESTELUS...<br />
Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas... «Alguém? "EISTELLUS"? "FISTELLUS"<br />
que aqui viveu e descansa em paz… Dezembro da ERA de quinhentos e Quarenta e Oito»<br />
«FISTELLUS V(IR) HON(ES)T(US) VIXIT AN(NOS) LXX REQ(U)IEVIT IN PACE D(IE)<br />
VIII KAL(ENDAS) DECENB(RES) ERA dXLVIII<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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"Fistelo, homem de condição social superior, viveu 70 anos; descansou em paz no 8º dia das<br />
calendas de Dezembro da era de 548 (o que no nosso calendário corresponde ao dia 24 de<br />
Novembro do ano 510).<br />
(Vide MUSEU DE MÉRTOLA - BASÍLICA PALEOCRISTÃ - Campo Arqueológico de<br />
Mértola, 1993, p. 117).<br />
Fig 10<br />
Epitáfio de AMANDA<br />
«AMANDA FAMU(L)A XPI VIXIT ANNOS PLUS MIN(U)S XXXII MENSES V<br />
REQUIEVIT IN PACE D(OMI)NI SUB D(IE) VII KAL(ENDAS) MART(IAS) ERA<br />
dLXXXII»<br />
«Amanda, servidora de Cristo, viveu mais ou menos 32 anos e cinco meses, descansou na paz do<br />
Senhor no 7º dia das calendas do mês de Março da era de 582 (o que no nosso calendário<br />
corresponde ao dia 23 de Fevereiro do ano de 544).<br />
(Vide MUSEU DE MÉRTOLA - BASÍLICA PALEOCRISTÃ - Campo Arqueológico de<br />
Mértola, 1993, p. 119).<br />
Fig.11.<br />
SÃO HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO CORO DA<br />
IGREJA<br />
Epitáfio de Andreas<br />
«ANDREAS FAMULUS DEI PINCEPS CANTORUM SACROSANCTE A(E)CLISIAE<br />
MERTILLIA(N)E VIXIT ANNOS XXXVI REQUIEVIT IN PACE SUB D(IE) TERTEO<br />
KAL(ENDAS) APRILES AERA dLX TRISIS»<br />
«André, sevidor de Deus, primeiro cantor da sacrossanta Igreja Mertiliana, viveu 36 anos,<br />
descansou em paz no terceiro dia das calendas de Abril da era de 560 e três (o que no nosso<br />
calendário corresponde ao dia 30 de Março de 525)<br />
As lápides anteriores falam de «...HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E<br />
CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO CORO DA IGREJA.»<br />
Fig. 12<br />
«Lápida com uma escrita, ainda hoje por decifrar, gravada em caracteres greco-púnicos.»<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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Conclusão<br />
Creio ter provado a importância do patrmónio oral, pois o mesmo é fundamental para identificar<br />
e caracterizar esta região.<br />
Foi feita uma recolha exaustiva de todas as formas de expressão que caracterizam o património<br />
oral segundo os autores de referência.<br />
Sendo evidente que todos os dados recolhidos merecem um tratamento mais aprofundado, creio<br />
ter contribuído para uma participação activa e empenhada dos autênticos actores da TRADIÇÃO<br />
ORAL... como “mostra” evidente – palpável – audível, da amálgama, da soma de Culturas que<br />
passaram por esta encruzilhada de vias terrestres, marítimas, de povos, de gentes...<br />
A PROPOSTA – SUGESTÃO da criação de um CDID-TOLP – Centro de Documentação,<br />
Investigação e Divulgação da TRADIÇÃO ORAL / LITERATURA POPULAR, que para além<br />
de Centro de Estudo devia ter a sua componente lúdica, dramática... (com petiscos e tudo)...e<br />
com as pistas de recolha, reflexão e divulgação dentro dos limites escassos que estão ao meu<br />
alcance, o mérito deste trabalho será sem dúvida o de abrir espaço para um trabalho mais<br />
alargado e aprofundado, em que teria todo o gosto de participar, mas reconheço que só poderá<br />
ser devidamente implementado e desenvolvido por alguém que esteja ou venha e estar<br />
intimamente ligado a MÉRTOLA e sua REGIÃO...<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
A Aluna nº 58<br />
Maria de Fátima da Vinha Borges<br />
61
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso Brasileira de Cultura – in Mértola:<br />
Autor Título Edição Notas<br />
José António Ferreira de Almeida<br />
(coord.),<br />
Joaquim Boiça,<br />
Virgílio Lopes<br />
Tesouros Artísticos de Portugal Lx., 1980<br />
A Necrópole e a Ermida da Achada de S.<br />
Sebastião<br />
Campo Arqueológico e<br />
Escola Profissional Bento<br />
de Jesus Caraça, 1999<br />
Mértola, Campo<br />
Arqueológico, 1998<br />
Joaquim Boiça , Imaginária de Mértola – tempos,<br />
espaços, representações<br />
Joaquim Boiça<br />
Inventário/Roteiro do Arquivo Histórico<br />
Luís Alves de Silva<br />
Municipal de Mértola<br />
Joaquim Boiça,<br />
Mértola nas Memórias Paroquiais de<br />
Maria de Fátima R. Sal S Barros 1758- Transcrição e Estudo<br />
Joaquim Boiça,<br />
Roteiro de Fontes para a História de (nº. 1) – SalN.T.T.; (nº.<br />
Maria de Fátima R. Sal S Barros Mértola<br />
2) – Casa de Bragança<br />
Joaquim Boiça,<br />
Mértola nas Visitações da Ordem de<br />
Maria de Fátima R. Sal S. Barros, Santiago (1482-1593) – transcrição e<br />
Celeste Gabriel<br />
estudo<br />
Manuel Figueiredo História das Terras de Portugal e seus<br />
Tesouros Artísticos, texto ms. (por<br />
gentil cedência do autor)<br />
Bernardino Barros Gomes Cartas Elementares de Portugal Lx., 1878 (ed. Facsimilada,<br />
Lx., 1990)<br />
Vítor Oliveira Jorge e<br />
Cláudio Torres, (coord.)<br />
A Arqueologia e os outros Patrimónios Porto, 1999<br />
Pinho Leal Portugal Antigo e Moderno<br />
Flávio Lopes Património Arqueológico e<br />
Arquitectónico Classificado<br />
vol. I, Lx., 1993<br />
Santiago Macias e<br />
O Islão entre o Tejo e Odiana Mértola, Campo<br />
Cláudio Torres (coord.)<br />
Arqueológico<br />
Santiago Macias e<br />
Portugal Islâmico – os últimos sinais do Lx., 1998<br />
Cláudio Torres (coord.)<br />
Mediterrâneo<br />
Manuel Alves Oliveira Guia Turístico de Portugal de A a Z Lx., 1990<br />
Francisco Hipólito Raposo Descubra Portugal Lx., 1993<br />
Miguel Rego Mineração no Baixo Alentejo Castro Verde, 1996<br />
Cláudio Torres (director) Basílica Paleocristã Mértola, Campo<br />
Arqueológico, 1993<br />
Cláudio Torres (director) Arqueologia Medieval, nº. 1 Fevereiro de 1992,<br />
Mértola<br />
Cláudio Torres (director) Cerâmica Islâmica Portuguesa Mértola, Campo<br />
Arqueológico, 1987<br />
Cláudio Torres,<br />
Luís Alves da Silva<br />
Mértola – Vila Museu Mértola, 1989<br />
Cláudio Torres et al. Terras da Moura Encantada Porto, 1999<br />
Estácio da Veiga Memórias das Antiguidades de Mértola 1880<br />
Afonso Eduardo Martins Zuquete Nobreza de Portugal Coimbra, 1960<br />
Anuário Católico Lx., 1996<br />
Anuário da Imprensa em Portugal 1992-<br />
1993<br />
Lx., 1993<br />
À Descoberta de Portugal Lx., 1984<br />
Enciclopédia Geográfica Lx., 1988<br />
Guia de Portugal vol. II Lx., 1991 (2ª reimp.)<br />
INE-Censo 91/resultados definitivos Lei<br />
Orgânica dos Tribunais Judiciais –<br />
regulamento;<br />
Ministério do Planeamento e da<br />
Administração do Território, Livros e<br />
Conselhos<br />
Lx. 1996<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Outros sobre Mértola – Campo Arqueológico de Mértola – Associação de Defesa do Património<br />
de Mértola – Câmara Municipal de Mértola – Parque Natural do Vale do Guadiana... & outros<br />
COMIDAS DE MÉRTOLA AROMAS E SABORES Nádia Torres – Alunos Professores e<br />
Funcionários da Escola C+S de<br />
Mértola<br />
MÉRTOLA ISLÂMICA Estudo Histórico – Arqueológico<br />
do Bairro da Alcáçova (Séculos XII – XIII<br />
Edição – Escola C+S<br />
de Mértola Câmara<br />
Municipal de Mértola,<br />
1997<br />
Santiago Macias Campo Arqueológico<br />
de Mértola, Mértola,<br />
1996<br />
MANTAS TRADICIONAIS do BAIXO ALENTEJO Ângela Luzia – Isabel Magalhães –<br />
Claúdio Torres<br />
MUSEU DE MÉRTOLA – BASÍLICA PALEOCRISTÃ Campo Arquelógico de Mértola,<br />
vários autores, com Coordenação de<br />
Cláudio Torres e Santiago Macias<br />
CADERNO Nº 1 –<br />
Campo Arqueológico<br />
de Mértola- Edição da<br />
CM Mértola 1984<br />
Ed. Do Campo<br />
Arqueológico de<br />
Mértola, 1993<br />
ALENTEJO – MARGEM ESQUERDA ESQUECIDA Heitor Domingos Ed. Autor, 2000<br />
Recordações – Velhos são os Trapos Heitor Domingos Ed. Autor – 2ª ed.<br />
1999<br />
O PROBLEMA DA CAÇA NO ALENTEJO (1901 – 1975)<br />
Atitudes, expectativas e tensões sociais no distrito de<br />
Beja<br />
Mário do Carmo Tese de Mestrado<br />
apresentada à Faculdade de Letras da<br />
Universidade de Lisboa em 1999<br />
Edição Autor, apoiada<br />
pela CM de:<br />
Alvito, Beja, Castro<br />
Verde, Mértola,<br />
moura, Odemira,<br />
Ourique, Serpa. Ed..<br />
2000<br />
TEXTOS SERRÃO MARTINS António Serrão Martins Edição da Câmara<br />
Municipal de Mértola,<br />
1985<br />
SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E<br />
CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA<br />
Mário Elias Ed. Associação de<br />
Defesa do Património<br />
de Mértola, s/d<br />
Mário Elias Ed. Do Autor, 1997<br />
A ESTÉTICA DO PESSIMISMO EM ANTÓNIA<br />
SEQUEIRA (poetisa mertolense)<br />
AVES – aves do parque natural do vale do guadiana Ana Cristina Cardoso Edição – Parque<br />
Natural do Vale do<br />
Guadiana, 2000<br />
PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana Leonor Rogado – texto<br />
Edição – Parque<br />
Carlos Carrapato – fotografia Natural do Vale do<br />
Guadiana, 2001<br />
ENGENHOS HIDRÁULICOS TRADICIONAIS Rui Guita Ed. ICN – Instituto de<br />
conservação da<br />
Natureza e PNVG<br />
Parque Natural do<br />
Vale do Guadiana,<br />
1999<br />
CONTRIBUTOS PARA Preservação e Valorização do Rosário Oliveira Associação de Defesa<br />
Património Natural do Troço Médio do VALE DO<br />
do Património de<br />
GUADIANA<br />
Mértola, 1996<br />
AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias<br />
Paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola<br />
À DESCOBERTA DE MÉRTOLA – OS CAMINHOS DO<br />
TEMPO E DA TERRA<br />
Joaquim Ferreira Boiça<br />
Maria de Fátima Rombouts Barros<br />
Transcrição, organização, introdução<br />
e notas<br />
Filipe Abranches<br />
Nádia Torres<br />
Rosário Oliveira<br />
Jorge Revez<br />
Estudos e Fontes para<br />
a História local 1<br />
Campo Arqueológico<br />
de Mértola, 1995<br />
Edição ADPM e<br />
CADISPA, 1993<br />
Ver cum edere –<br />
comer com... e<br />
nomes...<br />
... até à<br />
alimentação...<br />
Para epigrafia<br />
etc...<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
Histórias de velhos<br />
mineiros<br />
Ver “aforismos<br />
cinegéticos” e<br />
espécies...<br />
Ver crónicas<br />
alentejanas e<br />
retaratos<br />
populares...<br />
Muitas figuras e<br />
cancioneiro...<br />
Os nomes e os<br />
nomes regionais...<br />
nomes de peixes e<br />
pescadores...<br />
Lista de nomes de<br />
moinhos e...<br />
Flora – 132<br />
espécies...<br />
Fauna – 192 (128<br />
aves, 30<br />
mamíferos, 17<br />
anfíbios e 7<br />
répteis)<br />
História e<br />
identidade:<br />
actividades,<br />
produtos, saber...<br />
63
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos da Tradição Oral – Literatura Popular e<br />
Informação complementar, como alguns dados sobre a MITOLOGIA GRECO LATINA:<br />
Título Autor Edição Notas<br />
A MITOLOGIA Edith Hamilton Publicações Dom Elementos sobre<br />
Quixote, Lisboa Mirtilis, Mirto,<br />
1979<br />
Tântalo...<br />
MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia A. R. Hope Moncrieff Editorial Estampa /<br />
Ilustrado<br />
Círculo de Leitores,<br />
Lisboa, 1992<br />
GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS Celso Cunha e Lindley Cintra Edições João Sá da<br />
CONTEMPORÂNEO<br />
Costa, Lisboa, 1985<br />
CONTOS POPULARES e LENDAS coligidos por José Leite de<br />
Acta Universitatis<br />
Vasconcellos coordenação Alda da Conimbrigensis –<br />
Silva Soromenho e Paulo Caratão Por Ordem da<br />
Soromenho – Vol I (1963/4) II Universidade – 1963<br />
(1966/9) –<br />
– 1969<br />
CANCIONEIRO POPULAR<br />
coligido por José Leite de<br />
Acta Universitatis<br />
PORTUGUÊS<br />
Vasconcellos coordenado e com Conimbrigensis –<br />
introdução de Maria Arminda Zaluar Por Ordem da<br />
Nunes, vol. I (1975) vol. II (1979) Universidade – 1975<br />
vol. III (1983)<br />
– 1983<br />
CONTOS POPULARES<br />
Estudo, Coordenação e Classificação Centro de Estudos<br />
PORTUGU<strong>ESE</strong>S – (INÉDITOS) Alda da Silva Soromenho e Paulo Geográficos –<br />
Caratão Soromenho – Vol I ( 1984) e Instituto Nacional<br />
II ( 1986<br />
de Investigação<br />
científica – Lisboa –<br />
1984 – 1986<br />
ROMANCEIRO PORTUGUÊS Coligido por José Leite de<br />
Acta Universitatis<br />
Vasconcellos – Notícia preliminar de Conimbrigensis –<br />
R. Menedez Pidal – Vol I (1958) e II Por Ordem da<br />
(1960<br />
Universidade – 1958<br />
e 1960<br />
ROMANCEIRO POPULAR<br />
org. intrd. Notas e Bibliografia de Centro de Estudos<br />
PORTUGUÊS – II – Romances Maria Aliete Dores Galhoz<br />
Geográficos –<br />
religiosos e orações Narrativas –<br />
Instituto Nacional<br />
Romances Vulgares e Cantigas<br />
de Investigação<br />
Narrativas<br />
Científica – Lisboa<br />
1988<br />
MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO João Ranita da Nazaré Imprensa Nacional<br />
ALENTEJO – Cancioneiro da<br />
– Casa da Moeda –<br />
Tradição Oral<br />
1986<br />
A LINGUAGEM POPUAR DO BAIXO Manuel Joaquim Delgado 2ª edição – Edição<br />
ALENTEJO e O DIALECTO<br />
da Assembleia<br />
BARRANQUENHO – ( Estudo<br />
Distrital de Beja –<br />
Etnofilológico)<br />
(1951) 1983<br />
A ETNOGRAFIA E O FOLCLORE no comentário, recolha e notas – Manuel 2ª edição – Edição<br />
BAIXO ALENTEJO<br />
Joaquim Delgado<br />
da Assembleia<br />
Distrital de Beja –<br />
1985<br />
SUBSÍDIO PARA O CANCIONEIRO Comentário, recolha e notas – Manuel Instituto Nacional<br />
POPULAR DO BAIXO ALENTEJO – Joaquim Delgado<br />
de Investigação<br />
vol. I e II<br />
Científica, 2ª ed. ,<br />
Lisboa, 1980<br />
ESTUDOS LINGUÍSTICOS<br />
o Idioma Português<br />
Manuel Joaquim Delgado Lisboa 1968<br />
LITERATURA POPULAR DO<br />
Direcção-Geral da Educação de Ministério da<br />
DISTRITO DE BEJA<br />
Adultos – Coordenação Distrital de Educação e Cultura<br />
Beja<br />
– 1986<br />
PARA A HISTÓRIA DA<br />
Manuel Viegas Guerreiro Instituto de Cultura<br />
LITERATURA POPULAR<br />
e Língua Portuguesa<br />
PORTUGUESA<br />
– Ministério da<br />
Educação – Março<br />
de 1983<br />
Guia de Recolha de Literatura Manuel Viegas Guerreiro Lisboa, Ministério da<br />
Popular<br />
Educação e<br />
Investigação<br />
Científica, 1976<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
64
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O Cancioneiro Popular em Portugal Maria Arminda Zaluar Nunes MEC Secretaria de<br />
Estado da Cultura,<br />
Instituto de Cultura<br />
Portuguesa, 1978<br />
A CANÇÃO POPULAR<br />
Fernando Lopes Graça Publicações Europa<br />
PORTUGUESA<br />
América – 1974<br />
ARQUIVOS DE SERPA(Câmara João Cabral Serpa, 1971 Ver Lenda Serpa<br />
Municipal)<br />
Mértola<br />
CANCIONEIRO DE SERPA Maria Rita Ortigão Pinto Cortez Edição da Câmara Ver Lenda Serpa<br />
Municipal de Serpa,<br />
1994<br />
Mértola<br />
SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE C. Gonçalves Serpa Composto e<br />
Ver Lenda Serpa<br />
SERPA<br />
impresso na Gráfica<br />
Torriense, Torres<br />
Vedras, s/d<br />
Mértola<br />
LISTA TELEFÓNICA – Alentejo –<br />
Para ver<br />
Setúbal – 20002 – 2003<br />
localidades e<br />
APELIDOS mais<br />
repetidos<br />
Enciclopédia Verbo – Luso-<br />
Ver – Mértola –<br />
Brasileira de Cultura – Edição<br />
Século XXI<br />
mirtilo – murta<br />
Dicionário da Língua Portuguesa Academia de Ciências de Lisboa – Editorial Verbo – Ver –<br />
Contemporânea<br />
2001<br />
mertolense e<br />
mertolengo –<br />
mirto – murta<br />
CORAIS ALENTEJANOS José Francisco Pereira Edições Margem –<br />
1997<br />
ANEDOTAS – Contribuição Sal Machado Guerreiro Editorial Império,<br />
para um Estudo<br />
Lx, 1986<br />
LIVRO DE ANEDOTAS Sal Machado Guerreiro Edições Colibri,<br />
Lx. 1995<br />
ANTROPOLOGIA DO SIMBÓLICO Mesquitela Lima Editorial Presença,<br />
L.da ,Porto, 1983<br />
ALCUNHAS ALENTEJANAS Francisco Martins Ramos Ed. Associação de Ver mais publ. e<br />
Defesa dos Interesses o Tratado de<br />
de Monsaraz – ADIM Alcunhas, já em<br />
2003...<br />
TRATADO DAS ALCUNHAS Francisco Martins Ramos<br />
Editora Colibri, 2003 Signo que capta<br />
ALENTEJANAS<br />
Carlos Alberto da Silva<br />
o essecial de<br />
alguém...<br />
GUIA DE PORTUGAL –<br />
Colaboração dos Mais Ilustres Escritores Biblioteca Nacinal de Numerosos<br />
EXTREMADURA, ALENTEJO, Portugueses (nome de referência Raúl Lisboa, 1927 – pp. dados sobre<br />
ALGARVE<br />
Proença) – com 17 mapas e plantas e<br />
numerosas gravuras<br />
162 - 166<br />
Mértola e zona...<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas e Outras Publicações Periódicas<br />
Título Autor Publicada em: Notas<br />
“Alentejo não Tem Sombra Senão a José Mattoso in ARQUIVO DE BEJA, vols. VII / VIII,<br />
que Vem do Céu”,<br />
série III, Agosto de 1998<br />
Instituto Alentejano de Cultura / José Rabaça Gaspar in ARQUIVO DE BEJA – vol. II e III –<br />
Desenvolvimento (IAC/D)<br />
série III – Dezembro de 1996, pp.<br />
237 – 248.<br />
A LITERATURA (CULTURA<br />
José Rabaça Gaspar In LER EDUCAÇÃO, Revista da ESSE<br />
TRADICIONAL) e o<br />
BEJA, n.ºs 17/18, Março / Dezembro<br />
Desenvolvimento e a urgente<br />
criação de um INSTITUTO<br />
ALENTEJANO DE CULTURA /<br />
D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO<br />
de 1995, pp. 167 – 220.<br />
A LINGUÍSTICA E A ANÁLISE José Rabaça Gaspar In CONGRESSO sobre o ALENTEJO<br />
LITERÁRIA COMO CONTRIBUTO et allii<br />
(ACTAS) – Semeando novos Rumos,<br />
PARA O D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO DO<br />
vol. III, Évora, Outubro de 1985, pp.<br />
ALENTEJO – para a Criação de um<br />
Instituto Alentejano de Cultura<br />
1127 – 1131 e 1720 Síntese<br />
SOBRE MÉRTOLA E O GUADIANA António Borges Arqueologia Medieval 1, Ed.<br />
Rio Fronteira,<br />
Coelho<br />
Afrontamento, 1992 – Campo<br />
nomes e Futuro<br />
Arqueológico de Mértola<br />
jovem...<br />
TOPOGRAFIA HISTÓRICA DE Joaquim Boiça Arqueologia Medieval 3, Ed.<br />
Ver os “puros de<br />
MÉRTOLA -<br />
Afrontamento, 1994?<br />
Campo Arqueológico de Mértola<br />
nação”...<br />
IBN QASI, REI DE MÉRTOLA E Artur Goulart de Arqueologia Medieval 1, Ed.<br />
Texto de 1986?<br />
MAHIDI LUSO-MUÇULMANO Melo Borges<br />
Afrontamento, 1992<br />
Campo Arqueológico de Mértola<br />
CERÂMICA MUÇULMANA do Hélder M. R.<br />
Arqueologia Medieval 2, Ed.<br />
Montinho das Laranjeiras<br />
Coutinho<br />
Afrontamento, 1993<br />
Campo Arqueológico de Mértola<br />
HISTÓRIAS DO GUADIANA Maurício Abreu RIOS DE PORTUGAL – Edição Gradiva Moinhos, pesca<br />
José M. Fernandes s/d<br />
e terminologia...<br />
RIO GUADIANA José Conde Veiga – OS MAIS BELOS RIOS DE PORTUGAL,<br />
texto<br />
Augusto Cabrita –<br />
fotos<br />
VERBO, 2ª edição, 1996<br />
SERPA EN/CANTADA EM LENDAS José Rabaça Gaspar separata – SERPA ANTIGA – in SERPA Serpínea e<br />
– (José Penedo de INFORMAÇÃO, 4ª série, Dezembro de 1996 / Myrtilis...<br />
Serpa)<br />
Janeiro de 1997, N.º 17<br />
Artigos do Professor in Vilas e Cidades<br />
Título Autor Revista Nº e data Notas<br />
Francisco Jacinto Vilas e Cidades<br />
Artes da construção<br />
Ano II. Nº15.<br />
A importância dos<br />
O Museu Municipal de<br />
Dezembro de 1997 museus e a sua<br />
Arqueologia de Silves<br />
concepção<br />
Museus de Empresa.<br />
Ano II. Nº27.<br />
Memórias e patrimónios<br />
a preservar<br />
Dezembro de 1998<br />
Património Documental<br />
Ano III. Nº32. Maio de<br />
e Desenvolvimento<br />
1999<br />
Centro de<br />
Ano III. Nº32. Maio de<br />
Documentação e de<br />
Informação<br />
1999<br />
Artes da Construção<br />
Ano III. Nº36.<br />
Pomarão<br />
Setembro/ Outubro de<br />
No Filão da História<br />
1999<br />
Alentejo Nosso,<br />
Ano IV. Nº37.<br />
A importância das<br />
Memórias minhas<br />
Novembro de 1999 raizes<br />
Exposições<br />
Ano IV. Nº37.<br />
A importância das<br />
Organização e<br />
Novembro de 1999 exposições e a sua<br />
Concretização<br />
organização<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
A Casa Alentejana.<br />
A Natureza Manda. O<br />
Homem Cumpre<br />
Património, Cultura e<br />
Memória Social.<br />
O Passado Preservado<br />
no Presente<br />
Alcaria Ruiva<br />
Alentejo Nosso,<br />
Memórias Minhas<br />
Parque Natural do Vale<br />
do Guadiana<br />
Uma Área Geográfica<br />
Protejida<br />
Alcaria Ruiva e Aracelis<br />
A Aldeia e a Ermida<br />
Santiago Macias, em<br />
Mértola<br />
Lapa Uma Herdade<br />
Alentejana No Tempo<br />
da Minha Memória<br />
<strong>Piaget</strong> de Almada<br />
Uma Ideia de<br />
Universidade<br />
Turismo e<br />
Desenvolvimento<br />
Mértola. Autarquia e<br />
Desenvolvimento<br />
Saúde e Educação<br />
O Instituto <strong>Piaget</strong> em<br />
Macedo de Cavaleiros<br />
Ano IV. Nº39. Janeiro<br />
de 2000<br />
Ano IV. Nº40.<br />
Fevereiro de 2000<br />
Ano IV. Nº44. Junho de<br />
2000<br />
Ano V. Nº47.<br />
Setembro/ Outubro de<br />
2000<br />
Ano V. Nº48. Novembro<br />
de 2000<br />
Ano V. Nº49. Dezembro<br />
de 2000<br />
Ano V. Nº54. Maio de<br />
2001<br />
Ano V. Nº54. Maio de<br />
2001<br />
Ano V. Nº%%. Junho<br />
de 2001<br />
Ano VI. Nº59.<br />
Dezembro de 2001<br />
Ano VI. Nº59.<br />
Dezembro de 2001<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
67
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
MULTIMEDIA:<br />
Diciopédia 2003 – Porto Editora – 2002<br />
Na internet:<br />
http://www.<strong>joraga</strong>.net ver Alentejo / feiradecastro / grupos corais / AlentejANEDOTAS /<br />
Conversar(e) /MERTOLA<br />
http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre freguesias.<br />
http://mertola.com.sapo.pt/<br />
http://www.alentejodigital.pt/mertola/index.htm<br />
http://www.MNARQUEOLOGIA-IPMUSEUS.pt - Página que teve um Prémio de qualidade em<br />
Dezembro de 2002 – com bastantes exemplares referente a Mértola, em especial os de epigrafia.<br />
In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm - para mitologia<br />
in http://mithos.cys.com.br/ - sobre MITOLOGIA<br />
Photo CD – ou CD PORTFOLIO – MÉTOLA VILA MUSEU – Copyright AVS – criações<br />
multimédia – lda Lisboa Portugal – Campo Arqueológico de Mértola – Kodak – com Texto de<br />
Cláudio Torres e Fotografia de António Cunha e Fernando Chaves<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS<br />
Foto in CD POTFOLIO – MÉRTOLA – Vila Museu<br />
ANEXOS de<br />
A Tradição Oral na Identidade de um Povo<br />
Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58<br />
ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO <strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong> – Almada<br />
Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico<br />
Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
PLANO DA COLECTÂNEA DE TEXTOS & RECOLHAS – ANEXOS<br />
Esquema paralelo ao da apresentação do trabalho<br />
- ANX - 1. – FALAM OS MESTRES – sobre a importância de conhecer os NOMES – o<br />
PATRIMÓNIO.<br />
- ANX - 1.1 - Mértola inserida no ESPAÇO – ALENTEJO, com marcas de Colonização...<br />
- ANX - 2. - Mértola – A NOMINALIA – A FESTA dos NOMES:<br />
- ANX - 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME e<br />
- ANX – 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina<br />
- ANX - 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...<br />
- ANX - 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...<br />
- 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado...<br />
- 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...<br />
- 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: COMIDAS - Saudações, formas de<br />
tratamento...<br />
- ANX - 3. – Outras Formas de Expressão<br />
- ANX - 3.1 – LENDA/s<br />
3.1 – 1 – Serpínia – Princesa feliz -<br />
3.1 – 2 – A Lenda de Serpínea<br />
3.1 – 3 – Serpa encantada em Lendas<br />
3.1 – 4 – a LENDA DE MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de Mércúrio<br />
3.1 – 5 – A TESOURINHA DA MOURA<br />
- ANX - 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de<br />
MERCÚRIO... aremeter para Pélops – Níobe – Tântalo... e Vénus a Deusa do Mirto...<br />
- ANX - 3.2 – CONTO/s<br />
- ANX - 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas –<br />
Cantilenas...<br />
- ANX - 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...<br />
- ANX - 3.5 – MODAS & GRUPOS CORAIS<br />
- ANX - 4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
70
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 1. – FALAM OS MESTRES –<br />
Um pouco de Teoria como referência... de J. Leite a Viegas Guerreiro, de Zaluar Nunes, a<br />
Para fundamentar<br />
Francisco Jacinto...<br />
a Importância dos NOMES e de conhecer a Identidade de um Povo...<br />
O que caracteriza a Identidade de um Povo na Literatura (Oral) Popular...<br />
Definição da Gramática do Português Contemporâneo:<br />
A LÍNGUA... A LINGUAGEM... A FALA...<br />
«Expressão da consciência de uma colectividade, a LÍNGUA é o meio por que ela concebe o<br />
mundo que a cerca e sobre ele age. Utilização social da faculdade da linguagem, criação da<br />
sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à do<br />
organismo social que a criou.»<br />
in Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha & Lindley Cintra, Ed. João Sá da<br />
Costa, Lx., 1985...<br />
FERNÃO LOPES in PRÓLOGO da PRIMEIRA PARTE DA «CRÓNICA DE EL-REI D. JOÃO I DE<br />
BOA MEMÓRIA<br />
«Grande licença deu a afeição a muitos que tiveram cárrego de ordenar histórias, mormente dos<br />
senhores em cuja mercê e terra viviam e hu foram nados seus antigos avós, sendo-lhe muito<br />
favoráveis no recontamento de seus feitos.»<br />
«E tal favoreza como esta nasce de mundanal afeição, a qual não é salvo conformidade dalguma<br />
cousa ao entendimento do homem: assim que a terra em que os homens per longo costume e<br />
tempo foram criados gera uma tal conformidade antre o seu entendimento e ela que, havendo de<br />
julgar alguma sua cousa. Assim em louvor como per contrairo, nunca per eles é direitamente<br />
recontada, porque, louvando-a dizem sempre mais daquelo que é, e se doutro modo, não<br />
escrevem suas perdas tão minguadamente como aconteceram.»<br />
«Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns,<br />
dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e<br />
espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta conformidade.<br />
Alguns outros tiveram que esto descia na semente no tempo da geração, a qual dispõe per tal<br />
guisa aquelo que dela é gerado, que lhe fica esta conformidade, tão bem acerca da terra como<br />
de seus dividos.»<br />
«E assim parece que o sentiu Túlio, quando veio a dizer: Nós não somos nados a nós próprios<br />
porque uma parte de nós tem a terra, e outra os parentes.»<br />
Epicteto citado por Mesquitela Lima:<br />
«O que perturba e alarma o homem não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca<br />
das coisas.» Epicteto – Daí a importância de chamar as “coisas” ou os “bois” pelos nomes e de<br />
sabermos quem e como foi dado um determinado NOME e o que significa. Se conseguirmos<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
71
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
saber o NOME das “coisas”, estamos a entrar no mundo da Cultura Humana «Aquela que estuda<br />
a CULTURA integrada nas relações, nas constelações de relações que os homens tecem entre<br />
si.», como nos diz Mesquitela Lima 7 .<br />
Miguel Torga:<br />
«Mas mesmo nos Reinos Maravilhosos acontece a desgraça de o povo saber de uma maneira e<br />
as escolas saberem doutra.» Miguel Torga 8<br />
Cláudio Torres:<br />
«Proteger as tradições artesanais é também impedir que a nossa escola continue a insultar<br />
aqueles a quem chama “analfabetos” corrigindo o seu falar, o seu gosto e a sua cultura para<br />
impor o modelo dominante de Lisboa – Cascais.» Cláudio Torres 9 .<br />
Francisco Jacinto 10 :<br />
Cita Carlos Antero Ferreira: «A ideia de defesa e salvaguarda do património cultural radica na<br />
convicção, cada vez mais alargada e generalizada, de que a manutenção das expressões do<br />
passado histórico é um dos mais relevantes factores de continuidade na construção da memória<br />
colectiva dos povos, concorrendo para a definição e a fixação da identidade social e cultural.»<br />
Acrescenta depois a ideia de património imaterial e cultura:<br />
«Assim sendo, a noção de património está – ainda que mais “vagamente” – ligada à ideia de<br />
cultura imaterial (crenças, lendas, tradições, contos e, dum modo geral, a tudo o que é<br />
transmitido por via oral ou integra um conjunto de valores vividos e assumidos por uma<br />
sociedade ou por grupos dela constituintes.»<br />
Será importante ver neste artigo a visão do autor, como as alusões ao antropólogo Jorge Dias,<br />
Helder Pacheco; a evocação de Heródoto «... e a forma como ele entendia a “história”... um<br />
património não só digno de ser preservao como transmitido aos vindouros.»; fala ainda de Nuno<br />
Santos Pinheiro e de José Mattoso para nos dizer o que se deve entender por património e da<br />
necessidade de «... o concurso, em pé de igualdade, da interdisciplinaridade das ciências.»<br />
7<br />
LIMA, Mesquitela Antropologia do Simbólico (ou o Simbólico da Antropologia) –, Editorial Presença, Lisboa,<br />
1983.<br />
8<br />
TORGA, Miguel – “Um Reino Maravilhoso – Trás-os-Montes” in PORTUGAL, 5ª Ed., Coimbra 1986.<br />
9<br />
TORRES, Cláudio et allii, Mantas Tradicionais do Baixo Alentejo, (Ângela Luzia – Isabel Magalhães) –, Caderno<br />
N.1 - Campo Arqueológico de Mértola – Edição da Câmara Municipal de Mértola, Abril de 1984.<br />
10<br />
JACINTO, Francisco – “Património Cultura Memória Social – O passado preservado no presente” in «VILAS E<br />
CIDADES» Ano IV - Mensal N.º 40 – Fevereiro / 2000.<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
72<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Transcrevemos parte da introdução de um trabalho de:<br />
José Rabaça Gaspar, IV Jornadas da SAL/Beja, 2 de Junho de 1995<br />
A LITERATURA (CULTURA) TRADICIONAL) e o Desenvolvimento<br />
e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA<br />
/D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO<br />
Publicado na Revista da Escola Superior de Educação de «LER EDUCAÇÃO» números 17/18,<br />
Março / Dezembro 1995.<br />
1 uma INTRODUÇÃO AO TEMA<br />
1 A explicação de um título que se pode completar assim: A Literatura (Cultura)<br />
Tradicional é, terá de ser, a base, raiz e condição de um desejável, correcto e eficiente<br />
D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO. Para que isso aconteça, e para que, através das variadas e<br />
múltiplas manifestações da CULTURA, se possa conhecer profunda e verdadeiramente<br />
um povo e/ou uma Região, é urgente (já tardia) a criação de um INSTITUTO<br />
ALENTEJANO de CULTURA / D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO que, ao mesmo tempo que<br />
recolhe, estuda e divulga essa diversificadas manifestações, as anima, dinamiza e apoia,<br />
e, ainda ao mesmo tempo, fornece os dados a todos os agentes do<br />
D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO os elementos necessários para que o D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO<br />
não agrida a IDENTIDADE e AUTENTICIDADE de um Povo e/ou de uma REGIÃO e<br />
não se caia na desastrosa corrida ao desenvolvimento copiando o estranho, o estrangeiro,<br />
aquilo que agride, que mata a identidade, as características e autenticidade de um Povo /<br />
Região...<br />
0.1 – A minha falta de autoridade.<br />
Que autoridade tenho para falar disto? Nenhuma. Não sou alentejano, não tenho credenciais. Sou<br />
professor da Língua e Literatura Portuguesa, aqui, desde 1980. Para além da formação<br />
académica e profissional que trazia e que me permitiu a colocação aqui, desde o início, a minha<br />
preocupação foi respeitar as raízes dos alunos com quem me era dado trabalhar. Creio que tenho<br />
muitas centenas ou milhares de alunos que o podem testemunhar. Todos os temas que devemos<br />
tratar, sempre procurei que fossem enraizados e a partir da cultura e conhecimentos em presença.<br />
Não se arrancam as raízes das árvores para que produzam frutos melhores. Acarinham-se,<br />
tratam-se e se for preciso, enxertam-se. Assim a LÍNGUA e a LITERATURA.<br />
TUDO NASCE DA TERRA COMO A ÁGUA, AS ÁRVORES, AS PLANTAS E AS ERVAS...<br />
COMA AS ÁRVORES QUE NOS DÃO OS FRUTOS COM OS SEUS VARIADOS<br />
SABORES, COMO AS PLANTAS E AS FLORES QUE NOS INIBRIAM DE MIL CHEIROS<br />
E CORES... COMO AS SEARAS QUE NOS DÃO O PÃO QUE NOS ALIMENTA...<br />
ASSIM A CULTURA.<br />
ESTÁ EM JOGO A NOSSA IDENTIDADE CULTURAL E A NOSSA AUTENTICIDADE<br />
COMO INDIVÍDUOS – livres e criadores – E COMO PESSOAS INTEGRADAS NUMA<br />
COMUNIDADE, numa SOCIEDADE...<br />
AS NOSSAS VIVAS RAÍZES SÃO A GARANTIA DO NOSSO SÃO E CORRECTO<br />
D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO.<br />
Podíamos comentar aqui o “Erro de Descartes” denunciado recentemente por Damásio que<br />
propõe, em vez do famoso “Penso, logo existo” – “Existo e sinto, logo penso”. Ainda não li o<br />
livro, mas é evidente que é preciso completar o título de Damásio. Existo e sinto, logo penso,<br />
logo falo (comunico...), logo actuo e intervenho...<br />
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0.2- A AUTORIDADE DOS MESTRES.<br />
Donde a autoridade do tema?<br />
Uma vez demonstrada a minha incompetência para falar deste assunto, onde o fundamento do<br />
tema?<br />
Desde 1980, aqui no Alentejo, e desde que entrei na vida activa em 1961, sempre acreditei que<br />
continua a ser verdade o aforismo discutidíssimo de Chesterton: O mais importante, para ensinar<br />
o latim ao João, é conhecer o João”. É evidente que é preciso saber o Latim. Não chega, nem é o<br />
fundamento, por mais iluminados que nos venham dizer o contrário.<br />
Em 1983/84 – com os cursos nocturnos, fizemos numa Escola a festa da Poesia, Música e<br />
Movimento, para, no final do ano, mostrar a ligação entre a Cultura Tradicional/ Popular e a<br />
Erudita, que desenvolvemos durante os todo/s o/s ano/s lectivo/s. A Cultura é ou não é<br />
CULTURA.<br />
Em 1985, foi, este mesmo, o tema da minha Comunicação no 1º Congresso sobre o Alentejo,<br />
Évora, Outubro. (Vide Actas do Congresso sobre o Alentejo, Évora, 1985).<br />
Em 1985/86, por trabalhar na Esc. MP de Beja percorri todo o Distrito, apelando a todos os<br />
professores para a importância de estarem atentos e recolherem as falas e tradições locais...<br />
Durante a Profissionalização em exercício, foi este o tema que propus à SAL e à Universidade<br />
Aberta.<br />
Em finais de 1986, princípios de 1987, tentámos com Professores da Univ. de Évora, organizar a<br />
estrutura base deste Instituto.<br />
Em 1987, organizei toda a estrutura do livro publicado pela CM Beja “Poetas Populares do<br />
Concelho de Beja” com uma nota introdutória sobre o assunto e um esboço para o estudo das<br />
Décimas no final.<br />
Em 1989 as Lendas de Beja – do touro e da cobra e Outras Lendas – inédito.<br />
Em 1993/94 foi o tema que desenvolvi na Licença Sabática.<br />
Em 1994, dois artigos no Jornal Terras do Cante, Nº 1 e 2, Abril e Maio.<br />
Em 1994, meados, As Lendas de Moura – A MOURA AMOR A MORTE ou a UTOPIA DA<br />
CONVIVÊNCIA (IM)POSSÍVEL – inédito.<br />
Em 1994/95, 15/05/95, foi este o tema do trabalho que apresentei como provas de acesso ao 8º<br />
Escalão. (Só isto, para não falar de iniciativas e trabalhos menores).<br />
(Vide ponto 8, alista de trabalhos desenvolvidos).<br />
Se não tenho autoridade sobre o tema, porque nunca ninguém, sobretudo do ME, ligou alguma<br />
importância ou deu qualquer valor, porque trabalho e porque venho aqui dizer que é urgente, é<br />
importante, é inadiável... e como é algo de fundamental, é vergonhoso que o ME, a Escola em<br />
geral, as Escolas, não estejam despertas, atentas, motivadas para este problema, não de uma<br />
maneira pontual e ocasional, mas, como é próprio de instituições competentes que exigem e<br />
avaliam competências, de um modo sistemático, profundo, sério e em reciclagem constante.<br />
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Algumas citações que julgo serem de uma autoridade acima da média.<br />
Manuel Joaquim Delgado in “A ETNOGRAFIA E FOLCLORE – BAIXO ALENTEJO”, 1ª<br />
ed. 1957/58, como separata da Revista “Ocidente”, 2ª Ed. Da Assembleia distrital de Beja, 1985,<br />
cito apenas, da p.17:<br />
“Necessidade da criação de uma cadeira de folclore nas Escolas do Magistério Primário, dado o<br />
valor Cultural e formativo que esse ramo do saber humano pode e deve desempenhar nas Escolas<br />
Primárias.”<br />
Passemos de 1957 para 1995 e podemos ver a quem o onde se deve aplicar esta sugestão que<br />
devia ser um imperativo.<br />
De José Leite de Vasconcelos, in “ETNOGRAFIA PORTUGUESA – Tentame de<br />
Sistematização” – vol. I, p. 328, 343, ed. Da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980 (em<br />
1985 já estava publicado o VII vol.), vou fazer algumas citações e um apanhado do que me<br />
parece mais gritante e era urgente fazer na 2ª metade do séc. XIX e na 1ª do século XX.<br />
(07/07/1859 – 17/05/1941) (Em 41, com 82 anos ainda escreve o prefácio do III vol. do<br />
Cancioneiro).<br />
O essencial do que vou transcrever, já o mestre o tinha escrito 1882 e 1919.<br />
(Perante o que ele afirma, quem sou eu para me queixar pelo facto de o ME e as Entidades ditas<br />
responsáveis não me ouvirem a mim?)<br />
«A necessidade / imperativo de estudar as manifestações de um Povo nasce da “máxima antiga:<br />
, isto é, nosce te ipsum” – conhece-te a ti próprio. Se isto é importante como base<br />
para todo o desenvolvimento individual, “maior aplicação tem” no que diz respeito “a um Povo,<br />
olhando no seu conjunto: apreciar como ele interpreta a Natureza que o rodeia, qual a<br />
vivacidade ou torpor do seu engenho, a feição e grau de vitalidade da sua literatura, arte e<br />
indústria tradicionais, as suas aptidões, génio, tendências religiosas, manifestações psíquicas<br />
expontâneas, como julga os povos que o convizinham, ou como se considera a si próprio com<br />
relação aos outros; o que são para ele a família e a sociedade; como é que ama, e como é que<br />
odeia.” ... Tudo isto é fundamental para quem tenha de, verdadeiramente, penetrar no espírito<br />
das sociedades. Através do vocabulário usual, relatos do quotidiano, como reflexo da vida<br />
normal, podem conhecer-se as pessoas... Aí têm de ir a Etnografia e a Filologia de mãos<br />
dadas.»<br />
Para analisar uma obra de Literatura é preciso conhecer o seu contexto histórico. O mesmo se<br />
tem de dizer se se trata de escultura, pintura, gravura, cerâmica... Aí, para muitos casos temos de<br />
recorrer à Arqueologia... a Antropologia.<br />
«...o moderno literato, o artista, o industrial... na execução dos seus trabalhos...(têm de<br />
recorrer) a este mancial inesgotável de informações.» «A linguagem vulgar... adágios, cantigas,<br />
e várias rimas e fórmulas...»<br />
«Pela análise folklórica ficamos sabendo muitos dos hábitos dos nossos antepassados, muito do<br />
que eles pensaram e sentiram.»<br />
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«Da comparação do que se observa em um local com o que se observa noutro, e do que existe<br />
agora com o que existiu d‟antes, chegamos a inferir que certos usos, crendices e ditos que se<br />
julgam próprios de uma terra, existem longe dela, e, ou foram transmitidas de pais a filhos, ou<br />
provêm de concepções fundamentais da alma humana, que na sua essência é una.»<br />
Há um leque imenso de manifestações a estudar «considerando factos avulsos, ou ordenando-os<br />
em grupos como os romances, as danças, as festas populares relacionadas com os mitos da<br />
Natureza (cepos do Natal, fogueiras de S. João, serração da Velha, Maias), os costumes anexos<br />
à trilogia da vida, ou nascimento, casamento e morte, as superstições do Lobishomem, do mau<br />
olhado, dos dias aziagos, as lendas dos sinos, as facécias que podemos denominar Boeótica, (de<br />
boémia) os ensalmos e outras espécies de literatura popular, a arte rústica, os trajos, os tipos de<br />
casas e as formas de mobília, as variedades de comidas, os modos de transporte... Quantas<br />
surpresas históricas e psicológicas não encontraríamos no nosso caminho?»<br />
Ainda «...os remédios... feitiços... as crenças e costumes... as superstições... o crédito dado aos<br />
sonhos que é universal...” tudo isto fornecerá matéria para estudo se se quer conhecer realmente<br />
alguém e sobretudo um povo ou uma Região.<br />
Qual o valor prático destes estudos:<br />
«Se por ela apreciamos a vida de um Povo, no que tem mais íntimo, os seus caracteres<br />
intelectuais, os seus hábitos, as suas aptidões, ficam habilitados o sociólogo, o legislador e o<br />
político para lhe aproveitarem as virtudes, combaterem os defeitos e enfim dirigirem e<br />
educarem, e não contrariarem tendências naturais que sejam úteis.»<br />
Já é longa a transcrição. Seria preciso ler os 7 enormes volumes deste Mestre. Mas há apelos<br />
ainda mais directos no que se refere à Escola a que este trabalho se destina.<br />
«As crianças, ao irem para as escolas, levam já consigo copioso pecúlio tradicional, que<br />
obtiveram das mães e do contacto com o povo, porque o que se aprende na meninice, raro<br />
esquece...»<br />
«Fará excelente obra o mestre-escola que seleccione esse pecúlio, o regule e complete,<br />
aplicando-o ao desenvolvimento psíquico e físico dos seus alunos, que ao mesmo tempo aí<br />
encontrarão grande prazer; ...»<br />
Depois dá sugestões muito concretas. «... com as adivinhas «esperta-se a atenção e o acume<br />
intelectual... com cantigas “promove-se o gosto literário”... com contos e romances “abre-se a<br />
memória e activa-se a imaginação”... com os provérbios... com os jogos... com lendas e<br />
xácaras...»<br />
Cita ainda o mestre que muitos que foram bons governantes, foram-no sem dúvida resultado<br />
«...da experiência que tinha da terra, do conhecimento dos homens d‟ella». Por se não<br />
conhecerem os povos, quantos guerras e crises se provocaram?<br />
«Diante dos aumentos da civilização que se alastra pelas múltiplas camadas sociais, e que<br />
portanto destrói mais ou menos as tradições, sobretudo aquelas que estão em contraste com ela,<br />
importa indagar com urgência as que ainda restam, para que em breve não fiquemos privados<br />
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das vantagens que o estudo da Etn. Nos proporciona. E não me refiro só a tradições orais e<br />
actos, refiro-me também a objectos,... Acudamos a tudo enquanto é tempo!»<br />
«Empenhemo-nos por isso na investigação das tradições populares; façamos reviver ou<br />
conservemos as que forem úteis; rejeitemos ou substituamos as que forem más; e em todo o<br />
caso, estudemos tudo,...».<br />
A quantidade de trabalhos e iniciativas que é preciso desenvolver, são imensas. (Vide ponto 5).<br />
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ANX. 1.1 – Mértola no Espaço – ALENTEJO com marcas de Colonização...<br />
1 Vide M. J. Delgado (História e Etnografia) 11 ... Cláudio Torres (Arqueologia) 12 ... Mattoso<br />
Delgado:<br />
(História) 13 ... e J. Rabaça Gaspar (Linguística) 14 – “ O que perturba e alarma o homem<br />
não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.” – Epicteto 15 ver e<br />
Mesquitela Lima 16 ...<br />
In Estudos Linguísticos – o Idioma Português – Manuel Joaquim Delgado – Editorial Império,<br />
L.da Lisboa 1968, p. 111<br />
O nome ALENTEJO de marca colonialista e outros nomes... Delgado remete-nos para J. Leite de<br />
Vasconcellos:<br />
«1 Na citada obra (Religiões da Lusitânia, Cap. I Época Lusitano-Romana, vol. III) de J. L. De<br />
Vasconcelos da pág. 138, diz:<br />
«Entre-Tejo-e-Guadiana ou Entre-Tejo-e-Odiana é designação geográfica usada pelos nossos<br />
antigos AA. E corresponde pouco mais ou menos à do Alentejo no sentido primitivo da<br />
expressão (=além-Tejo). Os antigos costumavam designar muito naturalmente as zonas<br />
geográficas pelos nomes dos rios».<br />
Ver, sobre o mesmo tema, NOTA 2, p. 104 – 2 Região Entre-Tejo-e-Guadiana.<br />
Idem p. 106<br />
«Alguns termos que designam cargos, postos ou profissões, etc., que caíram em desuso mas que<br />
sobrevivem ainda em topónimos:<br />
«Adaíl, Aguazil, alvazir ou alvazil, alcaide) almoxarife, alvanel, alvenel ou alvanéu, alfageme,<br />
almocadém, almotacé, etc.<br />
«Na toponímia: Casas Novas do Adaíl, freg.a de Vila Nova de Milfontes. Conc. De Odemira,<br />
Horta dos Alvazíis, na freg.a de Selmes, conc. De Vidigueira, Vale de Alcaide de Cima e Vale de<br />
Alcaide de Baixo, na freg.a de Quintos, conc. De Beja, Vale de Alcaide, na freg.a e conc. De<br />
11<br />
DELGADO, Manuel Joaquim, In Estudos Linguísticos – o Idioma Português –– Editorial Império, L.da Lisboa<br />
1968, p. 111;<br />
12<br />
TORRES, Cláudio et allii – in Palavras Prévias de MANTAS TRADICIONAIS do Baixo Alentejo, Ângela Luzia,<br />
Isabel Magalhães, Cláudio Torres, Caderno N.º 1, Campo Arqueológico de Mértola, Ed. Da Câmara municipal de<br />
Mértola, Abril de 1984.<br />
13<br />
MATTOSO, José - Ver “Alentejo não Tem Sombra Senão a que Vem do Céu”, in Revista ARQUIVO DE BEJA,<br />
vols. VII / VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 - 29;<br />
14<br />
RABAÇA GASPAR, José et allii, in “A Linguística e a Análise Literária como contributo para o<br />
Desenvolvimento do Alentejo – Para a Criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA, in<br />
CONGRESSO SOBRE O ALENTEJO (ACTAS) – Semeando Novos Rumos – III vol., Évora, Outubro de 1985, pp.<br />
1127 – 1131.<br />
15<br />
EPICTETO – Filósofo estóico grego (c. 50 a 138). Escravo em Roma, depois de libertado ensinou Filosofia. Na<br />
sua doutrina predominam as preocupações éticas. Considerando o homem como um rebento ou parte da divindade,<br />
diz ser o seu maior dever tomar todos os acontecimentos da vida como serviço e testemunho de obediência prestada<br />
a Deus. In Enciclopédia Fundamental Verbo.<br />
16<br />
LIMA, Mesquitela - Ver citação in ANTROPOLOGIA DO SIMBÓLICO, Editorial Presença, L.da, Porto, 1983.<br />
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Ourique, Almoxarifes, na freg.a e conc. De Barrancos, Barranco dos Alcaides, na freg.a de<br />
Corte do Pinto, conc. De Mértola.»<br />
Mattoso – ver Arquivo de Beja I jornadas:<br />
Ver - «ALENTEJO NÃO TEM SOMBRA SENÃO A QUE VEM NO CÉU» - José Mattoso, in<br />
Revista Arquivo de Beja, Actas das II Jornadas, ALENTEJO E OS OUTROS MUNDOS, vol.s<br />
VII e VIII, série III, Agosto de 1998, pp. 15 –30.<br />
Começa assim: «Toda a gente sabe que uma das características mais salientes do Alentejo é o<br />
seu isolamento.»p. 15<br />
Mais à frente ao tentar descrever a situação do Alentejo antes do século XIII: «As condições<br />
geográficas favoreciam portanto, estas estruturas de produção e de circulação...»<br />
Descreve depois as grandes vias de circulação... «...a importância do eixo económico do<br />
Guadiana desde a antiguidade até ao século XIII»... e «...a sua íntima ligação com o<br />
Mediterrâneo... e não com o Atlântico...» e... «Beja era um grande centro do GARB<br />
muçulmano... em relação... com outros mundos de que o Mediterrâneo era a grande<br />
encruzilhada.»<br />
«O que se passou para que Beja (o Alentejo – Mértola...) entre o século XIII e o século XX...»<br />
para, de um grande centro, passar a um dos níveis mais afastados deles (dos grandes circuitos<br />
internacionais)...<br />
As respostas são muitas e complexas... não se deve facilitar nem generalizar... Vale a pena ler<br />
todo o trabalho deste Mestre, muito cuidado e abordando as críticas violentas com uma<br />
delicadeza que é apanágio deste grande Histotiador e Pensador... mas, conseguimos ler que,<br />
afinal, as grandes vias de circulação, terrestres e fluviais, terão sido mais para levar e exportar as<br />
“riquezas” do Alentejo do que para contribuir para o seu progresso e desenvolvimento... e<br />
portanto com a marca “ferrete” de região “colonizada” explorada em proveito de outros...<br />
FIM DE CITAÇÃO. Fica o apelo à leitura do Artigo completo que eu posso ter interpretado<br />
mal!!!<br />
Ver ainda «INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO (IAC/D)»<br />
José Rabaça Gaspar, in Revista ARQUIVO DE BEJA, ACTAS DAS I JORNADAS –<br />
CULTURA E SOCIEDADE NO BAIXO ALENTEJO, vol. II / III, série III, Dezembro de 1996,<br />
pp. 237 – 248.<br />
1 - «Em 1998, tive o raro privilégio de poder ouvir em directo a intervenção deste Mestre, nas II<br />
Jornadas do ARQUIVO DE BEJA e pude ser contemplado com o “elogio” de me ter atrevido a<br />
tentar fazer a primeira intervenção, depois da sua Magistral Palestra, que deixou a plateia sem<br />
respiração nem capacidade de reacção de tão profunda, clara e inquestionável. Atrevi-me a<br />
sugerir, aquilo que tinha já escrito, desde 1985, no CONGRESSO sobre O ALENTEJO, Évora,<br />
Out., 85 e o que repetira por outras palavras nas I JORNADAS do ARQUIVO de BEJA, de 13 a<br />
15 de Junho de 1996: Afinal, aquilo que o Mestre em História mostrava com tantos dados e<br />
pormenores... podia LER-SE, através de uma análise linguística, na própria palavra<br />
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ALENTEJO... O determinante ALÉM, mostra que o sujeito está distante do “objecto”. Enquanto<br />
o “EU” implica “AQUI” o “ALÉM” indica que foram estranhos que deram NOME ao ALÉM-<br />
TEJO... e como o nome indica relação ou apropriação de algo... parece que comparando com a<br />
História, este “dar NOME”... tem significado, exploração... colonização... isolamento...<br />
apropriação indevida do que pertence a um Povo e a uma Região.»<br />
Ainda duas citações do resumo que enviei, recomendando, para ser entendido, a leitura dos<br />
vários trabalhos em que me tenho debruçado sobre o assunto...<br />
«... 2 – Dadas estas e outras características marcantes, esta REGIÃO, tem sido ao longo dos<br />
tempos fortemente cobiçada, usada, colonizada, (basta analisar o nome ALENTEJO) a ponto de,<br />
mesmo os seus autóctones e defensores se considerarem sistematicamente ignorados e<br />
marginalizados. Por tradição e tendência do POVO português em geral fica-se normalmente à<br />
espera de um “D<strong>ESE</strong>JADO” que nos salve; de um “génio”- que faça o que deve ser feito por<br />
muitos; das “AUTORIDADES COMPETENTES”, que nos mandem fazer o que nos compete;<br />
dos subsídios e apoios da “EU” – que venham dar valor ao que é nosso!!! ...»<br />
«... 3 – Em vez de nos lamentarmos, resta-nos tomar consciência de que ninguém virá<br />
reconhecer os nossos VALORES para nosso benefício... Pertence aos autóctones (indígenas ou<br />
que escolheram aqui viver) o dever se conhecerem e reconhecerem com as suas qualidades e<br />
defeitos, e para isso o dever de recolher, estudar, divulgar os VALORES que os caracterizam<br />
como REGIÃO, bem como, para o poderem exigir aos outros (Governos etc.), considerar estas<br />
características como base, fundamento e condição do seu desejável e imprescindível<br />
D<strong>ESE</strong>NVOLVIMENTO.»<br />
Ver também – Rabaça Gaspar – in Actas I Congresso sobre o Alentejo – Out 1985, (já citado).<br />
Ver ainda, de novo, Cláudio Torres – in Palavras Prévias de MANTAS TRADICIONAIS do<br />
Baixo Alentejo, (já citado no 1º ponto).<br />
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ANX. 2. - Mértola – a NOMINALIA ou a festa dos Nomes<br />
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ANX. 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME<br />
e as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina<br />
Mértola<br />
- Concelho do distrito e diocese - de Beja, comarca de M. O concelho (1279 km2)<br />
In Web: http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre<br />
freguesias<br />
Orago - Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas<br />
Área - 1279 Km 2 cerca de 10.000 habitantes<br />
Feriado Municipal - 24 de Junho<br />
Ordenação heráldica do brasão e bandeira<br />
Publicada no Diário da República, III Série de 02/02/1987<br />
Armas - Escudo de negro, um cavaleiro de armadura, cerco e manto, com espada alçada na mão<br />
direita e no braço esquerdo um escudo carregado de uma cruz de Santiago, de vermelho,<br />
montado num cavalo empinado, tudo de prata, o cavalo selado e enfreado de negro realçado a<br />
ouro. No cantão direito do chefe, dois martelos de prata, postos em pala e alinhados em faixa.<br />
Coroa mural de prata de quatro torres. Lintel branco com os dizeres : " VILA DE MÉRTOLA ", de<br />
negro.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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Nome – grafados de diversas maneiras de acordo com a influência da ocupação romana, árabe e<br />
reconquista:<br />
Myrtilis – da presença romana – a muralha na margem do rio – ponte-cais... – em várias obras e<br />
autores...<br />
Mirtilis – «... fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que deram o nome de Mirtilis,<br />
em honra da Deusa Mirto, sua mãe, que o teve de Mercúrio.» in Arquivos de Serpa, João<br />
Cabral, Serpa, 1971 – na Lenda «Serpínia, Princesa Feliz»<br />
Mirtilys Júlia – Mário Elias in Estudos literários sobre Mértola e seu Concelho, Associação dos<br />
Municípios do Distrito de Beja, s/d,<br />
MVRTILIS – António Marques de Faria – Colonização e Municipalização nas Províncias<br />
Hispano Romanas– in Internet...<br />
Myrtilis Julia (Mértola) (Mantas, 1987, p. 28) – cita FARIA<br />
Murtilis – terá sido provavelmente colónia de César... (Faria in citado)<br />
MARTULA (Romage (1998, p. 440, n. 38) citado por FARIA<br />
Myrtilis – Nova Tiro, porque aqui se homiziaram alguns Fenícios quando Alexandre Magno<br />
invadiu a cidade de Tiro ... e nos séc V a VIII – rotas marítimas e comerciais inseguras...<br />
alberga comerciantes nativos e orientais<br />
Mārtula – árabe<br />
Mártula - «... com o andar dos tempos Mirtilis corrompeu-se em Mártula – Arquivo Histórico de<br />
Portugal 1898 – citado por Carlos Leite Ribeiro – in cidade Virtual - Mértola<br />
Mirtolah – árabe - in As mais Belas Vilas e Aldeias de Portugal – Verbo – (1984) 1996 -<br />
- séc. XI e XII – período islâmico - foi capital de um reino cujo território incluía a cidade<br />
de Beja (in Mértola – Vila Museu p.14)<br />
MÉRTOLA - 1238 – D. Sancho I – integrada no Reino de Portugal...<br />
- 1250 - foral por D. Afonso III – confirmado em 1287 por D. Dinis e reformado em<br />
1512 por D. Manuel I<br />
- séc. XV início XVI – FOI PORTO DE ABASTECIMENTO CEREALÍFERO das<br />
praças portuguesas de norte de África... e depois perde em favor dos estuários do Sado e<br />
Tejo...<br />
- 1877 – intervenção de Estácio da Veiga sobre achados arqueológicos... após grande<br />
cheia...<br />
- 1978 – trabalho continuado 100 anos depois pelo Campo Arqueológico de Mértola...<br />
- até 1966 parte da economia baseava-se na exploração da mina de S. Domingos (desde<br />
1858)...<br />
Vide DIVERSOS nomes relacionados:<br />
In Enciclopédia Verbo – Luso-Brasileira de Cultura – Edição Século XXI<br />
Ver – Mértola – mirtilo – murta –<br />
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia de Ciências de Lisboa – Editorial<br />
Verbo – 2001<br />
Ver – mertolense e mertolengo – mirto – murta – ...<br />
Nomes e PALAVRAS, possivelmente ligadas a MÉRTOLA & MÍRTILO<br />
MIRTILO [mirtílu] s.m. (do lat. científico myrtillus). bot.<br />
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1. planta subarbustiva, da família das ericáceas ( Vaccinium myrtillus, lin.) que produz bagas<br />
comestíveis;<br />
2. Baga negra e comestível, de sabor ligeiramente ácido e com propriedades adstringentes,<br />
produzida por essa planta. Doce de mirtilo.<br />
MIRTO [mírtu] s. m. (Do Lat. myrtus - grego murtos)<br />
1. Bot. planta da família das mirtáceas de folhagem sempre verde, pequenas flores brancas, de<br />
aroma agradável, fruto baciforme, negro azulado, na maturação, também designado por murta.<br />
2. Folha ou conjunto de folhas dessa planta. Uma coroa de mirto.<br />
MURTA [múrta] s. f. ( do let. murta do gr. murtos). bot.<br />
1. Designação comum de uma planta arbustiva, por vezes arborescente, da família das mirtáceas<br />
(Myrtus comunis, Linn.) de folhas opostas, duras, levemente pecioladas e aromáticas quando<br />
esmagadas, flores brancas e perfumadas, fruto pequeno, ovóide negro e azulado, quando maduro,<br />
espontânea ou cultivada em Portugal.<br />
Bagas de murta.<br />
Colheu um raminho de murta, mas o vento da serra depressa lhe murchou as flores.<br />
A essência extraída das flores da murta é usada em perfumaria.<br />
2. Fruto dessa planta, aromática e com propriedades balsâmicas.<br />
Deliciava-se com o licor de murta que trouxera da aldeia.<br />
Antigamente, usava-se a murta em determinados preparados farmacêuticos.<br />
MURTAL [murtál] s. m. (De murta + suf. al).<br />
1. área onde crescem ou se plantam murtas.<br />
murteira [murtéira] s. f. (De murta + suf. eira) Bot. o mesmo que murta.<br />
murtinheira - o mesmo que murta<br />
murtinho - Baga da murta...<br />
mertolengo 1- o mesmo que mertolense Habitante de Mértola<br />
mertolengo 2 - o mesmo que mertolense Habitante de Mértola<br />
mertolense 1- Habitante de Mértola<br />
mertolense 2 - Habitante de Mértola<br />
(vide in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Verbo, 2001.<br />
Páginas Amarelas 2002 – 2003 – Nomes e apelidos mais repetidos...<br />
Cartografia – nomes de lugares...<br />
COMISSÃO NACIONAL DE ELEIÇÕES – Distritos, concelhos, Freguesias<br />
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Outros dados sobre MÉRTOLA:<br />
com uma pop. total residente de 9805 habs. (1991).<br />
Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro.<br />
Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite.<br />
Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e<br />
olaria.<br />
Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no<br />
último fim-de-semana de Setembro.<br />
Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha,<br />
beijinhos de Mértola e pão alentejano.<br />
Desenvolvimento anterior à nacionalidade:<br />
- foi entreposto comercial fenício, cartaginês, romano e árabe...<br />
Património:<br />
- Castelo com Torre de menagem de 1292<br />
- Muralha Romana 1500m e 5m de espessura...<br />
- Igreja de Nossa Senhora da Anunciação – antiga Mesquita - ? séc. XI, DAPTADA<br />
DEPOIS DA Reconquista e obras em finais do séc. XIII<br />
- Igreja da M – séc XVI Misericórdia... transformações no séc. XVIII<br />
- Ponte de Mértola – É provavelmente uma torre de aceso á agua – Monumento Nacional<br />
16.6.1910.<br />
- Núcleo visigótico – na Torre de Menagem com obras do séc. VI e VII quando era parte<br />
integrante do Reino Visigótico de Toledo<br />
- Núcleo de ferreiro – desde 1983 - com instrumentos da profissão...<br />
- Núcleo da tecelagem – expositivo com objectivo de recuperar técnicas em vias de<br />
extinção...<br />
- Núcleo islâmico – colecções de cerâmica lápides... fragmentos...<br />
- Núcleo paleocristão - ruínas da Basílica paleocristã... escavada em 1982, onde<br />
apareceram sepulturas do séc. V ao VII... inaugurado em 1993...<br />
- Núcleo do Castelo – inaugurado em 1992 – com peças de várias épocas...<br />
- Núcleo romano – inaugurado em 19888 na Cave da Câmara... estátuas... moedas...<br />
armas...<br />
- Núcleo da Necrópole e Ermida da Achada de S. Sebastião – 1999 – ermida destruída<br />
pelas cheias de 1876...<br />
- Núcleo da Porta da Ribeira (arte sacra) –<br />
Ver ainda.<br />
Em Alcaria Longa – Povoado Medieval... e<br />
Corte Pinto... Igreja de Nossa Senhora da Conceição e descobertas de 1987 de enterramentos em<br />
sepulturas cavadas na rocha com datação provável do séc. XVIII<br />
Então e a Mina de S. Domingos??????????<br />
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ANX – 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina<br />
Embora este ponto seja tratado com maior desenvolvimento, quando falarmos das LENDAS, em<br />
ANX 3.1 e 3.1.1, talvez seja oportuno deixar aqui algumas referências sobre a mitologia grecolatina<br />
que podem contribuir para encontrar um sentido ao NOME que foi dado a MÉRTOLA.<br />
in http://mithos.cys.com.br/<br />
Mirtilo<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Filho de Mercúrio e de Mirto. Sendo cocheiro de Enomáo, traiu-o numa corrida em proveito de<br />
Penélope (ver PÉLOPE ou PÉLOPS) e, como castigo, foi precipitado no mar, donde foi<br />
transportado para o céu e colocado na constelação de Cocheiro.<br />
Ver A MITOLOGIA - Edith Hamilton p. 359...<br />
«Era Cocheiro do pai da princesa Hipodamia e traiu o rei em favor de Pélope o irmão de Niobe,<br />
filhos de Tântalo...»<br />
Niobe<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Rainha frígia, filha de Tântalo, irmã de Pélops mulher de Amphion, foi mãe de sete filhos e sete<br />
filhas. Orgulhosa dessa sua fecundidade, zombou de Latona, que só teve um casal de gêmeos:<br />
Apolo e Diana; estes para vingarem sua mãe, mataram, a flechadas, todos os filhos de Niobe. A<br />
infeliz mãe, desesperada de dor e fechada em profundo mutismo, pediu a Júpiter que a mudasse<br />
em rochedo, e, em seguida, encaminhou-se para a montanha Sípile, onde as rochas cresceram ao<br />
redor do seu corpo, envolvendo-a em uma bainha de pedra; neste estado, um turbilhão arrebatoua<br />
para a Lídia, e a depôs sobre o cimo de uma montanha, onde ela derrama lágrimas que,<br />
perpetuamente, correm de um bloco de mármore.<br />
PÉLOPE E HIPODÂMIA – ( e o papel de MIRTILIS...)<br />
In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm<br />
Mas a chegada de Pélope à Elida veio terminar com a história de derrotas mortais. Pélope era o<br />
filho de Tântalo, a quem este tentou oferecer como manjar insultante aos deuses, fato pelo qual<br />
Tântalo foi castigado eternamente, enquanto o inocente Pélope era devolvido à vida por eles,<br />
após ser recomposto quase totalmente. Após o incidente, o jovem protegido dos deuses chegou<br />
às terras de Enomau e apaixonou-se pela bela Hipodâmia. Como era natural, o rei desafiou-o à<br />
mortal corrida e o jovem, sentindo-se acompanhado pela boa vontade divina, aceitou o desafio.<br />
Há quem diz que Pélope contava com uns cavalos ainda melhores, oferecidos por Possêidon, e a<br />
melhor qualidade dos corcéis foi a causa exclusiva do seu triunfo; há outros que preferem a<br />
versão do amor da princesa, e por isso asseguram que foi Hipodâmia quem decidiu terminar com<br />
a sanha do rei Enomau, que se negava a aceitar a possibilidade de ser o sogro, e preferia evitar o<br />
laço político potencial, atuando como um pai muito ciumento. Hipodâmia, farta de ter que<br />
resignar-se a ver desaparecer na fossa tantos admiradores valentes, sem chegar a desfrutá-los,<br />
inventou uma solução definitiva ao seu problema, fazendo com que um suborno chegasse a<br />
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Mirtilo, moço de cavalariça do rei, para que este atentasse contra Enomau, deixando o eixo do<br />
carro real quase partido ao meio. A corrida começou e o carro real ficou de fora, sem nenhuma<br />
possibilidade de chegar, embora fosse o último, à meta. Para rematar a história, conta-se que<br />
Pélope deu morte a Mirto, não sem que este o maldissesse antes de morrer. Resulta trágico que<br />
Mirto morresse pelas mãos de quem tinha ajudado a viver, apesar de ter sido ele responsável<br />
do seu triunfo, mas isto pode ser interpretado como outro desses fatos infelizes que trouxeram a<br />
desgraça a toda a estirpe de Tântalo e que vêm justificar ainda mais o infortúnio do clã. O que se<br />
pode dizer com certeza é que o sanguinário e implacável deus do sofrimento alheio, Ares,<br />
embora só o fosse por intermédio do fracasso do seu amigo Enomau, também terminou a<br />
aventura numa má situação, dado que a derrota desse cúmplice era -em boa medida- também<br />
uma derrota própria. E sem nenhum gênero de dúvida, os gregos colocavam a prenda de Ares<br />
num lugar proeminente da lenda de Hipodâmia, para que se pudesse claramente ver a classe de<br />
indivíduo celestial que era o deus próprio das guerras.<br />
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ANX. 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares...<br />
In Web: http://www.fisicohomepage.hpg.ig.com.br/index.htm - Brasão e dados sobre<br />
freguesias<br />
Área - 1279 Km 2 cerca de 10.000 habitantes<br />
Feriado Municipal - 24 de Junho<br />
Freguesias<br />
Alcaria Ruiva Corte do Pinto Espírito Santo<br />
Mértola Santana de Cambas<br />
São João dos Caldeireiros São Miguel do Pinheiro São Pedro de Solis São<br />
Sebastião dos Carros<br />
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Mértola - Concelho do distrito e diocese de Beja, comarca de M. - O concelho (1279 km2)<br />
tem nove freguesias:<br />
Alcaria Ruiva (orago - Nossa Senhora da Conceição),<br />
Corte do Pinto (Nossa Senhora da Conceição),<br />
Espírito Santo (Espírito Santo),<br />
Mértola (Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas),<br />
Santana de Cambas (Sta. Ana),<br />
São João dos Caldeireiros (S. João Baptista),<br />
São Miguel do Pinheiro (S. Miguel),<br />
São Pedro de Solis (S. Pedra Apóstolo),<br />
São Sebastião dos Carros (S. Sebastião)<br />
com uma pop. total residente de 9805 habs. (1991).<br />
Solos xistosos. Área florestal composta de azinho e sobro.<br />
Região tradicionalmente agrícola, produz sobretudo trigo e azeite.<br />
Artesanato: cestos, mantas de lã, tecelagem, ourivesaria, calçado artesanal, cadeiras de buinho e<br />
olaria.<br />
Feriado municipal a 24 de Junho. Realiza-se a festa de S. João em 24 de Junho e S. Mateus no<br />
último fim-de-semana de Setembro.<br />
Pratos típicos: migas, açorda, lampreia, sável, saboga, bolo podre, cavacas, bolinhos de banha,<br />
beijinhos de Mértola e pão alentejano.<br />
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Mértola tem nove freguesias – os LUGARES E RUAS...:<br />
Freguesia Orago Lugares Notas / Pistas<br />
Alcaria Ruiva Nossa Senhora da<br />
Conceição<br />
Corte do Pinto Nossa Senhora da<br />
Conceição<br />
ÁGUA SALGADA<br />
AIPO<br />
ALCARIA RUIVA<br />
ALGODOR<br />
AMENDOEIRA DE BAIXO<br />
AMENDOEIRA DE CIMA<br />
AMENDOEIRA DO CAMPO<br />
AMENDOEIRAS<br />
ATAFONA<br />
AZINHAL<br />
BENVIÚDA<br />
BOISÃO<br />
CARRAPATEIRA<br />
CASA DA MUDA<br />
CASA DA SERRA<br />
CERQUINHA<br />
CORTE COBRES<br />
CORTE JOÃO CINZA<br />
CORTE PEQUENA<br />
EIRINHA<br />
FERRARIAS<br />
JOÃO SERRA<br />
MAL JULGADO<br />
MALHADA<br />
MALHÃO<br />
MECIARES<br />
MINGO REI<br />
MONTE DA GRADE<br />
MONTE DA LÉGUA<br />
MONTE DAS FIGUEIRAS<br />
MONTE DO OUTEIRO<br />
MONTE NOVO DO FUTURO<br />
MONTE RUIVO<br />
Monte Viegas<br />
MONTINHO FIALHO<br />
NAVARRO<br />
NEVES<br />
ORGANIM<br />
OUTEIRO<br />
PESO<br />
POMBAL<br />
SÃO LOURENÇO<br />
TRÊS FREIRAS<br />
VALBOM<br />
VALE AÇOR DE BAIXO<br />
VALE AÇOR DE CIMA<br />
VALE BOM DE BAIXO<br />
VALE DE CAMELOS<br />
VALE FRESCO<br />
VENDA DOS SALGUEIROS<br />
VEREDA<br />
25 de Abril – Rua<br />
Aldeia Nova - Rua<br />
Alfadega – Largo<br />
Bairro 1 de Maio<br />
Bairro Alto<br />
Barranco dos Alcaides Ver em Delgado<br />
Bispo – Rua<br />
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Boavista – Rua<br />
Bonfim – Rua<br />
Cabanitas – Rua<br />
Capelão – Rua<br />
Caseta – Rua<br />
Celeiros – Rua<br />
Centro – Largo<br />
Chança – Rua<br />
Conceição – Rua<br />
CORTE AZINHA<br />
CORTE DO PINTO<br />
Corte – Rua<br />
D. Carlos – Rua<br />
D. Eduardo – Rua<br />
Dona Amélia – Rua<br />
Dona Lídia – Rua<br />
Dr. Rocha – Rua<br />
Dr. Serrão Martins - Rua<br />
Dr. Vargas – Rua<br />
Eiras – Rua<br />
Escola – Largo<br />
Escola – Rua<br />
Filarmónica - Rua<br />
GNR – Largo<br />
Guadiana – Rua<br />
Hospital – Largo<br />
Igreja – Largo<br />
ILHA<br />
Indústria – Rua<br />
Liberdade – Rua<br />
Longa – Rua<br />
Marco Encarnado - Rua<br />
Mercado Novo – Largo<br />
Mercado Velho - Largo<br />
Mercado – Rua<br />
MONTE BARBA<br />
MONTE DO SOSSEGO<br />
Nascente – Rua<br />
Norte – Rua<br />
Poente – Rua<br />
Quartéis Dobles – Rua<br />
Santa Bárbara – Rua<br />
Santa Eugénia – Rua<br />
Santa Isabel – Rua<br />
Santo António – Rua<br />
São Domingos - Rua<br />
São Francisco - Rua<br />
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São João – Rua<br />
São Pedro – Rua<br />
Serpa – Rua<br />
Sul – Rua<br />
Espírito Santo Espírito Santo<br />
Violeta - Rua<br />
ÁLAMO<br />
ALCARIA DOS JAVAZES<br />
ALMOINHA VELHA<br />
BESTEIROS<br />
BICADA<br />
BOAVISTA<br />
BOMBEIRA VELHA<br />
BRAMAFÃO<br />
COLGADEIROS<br />
CORTE CARRILHO<br />
D’ORDEM<br />
EIRINHA<br />
ESPÍRITO SANTO<br />
GAFA<br />
MARROCOS<br />
MESQUITA<br />
MOINHOS DE VENTO<br />
MOINHOS DE VENTO DE BAIXO<br />
MOINHOS DE VENTO DE CIMA<br />
PALAQUEIRA<br />
PENHA DE ÁGUA<br />
RONCÃO DE BAIXO<br />
RONCÃO DE CIMA<br />
RONCÃO DO MEIO<br />
ROUCANITO<br />
SEDAS<br />
VICENTES<br />
ZAMBUJAL<br />
Mértola Nossa Senhora de<br />
Entre-as-Vinhas<br />
25 de Abril – Largo<br />
25 de Abril - Rua<br />
5 de Outubro - Rua<br />
ACHADA DE S. SEBASTIÃO<br />
Adriano correia de Oliveira - Rua<br />
ALÉM RIO<br />
Aloriso Gomes – Largo<br />
ALTURA DOS COITOS<br />
Álvaro Marinha de Campos - Rua<br />
Alves Redol – Rua<br />
AMENDOEIRA DA SERRA<br />
Angola – Rua<br />
Aureliano Mira Fernandes - Avenida<br />
Bairro Novo - Rua<br />
BRITES GOMES<br />
Brito Camacho – Largo<br />
CACHOPO<br />
Cândido dos Reis - Rua<br />
Cândido dos Reis - Travessa<br />
CELA<br />
Cerro da Forca – Praceta<br />
CERRO DO BENFICA<br />
Combatentes da Grande Guerra - Rua<br />
CORTE DA VELHA<br />
CORTE GAFO DE BAIXO<br />
CORTE GAFO DE CIMA<br />
CORTE PEQUENA<br />
CORTE SINES<br />
CORVOS<br />
Delfim Rosa Alho - Rua<br />
D. Sancho II - Rua<br />
Dr. Afonso Costa – Rua<br />
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Dr. António José de Almeida - Rua<br />
Dr. Manuel Francisco Gomes – Rua<br />
Dr. Serrão Martins – Rua<br />
Dr. Serrão Martins – Travessa<br />
Dr. Teófilo Braga – Rua<br />
Elias Garcia – Rua<br />
FERNANDES<br />
Igreja – Rua<br />
José Carlos Ary dos Santos – Rua<br />
Latino Coelho – Rua<br />
Leal – Beco<br />
Lojas – Praceta<br />
LOMBARDOS<br />
Luís de Camões – Praça<br />
Maria Luísa Sales – Rua<br />
MILHOURO<br />
MONTE ALTO<br />
MONTE DA BELA VISTA<br />
MONTE DOS AMORES<br />
MONTE VALE DAS ANTAS<br />
MONTE XERIFE<br />
MORENA<br />
MOSTEIRO<br />
Nacional 122 – Estrada<br />
NAMORADOS<br />
NEVES<br />
Neves – Travessa<br />
Nossa Senhora da Conceição – Rua<br />
Oliveirinha – rua<br />
PIAS<br />
POÇO DOS 2 IRMÃOS<br />
POÇOS NOVOS<br />
POMAR DA BOMBEIRA<br />
Professor Batista da Graça - Rua<br />
Professor Sebastião e Silva – Rua<br />
QUINTA<br />
República da Guiné - Rua<br />
República de Cabo Verde – Rua<br />
República de Moçambique – Rua<br />
República se São Tomé e Príncipe –<br />
Rua<br />
República – Rua<br />
Roncanito – Travessa<br />
Rossio – Largo<br />
Rossio – Travessa<br />
SAPOS<br />
SERRO DE SÃO LUÍS<br />
Soeiro Pereira Gomes – Rua<br />
TAMEJOSO<br />
Timor – Rua<br />
VALE DE ÉVORA<br />
Vasco da Gama – Largo<br />
Visc Boisós - Rua<br />
Zeca Afonso - Rua<br />
Santana de Cambas Sta. Ana ACHADA DO GAMO<br />
ALVES<br />
BENS<br />
COSTA<br />
FORMOA<br />
MOITINHO<br />
MONTE SAPOS<br />
MONTES ALTOS<br />
MOREANES<br />
PICOITOS<br />
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São João dos<br />
Caldeireiros<br />
São Miguel do<br />
Pinheiro<br />
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
POMARÃO<br />
SALGUEIROS<br />
SANTANA DE CAMBAS<br />
SERRALHAS<br />
TELHEIRO<br />
VALE DO POÇO<br />
VALE FORMOSO<br />
VALE TRAVASSOS<br />
S. João Baptista ÁLVARES<br />
CORTE PÃO E ÁGUA<br />
HERDADE DE SANTA MARIA<br />
HORTA DE SÃO JOÃO<br />
LEDO<br />
MARTINHANES<br />
MONTE CORVO<br />
MONTE COSTA<br />
PALMA<br />
PENILHOS<br />
QUINTA DA CALDEIRA<br />
ROMEIRAS<br />
SÃO JOÃO DOS CALDEIROS (?)<br />
SIMÕES<br />
TACÕES<br />
TOURIL<br />
VASCO RODRIGUES<br />
S. Miguel ALCARIA LONGA<br />
CASTANHOS<br />
CHANOCA<br />
CORCHA<br />
CORREDOURA<br />
DIOGO MARTINS<br />
ESPRAGOSA<br />
FONTES<br />
GATO<br />
GÓIS<br />
GÓIS GORDO<br />
LOBATO<br />
MALHÕES<br />
MANUEL GALO<br />
MILHALVO<br />
MONTE AGUDO<br />
MONTE NOVO<br />
MONTE NOVO DE MARREIROS<br />
MONTE VELHO<br />
MONTES SANTANA<br />
MURTEIRA<br />
NEGRACHO<br />
NEVES<br />
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PEITEIRA<br />
PENEDOS<br />
PEREIRAS<br />
RONCÃO<br />
SÃO MIGUEL DO PINHEIRO<br />
SERRANOS<br />
São Pedro de Solis S. Pedro Apóstolo<br />
TOURIL<br />
BARRANCO<br />
BICADA<br />
CASA NOVA<br />
CASA VELHA<br />
CASTELEJO<br />
FIALHO<br />
GATÃO<br />
GIRALHEIRA<br />
HORTINHA<br />
MIGUENSES<br />
MONTE DE NEGAS<br />
MONTE NOVO DA OLIVEIRA<br />
QUINTA DOM MAIOR<br />
ROSA<br />
SÃO PEDRO DE SÓLIS<br />
VENTOSA<br />
ZURRAL<br />
São Sebastião dos S. Sebastião BELO<br />
Carros<br />
BOISÕES<br />
BOISÕES DE BAIXO<br />
BOISÕES DE CIMA<br />
CARROS<br />
PAPA LEITE<br />
PAPA LEITINHO<br />
PIRES ALVES<br />
RAMOS<br />
SÃO BARTOLOMEU DA VIA GLÓRIA<br />
SÃO SEBASTIÃO DOS CARROS<br />
VARGENS<br />
Esta é só uma amostra a partir de uma simples leitura das Páginas Amarelas... Ficam a faltar os<br />
nomes de lugares...<br />
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MÉRTOLA – MAPA – para possível localização das Freguesias, Montes e Lugares...<br />
Ver ainda.<br />
Em Alcaria Longa – Povoado Medieval... e<br />
Corte Pinto... Igreja de Nossa Senhora da Conceição e descobertas de 1987 de enterramentos em<br />
sepulturas cavadas na rocha com datação provável do séc. XVIII<br />
Então e a Mina de S. Domingos??????????<br />
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ANX. 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros...<br />
É um capítulo que, necessariamente, fica muito incompleto e se apresenta só como “amostra”.<br />
Esperávamos encontrar uma série de nomes que nos levassem à revelação da quantidade de<br />
povos e gentes que passaram por esta “encruzilhada”, mas nem a fonte a que recorremos, nem os<br />
conhecimentos que temos sobre o assunto nos permitem tirar conclusões...<br />
Foto in CD PORTFOLIO – Mértola Vila Museu<br />
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NOMINÁLIA – APELIDOS – uma AMOSTRA dos mais repetidos e alguns raros<br />
Apelido / Família<br />
AFONSO 26<br />
ALHO 12<br />
ALMEIDA 7<br />
ALVES 8<br />
ANASTÁCIO 6<br />
ANSEITEIRO 1<br />
ANTÓNIA 11<br />
ANTÓNIO 9<br />
ARBINA 1<br />
ARMSTRONG<br />
ARRAIA<br />
ASSUNÇÃO 6<br />
AUGUSTA / O 7<br />
AZEDO<br />
BACALHAU<br />
BAIÃO 2<br />
BAIOA 8 – 1 BAIÔA<br />
BARÃO 11<br />
BATINHA<br />
BATISTA 8<br />
BENTO 25<br />
BOIÇA<br />
BRAIZINHA<br />
BRANCO 14<br />
BRITO 14<br />
CAETANO 10<br />
CAIXINHA 2<br />
CALHEGAS<br />
CALQINHA 2<br />
CAMACHO 2<br />
CANDEIAS 17<br />
CANGALHINHAS<br />
CAPELO 2<br />
CAPITO<br />
CARANGUEJO<br />
CARDEIRA 3<br />
CARMO 6<br />
CARRACINHA<br />
CARRASCO 3<br />
CATARINA / O 2 + 2<br />
CAVACA<br />
CAVACO 16<br />
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CESÁRIO 2<br />
CIPRIANO 8<br />
COELHO 8<br />
COLAÇA<br />
COLAÇO 26<br />
CONCEIÇÃO 25<br />
CONDUTO 11<br />
CONFEITEIRO 4<br />
CONTENTE<br />
CORREIA 17<br />
COSTA 61<br />
CRUZ 22<br />
CUSTÓDIA / O 2 + 5<br />
DIAS 29<br />
DIOGO 10<br />
DIONÍSIO 2<br />
DOMINGOS 12<br />
DRAGO 2<br />
ENCARNAÇÃO 8<br />
ESTEVENS<br />
FERNANDES 38<br />
FERREIRA 9<br />
FILIPE 9<br />
FRANCISCA / O 4 + 13<br />
GALHORDO<br />
GIMENES<br />
GODINHO 19<br />
GOMES 30<br />
GONÇALVES 29<br />
GUERREIRO 47<br />
HENRIQUE 10<br />
HORTA 14<br />
INÁCIA / O 1 + 14<br />
JACÓ<br />
JACOB 2<br />
JESUS 15<br />
JOÃO 4<br />
JOAQUIM / NA 4 + 4<br />
JOSÉ 15<br />
LAMPREIA 10<br />
LANEIRO<br />
LOPES 16<br />
LOURENÇO 13<br />
LOURO<br />
LÚCIA 2<br />
LÚCIO 2<br />
LUÍS 13<br />
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MACHADO 12<br />
MACIAS<br />
MADEIRA 10<br />
MANUEL 10<br />
MARIA 32<br />
MARQUES 32<br />
MARTINS 86<br />
MATEUS 2<br />
MATIAS 10<br />
MEDEIRO / S 2 + 15<br />
MESTRE 37<br />
NEVES 10<br />
NUNES 12<br />
PALMA 113<br />
PARREIRA 7<br />
PAULINO 10<br />
PEDRO 7<br />
PEREIRA 70<br />
PIRES 10<br />
RAMOS 12<br />
RAPOSO 42<br />
REIS 19<br />
REVES 7 – 1 é Revês<br />
REVEZ 10<br />
RIBEIRO 7<br />
RODRIGUES 41<br />
ROLHA 4<br />
ROMAN<br />
ROMANA 5<br />
ROMÃO 13<br />
ROMBA 7<br />
ROSA 42<br />
ROSÁRIO 9<br />
RUAS 7<br />
RUIVO 7<br />
SANTOS 56<br />
SEITA<br />
SENO 8<br />
SILVA 52<br />
SILVESTRE 12<br />
SIMÃO 9<br />
SOARES 9<br />
TEIXEIRA 47<br />
VALADAS 7<br />
VALENTE 16<br />
VARGAS 12<br />
VIEGAS 9<br />
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VIRIATO<br />
VISEU 3<br />
WINTER<br />
XIMENES<br />
ZEFERINO<br />
ZWANIKKEN<br />
Ver em António Borges Coelho - «SOBRE MÉRTOLA E O GUADIANA» - in<br />
ARQUEOLOGIA MEDIEVAL, 1 – ed. Afrontamento, 1992 – Campo Arqueológico de Mértola:<br />
o nome do pároco em 1613:<br />
«Em 1613 o pároco Vicente Afonso Lampreia envia ao Santo Ofício uma relação dos fugitivos<br />
de Mértola. Aproveita para lembrar que a vila é uma terra de passagem onde não há familiar e<br />
oferece-se para comissário do Santo Ofício»... falando do tempo dos Filipes e suma época em<br />
que: «O rio quase volta a unir.»<br />
Pareceu-nos importante destacar este nome: LAMPREIA, como nome característico e ligado à<br />
Terra e ao Rio... mas não deixa de ser intrigante para apresentar Mértola como: TERRA DE<br />
PASSAGEM, onde não há (ou não tem?) FAMILIAR e oferece-se para comissário...!!!<br />
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- ANX 2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco<br />
estudado...<br />
Embora se verifique com bastante facilidade que muitos dos APELIDOS ou NOMES de<br />
FAMÍLIA derivaram possivelmente de antigas ALCUNHAS devido à profissão e outros<br />
factores que seria preciso estudar, fica ainda um MUNDO a desvendar para recolher,<br />
investigar e estudar o significado desta quase necessidade secular de atribuir outro nome às<br />
pessoas que não o de registo...<br />
Não sabemos o que se passa em Mértola... mas é importante saber...<br />
Como pista para este estudo, ver diversos trabalhos de Francisco Martins Ramos, de quem só<br />
consultámos: ALCUNHAS ALENTEJANAS – Estudo Etnográfico, Edição da Associação de<br />
Defesa dos Interesses de Monsaraz (ADIM), Monsaraz, Dezembro de 1990; mas temos<br />
conhecimento de, pelo menos, mais duas obras, tendo sabido já em 2003 de um TRATADO<br />
das ALCUNHAS Alentejanas, da autoria do Dr. Francisco Ramos e Carlos Alberto da Silva,<br />
Editora Colibri, 2003.<br />
Registo de alguns textos mais significativos... «Estudar designações num oral quotidiano, em<br />
perspectiva plurifacetada de apuramento de significações, funções sociais e distribuição<br />
geográfica, é um acto de coragem intelectual: exige conhecimentos especializados, rigor<br />
conceptual e disciplina metodológica, numa encruzilhada multidisciplinar em que confluem<br />
a Lexicologia, a Semântica e a sociologia.» (in Alcunhas Alentejanas – Francisco Martins<br />
Ramos, Monsaraz, 1990, p. 13) e talvez se possam acrescentar algumas mais, como a<br />
Antropologia, a Psicologia, etc.<br />
Perante a impossibilidade de recolha de ALCUNHAS recolhidas no terreno, transcrevemos<br />
nomes de APELIDOS que provavelmente derivaram de antigas ALCUNHAS, como os<br />
ligados a profissões, produtos da terra, árvores, animais...<br />
ALHO – ANSEITEIRO – ARRAIA – AZEDO – BACALHAU – BARÃO – CAIXINHA –<br />
CANDEIAS – CANGALHINHAS – CARANGUEJO – CARRACINHA – CARRASCO –<br />
CAVACO – COELHO – CONDUTO – CONFEITEIRO – CORREIA – GUERREIRO –<br />
HORTA – LAMPREIA – LANEIRO – LÚCIO – MACHADO – MADEIRA – MESTRE –<br />
NEVES – PALMA – PARREIRA – PIRES – RAMOS – RAPOSO – RIBEIRO – ROLHA –<br />
ROSA – SILVA...<br />
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ANX 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora...<br />
Neste Capítulo, fomos encontrar, no Parque Natural do Vale do Guadiana, pelo menos duas<br />
obras fundamentais, pelo que verificamos que já não será uma sugestão nossa que vai alertar<br />
para o estudo deste tema, nem era esse o nosso propósito.<br />
Trata-se de um trabalho notável. É preciso descobrir entretanto como é que este trabalho vai<br />
fazer parte do quotidiano das pessoas como afirmação da sua cultura.<br />
Todos nós temos assistido um pouco a um fenómeno estranho, que tem acontecido durante<br />
algumas décadas e caricaturado naquela anedota do ancinho: o filho sai de ao pé dos pais para ir<br />
estudar, e como já sabe muito, quando volta a casa e vai ao campo com o pai, já não sabe como<br />
se chama aquela alfaia com dentes para juntar a palha e as folhas, a não ser quando o pisa e leva<br />
com ele na cara. À medida que as pessoas “vão saindo” para saberem mais, aquilo que sabiam<br />
em crianças, quando corriam livres pelos campos atrás dos pássaros e dos animais, depois de<br />
alguns anos de estudo, já não sabem!?? Como se chama aquela árvore? Como se chama aquela<br />
flor? Como se chama aquela ave? NADA!!! Será que ficam ao menos a saber o nome científico?<br />
Dá-se uma total descaracterização cultural ou o que é que se passa?<br />
É importante tomar consciência que o Universo da Linguagem de tudo o que nos rodeia, constrói<br />
e define o nosso Universo Cultural – caracteriza o Universo Cultural de uma região. Não<br />
estamos a sugerir que as pessoas não devem estudar e saber mais. Estamos a dizer exactamente o<br />
contrário. O que não devem, é esquecer aquilo que antes aprenderam, nem rejeitá-lo, antes<br />
assumi-lo e desenvolvê-lo ou corrigi-lo, se for o caso.<br />
O nosso contributo neste capítulo é apreciar o trabalho realizado que fomos encontrar, como todo<br />
o restante das várias entidades de Mértola, e sugerir que se descubram os meios mais eficientes e<br />
até lúdicos para que estes conhecimentos não se percam e junto com os nomes dos livros, se<br />
continuem a saber os nomes que os antepassados da região nos legaram com o seu significante,<br />
significado e talvez com o seu simbolismo...<br />
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1. PEIXES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Leonor Rogado (Texto), Carlos Carrapato<br />
(fotografia), Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2001<br />
Com um Glossário no final que, segundo pensámos nos ia facilitar o trabalho, encontrando a lista<br />
dos PEIXES, com o seu nome científico e nome popular por que são conhecidos, mas que afinal<br />
contém, o que seria mais importante para os autores e organizadores, a lista das palavras que<br />
ofereceriam mais dificuldade aos possíveis leitores.<br />
Entretanto, basta recorrer ao índice para termos o levantamento do nome dos PEIXES, segundo<br />
as várias espécies e até menciona os secundários...<br />
Lista dos PEIXES – para ficar com uma ideia da influência que terão na região:<br />
p. 3 (Obra citada) Espécies migradoras<br />
Nome vulgar Nome científico Notas<br />
Enguia Anguilla anguilla<br />
Esturjão Acipenser sturio Solho<br />
Lampreia Petromyzon marinus<br />
Sável Alosa alosa<br />
Savelha Alosafalax<br />
p. 3 (Obra citada) Espécies nativas residentes<br />
Nome vulgar Nome científico Notas<br />
Barbo de Steindachner Barbus steindachneri<br />
Barbo-de-cabeça-pequena Barbus microcephalus<br />
Barbo-do-sul Barbus sclateri<br />
Boga do Guadiana Chondrostoma willkommii<br />
Boga-de-boca-arqueada Chondrostoma lemmingii<br />
Bordalo Leuciscus albumoides<br />
Caboz-de-água-doce Salaria fluviatilis<br />
Cumba Barbus comiza<br />
Escalo do sul Leuciscus pyrenaicus<br />
Saramugo Anaecyplis hispanica Saramugo – uma espécie em extinção – tem<br />
um panfleto de divulgação da Faculdade de<br />
Ciências da UL e do Instituto da Conservação<br />
da Natureza e até na Web:<br />
http://hello.to/saramugo<br />
Verdemã Cobitis paludica<br />
p.3 (Obra citada) Espécies introduzidas residentes<br />
Nome vulgar Nome científico Notas<br />
Achigã Micropterus salmoides<br />
Carpa Cyprinus carpio<br />
Chanchito Cichlasoma facetum<br />
Gambúsia Gambusia holbrooki<br />
Lúcio Esox lucius<br />
Peixe-gato-preto-arnericano Ameiurus meias<br />
Perca-sol Lepomis gibbosus<br />
Pimpão Carassius auratus<br />
p. 123 ( Obra citada) Espécies secundárias<br />
Nome vulgar Nome científico Notas<br />
Agulinha Sygnatus abaster Fauna do Guadiana<br />
Esgana-gata Gasteroteus aculeatus Fauna do Guadiana<br />
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Fúndulo Fundullus boyeri introduzida<br />
Tainha-fataça Liza ramada Fauna do Guadiana<br />
Tainha-garrento Liza aurata Fauna do Guadiana<br />
Tainha-olhalvo Mugil cephalus Fauna do Guadiana<br />
Para mais informações, encontrámos ainda em MEMÓRIAS PAROQUIAIS de 1721 e 1758<br />
informações que constam das respostas aos inquéritos realizados nessa época. Ver:<br />
AS TERRAS – AS SERRAS E OS RIOS – As Memórias paroquiais de 1758 do Concelho de<br />
Mértola, Joaquim Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a<br />
História Local 1 – Edição do Campo Arqueológico de Mértola, 1995. VER:<br />
p. 42 peixe: PICOIS – BOGAS – PERDELHOS – EYROZES – CAGAÇOS - ...BORDOLOS; p.<br />
50 BARBOS – EIRÓS – MUGES e alguas SOLHOS; p. 56 PEXES LISSAS (SAVES –<br />
LAMPREYAS – SOLHOS) (as ribeiras enumeradas são: COBRES – TERGES – OUEYRAS –<br />
LAMPREYA e VASCAM) p. 73. SOLHOS – SAFIOS – MUGES – SABOGAS – PICOENS<br />
...p. 81 PICOIS p. 94 – PARDELLAS<br />
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2. AVES do Parque Natural do Vale do Guadiana, Ana Cristina Cardoso (texto) Carlos<br />
Carrapato (fotografia)- Edição PNVG, Instituto da Conservação da Natureza, 2000.<br />
Esta obra, além de um Glossário importante, tem ainda uma listagem das espécies citadas no<br />
texto como FLORA e MAMÍFEROS e uma TABELA com o nome científico e o nome vulgar,<br />
além de outras anotações importantes...<br />
AVES - as 170 espécies que se podem encontrar no PARQUE NATURAL DO VALE DO<br />
GUADIANA e estão agrupadas pelos principais habitates existentes dentro do Parque:<br />
Habitat rupícola – margens e leitos de cursos de água com afloramentos rochosos...<br />
Zonas húmidas - os pegos dos cursos de água na estação seca...<br />
Charcas – pequenos olhos de água... Com elevada biodiversidade...<br />
Matagal mediterrânico – em vales encaixados dos cursos de água... e vertente Norte de Alcaria<br />
Ruiva... com estrato arbustivo bastante diversificado<br />
Montados – com povoamento mais ou menos disperso de azinheira e sobreiro...<br />
Sub-coberto – Abaixo das árvores... variando conforme a cultura realizada...<br />
Matos – vastas áreas de charneca arbustiva resultado do abandono da exploração agrícola<br />
extensiva...<br />
Estepe cerealífera – campos de cultivo...<br />
Pousio – Tempo durante o qual se deixa a terra em repouso – pousio...<br />
Alqueive – Terra preparada mas não semeada como preparação para futura sementeira...?<br />
Meio urbano – os aglomerados populacionais que datamde vários séculos a. C.<br />
1. ordem seguida no livro – AVES DO PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA, Ana<br />
Cristina Cardoso - Texto, Carlos Carrapato – fotografia, edição do Parque Natural do vale do<br />
Guadiana, 2000.<br />
2. Lista por ordem alfabética com os NOMES vulgares – 2ª coluna<br />
3. lista por ordem alfabética pelos NOMES científicos<br />
e ainda da mesma obra<br />
Espécies citadas no texto<br />
FLORA<br />
MAMÍFEROS<br />
Ver ainda in AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As Memórias Paroquiais de 1758 do<br />
Concelho de Mértola, Estudos e fontes para a História Local 1 - Joaquim Ferreira Boiça – Maria<br />
de Fátima Rombouts Barros, as referências a<br />
AVES – por exemplo cisões... p. 121<br />
Plantas já vimos o DARO P. 121<br />
ANIMAIS – por exemplo “muitas cilhas de colmeas... p. 121<br />
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AVES por ordem alfabética – nomes vulgares – 2ª coluna<br />
Nº Nome vulgar Nome científico notas<br />
1 Abelharuco Merops apiaster Matos<br />
2 Abetarda (Abatrada) Otis tarda Estepe cerealífera<br />
3 Abibe (Bibe) Vanellus vanellus Alqueive<br />
4 Abutre do Egipto Neophron percnopterus Habitat rupícola<br />
5 Abutre-preto Aegypius monachus Matagal mediterrânico<br />
6 Açor Accipiter gentllis<br />
7 Águia de Bonelli Hieraaetus fasciatus Habitat rupícola<br />
8 Aguia-calçada Hieraaetus pennatus<br />
9 Águia-cobreira Circaetus gallicus Matagal mediterrânico<br />
10 Águia-d'asa-redonda Buteo buteo<br />
11 Águia-imperial Aquila heliaca<br />
12 Águia-pesqueira Pandion haliaetus<br />
13 Águia-real Aquila chrysaetos Habitat rupícola<br />
14 Alcaravão (Algravão) Burhinus oedicnemus Estepe cerealífera<br />
15 Alfaiate Recurvirostra avosetta<br />
16 Alvéola-amarela Motacilla flava<br />
17 Alvéola-branca (Arvela) Motacilla alba Zonas húmidas<br />
18 Alvéola-cinzenta Motacilla cinerea<br />
19 Andorinha-das-barreiras Riparia riparia<br />
20 Andorinha-das-chaminés Hirundo rustica Meio urbano<br />
21 Andorinha-das-rochas Ptyonoprogne rupestris Habitat rupícola<br />
22 Andorinha-dáurica Hirundo daurica<br />
23 Andorinha-do-mar-anã Sterna albifrons<br />
24 Andorinha-dos-beirais Delichon urbica Meio urbano<br />
25 Andorinhão-cafre (Corta-vento) Apus caffer Meio urbano<br />
26 Andorinhão-pálido Apus pallidus<br />
27 Andorinhão-preto Apus apus<br />
28 Andorinhão-real Apus melba<br />
29 Bico-de-lacre Estrilda astrild<br />
30 Bico-grossudo Coccothraustes coccothraustes<br />
31 Borrelho-pequeno-de-coleira Charadrius dubius Zonas húmidas<br />
32 Bufo-pequeno Asio otus<br />
33 Bufo-real Bubo bubo Habitat rupícola<br />
34 Calhandra Melanocorypha calandra<br />
35 Calhandrinha Calandrella brachydactyla pousio<br />
36 Carriça Troglodytes troglodytes Matagal mediterrânico<br />
37 Cartaxo-comum Saxicola torquata Matos<br />
38 Cartaxo-do-norte (Cartaxo-nortenho) Saxicola rubetra Matos<br />
39 Cegonha-branca Ciconia ciconia Meio urbano<br />
40 Cegonha-preta Ciconia nigra Habitat rupícola<br />
41 Chamariz Serinus serinus<br />
42 Chapim-azul Pares caeroleus<br />
43 Chapim-de-faces-negras Remis pendulinus<br />
44 Chapim-de-poupa Paros cristatus<br />
45 Chapim-rabilongo Aegithalos caudatus Matagal mediterrânico<br />
46 Chapim-real Pares major<br />
47 Chasco-cinzento Oenanthe oenanthe<br />
48 Chasco-ruivo Oenanthe hispanica<br />
49 Cia Emberiza cia Habitat rupícola<br />
50 Codorniz Coturnix coturnix<br />
51 Colhereiro Platalea leucorodia<br />
52 Cortiçol-de-barriga-preta (Barriga-negra) Pterocles orientalis pousio<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
107
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
53 Coruja-das-torres Tyto alba Meio urbano<br />
54 Coruja-do-mato Strix aluco<br />
55 Corvo Corvus corax<br />
56 Corvo-marinho-de-faces-brancas Phalacrocorax carbo<br />
57 Cotovia-do-monte (Cotovia-montesina) Galerida theklae Matos<br />
58 Cotovia-pequena Lullula arborea<br />
59 Cuco Cuculus canorus<br />
60 Cuco-rabilongo Clamator glandarius<br />
61 Dom-fafe Pyrrhula pyrrhula<br />
62 Escrevedeira Emberiza cirlus<br />
63 Esmerilhão Falco columbarius<br />
64 Estorninho-malhado Sturnus vulgaris<br />
65 Estorninho-preto Sturnus unicolor<br />
66 Estrelinha-real Regulus ignicapillus<br />
67 Falcão-abelheiro Pernis apivorus<br />
68 Falcão-peregrino Falco peregrinus<br />
69 FeIosa-comum (Floucha) Phylloscopus collybita Montados<br />
70 FeIosa-musical Phylloscopus trochilus<br />
71 FeIosa-pálida Hippolais pallida<br />
72 Felosa-das-figueiras Sylvia borin Matagal mediterrânico<br />
73 Felosa-do-mato Sylvia undata Matos<br />
74 Felosa-poliglota Hippolais polyglotta<br />
75 Ferreirinha Prunella modularis<br />
76 Frisada Anas strepera<br />
77 Fuinha-dos-juncos Cisticola juncidis<br />
78 Gaio Garrulus glandarius Matagal mediterrânico<br />
79 Gaivina-de-bico-preto Gclochelidon nilotica<br />
80 Gaivota-d'asa-escura Larus fuscus<br />
81 Galeirão Fulica atra<br />
82 Galinha d‟água Galinula chloropus<br />
83 Ganso Anser anser<br />
84 Garça-boeira Bubulcus ibis<br />
85 Garça-branca-pequena Egretta garzetta Zonas húmidas<br />
86 Garça-pequena Ixobrychus minutus<br />
87 Garça-real Ardea cinerea<br />
88 Garça-vermelha Ardea purpurea<br />
89 Gavião Accipiter nisus<br />
90 Gralha-de-nuca-cinzenta Corvus monedula Meio urbano<br />
91 Gralha-preta Corvus corone<br />
92 Grifo Gyps fulvus Habitat rupícola<br />
93 Grou Grus grus Sub-coberto<br />
94 Guarda-rios (Matim-pescador) Alcedo atthis Zonas húmidas<br />
95 Guincho Larus ridibundus<br />
96 Laverca Alauda arvensis<br />
97 Lugre Carduelis spinus<br />
98 Maçarico-das-rochas Actitis hypoleucos Zonas húmidas<br />
99 Marrequinho Anas crecca<br />
100 Melro-azul Monticola solitarius Habitat rupícola<br />
101 Melro-Preto Turdus merula<br />
102 Mergulhão-de-crista Podiceps cristatus<br />
103 Mergulhão-pequeno Tachybaptus ruficollis Zonas húmidas (Charcas)<br />
104 Milhafre-preto Milvus migrans<br />
105 Milhano Milvus milvus<br />
106 Mocho-d'orelhas Otus scops Montado<br />
107 Mocho-galego Athene noctua Montado<br />
108 Narceja Gallinago gallinago Zonas húmidas (Charcas)<br />
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109 Noitibó-de-nuca-vermelha Caprimulgus europaeus Matagal mediterrânico<br />
110 Papa-amoras Sylvia communis<br />
111 Papa-figos Oriolus oriolus<br />
112 Papa-moscas-cinzento Muscicapa striata<br />
113 Papa-moscas-preto Ficedula hypoleuca<br />
114 Pardal-comum Passer domesticus<br />
115 Pardal-espanhol Passer hispaniolensi<br />
116 Pardal-francês Petronia petronia<br />
117 Pardal-montês Passer montanus<br />
118 Pássaro-bique-bique Tringa ochropus<br />
119 Pato-de-bico-vermelho Netta rotina<br />
120 Pato-real (Pato-bravo) Anas platyrhynchos Zonas húmidas<br />
121 Pato-trombeteiro Anas clypeata<br />
122 Pega-azul (Rabilongo ou charneco) Cyanopica cyana Sub-coberto<br />
123 Pega-rabuda Pica pica<br />
124 Peneireiro-cinzento Elanus caeruleus Montado<br />
125 Peneireiro-das-torres (Francelho) Falco naumanni Meio urbano<br />
126 Peneireiro-vulgar Falco tinnunculus<br />
127 Perdiz-comum Alectoris rufa Matos<br />
128 Perdiz-do-mar Glareola pratincola pousio<br />
129 Perna-vermelha Tringa totanus<br />
130 Petinha-das-árvores Anthus trivialis<br />
131 Petinha-dos-campos (Alqueveireiro) Anthus campestris Estepe cerealífera<br />
132 Petinha-dos-prados (Alqueveireiro) Anthus pratensis Estepe cerealífera<br />
133 Peto-verde Picus viridis<br />
134 Picanço-barreteiro Lanius senator Sub-coberto<br />
135 Picanço-real Lanius meridionalis Matos<br />
136 Pica-pau-malhado-grande Dendrocopus major<br />
137 Pica-pau-malhado-pequeno Dendrocopos minor<br />
138 Pintarroxo Carduelis cannabina<br />
139 Pintassilgo Carduelis carduelis Meio urbano<br />
140 Pisco-de-peito-ruivo (Papinho-amarelo) Erithacus rubecula Matagal mediterrânico<br />
141 Pombo-bravo Columba oenas<br />
142 Pombo-torcaz Columba palumbus<br />
143 Poupa Upupa epops Sub-coberto<br />
144 Rabirruivo-preto (Barba-ruiva) Phoenicurus ochruros Meio urbano<br />
145 Rola Streptopelia turtur Montado<br />
146 Rola-turca Streptopelia decaocto<br />
147 Rolieiro Coracias garrulus pousio<br />
148 Rouxinol-bravo Cettia cetti Zonas húmidas (Charcas)<br />
149 Rouxinol-comum Luscinia megarhynchos<br />
150 Rouxinol-do-mato Cercotrichas galactotes Matos<br />
151 Rouxinol-grande-dos-caniços Acrocephalus arundinaceus<br />
152 Rouxinol-pequeno-dos-caniços Acrocephalus scirpaceus<br />
153 Sisão Tetrax tetrax Estepe cerealífera<br />
154 Tarambola-dourada Pluvialis apricaria<br />
155 Tartaranhão-azulado Circus cyaneus<br />
156 Tartaranhão-caçador Circus pygargus Estepe cerealífera<br />
157 Tentihão Fringila coelebs<br />
158 Torcicolo Jynx torquilla Montado<br />
159 Tordeia Turdus viscivorus<br />
160 Tordo-comum Turdus philomelos<br />
161 Tordo-ruivo Turdus iliacus<br />
162 Toutinegra-carrasqueira Sylvia cantillans<br />
163 Toutinegra-de-barrete-preto Sylvia atricapilla Matagal mediterrânico<br />
164 Toutinegra-de-cabeça-preta Sylvia melanocephala Matagal mediterrânico<br />
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165 Toutinegra-tomilheira Sylvia conspicillata<br />
166 Trepadeira-azul Sitta europaca<br />
167 Trepadeira-comum Certhia brachydactyla<br />
168 Trigueirão Miliaria calandra Estepe cerealífera<br />
169 Verdilhão Carduelis chloris Meio urbano<br />
170 Zarro-comum Aythya ferina Zonas húmidas (Charcas)<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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FLORA<br />
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Aroeira Pistacia lentiscus<br />
Azinheira Quercus rotundifolia<br />
Caniço Phragmytes australis<br />
Catacuzes Rumex bucephalophorus<br />
Cevada-das-ratos Hordeum murinum<br />
Espadana-dos-montes Gladiolus illyricus<br />
Esteva Cistus ladanifer<br />
Freixo Fraxinus angustifolium<br />
Gaimão Asphodelus ramosus<br />
Lentisco-bastardo Phillyrea angustifolia<br />
Loendro Nerium oleander<br />
Margaça Chamaemelum mixtum<br />
Murta Myrtus communis<br />
Ranúnculo Ranunculus peltatus<br />
Roselha Cistus crispus<br />
Rosmaninho Lavandula stoechas<br />
Salgueiro Salix sp<br />
Sargaço Cistus mompeliensis<br />
Sargoaço Cistus salvifolius<br />
Serradela-brava Ornithopus compressus<br />
Sobreiro Quercus suber<br />
Tabúa-de-folha-larga Typha latifolia<br />
Tamargueira Tamarix africana<br />
Tamujo Securinega tinctoria<br />
Tojo-molar Genista triacanthos<br />
Trovisco Daphne gnidium<br />
Zambujeiro Olea europea<br />
Ver – AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As memórias Paroquiais de 1758 do concelho de Mértola, Joaquim<br />
Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a História Local 1 – Edição do Campo<br />
Arqueológico de Mértola, 1995. p. 120 – 121<br />
“Acha-se nella huma certa especie de arbusto, a que os moradores chamão daro, que produz por fruto humas bagas<br />
de que fazem azeite, que serve para as candeas, e dá huma luz muy clara, e não falta quem use tambem delle para o<br />
prato; e affirmão que tem especial virtude para as dores e flatos que procedem de causa fria.”<br />
Cita ainda como hervas medicinaes: agrinomia e douradinha.<br />
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111
Mamíferos<br />
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Gato-bravo Felis silvestris<br />
Javali Sus scrofa<br />
Musaranhos Suncus etruscus e Crocidura russula<br />
Ratazana Rattus norvegicus<br />
Rato-caseiro Mus musculus<br />
Rato-cego Microtus lusitanicus<br />
Rato-das-hortas Mus spretus<br />
Saca-rabos Herpestes ichneumon<br />
Ver – AS TERRAS AS SERRAS OS RIOS – As memórias Paroquiais de 1758 do concelho de Mértola, Joaquim<br />
Ferreira Boiça – Maria de Fátima Rombouts Barros, Estudos e Fontes para a História Local 1 – Edição do Campo<br />
Arqueológico de Mértola, 1995. – nas várias localidades e serras, como por exemplo p. 121 – na serra de ARACELI<br />
- «Pastão nella de gado miudo, ovelhas, cabras e porcos. Acha-se muita caça rasteira, e miuda, de coelhos, e lebres;<br />
e de veação javalis...; e de bichos, lobos, e raposas; e muitas cilhas de colmeas, de que percbem grande lucro os<br />
moradores vizinhos.»<br />
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- ANX 2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... Saudações,<br />
formas de tratamento...<br />
Outro aspecto importante a desenvolver e que pode ajudar a definir a identidade de uma<br />
população pela consagração de fórmulas sedimentadas ao longo dos tempos, mas que, mais ainda<br />
do que todas as outras, só poderá ser levada a cabo por quem esteja perfeitamente inserido no<br />
meio...<br />
Como este aspecto não é realizável à distância, decidimos recorrer a outro aspecto do quotidiano<br />
que pode ser estudado em conjunto.<br />
COMIDAS DE MÉRTOLA – AROMAS E SABORES, Nádia Torres, Alunos, Professores e<br />
Funcionários da Escola C + S de Mértola, Edição da Escola C + S de Mértola, Câmara<br />
Municipal de Mértola, 1997.<br />
As receitas distribuídas pelas quatro estações é uma decisão notável e ficamos a saber, como<br />
sugere Fernão Lopes:<br />
«Outra cousa gera ainda esta conformidade e natural inclinação segundo sentença de alguns,<br />
dizendo que o pregoeiro da vida que é a fame, recebendo refeição pera o corpo, o sangue e<br />
espíritos gerados de tais viandas têm uma tal semelhança antre si que causa esta<br />
conformidade.»<br />
Afinal, somos, também, aquilo que comemos!<br />
E como tão bem diz aquele “saboroso” livro paciente e “amorosamente” feito por tanta gente,<br />
“COMER”, em português (e também em castelhano e galego), ao contrário do que acontece nas<br />
outras línguas, vem de “cum” + “edere”. Ora “edere” já significa “comer” só por si e assim, para<br />
as gentes da Península Ibérica, comer era já um acto social – “comer com... alguém”... e como se<br />
afirma no mesmo livro, «Fazer este livro sobre a gastronomia do quotidiano mertolense foi<br />
também... um acto de generosidade, de partilha e de convívio.», e portanto, além do social e do<br />
convívio, implica “partilha”, talvez solidariedade, amizade, fraternidade... e a distribuição das<br />
receitas pelas estações do ano, revela, para além da culinária, a vida das pessoas com a sua<br />
ligação à Terra, a sua inserção com os “envolventes” – o que a terra produz..., o que a terra dá...,<br />
a sabedoria secular de saber colher, “caçar”, “pescar”, “apanhar”, conservar os vários tipos de<br />
alimentos e condimentos... e “ao ritmo das estações”..., revelando a maneira de ser de uma região<br />
e denunciando até, como observam os anexos finais, do médico e do arqueólogo, o “estatuto<br />
social” de quem come o quê... e da “sabedoria” das donas de casa que sabiam substituir por<br />
exemplo o arroz com feijão, quando não havia carne ou peixe e assim mantinham a família bem<br />
alimentada, recorrendo também à migas e açordas para que não dissessem: “saco vazio não se<br />
pode erguer... saco cheio não se pode dobrar...”; para não falarmos já da comida que é o centro<br />
das festas que marcam a vida social das famílias – os baptizados, casamentos e até a morte... e<br />
onde a “fala”, os “cumprimentos”, a diversão, os “discursos” e até os “tratos” e “negócios” se<br />
firmavam à mesa, por vezes bem “comida” e bem regada...<br />
Como pistas de trabalho fica-nos uma vontade de fazer um levantamento completo dos nomes<br />
dos ingredientes, temperos e “rituais”, mas deixamos isso para alguém mais habilitado como os<br />
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que realizaram este “saboroso” livro de “aromas e sabores” ou como diz outra obra de “sabores e<br />
saberes”.<br />
Algumas recolhas como exemplo:<br />
Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar:<br />
“Deus te acrescente no alguidar<br />
Como Deus Nosso Senhor está no altar”...<br />
Importante é saber também como algumas padeiras conheciam “o som de pão” para reconhecer<br />
que a massa estava “lêveda” ou não!<br />
E depois de meter todo o pão no forno:<br />
“Deus te acrescente,<br />
que é para muita gente”<br />
E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem: «Faz-se um benzido com o sinal da<br />
cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as saias e diz:<br />
Cresças tu, pão<br />
Como as saias afastadas do cu estão».<br />
A matança do porco é outro ritual até com vários significados no decorrer do tempo... desde o<br />
tempo dos arábes em que para eles seria proibido, até ao tempo dos cristãos novos em que seria<br />
obrigatório como mostra pública de conversão convicta, até ao tempo em que significava casa<br />
farta ou em que não haveria fome durante todo o ano e “entre-ajuda” entre várias famílias e a<br />
sabedoria do tempo próprio, as luas... e das preparações a fazer... saber se as porca “ressaem”<br />
(estão com o cio) e se é preciso capa-las... a distribuição das tarefas entre os homens e as<br />
mulheres, “aos homens cabe matar, musgar e desmanchar...” e “do porco tudo se aproveita<br />
menos as castanholas (unhas)” que até podem servir de amuletos.<br />
“O fel serve para curar as chagas das patas dos animais”...<br />
“A passarinha (baço) junta-se à cachola para engrossar o molho”<br />
“Os lombinhos eram para o padre”.<br />
Dos muitos termos usados podemos ainda tentar um pequeno levantamento.<br />
As acelgas – (Beta vulgaris L. Ssp. Maritima l.)<br />
Tingarrinhas – (Scolymus Maculatus L.)<br />
Túberas – (Terfezia leonis tul.) Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe<br />
de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem encontrar-se junto das raízes das<br />
estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo.<br />
Na caldeirada de peixe encontramos a lista dos peixes do rio:<br />
Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão – Carpas...<br />
Até as rãs... cobras... lagarto... cágado... ouriços servem ou serviam para petiscos, além das<br />
cabeças de carneiro...<br />
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Para os caçadores os passarinhos fritos metem: POMBO – TORDO – MELRO TARAMBOLA...<br />
E o doce da primavera é o NÓGADO!<br />
No Verão. O GASPACHO – SOPAS DE TOMATE – TOMATADA – SOPA DE<br />
BELDROEGAS...<br />
Encontramos ainda no final, (Santiago Macías)<br />
O CHÍCHARO – “... vegetal.... que se consumiria cozido... e na região até há uma dezena de<br />
anos.”<br />
E tudo isto envolvido numa deliciosa história ... do rei que tinha três filhas... e a mais nova,<br />
afinal a que gostava mais disse: «Eu gosto tanto do meu pai como a comida gosta do sal...» ...<br />
como o célebre bispo de Viseu dizia da religião «Nem de mais, nem de menos... mas como o sal<br />
na comida.» Como nós dizemos das palavras e conversas: Nem de mais, nem de menos... para<br />
um bom convívio e comunicação sã entre as pessoas!<br />
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Tabela das RECEITAS distribuídas ao longo do tempo, de acordo com o ciclo das estações, com<br />
pistas para um passado distante e para o futuro dos “congelados” e “fast-food”<br />
O PÃO alentejano – igual diferente de todos os outros...<br />
INVERNO PRIMAVERA PRIMAVERA /<br />
VERÃO<br />
VERÃO OUTONO PETISCOS de<br />
CAÇADORES<br />
Matança do porco Ensopado de<br />
borrego<br />
Sopa de peixe Gaspacho Javali assado Perdiz<br />
Moleja Borrego à pastora Caldeirada de peixe<br />
do rio 17<br />
Sopas de Javali estufado Ovos de perdiz com<br />
tomate<br />
ceseirão 18<br />
Fritada de Entrecosto Cabeças de carneiro Caldeirada `moda Tomatada Coelho bravo à Passarinhos<br />
assadas no forno de Mértola<br />
alentejana<br />
19 fritos *3<br />
Costas de Torresmos Cabrito assado no Caracóis * 2 Sopa de<br />
forno<br />
beldroegas 20<br />
Sopa de lebre Coelho frito<br />
Sopa de pão com Favas com chouriço Rã Eirós Lebre com feijão<br />
poejos<br />
branco<br />
Cozido de couve Ervilhas com Pezinhos de rã *2 Ensopado de Lebre à caçador<br />
chouriços e ovos<br />
enguias<br />
Enchidos Folares de Páscoa Cobra frita Galinha de<br />
cabidela<br />
Arroz de tardos<br />
Linguiça Lagarto Empada de<br />
frango fricassé<br />
Perdiz estufada<br />
Tripas Cágado Perdiz nos<br />
pimentos<br />
Recheio Ouriço<br />
Pimentão caseiro<br />
Chouriço preto<br />
Cozido de grão com<br />
massa<br />
Cozido de feijão<br />
Feijão com ovos<br />
Feijão com acelgas<br />
Ouriço frito *2<br />
21<br />
Jantar de azeite 22<br />
Feijão branco com<br />
tingarrinhas 23<br />
Migas de carne<br />
Migas de bacalhau<br />
Bacalhau à alentejana<br />
Carne de porco à<br />
alentejana<br />
Arroz de túberas 24<br />
Túberas<br />
Sopas de túberas<br />
Túberas com ovos<br />
Espargos com ovos 25<br />
Salada<br />
Orelha de porco<br />
Lampreia<br />
DOCES DOCES DOCES<br />
Pastéis de grão Costas doces Nógado 26<br />
Filhós *2 Bolo podre<br />
Filhós de entrudo Pudim de mel Papas de Arroz<br />
Pudim de queijo fresco<br />
Pudim de requeijão<br />
Torta Alentejana Papas de milho<br />
17<br />
Lampreia – Sável – Enguia – Muge – Safio – Picão - Carpas<br />
18<br />
Ceseirão – é uma ervilhaca que pertence à família das leguminosas. Semeia-se com o pasto, aparecendo espontaneamente no meio das searas.<br />
19<br />
Pássaros – Pombo – Tordo – Melro – Tarambola.<br />
20<br />
Beldroega – Erva hortense da famíliadas portulacáceas, de valoe medicinal, usada também na alimentação, geralmente em saladas.<br />
21<br />
Acelga – Beta vulgaris L., ssp. Maritima l. – Planta de folha larga semelhante à beterraba, mas de raiz mais delgada utilizada na alimentação. (in DLPC – Verbo –<br />
2001.<br />
22<br />
Azeite – ver tb. DARO – “... espécie de arbusto, a que os moradores chamam daro, que produz por fruto humas bagas de que fazem azeite, que serve para as<br />
candeias, e dá uma luz muito clara, e não falta quem use também delle para o prato.” In «As Memórias Paroquiais de 1758» ver Bibliografia<br />
23<br />
Tingarrinha – Scolimus Maculatus L. – Espécie de cardo branco rasteiro.<br />
24<br />
Túberas – Terfenia leonis Tul. – Fungo subterrâneo, carnudo aromático e comestível que se colhe de Janeiro a Março, segundo as condições climatéricas. Podem<br />
encontrar-se junto das raízes das estevas ou dos sargaços, com as quais vivem em relação de simbiose ou parasitismo.<br />
25<br />
Espargos – Aspargus acutifolios L. – Planta da família das liliáceas, subespontânea e cultivada em Portugal, donde nascem talos carnudos, turiões, cujas pontas<br />
são comestíveis.<br />
26 NÓGADO – ver NOGADO – (DLPC) – Doce feito essencialmente com nozes, amêndoas ou pinhões misturados com açúcar e mel.<br />
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ANX. 3. – Outras Formas de Expressão<br />
LENDAS<br />
Influência? Da MITOLOGIA GRECO – LATINA???<br />
CONTOS<br />
ANEDOTAS & OUTRAS... PROVÉRBIOS... ADIVINHAS...LENGALENGAS...<br />
CANTILENAS...<br />
POESIA – QUADRAS – CANTIGAS – DÉCIMAS – ORAÇÕES<br />
GRUPOS CORAIS E MODAS<br />
PEDRAS QUE FALAM... talvez umas mais que outras...<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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LENDAS 3.1 - 1 – SERPÍNEA e MIRTILIS<br />
ANX. 3.1 – LENDA/s<br />
Serpínia, A Princesa Feliz<br />
In http://www.alentejodigital.pt/serpa/lserpa.htm<br />
«Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram<br />
uma cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de<br />
Mercúrio.»<br />
Era uma Vez.... uma jovem e linda Princesa,<br />
muito linda, chamada Serpínia, que vivia<br />
nas longes terras do outro lado da Ibéria, lá<br />
para os altos Pirineus. Seu pai, Cófilas, rei<br />
dos túrdulos, tribo da Ibéria, era um homem<br />
bom.<br />
Num País vizinho, vivia um outro rei, de<br />
raça, celta, que era cruel e muito ambicioso,<br />
Rolarte de seu nome, que quando viu a<br />
formosa princesa quis casar com ela. Mas a<br />
princesa não se agradou dele.<br />
Um dia um Príncipe, Orosiano, visitou o Rei<br />
Cófilas e a sua filha Serpínia. Os dois<br />
príncipes gostaram um do outro e<br />
combinaram casar. Mas o rei Rolarte,<br />
quando soube, não gostou que Serpínia fosse<br />
dada em casamento a Orosiano e jurou<br />
vingar-se tratando logo de reunir os seus<br />
soldados e de fazer guerra a Orosiano.<br />
O Noivo de Serpínia morreu e Rolarte ficou<br />
ferido.<br />
O Rei dos Celtas não ficou satisfeito com a morte de Orasiano a jurou fazer guerra ao pai de<br />
Serpínia , mas este, informado do que Rolarte preparava, abalou para as longínquas paragens<br />
da outra banda da Península Ibérica.<br />
E andaram, andaram até chegarem a um sítio onde a Princesa se sentiu encantada com as<br />
formosas Terras que seus belos olhos avistavam. Campos recorbertos de luxuriantes verduras,<br />
flores campestres a perfurmarem os ares que respirava, tudo prenunciando abundância de água,<br />
de terras férteis, ubérrimas.<br />
Serpínia logo deu parte a seu pai de que gostava destes sítios. Cófilas examinou a região. Tudo<br />
aparentava terras fartas e amenidade de clima. Perto corria o Ana. Por toda a parte se viam<br />
Oliveiras, muitas Oliveiras, a garantir alimento, untura, tempero e luz na candeia.<br />
E logo ali acamparam e escolheram local para construir uma cidade que ficou a ser a capital de<br />
novo reino. E em homenagem a Serpínia, a formosa filha do Rei Cófilas, à nova cidade se ficou<br />
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chamando Serpe. Esta seria a capital da Turdetânia, o novo reino criado na região do Ana, hoje<br />
chamado Guadiana, e que se estendia até ao mar.<br />
Tempos depois chegou a Serpe a notícia da vinda até um Porto do Ana, aonde chegavam as<br />
águas salgadas do mar, de barcos Fenícios - povo de navegadores que vivia no Norte de África.<br />
Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma<br />
cidade a que deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de<br />
Mercúrio.<br />
Em um dos barcos vinha um Príncipe, jovem , guerreiro e bem parecido, que ao ver Serpínia se<br />
apaixonou por ela. E Serpínia amou Polípio, o belo Príncipe Fenício. E logo ficaram noivos.<br />
Polípio regressou à Fenícia. E Serpínia, enquanto esperava o seu noivo, dedicava-se à caça pelo<br />
que seu pai lhe construiu, à beira do Rio Limosine, que ia desaguar no Ana, um castelo onde<br />
ela ficava quando ia caçar. Ali havia muitos loendros e Serpínia deu à sua nova casa o nome<br />
de Castelo de Loendros.<br />
Serpínia já tinha esquecido Rolarte, mas Rolarte não esquecera Serpínia, nem a vingança de<br />
que lhe jurara.<br />
E uma noite, noite escura como breu, o Castelo dos Loendros foi atacado por Rolarte e os seus<br />
soldados. Mas o Rei dos Celtas foi vencido pelos soldados de Cófilas que guardavam o castelo<br />
de Serpínia. Com medo de novos ataques a princesa mandou aviso ao pai, que estava em<br />
Mirtilis, que hoje se chama Mértola, o qual regressou com muitos soldados, e que esporeando<br />
os seus corcéis corriam a toda a brida na companhia de Polípio, o príncipe noivo, que já tinha<br />
regressado da Fenícia para as bodas com Serpínia.<br />
Rolarte voltou a assaltar o castelo mas este, que tinha agora muita tropa, venceu os soldados de<br />
Rolarte e o Rei dos Celtas fugiu e foi morrer afogado no Ana. Serpínia casou com Polípio e os<br />
noivos foram para a Fenícia. Serpe, que recorda a linda princesa Serpínia e que sempre<br />
manteve o seu nome, é hoje a Serpa em que vivemos.<br />
"Arquivos de Serpa - Edição Câmara Municipal de Serpa" 1971<br />
(João Cabral)<br />
Nota in: ARQUIVOS de SERPA – (Câmara Municipal), de João Cabral, Serpa 1971 - «Contada<br />
também por C. Gonçalves Serpa em “Serpínea e a Fundação de Serpa" que diz ter ido “... bebela<br />
a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos tempos”.»<br />
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ANEXO 3.1 – 2 - LENDA – A LENDA DE SERPÍNEA<br />
in CANCIONERO DE SERPA, Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, Edição da Câmara Municipal de Serpa,<br />
1994 - pp. 347 - 349.<br />
Baseada, segundo a autora, que escreve todo este livro à mão, com uma caligrafia deliciosamente legível<br />
e com muitas ilustrações, que vale a pena admirar, em «SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA» de<br />
C. Gonçalves Serpa.<br />
Não se sabe ao certo em que época foi fundada<br />
Serpa. Ela já existia com este nome no tempo<br />
dos Romanos, e durante a dominação árabe<br />
chamou-se Sheberina. Diz uma lenda que esta<br />
vila foi fundada pelos Túrdelos, um povo da<br />
antiga Bética, proveniente dos Pirinéus.<br />
Havia um rei dos Túrdelos, Cófilas, que tinha<br />
uma filha de rara beleza chamada Serpínea.<br />
Esta era requestada por Rolarte, rei dos Celtas,<br />
de quem não gostava e cuja proposta de<br />
casamento recusou, preferindo Orosiano,<br />
príncipe de um reino vizinho. Rolarte, despeitado, atacou esse reino, matando Orosiano, e jurou obter<br />
Serpínea, viva ou morta.<br />
Cófilas resolveu fazer uma expedição para o Ocidente, procurando instalar-se longe dos Celtas e<br />
conseguir uma aliança com os Fenícios, que sabia frequentarem o litoral da Península.<br />
Acompanhado dos seus homens e levando a filha consigo, chegaram uma tarde a uma colina verdejante e<br />
arbotizada, no sopé da qual se estendia uma imensa planície.<br />
Serpínea gostou tanto do local, que pediu ao pai para ali armarem o acampamento nessa noite, e para ali<br />
fundarem uma cidade que viesse a ser a nova capital da Turdetânia.<br />
Nessa noite, Cófilas teve um sonho profético, em que o Ocidente e o Oriente se uniriam em Serpínea.<br />
No dia seguinte os construtores lançaram mãos à obra, e assim nasceu Serpe. Daqui, Cófilas partiu para<br />
novas expedições, dominando toda a região vizinha, e fundou outras cidades a Ocidente, atravessando o<br />
rio Ana, e encontrando-se finalmente com<br />
os Fenícios, que nos seus navios subiam<br />
este rio até ao ponto em que vieram a<br />
fundar Mirtilis. Estabeleceu-se um tratado<br />
de amizade, e em breve Serpínea ficava<br />
noiva do belo príncipe fenício Polípio.<br />
Porém, este teve de partir novamente em<br />
viagem, prometendo à inconsalável<br />
Serpínea regressar depressa para o<br />
casamento.<br />
O rei Cófilas mandou construir para a filha,<br />
que era exímia caçadora, um castelo na<br />
serra que se estende ao Sul de Serpe, onde<br />
ela passava longas temporadas, passeando pelo campo e caçando.<br />
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O palácio ficava situado na margem de uma ribeira. Chamava-se Castelo das<br />
Loendreiras, e possuia lindos jardins.<br />
Foi ali que o cruel Rolarte, nunca esquecido do seu jurmento, foi atacar os guerreiros<br />
de Cófilas, pretendendo raptar Serpínea. Esta, prevenida pela sua aia fiel que<br />
desconfiava de uns mercadores celtas recém-chegados, mandou pedir reforços a<br />
Serpe. Polípio também chegou providencialmente, salvando a noiva do seu<br />
perseguidor que, ferido de morte, foi arrastado pelas águas da ribeira.<br />
Serpínia e Polípio casaram, o<br />
que foi motivo para grandes<br />
festejos. porém, não<br />
puderam ficar aqui para sempre. Um dia,<br />
despediram-se da terra onde tinham sido tão<br />
felizes, e embarcaram em mirtilis a caminho da<br />
longínqua Fenícia, onde viveram longos anos,<br />
muito felizes.<br />
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ANEXO 3.1 – 3 – SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA<br />
Por C. Gonçalves Serpa, Composto e impresso na Gráfica Torriana – Torres Vedras, s/d..<br />
SERPÍNIA E A FUNDAÇÃO DE SERPA<br />
POR C. Gonçalves Serpa<br />
A Expedição<br />
- Além... Além... - exclamou uma graciosa voz de mulher de olhos castanhos, cabelos<br />
louros e faces rosadas como pétalas da mais esquisita flor.<br />
- Além... Além, naquela zona verde e de reconfortante frescura, enquanto com o<br />
braço delicado apontava um morro de mediana altitude a emergir de entre árvores<br />
frondosas dum verde cínzeo e rochedos plúmbeos.<br />
- Alto!... Ficamos aqui... gritou uma voz potente de homem que parecia ser o chefe da<br />
expedição.<br />
- Serpínia agradou-se do lugar, a terra parece fértil em água e fecunda em<br />
produtividade.<br />
- Alto!... Ficamos aqui... clamaram outras vozes secundando a do chefe. A caravana<br />
parou envolvida numa densa nuvem de poeira levantada pelo trotear dos cavalos.<br />
Todos levantaram os olhos cansados da caminhada e notaram que, de facto, a região<br />
agradava e estava bem localizada quer para o povoamento, quer para a defesa.<br />
- Ficamos então aqui.<br />
Os cavalos parados relinchavam, escavavam a terra vermelha com as patas grossas<br />
enquanto alguns, de cabeça baixa, tasquinhavam nos pequenos arbustos nascidos à<br />
beira do caminho.<br />
O cavaleiro que dera a primeira ordem, corpo agigantado, barba espessa e hirsuta,<br />
músculos de atleta, tornou a imperar:<br />
- Cargas ao chão, comecemos o acampamento antes que anoiteça. Num zape, todos<br />
se apearam com ligeireza homens, mulheres e crianças.<br />
O chefe, nada menos que o general Cófilas, rei dos Túrdelos, explicou:<br />
- Serpínia, minha dilecta filha e vossa muito linda e amada princesa achou lindo este<br />
local e muito apropriado para a construção da nova capital túrdela. A terra tem<br />
muita água, basta vegetação, matagais densos e um clima aprazível, um céu azul<br />
como não vimos outro na Ibéria. Ficaremos, pois aqui e amanhã iniciaremos já a<br />
construção da nova cidade a qual, em honra de Serpínia, que escolhera o local, será<br />
chamada Serpe (Serpa).<br />
- Viva Serpínia!...Viva Serpe a nova capital da Turdetânia - exclamou um coro de vozes.<br />
E o eco repetia-se pelas quebradas dos montes até diluir-se e perder-se ao longe através duma planície que parecia intérmina: - Serpínia...<br />
ínia... ínia! Serpe... erpe... erpe!...<br />
Ia entardecendo mais e mais. O sol fazia descer uma bola de fogo na linha clara do horizonte, ameaçando mergulhá-la, para além dos montes<br />
fronteiros, nas águas do Atlântico. O calor sufocante daquele dia de Junho havia passado e uma brisa acariciadora e refrigerante soprava<br />
agora das bandas do mar.<br />
-Já, assentar o acampamento. Desapetrecham-se os cavalos e os carros de transporte; deitam-se ao chão as cargas; desenrolam-se os panos;<br />
abrem-se covas; arrumam-se pedras; arranca-se mato; espetam-se estacas; batem martelos; esticam-se as cordas; estendem-se os panos e<br />
surgem as barracas. Está armado o acampamento.<br />
A tarde esmorece.<br />
Na linha do horizonte, por cima do solo, a poente, algumas nuvens riscam o céu em tom afogueado. É o primeiro pôr do sol que os olhos lindos<br />
de Serpínia contemplam nestas paragens ocidentais.<br />
Alma bela sensível ao bucolismo da natureza, à poesia paisagística deseja então desfrutar melhor o panorama ambiencial. Para isso,<br />
acompanhada duma aia, a fiel Galiosa, sobe acima dos rochedos que, na coroa do monte, emergem do solo, como cabeças monstruosas de<br />
gigantes descomunais.<br />
- Que lindo!... murmura.<br />
Que poesia bucólica e austera!...<br />
- Isto é superior ao vale do Guadalquivir, interveio Galiosa.<br />
- Muito superior!...<br />
E contempla.<br />
A região não muito acidentada estende-se, desdobra-se em cabeços sucessivos que se empurram uns aos outros sempre mais para além, num<br />
desafio titânico a ver quem primeiro chega ao mar. Em baixo a depressão do rio Ana que vai correndo... correndo, pleno de ilhotas verdes pelo<br />
meio, rodeado de margens rochosas, ásperas, agressivas na sua secular solidão. Até ao presente aquela terra era virgem de presença humana.<br />
Só caça, muita caça por ali existe. Os coelhos são em bando. Dali mesmo os vêem entrar e sair dos buracos, saltitar na pradaria verde pálida<br />
que se nota através dos matagais densos. Depois mais a distância habita o lobo, o veado, o javali, o gamo e a raposa. As aves são em chusma e<br />
cobrem a ramagem coposa das árvores. Umas saltitam de ramo em ramo mostrando sua plumagem multicor, outras mais corpulentas cortam o<br />
espaço em voo sereno ou em caprichosas evoluções circulares. As matas tem grande variedade de tonalidades de verde no seu arvoredo. Aqui o<br />
verde triste, bronzeado dos montados; ali a cor cinzo-prateada das oliveiras, a árvore predilecta de Eliote deus dos Túrdelos, o<br />
qual teria nascido no meio dum olival, quando sua mãe a deusa Eliaste estava a veranear num acampamento bélico. Mais para além, árvores de<br />
porte alto e esbelto mostram um verde álacre, exuberante, às vezes tirando um tanto para amarelo: são os álamos, os freixos, as faias e a<br />
amendoeira muito abundante na região. Depois é ainda o verde terroso do mato denso onde predomina a esteva viscosa, o sargaço de cheiro<br />
acre, a rosela de flor carmezim, o piorno amargo, a medronheira carregada de rubis, o lentisco resistente, o tojo espinhoso. A flora, alta ou meã,<br />
é colorida e variada na sua austeridade regional. O solo atapetado dum verde pálido, que dá ao panorama um tom axadrezado, mostra muitas<br />
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flores e gramíneas de feitura e colorido diferente. O azul do céu, sobretudo o azul safírico deste céu é o que mais impressiona Serpínia. Nunca<br />
vira um céu tão anilado. Não cessa de o<br />
contemplar.<br />
A noite vai caindo. O sol escondera-se por detrás dos cabeços esfumados e as sombras começaram a adensar-se.<br />
Levanta-se uma brisa mais álgida que harpeja e assobia nas tranças do arvoredo. A celeste abóbada criva-se de olhos luminosos a piscar na<br />
escuridão como a saudar os novos habitantes que naquela noite encontraram nas margens agrestes do Ana 27 .<br />
Serpínia e sua aia recolheram-se ao acampamento. Espesso manto de trevas cobre a terra a qual parece<br />
sorrir por ver terminada sua eterna solidão.<br />
Fundação de Serpa<br />
Os Túrdelos eram um povo que vinha dos Pirenéus e tomara rumo ao ocidente através das planícies do sul entre o planalto castelhano e o<br />
Mediterrâneo. Primeiro estabeleceram-se entre a bacia do Ebro e do Guadalquivir, não tendo ainda propriamente uma fixidez determinada. O<br />
aglomerado que lhe servira de primeira capital chamava-se Eliana, dedicada a Eliote o grande deus dos Túrdelos. Ao presente o seu chefe era<br />
Cófilas a quem davam a dignidade de rei. Era um guerreiro esforçado, astuto, duro sem deixar de ser bom, compreensivo e justo para com<br />
todos.<br />
Ao norte da Península dominavam os Celtas comandados por Rolarte, homem fera, esforçado mas despótico, cruel e vingativo. A princípio<br />
Túrdelos e Celtas deram-se bem. Faziam intercâmbio e mercadejavam. Um dia Rolarte viu Serpínia em uma caçada e ficou esmagadoramente<br />
apaixonado pela princesa túrdela. Nunca tinha visto beleza assim. Aqueles olhos castanhos duma viveza rutilante magnetizavam-no<br />
tiranicamente. Julgava-se o homem mais feliz da Terra se chegasse a possui-la. Aquela paixão tornou-se fogueira crepitante. Por outro lado<br />
sonhava ambiciosamente com a unificação da Ibéria pela amálgama de Celtas e Túrdelos através do seu casamento. Cófilas chegou a ter<br />
conhecimento dos projectos imperialistas do chefe Celta e preferiria que a filha não casasse com ele. No entanto deixava-lhe inteira liberdade<br />
para evitar males maiores.<br />
Serpínia abominava Rolarte já por ser fisicamente antipático, já por ser um carácter péssimo, violento e déspota.<br />
E dizia para si:<br />
- Poderá haver maior martírio para uma mulher do que casar e viver a vida inteira com um homem de que não<br />
e gosta!... Antes perder mil tronos. E ruminava:<br />
- Não, não casarei com ele. Em virtude de certo tacto diplomático mandou-o esperar mais tempo, quando ele lhe fez propostas, alegando a sua<br />
pouca idade.<br />
Rolarte, embora contrariado, resolveu esperar.<br />
Galiosa ao saber dos intentos de Rolarte e da repugnância de Serpínia por ele, advertiu:<br />
- Senhora: vê o que recusas... Rolarte é rico, é poderoso, é rei...<br />
- Fosse ele um deus, retorquiu a princesa em tom de censura.<br />
- Senhora, tereis um grande trono, riquezas e jóias e jóias incontáveis!...<br />
- Cala-te, cala-te: o amor não tem preço. Onde não há amor, nada pode dar a felicidade.<br />
- Lá isso é, mas...<br />
- Esse mas... seria uma traição ao amor.<br />
- E se vier a guerra?<br />
- Prefiro a guerra a um amor iludido.<br />
Por aqueles dias Cófilas recebeu a visita de Orosiano, príncipe duma tribo de guerreiros que viviam no sul das Gálias, entre os Pirenéus. Este<br />
sim, que era o predilecto de se Serpínia. Cófilas tratou com ele o casamento de sua filha e firmaram uma aliança contra posáveis represálias de<br />
Rolarte.<br />
Este soube do sucedido e, ardendo em cólera, jurou vingar-se duramente.<br />
Serpínia seria dele viva ou morta ainda que a tivesse ia de ir raptar à mansão dos deuses.<br />
Depois, caindo de improviso sobre as terras de Orosiano desprevenido foi atacar Periânia sua pequena capital construída na garganta de duas<br />
altas montanhas. Travou-se dura batalha em que o noivo de Serpínia - Orosiano - perdera a vida.<br />
Rolarte, também gravemente ferido, regressou a suas terras disposto a prosseguir a luta contra os Túrdelos logo que lhe fosse possível. Alguns<br />
contingentes de pirenaicos vieram pôr-se às ordens de Cófilas e informá-lo de tudo quanto se passava. Este então tomou rumo às terras de Oeste<br />
mais longe das fronteiras célticas e em lugares e situações mais propícias a boas defesas. Sabendo depois que os barcos fenícios navegavam<br />
pelo Mediterrâneo e buscavam o «finis terrae» na costa atlântica esperava a oportunidade de lhes pedir auxílio por meio duma aliança.<br />
Foi neste remar para ocidente que chegaram à «Planície Fresca» onde deviam fundar Serpe.<br />
Ai ficaria o maior reduto da defesa turdetania.<br />
No dia seguinte ao despontar do sol, Cófilas chamou Serpínia e seus mais próximos subalternos para lhes narrar um sonho misterioso havido<br />
naquela noite. Vira, disse, naquele mesmo sítio levantar-se do solo, por mão invisível,<br />
um grande templo em cujo altar estava a estátua do seu deus Eliote. Este tinha na mão direita um sol nascente e na outra uma flor de loendreira.<br />
E apontando ambas para Serpínia dizia-lhe: - neste local, está a tua felicidade. Em seguida acrescentou: «Depois da batalha a vitória; ocidente<br />
e oriente buscam-se».<br />
- Eis o sonho, concluiu.<br />
Portanto, embora envolvido em sombra de mistério Eliote mostra, por este aviso, que este lugar lhe agrada e aqui devemos ficar. Mãos à obra e<br />
vamos levantar os muros de Serpe.<br />
- Serpe... Serpe... Serpe... gritaram todos. Serpínia propôs. Comecemos por lançar a primeira pedra do templo dedicado a Eliote, ali no topo do<br />
morro rochoso. Depois iremos à «Pedra Longa», lugar onde começamos a avistar este sítio e ai faremos o primeiro altar, oferecendo ao nosso<br />
deus um sacrifício de acção de graças ( 28 ).<br />
27 (i) Ana: nome que os antigos davam ao rio Guadiana.<br />
28 (I) «Pedra Longa» era uma enorme rocha que estava à beira do caminho por onde vieram os Túrdelos naquela tarde da expedição.<br />
Chamaram-lhe «Pedra Longa» por causa do seu grande tamanho. Daqui se avistava toda a «Planície Fresca», nome que lhe puseram pela<br />
amenidade do lugar. Em Serpa ficou sempre a tradição da «Pedra Longa», de que ainda hoje se fala.<br />
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Principiaram a emergir do solo vermelho os muros de Serpe. Mais uma cidade nascia para a história. Haviam de rolar séculos sobre séculos,<br />
sucederem-se as gerações umas às outras e até cavalgadas de povos conquistadores haviam de calcar duramente este solo.<br />
Porém, Serpe, uma vez nascida havia de continuar. Nascera para viver. Seus muros fortes, feitos de granito e calcário em que a região é<br />
abundante haviam de resistir com fúria leonina às vicissitudes dos tempos e aos ataques de futuros inimigos. Sobre ela paira um carácter<br />
sagrado visto ter nascido à sombra dum templo. Bárbaros, Romanos, Árabes e Cristãos Visigóticos, mais tarde Lusitanos haviam de continuar a<br />
venerá-la conservando-lhe intacto o nome que recebera desde a primeira hora, caso único nas povoações da antiguidade que passaram para o<br />
domínio português. Serpe é uma linha de intercepção e cruzamento da Turdetânia com a Lusitânia, e mais tarde da Bética onde o carácter da<br />
sua população constitui curiosa excepção na Lusitanidade.<br />
Agora Gês: - Pax Júlia à vista - Beja actual<br />
Cófilas não se esquece de que Rolarte era seu figadal inimigo. Não perdoaria a Serpínia tê-lo preterido e nunca veria com bons olhos a<br />
grandeza da Turdetânia. Por isso, enquanto os muros de Serpe vão subindo à claridade doirada do céu transtagano ele dá-se à tarefa de tomar<br />
todas as terras até ao mar, e construir novos castros.<br />
Atravessou o Ana e explorou toda a planura da margem direita. Ao atingir o vértice do alti-plano reparou que a terra era ubérrima e a situação<br />
privilegiada para nova construção defensiva.<br />
Cófilas impera:<br />
- Aqui mais uma fortaleza... aqui... e afincou a lança no ponto mais elevado do planalto. Aqui será Gês - cidade vigia, sentinela da planície. E<br />
logo, do solo vermelho, principiam a subir os muros de Gês, a quem os Romanos chamariam mais tarde: Pax Júlia, os Árabes: Paca, os<br />
Portugueses: - Beja.<br />
Uma aliança com os Fenícios - nasce Mírtilis<br />
Cófilas domina já toda a vasta região da bacia do Ana e daqui até ao Atlântico. Gês e Serpe são os dois pontos concêntricos de maior população<br />
e os dois mais fortes baluartes de defesa. Ele sabia, porém, que Rolarte, seu inimigo figadal rondava, como abutre de garras aduncas, suas<br />
fronteiras e não perdoaria a Serpínia tê-lo preterido no amor. Mais tarde ou mais cedo ele voltaria à carga, viria incomodá-lo de novo e por<br />
isso havia que prevenir tudo. Começara, pois, a construir novos aldeamentos, novos castros, pontos de defesa e muitas vias de comunicação. A<br />
terra era muito plana mas de difíceis possibilidades de comunicação. No Verão, muito pó; no Inverno, caminhos lamacentos em que o barro<br />
atolava e pegava tudo por causa da sua constituição argilosa.<br />
Neste entrementes Cófilas soube que umas naus fenícias vindas do Mediterrâneo haviam entrado a foz do Ana até onde a maré dava acesso e<br />
pretendiam fundar uma feitoria comercial.<br />
Ledo e confiante foi-lhes ao encontro. Estudaram o sítio e acordaram em que seria construída nova cidade fortificada no cimo de alto e<br />
escarpado morro a cair abrupto sobre ao margens do Ana e na confluência do rio Rochoso com estes. A região é áspera, escalvada, cálida e<br />
pronta a boa defesa. A povoação ficaria dependurada de escarpas quase abruptas e de difícil acesso ao inimigo.<br />
Como foram os Fenícios que quiseram construir a povoação deram-lhe o nome de Mírtilis (Mértola) por ser dedicada à sua principal divindade<br />
- Mirto.<br />
Nessas primeiras naus vinha o príncipe fenício Polípio, espírito navegador e sedento de aventuras, homem do mar e esforçado guerreiro.<br />
E se este se apaixonasse por sua filha Serpínia e assim acordassem numa aliança de mútuo auxílio e defesa? Pensava Cófilas.<br />
Nesta esperança convidou-o a visitar Serpe.<br />
Não se enganara.<br />
Quando Polípio viu Serpínia, disse, surpreendido, para Cófilas:<br />
- Aquilo é mulher ou deusa?<br />
- Se a quiseres, pode ser para ti!... - foi a resposta.<br />
O príncipe aceitou a proposta. Estava diante duma beldade como outra não tinha encontrado nas terras misteriosas do sol nascente. Aqueles<br />
olhos castanhos e vivos eram ímans que atraíam; aqueles cabelos loiros eram cadeias que prendiam.<br />
Serpínia afinava pelo mesmo diapasão. Polípio agradou-lhe à primeira vista e viu nele um príncipe encantado das terras orientais. Foi chamado<br />
ao palácio o sacerdote de Eliote para assistir ao contrato dos esponsais. Este então recordou a Cófilas:<br />
- Lembras-te do sonho que tiveste a primeira noite que dormiste nesta terra que o destino nos reservou? Aqui tens a sua confirmação. O ocidente<br />
e o oriente juntaram-se sob as bênçãos de Eliote.<br />
Cófilas e Polípio firmaram um tratado de amizade e mútua defesa. Além do casamento com Serpínia estipulou-se que os fenícios estabelecessem<br />
uma feitoria comercial em Mírtilis.<br />
Nesse porto ficariam sempre equipados com homens e material dois navios fenícios que ao mesmo tempo patrulhariam o litoral da Turdetânia,<br />
pelo menos enquanto o perigo não passasse. Em caso de guerra com qualquer adversário cada um dos contratantes prestaria mútuo auxilio.<br />
Outrosim era estabelecida em Mírtilis uma escola naval onde os túrdelos aprenderiam dos fenícios a arte de navegar, e de se familiarizarem<br />
com as ondas. Assim, à face de tal acordo ficavam inteiramente frustrados os intentos imperialistas do chefe celta Rolarte, e a linda Serpínia<br />
ficava liberta do seu mais terrível pesadelo.<br />
O castelo das loendreiras<br />
Polípio voltou para o oriente com a promessa de tornar breve, pois já não podia viver muito tempo sem a presença de Serpínia e a luz do seu<br />
fascinante olhar. O seu centro de gravidade estava agora na Turdetânia. Quem lhe diria que tinha vindo encontrar no «finis terrae» uma sereia<br />
mais sedutora de quantas infestam os altos mares!...<br />
Polípio partiu dividido em dois: no navio iria o seu corpo apenas; sua alma e o seu coração amante ficariam em Serpe.<br />
O mar que separa continentes, divide terras, afasta reinos, não é capaz de separar o amor; a distância, que tudo faz esquecer, torna o amor mais<br />
próximo e mais vivo. Parece que a saudade foi inventada por Serpínia quando, ao despedir-se de Polípio, lhe ofereceu uma prenda constando de<br />
dois corações de oiro entrelaçados por um S que tanto podia significar Serpínia, como solidão de onde vem a palavra: saudade.<br />
Na ausência do príncipe, todos os dias, quando o sol despontava de manhã na orla do horizonte, Serpínia subia a uma torre da fortaleza e<br />
dialogava com ele pedindo-lhe novas do seu amado. E à tarde, quando o mesmo se escondia por detrás das montanhas, na direcção do mar, ela<br />
enviava-lhe uns beijos, recordando:<br />
- Não te esqueças de os entregares ao Polípio quando amanhã passares pela Fenícia.<br />
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De igual modo, sempre que o vento soprava das bandas do Levante, Serpínia punha-se à escuta parecendo-lhe ouvir. nas asas da brisa, a voz<br />
doce e maviosa do seu príncipe.<br />
*<br />
Serpínia tinha uma grande formação e cultura para o seu tempo. Já tinha viajado pelas Gálias e havia estado em Roma. Tinha uma alma<br />
extremamente sensível à beleza. Amava a arte, a poesia, a natureza. Cuidava de flores e dialogava com elas. Parecia compreenderem-se<br />
maravilhosamente. Um de seus desportos preferidos era a caça. Sabia manejar o arco e a flecha como o mais hábil caçador de feras. Também<br />
no seu tempo já se usava a espada com que ela sabia igualmente lidar.<br />
O pai, conhecendo-lhe estas boas qualidades, alimentava-lhas, promovendo de quando em quando uma caçada nas terras da Serra.<br />
Vendo que a filha adorava a vida campestre e pretendia sair sempre da cidade nas estações calmosas, mandou-lhe construir um palácio<br />
acastelado no campo, na região da serra onde o terreno, apesar de agreste tinha um clima agradável e onde a caça abundava. A construção<br />
fizera-se à borda do rio Limosino, afluente do Ana e o público bem depressa a baptizara com o nome de «Castelo das Loendreiras» em virtude<br />
dos muitos arbustos desta espécie que ali abundavam. O palácio era rodeado de altos e fortes torreões que lhe serviam igualmente de defesa<br />
além duma forte cintura de muralha que o rodeava. Grandes portões de ferro davam acesso ao palácio e ao jardim. Tinha uma vista panorâmica<br />
maravilhosa. De seus torreões ameiados avistava-se grande extensão de planície e de serra para todos os pontos cardeais, divisando-se toda a<br />
depressão da bacia do no Ana, de Serpe até Mírtilis.<br />
As águas do Limosino eram represas por um açude e alimentavam o castelo e o jardim. No jardim, amplo e bem cuidado, sentia-se bem<br />
visivelmente a mão e o bom gosto da princesa. Este tinha grandes alamedas e ruas curvilíneas rodeadas de muitas e variadas espécies arbóreas.<br />
Ai se via o álamo, a faia, o loureiro, o cedro, a palmeira e a oliveira, 'árvore sagrada de Eliote. As flores abundavam por toda a parte onde<br />
grandes trepadeiras se enleavam umas nas outras e às grandes árvores dando ao conjunto uma visão de sonho.<br />
Para além dos muros do jardim desdobrava-se a serra em montículos sucessivos formando na paisagem, áspera e solene, gracioso desenho,<br />
como se fossem gigantes entretidos em jogo de xadrez.<br />
O mato abundava salientando-se a esteva viscosa e o rosmaninho penitente, cujo perfume acre embalsamava o espaço. As noites de luar<br />
revestiam-se de graciosa majestade e nostálgica poesia quando a chuva de prata incidia sobre as campinas em silêncio. As estrelas brilhavam<br />
sempre com meigas cintilações. De dia o céu encantava com o seu azul turquesino, puro e translúcido, onde quase se não distinguia um leve<br />
esfumado de neblina.<br />
Serpínia, além das flores, do céu azul, das estrelas e da caça amava também os passarinhos. Possuía gaiolas com<br />
várias espécies. As filomelas 29 , pareciam conhecer-lhe este fraco pois vinham com frequência entre as trepadeiras que<br />
estavam junto à sua janela trinar seus concertos orfeónicos.<br />
Certa vez uma andorinha lembrou-se de fazer o ninho no pátio do castelo, sob um beiral que muito lhe agrada. Serpínia achava graça e risonha<br />
poesia à maneira engenhosa como as industriosas andorinhas construíam suas curiosas habitações. Primeiro água no bico e borrifavam o lugar<br />
onde pretendiam fazer o ninho. Depois eram pedacinhos de barro atrás uns dos outros: - põe aqui, põe ali, deita acolá, ajeita agora, ajeita logo<br />
e dentro de pouco tempo estava um autêntico palácio aviário. Depois era a prole. Que lições de paternidade, que lições de amor para os<br />
homens!...<br />
Em dada altura, quando as novas andorinhas estavam já crescidas, Serpínia mandou apanhar uma e atou-lhe ao pescoço uma placazinha de<br />
madeira muito fina, quase transparente, com estes dizeres: - «Serpínia envia recados a Polípio».<br />
Enquanto esteve no ninho as irmazinhas desta entre- tinham-se a debicar na placa. Chegou a altura de levantar voo. E a privilegiada da<br />
mensagem por ali volitou algum tempo com o seu adorno a que a princesa achava imensa<br />
o graça. Depois veio a emigração. Diz-se que no ano seguinte os passaritos voltaram ao mesmo local e lá vinha a mensageira trazendo ainda a<br />
mesma placa. Teria volitado pelas terras do oriente? Ter-se-ia desempenhado do seu recado? Se outra lição não tivesse ficado deste episódio<br />
bastava a sua poesia, a sua delicadeza amorosa, o sabor de bucolismo que ele contém para o tornar simpático.<br />
*<br />
Já dissemos algures que Serpínia tinha deliciosa predilecção pela caça.<br />
De quando em vez convidava cortesãos e altas dama. para uma batida aos lobos e javalis. A's vezes as empresas venatórias tornavam-se<br />
perigosas, quando os arcos e as flechas não andavam por mãos hábeis.<br />
Em dada ocasião um caçador feriu corpulento javali que não conseguira abater. O animal, furioso como um leão, desbocou enraivecido e atirase<br />
a tudo que encontrava. Dava saltos, afiava as cortantes presas e até estripou dois cavalos e muitos cães. Entre os caçadores estabeleceu-se<br />
pânico. Havia já senhoras desmaiadas e cavalheiros empoleirados em cima das árvores. Serpínia apercebeu-se do que havia e resolveu<br />
enfrentar o perigo.<br />
O javali tomou rumo ao seu grupo. A princesa correu para cima dum rochedo, onde não era fácil ser atingida pelo animal. Este, cada vez mais<br />
furioso, empoleira-se ao rochedo a tentar trepar. Foi nesta conjuntura que Serpínia, com admirável sangue frio, desfechou com êxito feliz, duas<br />
setas que atingiram o javali na cabeça, entre os olhos, dando-lhe morte rápida.<br />
Foi uma sensação de alívio para os caçadores e um autêntico triunfo para a princesa, a qual foi muito aclamada<br />
pela sua admirável proeza que, durante muito tempo, andou de boca em boca.<br />
O corpulento javali foi oferecido em holocausto a Eliote em acção de graças, ficando a cabeça embalsamada numa das salas do castelo.<br />
Cófilas, quando soube da proeza venatória da filha mandou-lhe os parabéns, com esta missiva laudatória:<br />
- «Nada tens que invejares a Diana. O teu arco tornou-se terrivelmente fulminante!».<br />
Sonho de amor<br />
O amor é o mais doce e o mais tirano dos verdugos. Tanto beija como fere; tanto louva, como vitupera; tanto enobrece, como mata.<br />
As maiores criações do mundo e as mais aviltantes tragédias do Homem costumam ter por base e inspiração o amor. É o amor que funda nações<br />
e destrói impérios; faz os santos e até gera os criminosos e facínoras. É que o amor tem várias facetas e opera em diversas direcções. Pode vir<br />
do céu ou desentranhar-se do meio da lama; pode ser perfume balsâmico ou hálito pestífero; pode presidir a uma ressurreição ou gerar uma<br />
carnificina; pode ser mar de virtudes ou então furacão impetuoso de paixões.<br />
29 Nome antigo dado ao rouxinol.<br />
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Tudo depende da qualidade do amor: se do céu, se da terra; se dom de Deus; se produto do mundo inferior do homem.<br />
Sim... o amor é um anjo de asas brancas que acaricia... .e pode ser demónio que flagela em antros escuros.<br />
Serpínia sentiu este martírio do amor.<br />
*<br />
Era uma tarde emoliente de primavera. O céu, por entre nesgas de nuvens esbranquiçadas, parecia mais azul do que vez nenhuma. No espaço<br />
corriam manchas de algodão impelidas pelo vento tépido da tarde. No jardim, intensamente florido, volitavam doidamente borboletas<br />
multicores, enquanto abelhas industriosas iam de pétala em pétala sugando o saboroso néctar.<br />
O cheiro acre da esteva florida e do penitente rosmaninho chegava até ao castelo das Loendreiras. À beira do Limosino alinhavam-se, frondosas<br />
e cheias de majestade, renques de árvores esbracejando generosamente ao vento da tarde. A cabeleira basta dos chorões ondulava ao capricho<br />
da brisa enquanto o ciciar das faias formavam sibilante cadência de dança orfeónica.<br />
Além, entre silvedos e madressilvas cheirosas, uma filomela repenicava seus trinados aliciantes. Era uma tarde de poesia repassada de lirismo<br />
caldeado com suspiros de cupido.<br />
Toda a natureza parecia orquestra suave e harmoniosa a entoar laudes ao Amor invisível.<br />
Serpínia sentiu-se transportada às plagas do Oriente. A silhueta doce, risonha de Polípio desenhava-se vivamente<br />
na tela da sua imaginação viva e escaldante, fazendo pulsar-lhe o coração em ritmos mais acelerados.<br />
O sol da meia tarde, coado por algumas nuvens de arminho, havia diminuído suas ardências. A princesa loira sentia necessidade de expandir,<br />
com a natureza, seus colóquios de amor.<br />
Chama, por isso, Galiosa, a aia fiel de todas as horas, para uma deambulação pelos jardins.<br />
Depois de alguns passos ao acaso foram ambas sentar-se num banco de pedra sito debaixo de frondosa palmeira rodeada de cedros odoríferos.<br />
Pelas abas destes trepavam grinaldas de roseiras dos canteiros próximos. Mesmo em frente, para além dum pequeno parapeito de pedra tosca,<br />
deslizavam, plácidas e claras, as águas do Limosino.<br />
Serpínia foi a primeira a quebrar o religioso silêncio daquela tarde de amores.<br />
- Que lindo está tudo, minha boa Galiosa... tudo isto é vida, beleza e poesia.<br />
- Tens razão, linda princesa. Tudo são dons de Eliote. Mas porque olhas tanto na direcção do oriente?<br />
- Lembro-me de Pol1pio.<br />
- Olha mais para o sul. mais na direcção de África. A estas horas já ele vem em pleno Mediterrâneo ou talvez já tenha ultrapassado<br />
as Colunas de Hércules.<br />
- Dizes bem, Galiosa: ele deve chegar a Mírtilis por estes dias. Vem ultimar os preparativos para o nosso casamento.<br />
E Serpínia sorri com delicioso bom humor.<br />
- Ficas entre nós ou vais para o Oriente? - interrogou Galiosa.<br />
- Não sei. Tanto se me dá, contanto que goze a presença de Polípio.<br />
- Connosco, os turdetanos, já não acontece o mesmo, insistiu Galiosa. Se te retiras, temos a impressão que na nossa doce pátria<br />
passará a ser sempre tarde ou manhã... Sem a luz dos teus olhos castanhos já não haverá para nós pleno meio dia!<br />
- Muito obrigada pela amabilidade, retorquiu a princesa, volvendo de novo os olhos para Leste.<br />
Depois:<br />
- Sabes, Galiosa: Sinto-me a mulher mais feliz do Mundo. Quando me vi livre das garras de Rolarte senti a felicidade da avezinha que sai da<br />
gaiola e se arremessa ao espaço. Era, porém, ainda só meia felicidade. A felicidade inteira, completa, encontrei-a quando encontrei Polípio. Os<br />
olhos felinos do chefe celta já não tornarão a poisar sobre mim. Passou a era das apreensões e dos pesadelos.<br />
Galiosa contraiu o rosto, como se fora vergastada por uma chicotada maldita. Fica silenciosa, olhando a distância.<br />
- Duvidas, minha boa aia?<br />
- Não duvido, temo.<br />
- Temes o quê?!...<br />
- A vingança de Rolarte.<br />
- Sonhas, Galiosa, retorquiu Serpínia, rindo com certa desenvoltura.<br />
- Não sonho: estou até muito acordada. E acrescentou:<br />
- Não te lembras do Juramento de Rolarte:<br />
- Hei-de apoderar-me de Serpínia morta ou viva?!...<br />
A princesa estremeceu e sentiu calafrios ao recordarem-lhe um juramento maldito.<br />
Depois, disfarçando:<br />
- Antes da aliança com os Fenícios temia, agora não.<br />
- Mas a Fenícia está para além dos mares, em terras da Ásia...<br />
- Mas as suas naus patrulham as águas do Ana, e daqui lá a distância não é grande.<br />
E a princesa, com o braço estendido, onde se via uma mão de açucena, aponta, ao longe, o cimo dos montes que circundam Mírtilis, a perderemse<br />
na neblina esfumada da tarde.<br />
- É além!...<br />
- Bem vejo, Serpínia, bem vejo. E a prudente aia, insistiu:<br />
- É perto, relativamente perto, mas para um rapto basta uma hora.<br />
- Estás hoje muito pessimista, Galiosa.<br />
- Diz realista. Estou a ver as coisas como elas são ou podem vir a ser.<br />
- Rolarte está longe. . .<br />
- Que Eliote te oiça e nos defenda.<br />
- A propósito de Eliote... recorda Serpínia, que um criado vá hoje a Serpe e leve para o seu altar uns ramos de oliveira e umas flores<br />
de loendreira. Simbolizam paz e amor.<br />
- Já os mandei, como ontem tinhas indicado.<br />
- Agradeço os teus cuidados.<br />
- Porque olhas tanto para aquela palmeira em frente do meu quarto... interrogou de novo Serpínia.<br />
- Lembro-me...<br />
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- Do quê?<br />
- Queres que diga?<br />
- Já...<br />
- Esta noite acordei ao piar sinistro dum mocho agoirento que, poisado naquela palmeira piava... piava... piava...<br />
e isto por mais duma hora. Quando ele voou, uma coruja passou grasnando também pelo mesmo sítio. Isto não é bom sintoma nem presságio<br />
consolador dizem os aurúspices.<br />
- Olha - Galiosa - nunca fui supersticiosa e em vez de temer o canto das avezinhas alegro-me com ele.<br />
- Também eu, quando elas são canoras. Agora estas. . . estas... estas são piadeiras.<br />
- Bom. .. disse Serpínia com ar desenvolto: falemos de coisas alegres. Repara naqueles canteiros de flores. Que inebriante perfume<br />
balsamiza este ambiente.<br />
- Aquelas. .. além... foram plantadas por mim.<br />
- Lá estás tu com essas vaidades espevitadas... não tas quero roubar; mas são do meu jardim...<br />
Era já meia tarde. O sol iam rodando para o ocaso através do manto azul da celeste abóbada. As sombras alongavam-se. A grande alameda<br />
onde ambas se encontravam, e que ia desembocar no rio, parecia agora um túnel, tão cerradas eram as sombras. Lá em baixo ouvia-se o<br />
rumorelhar das águas do Limosino, cuja serpente prateada as interlocutoras viam dali.<br />
Serpínia tornou a olhar na direcção do nascente e cortou o silêncio, apontando o rio:<br />
- Sabes, Galiosa: quando estas águas juntas às do Ana chegarem à foz para se misturarem às do oceano, talvez já lá encontrem as<br />
naus fenícias com Polípio. Sim... ele deve vir já perto.<br />
- Se assim é deixa-me saudá-lo: quero que ele ao tocar águas turdetanas encontre logo os nossos cumprimentos e vivas saudações.<br />
Levanta-se, com surpresa de Serpínia e vai para um lindo canteiro de flores.<br />
- Que vais fazer?<br />
- Espera. . .<br />
Galiosa, entre sorrisos e ditos engraçados, colheu um braçado de flores e, debruçando-se sobre o parapeito do muro que dava paro o rio,<br />
começou a atirar as flores à água, dizendo:<br />
- Ide... ide... saudar Polípio.<br />
- Ide... ide... saudar Polípio.<br />
Serpínia achou profundamente original a ideia de Galiosa e foi imitá-la. Colheu algumas das flores mais perfumadas: lírios, rosas, açucenas,<br />
cravos, amores perfeitos e começou também a deitá-los ao rio. Naquele momento a chama do amor ausente, acende-lhe o estro poético e ela<br />
principia, qual boa discípula de orfeu, a cantar:<br />
- Correi, pétalas, correi...<br />
- Ao encontro do amado,<br />
Que vem nas águas do mar,<br />
Em lindas naus embarcado.<br />
Algumas flores noa eram obedientes. Boiando ao cimo das águas algumas faziam reentrância, queriam voltar atrás, redemoinhavam; outras<br />
ficavam presas e enlaçadas a madres- silvas, loendreiros e outros arbustos pendentes sobre as águas. Ela então, com uma comprida vara,<br />
desprendia-as, acelerava- lhes a marcha:<br />
- Correi todas...<br />
- Correi...<br />
- Correi...<br />
A veia poética aflora em catadupa; o amor vibra nas cordas mais sensíveis da alma; a paixão é tempestade... por isso os lábios ardem e ela<br />
continua a cantar:<br />
Águas, flores, ventos, brisas...<br />
Sêde-me bons, por favor;<br />
Levai ao meu bem amado,<br />
Meus ternos beijos de amor.<br />
Beijava as flores e atirava.<br />
De novo, uma e outra vez, com a varinha acelerava as mais retardatárias, repetindo:<br />
Levai...<br />
Levai...<br />
Levai...<br />
O primeiro assalto<br />
O idílio continuava entre risos e poesias, quando vieram dizer à princesa que estavam ali uns comerciantes de pérolas com lindas prendas de<br />
noivado. Montavam a cavalo e pareciam ser celtas, pois falavam mal o túrdelo.<br />
Galiosa sobressaltou-se logo e Serpíia ficou surpresa:<br />
- Mercadores?.. Vamos ver.<br />
De facto as mercadorias eram lindas, mesmo tentadoras. Comprou para si um colar de finas pérolas e um alfinete com diamantes para o noivo.<br />
Vendido o peixe, os três mercadores deram de esporas aos cavalos e, com uma grande vénia, retiraram na direcção leste, internando-se no mato,<br />
para além dum cabeço, em frente.<br />
Galiosa estava presente e examinava com extrema curiosidade as palavras e os gestos dos adventícios. Desaparecidos estes, diz para Serpínia:<br />
- Não me sorri o dia. Oxalá estas prendas não nos venham a ficar demasiado caras...<br />
- Porque dizes isso?!...<br />
- Porque digo? Talvez tenha razões...<br />
- Explica-te...<br />
- Por ventura, princesa, não notaste nada de estranho nestes inesperados?<br />
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Eles eram celtas e eu notei que o terceiro não se aproximou fingindo segurar os cavalos. Reparei que ele tinha na mão um estilete e tábua<br />
encerada. Tirava não sei que apontamentos e fazia uma espécie de planta do castelo. Quando me aproximei, guardou... e, para disfarçar,<br />
perguntou-me:<br />
- Gosta das prendas?<br />
- Eu interroguei por minha vez:<br />
- - Gosta do nosso castelo?<br />
E ele:<br />
- Maravilhoso!... E está bem defendido... não há perigo de assalto.<br />
- Notaste isso?! . . .<br />
- É como te digo.<br />
- Mais ainda: não tens estranhado essa chusma de mercadores do mesmo género que nos últimos tempos tem enxameado as nossas terras,<br />
indo até Serpe? Eu estou em crer que isto são espiões celtas às ordens de Rolarte.<br />
- Que me dizes?!...<br />
- Nem mais nem menos. Ele ronda as nossas fronteiras e não esqueças o seu ímpio juramento.<br />
- Serpínia corou e sentiu-se um tanto trémula.<br />
Depois:<br />
- Não será isso pessimismo?<br />
- Não é pessimismo, é prudência.<br />
- Sendo assim, que me aconselhas então?<br />
- Olha, a guarnição do castelo noa é muito forte; manda vir ainda esta noite reforços e envia ramos de oliveira ao templo de Eliote<br />
pedindo ao sacerdote que ore... que ore por nós.<br />
Serpílnia, embora estivesse optimista, achou prudente transmitir ordens.<br />
*<br />
A noite caíra sobre a planície erma. Noite pesada e triste. Espessas nuvens se tinham levantado ao pôr do sol cobrindo o céu duma placa de<br />
chumbo. A custo cintilava uma estrela por entre os interstícios das nuvens. A lua só muito de madrugada havia de nascer, e era quarto<br />
minguante.<br />
Um vento agreste sussurra fortemente na copa ramuda das árvores que se torcem e gemem. O ambiente sabe a música desafinada, á spera e<br />
importuna. A escuridão cerra-se mais e mais. No ar pesado parecem vaguear medos e pesadelos. Nem se ouve ao longe qualquer rugir de fera.<br />
Os próprios irracionais, temendo a tempestade jazem acoitados em seus covis. Sopra mais o vento, assobia nas ameias do castelo, silva com<br />
estridência nas frinchas das portas, rebolam folhas de árvores pelos telhados. É uma dança macabra. O ambiente é de enervante nostalgia. É<br />
noite tétrica... Noite de assassinos... Noite de bandidos... Noite de crimes.<br />
Serpínia olhando através da janela a paisagem escura e solitária na direcção do sul só pede a todos os deuses que a nau de Polípio não seja<br />
surpreendida por qualquer tormenta.<br />
A noite avança. Os membros estão entorpecidos de lassidão; os cérebros pesados da atmosfera densa; o sono ronda os pobres mortais.<br />
Para além do mato há olhos que não piscam de sono porque são olhos de traidores e a traição age de preferencia na calada da noite.<br />
Serpínia recolhera-se a seus aposentos. Ainda não adormecera. Vagueia com o pensamento ao ritmo do soprar do vento. O pai deve estar em<br />
Mírtilis, Polípio já deve navegar em águas túrdelas.<br />
De repente Galiosa bate-lhe à porta.<br />
- Que há, interroga.<br />
- Tenho um mau pressentimento. Há momentos estava na torre mais alta do castelo a sondar o panorama e parece-me ter visto na<br />
direcção de leste muitas luzes.<br />
-Talvez fossem olhos de feras...<br />
- Depois ouvi como um trotear de muitos cavalos...<br />
- Deve ser o vento a fustigar as árvores...<br />
- Por sim, por não, Serpínia, manda às sentinelas que estejam bem de vela e vigiem. Olha, quase que<br />
jurava ter ouvido, no meio do mato o relinchar de cavalos.<br />
- Talvez fossem os nossos próprios. Confia: Eliote está connosco. O sacerdote ora no templo. Cerrouse<br />
mais a noite. Além das paredes do castelo nada mais se vê. Só lá em baixo, à beira do<br />
jardim se percebe o gorgorejar das águas do açude.<br />
Alta madrugada, antes da lua despontar, ouviu-se um inquietante alerta da sentinela. Acorrem os reforços. Inimigos estavam a pretender<br />
assaltar o castelo. Organiza-se a defesa em volta de todo o edifício. O primeiro embate foi duro, felino, confuso. Relincham cavalos, atiram-se<br />
setas, partem-se escudos e ouvem-se gritos de desespero. Já há mortos e feridos. O atacante busca uma porta por onde possa entrar.<br />
Em vão; está tudo bem defendido.<br />
Os defensores do castelo defendem-se com fúria leonina. Serpínia e Galiosa acordaram ao som do alarido e estridor das armas. Informadas do<br />
que se passava encheram-se de bravura e queriam sair para fora, de armas na mão, mas os soldados não permitiram. Subiram então às torres e<br />
de lá atacavam com pedras e matérias inflamáveis. O inimigo atacava, vociferava, praguejava.<br />
Saíram-lhe errados os planos. Julgavam o castelo sem defesa. Passado tempo diminuíram de impetuosidade, enfraqueceram a resistência,<br />
recuaram.<br />
Vinha rompendo a manhã. Vendo a impossibilidade de tomar o castelo os sitiantes empreenderam a fuga e internaram-se no mato, sendo<br />
perseguidos até longe. Tinha-se frustrado o assalto. Por confissão dos prisioneiros soube-se que eram soldados de Rolarte. Este, conhecedor da<br />
aliança de Cófilas com os Fenícios e os esponsais de Serpínia com Polípio, há muito que projectava raptar a princesa túrdela.<br />
Sabendo-a, pelos seus espiões disfarçados em mercadores que ela se encontrava naquele palácio de campo, longe de Serpe, achou asado o<br />
momento. Infiltrando-se pela fronteira da serra onde não era fácil encontrar resistência veio a acampar no meio do mato, a alguns quilómetros<br />
de distância.<br />
O primeiro assalto foi uma tentativa de seus homens mais audaciosos que prometeram levar a efeito o rapto, sem o chefe expor a sua vida.<br />
Frustrada esta primeira tentativa eles voltarão. Rolarte agora ardendo em cólera e consumido de vergonha planeará nova vingança. Não é<br />
homem que desista ao primeiro fiasco.<br />
Serpínia, conhecedora destes planos, mandou a todo o galope emissários a Mírtilis dar conhecimento a Cófilas do que se passava ao mesmo<br />
tempo que prevenia a fortaleza de Serpe. Os emissários caminhando em marcha forçada, depressa galgaram a distância que separa Mírtilis do<br />
Castelo das Loendreiras. Por felicidade Polípio havia chegado nessa madrugada com homens e navios. Cófilas e futuro genro, com grande<br />
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contingente de homens, puseram-se a caminho e, ao anoitecer estavam à vista do castelo. Serpínia foi recebê-los por entre grande alvoroço e<br />
lágrimas de alegria. Não contava com Polípio ali em tal contingência. Este respondeu:<br />
- «O amor não sabe esperar e é nos perigos onde mais se aquilata o seu vigor.<br />
Serpínia agradeceu-lhe e caiu-lhe nos braços plena de emoção. Cófilas abençoou a filha e louvou-a pela sua grande coragem. Agora estava<br />
salva a situação. De Serpe já haviam também chegado reforços. Cófilas, ouvidos também os prisioneiros celtas, logo se apercebeu da situação e<br />
dispôs tudo para uma resistência forte e eficaz. Serpínia tornou ainda a mandar essa noite ramos de oliveira e flores de loendro para o altar de<br />
Eliote.<br />
A derrota<br />
Os génios do mal são fecundos em planos perversos e por via de regra são vitimas do seu orgulho. O orgulho é um vírus que mata sempre seus<br />
próprios senhores. Rolarte era mau e orgulhoso. Tinha as duas qualidades mais perversas do génio do mal.<br />
Ao ter conhecimento do fracasso do primeiro assalto ao castelo das Loendreiras desmaiou de indignação, rangeu felinamente os dentes, crispou<br />
as mãos de cólera e, fora de si, gritou:<br />
- Vingança... Vingança... não há vingança bastante para eu me poder vingar. E logo planeou o segundo assalto para aquela noite<br />
afim de não dar tempo a organizar-se uma defesa eficiente. Não sabia o que se passava no castelo, desconhecia a chegada de Polípio. O dia<br />
passou-se em planos de estratégia à face dos dados colhidos pelos falsos mercadores.<br />
O tempo estava tempestuoso e por isso favorável a um assalto desta natureza. Sobretudo o que importava era:<br />
- Vingança.. Vingança...<br />
Anoitecera.<br />
De novo um denso céu de crepes tornou a envolver a terra. Escuro cerrado; vento irritante; aliança das trevas... e eis alguns de seus aliados<br />
para aquela noite. Choveu muito durante o dia e a noite estava, por igual, densamente nublada. Rolarte dividira seus homens em quatro grupos<br />
afim de atacarem o castelo por todos os lados dando assim ao adversário a impressão de que eram legião.<br />
Cerra-se mais atreva; adensa-se a noite; carregam-se mais as nuvens; o vento assobia.<br />
Cófilas tinha emboscado seus homens a centenas de metros, em pontos estratégicos exactamente na direcção dos quatro pontos cardeais.<br />
Mandou que no castelo nem uma luz acesa, tudo às escuras afim de dar ao inimigo a impressão ou que tinha sido abandonado ou q ue estavam<br />
desprevenidos. As horas passam lentas, angustiosas, apreensivas.<br />
Alta madrugada a assaltante aproxima-se. Nas torres do castelo vigia-se bem desperto.<br />
Rolarte, aceso em cólera, exclama ao dar ordens de atacar:<br />
- «Ó deuses: - que o ódio realize o que não conseguiu o amor!...»<br />
No momento oportuno saíram de seus esconderijos os túrdelos que, de improviso, carregaram sobre o inimigo.<br />
Espalha-se a confusão, o desespero. Há vítimas e destroços pelo chão. O escuro da noite, a lama do terreno, devido à chuva, emprestam ao<br />
cenário mais lugubridade, tetrismo e pavor. A dor e a morte encontravam-se frente a frente. Os atacantes viram-se envolvidos por uma<br />
resistência tenaz com que não contavam. Desesperam, a vitória foge-lhes momento a momento.<br />
Rolarte é mortalmente ferido. Os seus homens recuam, cedem terreno, debandando. É a derrota. A fuga precipitada está diante deles como única<br />
solução de salvamento.<br />
Cófilas foi impelindo o inimigo para as margens do Limosino. Este rio levava uma cheia formidável em virtude das chuvas torrenciais que<br />
haviam caído em certas regiões. Rolarte julgando ainda uma possibilidade de escapar às mãos de Cófilas meteu-se à água tentando atravessar o<br />
rio. Cavalo e cavaleiro iam muito feridos. Em tão má hora se meteu à água que o cavalo escorregou nas pedras roliças deixando cair o<br />
cavaleiro que foi arrastado pela torrente impetuosa.<br />
Cófilas e Polípio presenciaram a cena e queriam havê-lo, às mãos, vivo. Ainda fizeram tentativas para o salvar, mas em vão. Rolarte submergiuse<br />
na torrente e desapareceu para sempre. Estava terminado o drama doloroso. A tragédia pusera termo a uma louca aventura.<br />
O CONSÓRCIO<br />
Ocidente e Oriente de mãos dadas<br />
Polípio, o príncipe fenício de olhos azuis, barba ruiva e tez morena fizera boa estreia para conquistar definitivamente Serpínia. Era um amor e<br />
um herói. Sabia amar, lutar e combater. Herói no mar e na terra, ia ser também herói nos segredos do amor. Serpínia, a mulher mais linda que<br />
até ali havia visto, estava-lhe destinada. Túrdelos e Fenícios podiam regozijar-se com a estrondosa vitória, ocidente e oriente podiam dar as<br />
mãos num simbolismo histórico que os séculos futuros haviam de registar como predomínio do ocidente sobre toda a face do globo. O Castelo<br />
das Loendreiras fora eterna testemunha da dupla vitória duma mulher singular: acabar com o pesadelo dum monstro apaixonado que fazia<br />
tremer as pedras e conquistar um amor que enlaçava duas nações, unia dois continentes. Serpínia ficava uma heroína para a história.<br />
A dupla vitória foi largamente festejada. Os vencedores entraram em Serpe por entre arcos e festões, palmas e flores, no meio de aclamações<br />
ruidosas como a capital túrdela nunca tinha presenciado.<br />
Num luxuoso carro puxado a quatro cavalos Serpínia seguia no meio de Cófilas e de Polípio. Sorrisos, ovações, acenar de braços, vivas,<br />
aclamações eis o ambiente que reinava por toda a parte. O cortejo triunfal seguiu pelas ruas principais e foi terminar no templo de Eliote onde<br />
Serpínia depôs ramos de oliveira e de loendreira e se ofereceu um sacrifício solene.<br />
As festividades continuaram no dia seguinte com o casamento real e prolongaram-se por duas semanas.<br />
*<br />
No meio de tanto regozijo uma nuvem de tristeza cobria o coração de todos. Por certo iam ficar sem a sua idolatrada princesa a quem a<br />
Turdetânia já tanto devia. O oriente esperava por ela.<br />
A os clamores da vitória, ao incenso dos sacrifícios juntavam-se já as tristezas da próxima separação e as lágrimas ardentes duma saudade<br />
infinda.<br />
Serpínia é uma radiosa estrela do ocidente que vai iluminar as terras do oriente; é uma beldade destinada a ofuscar todas as beldades das terras<br />
dos beduínos, onde vagueiam civilizações e passam caravanas admirando os arcos desmantelados de Palmira, os templos soterrado s dos Hititas,<br />
as ruínas monstruosas de Balbek.<br />
Diante da beleza de Serpínia, havia de desmaiar a beleza de Artemisa de Palmira; os Egípcios haviam de achar demasiado feia sua admirada<br />
Cleópatra e Helena de Troia cairia em eterno desespero.<br />
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Mais ainda: quando Serpínia aparecesse no oriente não mais Salomão olharia para os encantos da Rainha de Sabá. Depois as formosas: Célia<br />
dos Hititas, Zeliana dos Babilónios, Artésia dos Assírios, ficariam arrumadas a um canto como gente sem valor, corno beldades ultrapassadas.<br />
Se tais pensamentos regozijavam os turdetanos a ideia da separação atormentava-os.<br />
o ADEUS<br />
Entre os Europeus e a Ásia<br />
O destino é sempre o destino: tem de cumprir-se. Não é um cego fatalismo, é um selo da providência; não é uma coincidência fortuita é, sim, o<br />
sinal da mão de Deus a marcar a fronte do homem. Serpínia está destinada a ser rainha de Tiro e Sidónia.<br />
Para além do Mediterrâneo, confinando com as terras que um dia o Cristo transitará na sua passagem pelo nosso planeta, está o seu trono.<br />
A partida aproxima-se. O reinar é também um dever, um serviço que tem de cumprir-se. Os navios estão já surtos no porto de Mírtilis. Está<br />
firmada uma aliança forte e duradoira entre a Fenícia e a Turdetânia que dão as mãos por cima do Mediterrâneo. Mírtilis, embora no território<br />
turdetâneo, é uma faceta do rosto da Fenícia e fica a servir de ponto de enlace, rota de cruzamento entre os dois povos amigos.<br />
Serpínia vai partir.<br />
Como piedosa e crente quis na véspera da partida, ir ao templo de Eliote oferecer um sacrifício e entregar um ex-voto. Este constava da seguinte<br />
oferta: uma preciosa rosa de loendreira feita de oiro e pedras preciosas dádiva de seu pai e que lhe adornava o gracioso cabelo no dia do<br />
casamento. Numa das pétalas da rosa estava gravado o nome de Serpínia, noutra o castelo das Loendreiras. Na base do castelo via-se a cabeça<br />
dum dragão representando a vitória sobre Rolarte. Assentava tudo sobre um escudo rodeado de folhas de oliveira, a árvore sagrada de Eliote.<br />
Este brasão ficaria a ser as armas de Serpe e conservou-se no templo até à sua destruição nas inquietas vicissitudes da história.<br />
*<br />
Chegou por fim o dia da partida. Aproximava-se a hora do embarque. O sol radioso duma serena tarde de primavera iluminava com revérberos<br />
de oiro o casario de Mírtilis construída em anfiteatro na encosta do alto morro, bem como as campinas circunjacentes e as águas plácidas do<br />
Ana.<br />
Era bem uma tarde de amorosa saudade.<br />
Serpíia e Polípio acompanhados de Cófilas e grande comitiva chegavam a Mírtilis. As naus estavam surtas nas águas do rio todas<br />
embandeiradas.<br />
Sorria a natureza, choravam os corações. Uma separação, ainda quando para melhor, é sempre dolorosa.<br />
A fortaleza de Mírtilis erguida no cimo do morro escarpado pelos homens de Polípio, espelha-se agora nas águas do rio.<br />
Serpfnia desce ao cais.<br />
A multidão ovaciona e chora. Vai-se a luz da Turdetânia. Os mareantes fazem os últimos preparativos. Polípio, como elegante surpresa, havia<br />
posto o nome de Serpe àquele navio que devia levar a princesa. Este voltaria muitas vezes às águas da Turdetânia afim de mitigar as saudades<br />
dos turdelos.<br />
A princesa ajoelha-se aos pés de seu pai carinhoso e bom. É a hora amarga da despedida. Depois sobe para o navio e acena à multidão. No ar<br />
há lenços e braços a saudar e nos olhos abundância de lágrimas.<br />
- Adeus... Adeus... era o grito que irrompia de todas as bocas e ecoava pelas quebradas dos montes.<br />
A emoção atinge o seu auge quando o navio inicia a marcha. Serpínia, de pé, acena à multidão. Já não pisa terra da Turdetânia, mas ainda lhe<br />
pertence. Galiosa, a aia sempre fiel acompanha-a ao Oriente.<br />
- Adeus!... Boa Viagem!... Felicidades! - continua a gritar a multidão em coro. Serpínia sorri na plenitude da sua felicidade. Tiro e<br />
Sidónia esperam por ela.<br />
Vai entardecendo cada vez mais. O ambiente é de emoção e de saudade. Respira-se a dor da despedida com a glória duma exaltação. O Serpe,<br />
que leva a pérola da Turdetânia, é seguido por muitos barcos de recreio engalanados. Desliza agora sobre as águas plácidas. Ao longe ainda se<br />
vê a silhueta esguia e bela de Serpínia, a quem o povo continua a dizer:<br />
-Adeus!...<br />
E o navio desliza até desaparecer numa curva do rio.<br />
NOTA<br />
Quisemos oferecer aos Serpenses esta leve brochura e modesto trabalho sobre uma das graciosas lendas acerca da fundação da sua terra.<br />
Fomos bebê-la a velhos documentos perdidos, esquecidos no pó dos arquivos. Não há dúvida de que Serpa "histórica e velhinha, berço da minha<br />
vinda ao mundo, é uma das povoações mais antigas da Ibéria. É certo que a sua fundação imerge nas sombras densas da pré-história. Ninguém<br />
poderá saber ao certo qual o dia, o ano em que do solo vermelho em que assenta emergiu o primeiro muro de suas casas e se delineou a sua<br />
primeira rua. Os tempos guardaram para si este mistério que o génio do passado arquivou nos subterrâneos das idades.<br />
Uma coisa singular: os tempos e as vicissitudes históricas respeitaram sempre inalterável seu nome primitivo com<br />
que fora baptizada, caso único, estamos em crê-lo, nas velhas terras da Lusitânia. Isto parece confirmar o carácter sagrado que presidiu à sua<br />
fundação. Esperemos que no último dia do Mundo, se Serpínia ressuscitar, ela nos desvende esses mistérios.<br />
Sempre me interessei vivamente pelos problemas de Serpa e não quis deixar de lhe ofertar este pequeno obséquio que Ela, provavelmente,<br />
saberá agradecer.<br />
Sim. .. a fundação de Serpa ter-se-á dado como aqui se descreve.<br />
Qualquer outra lenda é inverosímil.<br />
O AUTOR,<br />
C. J. GONÇALVES SERPA<br />
Composto e impresso na Oficina Torriana – Torres Vedras.<br />
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ANEXO 3.1 – 4 – SERPA EN/CANTADA EM LENDAS<br />
De José Rabaça Gaspar (José Penedo de Serpa) in separata – SERPA ANTIGA – SERPA INFORMAÇÃO, 4ª série,<br />
Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17<br />
2º ANDAMENTO - SERPÍNIA A BELA PRINCESA<br />
Serpínia era princesa<br />
do reino da Turdetânia<br />
que antes da Lusitânia<br />
era um reino mui distante<br />
muito p‟ra lá da Ibéria,<br />
para além dos Pirenéus.<br />
Cófilas, o pai de Serpínia,<br />
adorava a sua filha,<br />
que, além de ser princesa,<br />
sua filha muito querida,<br />
era de rara beleza,<br />
como diz a lenda antiga.<br />
Mas Rolarte, um rei mesquinho,<br />
rei cruel, ambicioso,<br />
dos celtas povo vizinho,<br />
logo que viu a Serpínia<br />
à força a quis tomar<br />
para com ela se casar<br />
sem ela o querer, nem amar.<br />
Orosiano, esse era o noivo<br />
que a Serpínia escolhera.<br />
E logo que isto soube<br />
o rei Rolarte, cruel,<br />
guerra ao príncipe moveu.<br />
Orosiano morreu<br />
nessa batalha fatal.<br />
E Rolarte, ambicioso,<br />
apesar de muito ferido,<br />
mesmo às portas da morte,<br />
roído de atroz ciúme,<br />
jura perseguir Serpínia<br />
até ser sua, ou morrer.<br />
Cófilas, que era bom rei,<br />
e que ter guerras não queria,<br />
Para proteger sua filha,<br />
caminha para Oriente,<br />
passando os Pirenéus,<br />
atravessando a Ibéria,<br />
até que parou no Ana,<br />
o rio Ana Odiana<br />
que depois foi Guadiana...<br />
Foi, quando viu estas terras,<br />
guardadas por uma serpente,<br />
que haviam de ser de Serpa,<br />
que a princesa se encantou,<br />
ao ver os campos cobertos<br />
de deslumbrante verdura<br />
e de flores de muitas cores<br />
que perfumavam os ares<br />
dum odor estonteante.<br />
A água era abundante.<br />
Terra farta, clima ameno,<br />
farta, tanto de animais,<br />
como de aves para caça.<br />
Com imensos olivais...<br />
Ali estava o alimento,<br />
o bom unto, o provimento<br />
e até luz nas candeias...<br />
- É este o lugar que eu quero<br />
para morar e caçar<br />
correndo montes e vales...<br />
E nunca mais ver Rolarte<br />
nem mais dele ouvir falar...<br />
E chorar Orosiano<br />
que morreu de tão má morte<br />
pelo destino da sorte<br />
que aquele malvado lhe deu.<br />
É talvez um chamamento,<br />
encanto, deslumbramento,<br />
que me atrai, que me fascina.<br />
É que o meu nome é Serpínia<br />
e os caçadores daqui<br />
contam, que esta região<br />
é reino de uma serpente<br />
alada, forte e potente<br />
que os protege e guarda a terra<br />
os campos, aves e bichos,<br />
e que também os defende<br />
de todos os inimigos.<br />
Também a nós guardará.<br />
E, se ela assim quiser,<br />
serei eu essa serpente<br />
que os vai guardar dos perigos<br />
e vencer os inimigos<br />
desta terra e desta gente.<br />
Creio bem, senhor, meu pai,<br />
que aqui, irei encontrar<br />
o meu futuro. A PAZ.<br />
Meu nome será ligado<br />
ao da Serpe benfazeja...<br />
Por todos será lembrado<br />
para lá de toda a inveja<br />
por mais mudanças que houver.<br />
- Aqui será, minha filha,<br />
pois assim o desejais<br />
a cidade capital<br />
do reino da Turdetânia<br />
e daqui vamos reinar<br />
em paz, boa vizinhança,<br />
desde o Ana, até ao mar.<br />
Assim possas tu, ó filha<br />
Amor de novo encontrar.<br />
Logo se fez a cidade<br />
com túrdulos e naturais<br />
se estenderam pelos campos<br />
pelos montes e locais<br />
até ao porto onde o Ana<br />
se casava com o mar.<br />
Chegaram barcos fenícios<br />
que vinham comerciar.<br />
Outra cidade nasceu.<br />
Mirtilis foi o seu nome<br />
por ser o filho de Mirto<br />
que o teve de Mercúrio<br />
o Deus dos comerciantes,<br />
mensageiro dos amantes.<br />
Um dia, num desses barcos,<br />
chega, nobre e sobranceiro,<br />
Polípio, um jovem guerreiro,<br />
que ao ver Serpínia, a princesa<br />
logo se deixou vencer<br />
de tanto encanto e beleza<br />
aliada à fortaleza<br />
que de Serpínia emanava.<br />
- Nunca mais esquecerei<br />
tanta beleza e encanto.<br />
E se for vossa vontade<br />
e do vosso pai também,<br />
vou regressar ao meu reino,<br />
à Fenícia lá distante,<br />
e voltarei radiante<br />
mais digno da vossa mão<br />
e condigna companhia<br />
para as bodas celebrar.<br />
Bela mulher, sede minha<br />
e virei para casar<br />
e ao meu reino levar...<br />
Logo ali ficaram noivos<br />
e prometeram amar-se.<br />
- Vai depressa, volta breve,<br />
porque embora protegida,<br />
sou de morte perseguida<br />
por um rei cruel e mau...<br />
Partiu Polípio para longe.<br />
E a noiva, enquanto espera<br />
refugia-se na serra<br />
para se melhor defender<br />
e à caça se entregar,<br />
seu prazer e seu dever<br />
para todos sustentar.<br />
Para melhor a guardar<br />
seu pai que era prudente<br />
logo manda construir<br />
um palácio diferente<br />
no meio da selva inóspita.<br />
E devido aos loendreiros<br />
que enchiam a região<br />
logo lhe chama a propósito<br />
O Castelo dos Loendros.<br />
Mesmo ali nesse reduto<br />
qual Diana no seu meio,<br />
perdida na Natureza<br />
quase do Mundo isolada,<br />
um dia, quem o sonhava,<br />
aparece qual fantasma<br />
o ciumento Rolarte<br />
que jurara de tal arte:<br />
ou possui-la, ou matá-la...<br />
Não consegue seus intentos.<br />
Os soldados de Serpínia<br />
com a aliada Serpente<br />
como uma Serpe ou Dragão<br />
defendem o seu castelo,<br />
põem em fuga o ladrão.<br />
Logo avisado, seu pai<br />
corre em socorro da filha...<br />
E já a Mirtilis chegado<br />
corre o Polípio aflito...<br />
Lutam com os celtas renhidos.<br />
Perseguem o rei Rolarte<br />
que fugindo à morte certa<br />
que o novo noivo lhe jura<br />
se despenha nos fraguedos<br />
se vai afogar no rio<br />
fica presa da Serpente<br />
de Serpínia a protectora...<br />
Há festas e casamento.<br />
Tanto a vitória alcançada<br />
como a beleza dos noivos<br />
são motivos para aquele povo<br />
se encher de contentamento.<br />
E quando os noivos partiram<br />
para a Fenícia distante,<br />
o povo, que muito a amava<br />
e a queria para rainha,<br />
e que ela amava tanto<br />
por tanto que ali viveu,<br />
para jamais a perder<br />
e nunca mais a esquecer<br />
deu o seu nome à cidade:<br />
SERPE, em boa homenagem<br />
à Serpente e a Serpínia...<br />
SERPA por ser a imagem<br />
daquela que foi rainha,<br />
da Serpe que a defendia<br />
e a defende hoje em dia<br />
de todo o mal, todo o perigo<br />
e de todo o inimigo.<br />
SERPA, a cidade da Serpe<br />
e de Serpínia, a princesa,<br />
fica assim a Vila Branca,<br />
rodeada de muralhas<br />
e protegida das águas<br />
do Ana que a abraça<br />
qual serpente a defendê-la.<br />
Assim a Serpe das Armas<br />
que de Serpa são o Brasão<br />
fica o signo, o símbolo imagem<br />
de Serpínia e do Dragão.<br />
José Penedo de Serpa<br />
Verão de 1996<br />
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ANEXO 3.1 – 5 – A LENDA DE MYRTILIS em honra da Deusa MIRTO que o teve de Mercúrio<br />
In www.<strong>joraga</strong>.net/mertola<br />
MÉRTOLA - um NOME LIGADO às LENDAS?<br />
«Cófilas, Rei dos Túrdulos, fez aliança com os chefes Fenícios e, naquele porto, construíram uma cidade a que<br />
deram o nome de Mirtilis, em honra da Deusa Mirto, sua mãe que o teve de Mercúrio.»<br />
ou um NOME a evocar a filha de TÂNTALO - NIOBE - irmã de PÉLOPE - o que assassinou MYRTILIS e foi<br />
transformada em enorme PEDRA donde correm dois RIOS DE LÁGRIMAS por toda a eternidade...<br />
MÉRTOLA - a possível origem de um NOME<br />
(ver em 3.1.1 alguns recortes sobre MITOLOGIA GRECO LATINA que podem dar uma certa<br />
verosimelhança a estes voos de fantasia e encantamento...)<br />
Introdução<br />
MYRTILIS ou NOVA TIRO - nome dado, provavelmente, pelos Fenícios " que aqui se homiziaram quando<br />
Alexandre Magno conquistou TIRO..."<br />
«Em um dos barcos (fenícios) vinha um Príncipe, jovem , guerreiro e bem parecido, que ao ver Serpínia se<br />
apaixonou por ela. E Serpínia amou Polípio, o belo Príncipe Fenício. E logo ficaram noivos.»<br />
MYRTILUS - aparece nos dicionários de Latim como MÍRTILO, filho de Mercúrio... A mãe terá sido a Deusa<br />
MIRTO...<br />
... ora, nas diversas bibliografias consultadas e apesar de sabermos que os Deuses do Olimpo eram pródigos em<br />
arranajar várias esposas ou amantes a exemplo do grande Jupiter ou Zeus, não encontrámos uma Deusa ou esposa<br />
de Mercúrio com o nome de MIRTO...<br />
... mas encontrámos a Deusa que tem o MIRTO como árvore - símbolo ou consagrada: é a Deusa AFRODITE<br />
(VÉNUS) - a Deusa do Amor e da Beleza que a todos seduzia. ... e que, na grande maioria das histórias, surge<br />
como mulher de HEFASTO (VULCANO) o Deus da Forja, disforme e coxo... (vide in a «Mitologia», de Edith<br />
HAMILTON, Dom Quixote, Lisboa, 1979)<br />
Ora Mírtilo, foi inexplicavelmente morto por PÉLOPE, o filho de TÂNTALO...<br />
Onde começa a LENDA?... em TÂNTALO.<br />
MYRTILO<br />
A lenda pode contar-se assim...<br />
TÂNTALO, Rei da Lída, filho de Júpiter ou ZEUS e da ninfa Plota, tinha um lugar privilegiado<br />
entre os Deuses do Olimpo...<br />
Era convidado para os seus banquetes onde podia saborear a comida e a bebida própria dos<br />
Deuses, como a ambrosia e os néctares mais delicados, desconhecidos dos pobres mortais, como<br />
se dava ao luxo de poder convidar os Imortais para os seus banquetes no seu palácio<br />
deslumbrante do seu reino de sonho...<br />
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Um dia, do que é que se havia de lembrar?<br />
Tântalo mandou matar o seu próprio filho, Pélope, ordenou que fosse cozinhado num grande<br />
caldeirão e serviu-o de refeição aos seus convidados do Olimpo...<br />
Que motivo o terá levado a tão hediondo gesto é um mistério para os poetas e istoriadores!<br />
Talvez o ódio e a revolta que sentia por estes seres que se consideravam superiores, para os<br />
obrigar a sentir o horror do canibalismo que permitiam a alguns dos mais repugnantes dos<br />
mortais!<br />
Que ingenuidade o levou a escarnecer, desta maneira, dos Deuses que tudo sabem, a ponto de<br />
sacrificar o seu próprio filho?!<br />
Os Senhores do Olimpo tinham que decidir um castigo exemplar, para que nunca mais, ninguém<br />
ousasse insultá-los de novo:<br />
Foi decidido o conhecido...<br />
SUPLÍCIO de TÂNTALO:<br />
Para castigar tão hediondo crime, Tântalo foi lançado num poço, o Hades, o inferno, mas,<br />
surpreendentemente, num Jardim maravilhoso onde corria abundantemente a água e abundavam<br />
todas as árvores de fruto, mas...<br />
cada vez que esticava a mão para beber, a água sumia-se...<br />
cada vez que esticava o braço para um fruto, o vento levava os ramos das árvores para longe,<br />
fora do seu alcance...<br />
e, ali está, para a eternidade, morto de sede, à beira da água que se some...<br />
ali está, morto de fome, à vista de uma abundância indescrítível, que se lhe escapa...<br />
Que aconteceu ao sacrificado PÉLOPE?<br />
PÉLOPE<br />
Além deste castigo exemplar, para que fosse reposta a Justiça, os Deuses do Olimpo,<br />
enternecidos, decidiram restituir a vida a Pélope...<br />
Pélope foi reconstruído, mas tiveram de lhe moldar um ombro de marfim! Conta-se que,<br />
inadevertidamente, uma das Deusas presentes no macabro banquete, uns dizem que foi Deméter,<br />
outros garantem que foi Tétis, não teria resistido ao aspecto agradável daquele saboroso<br />
hediondo manjar...<br />
Mas, contam as Lendas, a vida de Pélope correu daí em diante sem incidentes de maior. Teria<br />
sido o único descendente de Tântalo que não foi marcado pelo infortúnio, que se abateu de uma<br />
maneira impiedosa, por exemplo, sobre a sua irmã NIOBE...<br />
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Entra na LENDA mais uma personagem, possivelmente, mais visivelmente ligada ao “esporão<br />
rochoso” que se ergue “Entre-ambas-as-Águas”...<br />
NIOBE<br />
Niobe, a que tudo teve para ser feliz... Fez um casamento feliz com Anfião o Rei de Tebas...<br />
Foi rainha querida de todos os súbditos...<br />
Teve sete filhos que se tornaram jovens valentes e destemidos...<br />
Teve sete filhas, que se tornaram as mais belas entre as belas...<br />
O seu marido Anfião e seu irmão gémeo Zeto empreenderam a fortificação de Tebas...<br />
O seu marido, músico de eleição, suplantou a força colossal do irmão, arrancando, com a sua<br />
lira, sons tão arrebatadores, que as grandes pedras o seguiram-no para a construção das muralhas<br />
de Tebas...<br />
No meio de tanta prosperidade e felicidade Níobe decidiu, como seu pai Tântalo, desafiar os<br />
Deuses e exigiu do Povo de Tebas as honrarias e o incenso que queimavam no templo de Leto, a<br />
mãe de Apolo e Artemisa, em Delos!!!<br />
Ora, como a arrogância e a insolência é imediatamente reconhecida no Olimpo e nunca deixam<br />
de ser punidas, Apolo (Febo) e Artemisa (Diana) deslizaram rapidamente dos seus tronos<br />
celestiais e, ao mesmo tempo, o Deus do Arco de Prata e da Flecha de longo alcance e a Divina<br />
Caçadora, desceram a Tebas e, com pontaria infalível, abateram, sem piedade, os filhos e filhas<br />
de Niobe, um dos motivos da sua arrogância perante a rival que só tinha tido dois filhos!!!<br />
Atingida por aquela dor inenarrável, Niobe desfez-se em lágrimas mudas incapazes de um grito,<br />
e transformou-se em pedra, que ficou humida por toda a eternidade, devido às lágrimas, que<br />
correm sem parar...<br />
MÍRTILO<br />
Mas seu irmão Pélope, o ressuscitado, foi mais feliz...<br />
Cortejou entretanto a fatídica princesa Hipodamia, que foi causa de muitas mortes, talvez não<br />
por ela, mas pelo artifício engendrado pelo Rei seu pai, - ENOMÃO ou ENOMAU, que obrigava<br />
os pretendentes a prestarem uma prova insuperável...<br />
Como não queria que a filha se casasse, propunha aos pretendentes uma corrida com a sua de<br />
parelhas de cavalos.<br />
Se ganhassem, teriam a mão da sua filha...<br />
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Se perdessem, pagariam com a morte...<br />
A parelha de cavalos do rei, oferta de Ares, era, evidentemente superior a qualquer parelha de<br />
cavalos mortais!...<br />
E assim muitos perderam a vida...<br />
Quando chegou a vez de Pélope, este aceitou o desafio, porque a sua parelha de cavalos tinha<br />
sido um presente de Poseídon, e por isso confiava na sua superioridade, mas...<br />
Conta outra Lenda, que ele terá vencido e conquistado a mão da princesa, porque Hipodamia,<br />
apaixonada por ele, ou decidida a acabar com aquele terrível massacre, teria subornado<br />
MÍRTILO, o cocheiro do seu pai, ...<br />
MÍRTILO, (filho de Mercúrio e Mirto), para agradar à princesa, terá engendrado uma maneira de<br />
os raios das rodas do carro real se partirem durante a corrida... e assim a vitória coube, sem<br />
dificuldade, a Pélope...<br />
Por motivos insondáveis, que só acontecem no reino da Lendas e dos Deuses, mais tarde, Pélope,<br />
em vez da eterna gratidão, veio a matar Mírtilo, que, ao expirar, amaldiçoou o assassino...<br />
Não foi sobre Pélope, directamente, que caiu a maldição, mas ele teve dois filhos:<br />
Atreu e Tiestes...<br />
Foram estes e os seus descendentes que pagaram pelo crime do pai...<br />
Atreu era o rei...<br />
Tiestes apaixonou-se pela Rainha, a esposa do irmão e seduziu-a...<br />
O Rei descobriu, claro, e concebeu uma vingança hedionda e inenarrável...<br />
Matou os dois filhinhos do irmão e mandou serví-los ao pai partidos em bocadinhos...<br />
e Tiestes comeu...<br />
Ao descobrir a verdade Tiestes gritou até à loucura... cuspiu e vomitou até ao desespero...<br />
amaldiçoou aquela casa para que sobre ela caíssem todos os male inimagináveis... e, com a mesa<br />
do banquete, ficou esmagado contra o chão...<br />
O crime atroz não foi divulgado nem vingado durante o reinado do soberano...<br />
Atreu, o filho mais velho de Pélope, assassino de Mírtilis, era Rei e Tiestes não tinha poderes!!!<br />
Foram os filhos e os filhos dos filhos que vieram a pagar...<br />
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MÉRTOLA & MÍRTILO<br />
É, possivelmente, assim, que Mértola, a cidade das encruzilhadas que se ergue entre-ambas-aságuas<br />
e foi porto importante de ligação ao mar está ligada à MITOLOGIA Greco-Latina:<br />
- a MÍRTILO, filho da Deusa do Mirto, morto por aquele a quem ajudou a ganhar a corrida e a<br />
mão da princesa...<br />
- a VÉNUS dos Romanos - a AFRODITE dos Gregos... a Deusa que tem o MIRTO como árvore<br />
consagrada... e a quem os Fenícios , fundadores da Cidade no porto do Ode Ana, deram o nome<br />
de Myrtilis, em homenagem à sua Mãe a Deusa (do) MIRTO...<br />
- e quem sabe às terríveis pragas que pesam sobre o hediondo crime de TÂNTALO... castigado<br />
pelo suplício de ter tudo ao alcance da mão sem o poder usar...<br />
- ao castigo dos artifícios do pai da Princesa HIPODAMIA, ENOMAU, que causou a morte de<br />
tantos jovens pretendentes à mão da Bela Princesa...,<br />
- e ao crime do seu marido Pélope, assassino de MÍRTILO!!!..<br />
- e ao castigo de NIOBE? ... Não será MÉRTOLA o ROCHEDO - a PEDRA em que ELA se<br />
transformou e que ficou húmida por toda a eternidade, devido às lágrimas, que correm sem<br />
parar... simbolizado no "esporão rochoso" em que a VILA se ergue ENTRE-AMBAS-AS-<br />
ÁGUA, que correm sem parar o RIO - ODE ANA e a ribeira de OEIRAS?...<br />
São LENDAS - divagações, podem dizer os Estudiosos sisudos que dedicam a vida na tentativa<br />
de saber os segredos do Universo...<br />
São LENDAS - verdades possivelmente ocultas para reflectir e descobrir, podem dizer os Sábios<br />
que se dedicam a descobrir os segredos do Universo e as Leis da Natureza e do Cosmos...<br />
São LENDAS que servem para alimentar a inspiração dos Poetas e que o Povo, na sua generosa<br />
ingenuidade, se gosta e lhe reconhece algum valor, vai repetindo e reinventando ao longo dos<br />
Tempos...<br />
São LENDAS que talvez abram pistas para perceber uma espécie de "maldição" ou "fado" ou<br />
"fardo" que pesa sobre Mértola e o Alentejo em geral e está "escrito" nas LENDAS ou nas<br />
"estrelas", mas que seria preciso saber e perceber para não se ficar amarrado a um fatalismo sem<br />
esperança!...<br />
Aí fica<br />
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para os circunspectos Estudiosos...<br />
para os Sábios ignorados e desprezados pela Ciência cega...<br />
para os Poetas visionários...<br />
para a ingénua generosidade do Povo...<br />
para os que têm a responsabilidade de SABER para poderem decidir e governar...<br />
UMA VERSÃO (im)possível<br />
de uma possível<br />
LENDA DE MÉRTOLA<br />
Foi há muitos muitos anos... Um povo de navegadores e omerciantes que tinham as suas cidades estado e os seus deuses e artes lá para o outro<br />
lado do Mediterrâneo, perto da Grécia e do Egipto, decidiram sair daquele que para eles era o grande mar, para se aventurarem pelo outro mar<br />
imenso que se abria para além do ROCHEDO (ALUBE para os fenícios ESTREITO DE HÉRCULES ou as COLUNAS DE HÉRCULES para os<br />
gregos – Foi Hércules que ergueu ali as duas Colunas – GALPE e ABILA (Ceuta), quando separou a Europa da África...) imponente que servia<br />
de PORTA de saída para o desconhecido... a partir do qual não se podia ir mais além... Era a PONTA do mundo conhecido de entã o... a ponta do<br />
que agora conhecemos como a EUROPA... a quinze quilómetros do outro Continente, a Àfrica... Já se tinham arriscado vária vezes até ao MONS<br />
SACRUS, e pela Costa Africana abaixo, sempre à vista de Terra, mas não se podiam atrever a ir mais além para o desconhecido imenso que era<br />
só territóri dos deuses e abismo donde se não poderia voltar...<br />
Foi então que desde uns 1000 anos a. C. um grupo mais arrojado de navegadores e comerciantes fenícios, pois é desse povo quefalamos, decidiu<br />
aventurar-se mais para o interior... passaram o grande ROCHEDO da PORTA do MAR, avançaram até ao MONS SACRUS, voltaram atrás e<br />
encontraram a foz de um grande rio que era o ANA... Subiram aproveitando a força das marés... Subiram até sentirem onde as marés os<br />
empurravam e pararam à vista daquele ESPORÃO ROCHOSO que se erguia ENTRE-AMBAS-AS-ÁGUAS...<br />
Voltaram ali muitas vezes... Alguns ficavam e estabelecram contactos com os povos dispersos que por ali viviam peloa montes... Vendiam o que<br />
traziam e compravam os produtos que puco a pouco iam chegando àquele porto de rio que se foi formando e até apareceu minério e outras<br />
riquezas para comerciar...<br />
Mas um dia as embarcações que chegaram eram mais numerosas e notava-se um tipo de agitação diferente daquele a que as pessoas das<br />
redondezas estavam habituadas... A chegada de barcos era sempre um acontecimento, mas daquela vez, além de serem mais, e a chegarem dia<br />
após dia ainda mais, vinham mais carregadas e traziam outro tipo de gente. Para além dos navegadores e comerciantes notavam-se outro tipo de<br />
gente que não estava habituada àquelas lides... era tambem gente de guerra, o que não era habitual, e outro tipo de gentes... Os habitantes das<br />
redondezas, habituados a lidar com aquela gente desde os avós dos avós ficaram perturbados...<br />
Souberam então que uma das suas mais ricas cidades, a cidade de TIRO tinha sido conquistada pelo ainda jovem e ambicioso Alexandre, o<br />
Macedónio, paraquem a sede de conquista não tinha limites...<br />
Agora ali, exilados da sua cidade, e naõ querendo viver submetidos a um povo estranho, um grupo daqueles homens entre os quais vinha<br />
POLÌPIO, um príncipe fenício, sonhou e decidiu que podiam ali fundar a sua NOVA TIRO... Gente pacífica, mas sem descurar a guerra, foram<br />
bem aceites pelas gentes d região e logo fizeram aliança com um povo que vinha de além dos Pirineus à procura de Paz e da Abundância... Eram<br />
os Turdulos que fugiam dos Celtas e do temível ROLARTE e eram chefiados por CÓFILAS, o rei querido do seu povo, que tudo fazia para lhes<br />
agradar e mais ainda, para tudo fazer em favor da mais Bela entre as Belas a sua filha SERPÍNEA... E foi assim que nasceu SERPA, e logo a<br />
seguir a outra cidade, a NOVA TIRO que depois decidiram «chamar MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MÉRCÚRIO», com o<br />
dizem lendas antigas, e alguns chamavam de NÍOBE, por «aquele esporão rochoso» que se erguia na curva do rio lhes lembrar a lenda da filha de<br />
TÂNTALO, a orgulhosa rainha de TEBAS que, por ser mãe de sete valentes rapazes e de sete belas raparigas desafiou LETO, mãe de APOLO e<br />
de DIANA e assistiu à morte dos catrorze filhos executados sem piedade pelas flechas certeiras dos dois filhos ofendidos... Então, conta a lenda,<br />
«Níobe ficou muda de dor e espanto... só deixava correr as lágrimas de um inútil arrependimento... e os deuses condoídos permitiram que, a seu<br />
pedido, ficasse tranformada em pedra donde correm dois rios de lágrimas por toda a eternidade...» Ora Níobe, a orgulhosa filha do também<br />
insolente Tântalo, era irmã de PÉLOPS, aquele que fora servido aos deuses como manjar de afronta e que, uma vez regressado à vida por<br />
intervenção dos deuses que tinham condenado o pai ao suplício de viver para sempre ao lado da abundância sem a poder alcançar, veio por sua<br />
vez a assassinar MYRTILIS, o cocheiro de ENUMÃO, pai da princesa HIPODAMIA, por quem o ressuscitado se apaixonara, e que decidira trair<br />
o seu rei, serrando a rodas do carro para que Pélops pudesse ganhar a corrida e assim ser poupado à morte!!!<br />
Sim, aquela cidade seria MYRTILIS, aquele que se sacrificou pelo seu assassino, irmão de Níobe, e pela sua princesa, e como prémio dos Deuses<br />
do Olimpo, brilha na Constelação de Cocheiro com uma luz especial... de protecção e conforto para os que a sabem ver e admirar...<br />
Não, o nome de NÍOBE, traria porventura augúrios de desgraça e fatalidade para uma nova a cidade que ali estava a nascer... e agora se chama a<br />
NOBRE VILA DE MÉRTOLA.<br />
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ANEXO 3.1 – 6 - LENDA – A TESOURINHA DA MOURA<br />
in LENDAS PORTUGUESAS – VOL. V - Fernanda Frazão – Amigos do Livro Editores L.da,<br />
Lisboa, s/d pp. 89, 90, 91.<br />
A TESOURINHA DA MOURA<br />
Ali para os lados de Mértola, aconteceu, certa vez, um caso fantástico e temeroso<br />
provocado por uma moura encantada.<br />
Vinha um homem do amanho do campo, de enxada ao ombro, quando ao passar pelo<br />
sítio da Mortilhera viu uma cobra que da cintura para cima tinha corpo de mulher. A cobra, que<br />
era uma moura encantada, meteu-se a conversar com o homem, e o homem cheio de medo, a<br />
suar e a limpar o suor com o lenço.<br />
A moura foi perguntando ao homem como lhe corria a vida, que tal as colheitas, se a<br />
seara era dele ou se tinha patrão, e muitas outras coisas com as quais talvez viesse a entreter-se<br />
nos longos serões que de Inverno era obrigada a passar sozinha debaixo da terra. Quando<br />
acabou de saber tudo o que a interessava, a moura estendeu ao homem um capacho com figos<br />
secos, que estava a seu lado, dizendo-lhe que tirasse quantos quisesse.<br />
O homem, que durante todo o tempo da conversa suara frio, de medo e nervos, tirou<br />
meia dúzia de figos e meteu-os na algibeira do colete. Despediu-se da cobra com alguns<br />
salamaleques e partiu aliviado e desejoso de se ver bem longe dali.<br />
Ao chegar a casa contou à mulher o que lhe acontecera e por fim, quando ia a tirar os<br />
figos do bolso do colete, encontrou no lugar deles seis moedas de ouro. A mulher desatou logo a<br />
ralhar com ele:<br />
- Ó homem, pois então a moura dá-te figos que são ouro e tu só trazes isto?! Valha-te<br />
Deus, que estás mas é a ficar taralhouco! Vai mas é buscar o resto, antes que a cobra volte à<br />
cova, vai depressa, ouviste?!<br />
O homem, que não sabia bem se havia de temer mais o bicho ou a mulher, lá foi, dizendo<br />
mal à sua vida. E quando passou pela cobra, disse-lhe, para que ela não desconfiasse:<br />
- Adeus, senhora moura! Vou outra vez ao campo, que me esqueci de uma coisa!<br />
Mas a moura sabia tudo:<br />
- Não vais, não! Não te esqueceste de nada, o que tu querias era mais figos, mas já não<br />
há! Olha, leva daqui qualquer coisa que te sirva.<br />
E estendeu ao homem o seu açafate da costura, donde ele sacou uma tesourinha com<br />
cabos de ouro e pedras preciosas. Partiu e a moura ficou a dizer-lhe adeus com um estranho<br />
sorriso.<br />
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A caminho de casa, o homem, que ia distraído com os seus pensamentos, escorregou à<br />
beira de uma ladeira, caiu, espetou a tesoura no peito e morreu.<br />
Assim acontece quando os encontros com mouras não são mantidos em segredo!<br />
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ANX. 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina – LENDA/s<br />
- “...MYRTILIS em honra da deusa MIRTO que o teve de MERCÚRIO”...<br />
As referências das duas ou três versões da LENDA DE SERPÍNEA em relação a MÉRTOLA<br />
levaram-nos a esta pesquisa. Não deixa se ser estranho, ser preciso recorrer a uma LENDA,<br />
relativamente pouco conhecida, mas divulgada sobre as origens de SERPA, para encontrar uma<br />
referência, embora lendária, sobre as origens e sobretudo sobre a possível origem de um nome<br />
tão estranho como MÉRTOLA!<br />
Obras com esta LENDA:<br />
«SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA» de C. Gonçalves Serpa;<br />
obra citada por João Cabral in ARQUIVOS DE SERPA (Câmara Municipal), Serpa, 1971,<br />
p.165;<br />
por Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, in CANCIONEIRO DE SERPA, Edição da Câmara<br />
municipal de Serpa, 1994:<br />
ver ainda José Rabaça Gaspar e com versos de José Penedo de Serpa, in SERPA ENCANTADA<br />
EM LENDAS, publicado como separata – SERPA ANTIGA – in SERPA INFORMAÇÃO, 4º<br />
série, Dezembro de 1996 / Janeiro de 1997, N.º 17- no segundo andamento refere uma das três<br />
LENDAS que tentam explicar o nome de SERPA e com as referências que esta tem sobre as<br />
origens de MÉRTOL: “Chegaram barcos fenícios / que vinham comerciar. / Outra cidade nasceu<br />
/ (com ligações com o MAR...) / MIRTILIS foi o seu nome / por ser o filho de MIRTO / que o<br />
teve de MERCÚRIO / o Deus dos comerciantes / mensageiro dos amantes.”<br />
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MÉRTOLA – Alguns dados sobre MITOLOGIA GRECOROMANA<br />
Vide in<br />
A MITOLOGIA, Edith HAMILTON, Publicações Dom Quixote, 2ª ed. Lisboa, 1979<br />
AFRODITE (VÉNUS) – o MIRTO ERA A SUA ÁRVORE... pp. 39 – 41 – Mãe de Mirtilis? Ou<br />
filho de Mirto e Mercúrio... (Vide Lenda de Serpínea)<br />
HERMES (MERCÚRIO) filho de Zeus e Maia... pp. 41 e 42<br />
TÂNTALO e NÍOBE... p. 358<br />
PÉLOPE ou PÉLOPS... 359<br />
A princesa HIPODAMIA filha do rei (ENOMÃO) que propunha aos pretendentes uma corrida...<br />
PÉLOPE E MÍRTILO o cocheiro da quadriga do pai... p. 360<br />
NÍOBE (esposa de ANFIÃO rei de Tebas o músico...) - a maldição da Filha de<br />
TÂNTALO que desafiou LETO a mãe dos gémeos APOLO e ARTMISA (Diana) p 361<br />
pp. 22 a 26<br />
OS MITÓGRAFOS GREGOS E ROMANOS<br />
A maioria das abras referentes aos mitos clássicos fundamenta-se principalmente no poeta<br />
latino Ovídio, que escreveu durante o reinado de Augusto. Ovídio é um autêntico compêndio de<br />
mitologia. Deste ponto de vista, nenhum escritor antigo pode equiparar-se a ele. Contou quase<br />
todas as histórias e de modo bastante desenvolvido. Ocasionalmente, algumas das mais<br />
conhecidas, nos campos da literatura e da arte, chegaram até nós apenas através da sua pena.<br />
Evitámos, no caso presente, recorrer a ele tanto quanto possível. Não há dúvida de que foi um<br />
bom poeta e um fabulista seguro, capaz de apreciar devidamente os mitos, compreendendo,<br />
portanto, o material de qualidade que lhe ofereciam; Ovídio, no entanto, estava realmente muito<br />
afastado deles, mais do que nós hoje. Para ele os mitos eram meros disparates e, segundo esta<br />
linha de pensamento, escreveu:<br />
Eu canto as monstruosas mentiras dos poetas antigos<br />
Nunca vistas, quer agora quer então, por olhos humanos.<br />
Com efeito, dirigindo-se ao leitor, afirma: «Não importa serem absurdos; apresentar-vo-los-ei<br />
com tão belos artifícios que haveis de gostar.» E, na realidade, fá-lo frequentemente muito bem;<br />
nas suas mãos, contudo, os assuntos que eram verdade de facto e verdade solene para os poetas<br />
primitivos, Hesíodo e Píndaro, e veículos de autênticos dogmas religiosos para os<br />
tragediógrafos gregos, tornam-se contos fúteis, algumas vezes espirituosos e divertidos até,<br />
outras sentimentais e desoladoramente retóricos, e mantêm-se notável e perfeitamente alheios a<br />
qualquer forna de sentimentalismo.<br />
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Não é longa a lista dos principais escritores através de quem os mitos chegaram até nós.<br />
Homero surge em primeiro lugar, naturalmente. A Ilíada e a Odisseia são, ou melhor, contêm os<br />
escritos gregos mais antigos, muito embora não haja possibilidade de se datar com exactidão<br />
qualquer passagem desses poemas. Os eruditos têm opiniões muito díspares quanto a esse<br />
ponto; no entanto uma das datas a que não se levantam muitas objecções é o ano 100 a. C. - no<br />
que respeita à Ilíada, que é o mais antigo.<br />
A partir deste momento, todas as datas da presente obra devem entender-se como anteriores ao<br />
nascimento de Cristo, a não ser que se faça qualquer referência em contrário.<br />
Hesíodo, o segundo escritor, logo depois de Homero, é algumas vezes situado entre os séculos<br />
IX e VIII; levava uma vida dura e amarga de camponês. Não pode haver maior contraste do que<br />
aquele que se verifica entre o seu poema «Os Trabalhos e os Dias» (mediante o qual pretende<br />
mostrar ao homem o processo de se conseguir ter uma vida razoável num mundo inóspito) e o<br />
esplendor cortês que transparece da Ilíada; e da Odisseia. Mas Hesíodo tem muito que dizer<br />
sobre os deuses e, por isso, dedica à mitologia todo um segundo poema, que habitualmente lhe é<br />
atribuído, a «Teogonia». Se Hesíodo é realmente o seu autor, então podemos afirmar que esse<br />
camponês humilde, vivendo numa quinta solitária, longe da cidade, foi o primeiro homem na<br />
Grécia que ponderou sobre o modo como tudo aconteceu, o Mundo, o Céu, os deuses, a<br />
humanidade, e foi também o primeiro que tentou elaborar uma explicação adequada. Homero<br />
nunca se debruçou sobre tal problema. A «Teogonia», uma narrativa da criação do Universo e<br />
das gerações de deuses, assume, pois, grande importância para o estudo da mitologia.<br />
A seguir aparecem os «Hinos Homéricos», poemas escritos em honra de<br />
vários deuses. Não podem ser datados com carácter definitivo, mas os mais<br />
antigos são considerados pela maioria dos especialistas como pertencendo<br />
aos fins do século VIII, princípios do século VII. Aquele que se considera<br />
menos importante (são trinta e três ao todo) refere-se à Atenas do século V,<br />
ou provavelmente do século IV.<br />
Píndaro, o maior poeta lírico da Grécia, começou a escrever por volta dos fins do século VI.<br />
Compôs odes homenageando os vencedores dos jogos realizados por ocasião dos grandes<br />
festivais nacionais gregos e, em todos os seus poemas, surgem narrativas ou meras alusões aos<br />
mitos; é, portanto, um autor tão importante para o conhecimento da mitologia como Hesíodo.<br />
Ésquilo, o mais antigo dos três poetas trágicos, foi contemporâneo de Píndaro. Os outros dois,<br />
Sófocles e Eurípides, eram um pouco mais novos. Eurípides, o mais jovem, morreu nos fins do<br />
século V. À excepção de Os Persas, de Ésquilo, escrita para celebrar a vitória dos Gregos sobre<br />
os Persas em Salamina, todas as peças versam temas mitológicos. Juntamente com a obra de<br />
Homero constituem a fonte mais importante dos estudos desses temas.<br />
O grande comediógrafo Aristófanes, que viveu durante os últimos anos do século V e começos<br />
do IV, faz muitas vezes referências aos mitos, bem como dois outros grandes prosadores,<br />
Heródoto, o primeiro historiador da Europa, que foi contemporâneo de Eurípides, e Platão, o<br />
filósofo, que pertenceu à geração seguinte.<br />
Os poetas alexandrinos viveram por volta do ano 250. Esta designação provém do facto de, na<br />
altura, o centro da literatura grega ter sido transferido para Alexandria, no Egipto. Apolónio de<br />
Rodes contou pormenorizadamente a Demanda do Velo de Oiro e uma série de outros mitos<br />
relacionados com essa história. Juntamente com outros três poetas alexandrinos, que também se<br />
debruçaram sobre os temas da mitologia, os poetas pastoris Teócrito, Bíon e Mosco perderam a<br />
simplicidade da crença nos deuses, que caracteriza Hesíodo e Píndaro, e apresentam-se, pois, já<br />
muito afastados da profundidade e da gravidade das ideias religiosas dos poetas trágicos; ainda<br />
não tocam, porém, a frivolidade de Ovídio.<br />
Dois escritores já do fim dessa época, Apuleio, latino, e Luciano, grego, ambos do século II da<br />
era cristã, vêm trazer um contributo bastante notável. A célebre história de Cupido e Psique é<br />
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contada por Apuleio, que escreve bastante à maneira de Ovídio. Luciano, por seu turno, tem um<br />
estilo muito pessoal, muito sui generis: satirizou os deuses, que, na sua época, se tinham tornado<br />
já assunto jocoso. Não obstante, dá, a propósito, muitas indicações úteis.<br />
Apolodoro, grego também, é, depois de Ovídio, o mitógrafo antigo de produção mais vasta; no<br />
entanto, ao contrário do que acontece com Ovídio, é muito terra a terra, chegando a ser, por<br />
vezes, um tanto enfadonho. A data em que viveu tem sido fixada diferentemente ao longo do<br />
período que medeia entre o século I a. C. e o século IX da era cristã. Segundo a opinião do<br />
erudito inglês Sir J. G. Frazer, as suas obras terão sido escritas muito provavelmente no século I<br />
ou no Século II da nossa era.<br />
O grego Pausânias, viandante entusiasta, autor do primeiro guia escrito, tem muito que dizer<br />
sobre os acontecimentos mitológicos que constava terem ocorrido nos locais que visitou. Viveu<br />
já nos derradeiros anos do século II d. C., mas não põe em discussão quaisquer dos argumentos<br />
das histórias relatadas, e a sua obra tem um carácter de absoluta seriedade.<br />
Virgílio ocupa posição proeminente em relação a todos os escritores romanos, não que<br />
acreditasse mais nos mitos do que Ovídio, de quem foi contemporâneo, mas achou que havia<br />
neles algo característico da natureza humana e, por isso, deu vida a determinadas personagens<br />
mitológicas como ninguém antes dele conseguira, desde os tragediógrafos gregos.<br />
Outros poetas romanos versaram o tema dos mitos. Catulo narra várias histórias e Horácio<br />
alude com frequência a esta ou àquela, mas nem um nem outro tem grande importância para o<br />
estudo da mitologia. Para todos os romanos as histórias eram infinitamente remotas, meras<br />
sombras. Os melhores guias para o conhecimento da mitologia grega são, pois, os autores<br />
gregos, que acreditavam no que escreveram.<br />
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AOS DOZE OLIMPIANOS<br />
«Os gregos não acreditavam que os deuses tivessem criado o Universo; pensavam precisamente<br />
o contrário – o universo criara os deuses...<br />
Primeiro, formaram-se o CÉU e a TERRA... Estes foram os primeiros pais...<br />
Vieram depois os filhos: os TITÃS... seres supremos do Universo... de estatura descomunal...<br />
Apesar de muito numerosos, só nos restam:<br />
CRONOS (SATURNO), o mais importante que dominou os primitivos deuses... até ao momento<br />
em que o seu filho ZEUS o destronou e tomou conta do poder...<br />
OCEANO – o rio que envolvia a Terra...<br />
TÉTIS – esposa de Oceano...<br />
HIPERÍON – pai do sol, da lua e da Aurora...<br />
MNEMOSINE – que significa “memória”...<br />
TÉMIS – equivalente à ideia de justiça...<br />
JÁPETO – pai de ATLAS que trazia o Mundo às costas... e de PROMETEU, o salvador da<br />
humanidade<br />
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pp. 29 - 45<br />
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OS 12 Deuses DO OLIMPO:<br />
ZEUS – JÚPITER – filho de CRONOS que destronou o pai, e irmão de POSÍDON (NEPTUNO),<br />
HADES (PLUTÃO) e de HÉSTIA (VESTA), dividiu o universo com os irmãos e tornou-se o chefe<br />
supremo...<br />
POSÍDON – NEPTUNO – irmão de ZEUS – JÚPITER ficou com o MAR...<br />
HADES – PLUTÃO, irmão dos dois, ficou com o Inferno...<br />
HÉSTIA – VESTA, a irmã dos três...<br />
HERA – JUNO, a mulher de ZEUS – JÚPITER...<br />
ARES – MARTE, o filho de ZEUS - JÚPITER e HERA - JUNO...<br />
ATENA – MINERVA<br />
APOLO<br />
AFRODITE – VÉNUS<br />
HERMES – MERCÚRIO<br />
ARTEMISA – DIANA<br />
HEFESTO – VULCANO – o filho de HERA – JUNO e talvez filho de ZEUS – JÚPITER<br />
POSÍDON (NEPTUNO)<br />
Posídon, irmão de Zeus, era o Senhor do Mar e ocupava o segundo lugar, a seguir àquele, na<br />
hierarquia dos Olimpianos. Os gregos de ambas as costas do mar Egeu eram homens devotados<br />
às fainas marítimas e, por isso, o Deus do Mar tinha para eles uma importância muito especial.<br />
Anfitrite, sua mulher, era uma das netas do titã Oceano. Posídon possuía um palácio<br />
esplendoroso no fundo do mar, mas, a maior parte das vezes, encontrava-se no Olimpo.<br />
Além de Senhor dos Mares, foi ele quem deu o primeiro cavalo ao homem - dois motivos<br />
igualmente válidos para a sua veneração.<br />
Nosso Posídon, de vós este nosso orgulho temos, os fortes cavalos, os jovens corcéis e também o<br />
domínio das profundezas do mar.<br />
A tempestade e a bonança estavam sob o seu comando:<br />
Ele dava uma ordem e o vento da tempestade<br />
E as vagas do mar surgiam.<br />
Mas, quando ele passava por sobre as águas, conduzindo o seu carro de oiro, a agitação das<br />
ondas amainava e logo advinha uma paz tranquila sob o rolar suave das rodas.<br />
Chamavam-lhe habitualmente o «Agitador da Terra» e era sempre representado com o tridente<br />
(uma lança de três pontas), com o qual agitava ou destruía aquilo que lhe apetecia.<br />
O seu nome estava associado ao toiro e ao cavalo; o toiro, porém, era associado também a muitos<br />
outros deuses.<br />
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pp. 36...<br />
FEBO APOLO<br />
Filho de Zeus e de Leto (Latona) , nasceu na pequena ilha de Delos. Tem sido chamado «o mais<br />
grego de todos os deuses». É uma bela figura da poesia grega, o músico mestre que deleita o<br />
Olimpo, quando tange a sua lira de oiro; é também o Deus do Arco de prata, o Deus da Flecha<br />
de grande alcance; o Curandeiro, que ensinou, pela primeira vez, ao homem a arte de curar<br />
todas as doenças. Além destes belos atributos, Apolo é igualmente o Deus da Luz, em quem não<br />
existe a mínima mácula e por isso, é também o Deus da Verdade - nunca nenhuma palavra falsa<br />
brota dos seus lábios.<br />
Oh! Febo, do teu trono de Verdade,<br />
Do lugar que habitas no coração do mundo,<br />
Tu falas aos homens.<br />
Por ordem de Zeus, nunca dizes uma mentira,<br />
Uma sombra que escureça o mundo da Verdade.<br />
Zeus selou, por direito eterno,<br />
A honra de Apolo, em quem todos podem cnfiar<br />
Com fé inabalável.<br />
Delfos, sob o imponente monte Parnaso, onde ficava o oráculo de Apolo, desempenha um papel<br />
importante na mitologia; aí se situava a fonte Castália e o rio Cefisso. Era considerada o centro<br />
do mundo e, por isso, muitos peregrinos, oriundos quer de países estrangeiros quer da própria<br />
Grécia, vinham visitá-la. Não havia santuário que rivalizasse com essa fonte. As respostas às<br />
perguntas daqueles que, ansiosos, procuravam a Verdade eram pronunciadas por uma<br />
sacerdotisa, que entrava em transe antes de falar. Supunha-se que o transe era provocado pelos<br />
vapores provenientes de uma profunda fenda do rochedo sobre o qual se colocava o banco de<br />
três pés, o trípode, em que ela se sentava.<br />
Apolo era chamado Délio por ter nascido na ilha de Delos, e Pítio por ter morto a serpente Píton,<br />
que, em tempos, vivera nas cavernas do monte Parnaso. A luta foi dura, pois tratava-se de um<br />
monstro aterrador; mas, por fim, as suas flechas certeiras deram-lhe a vitória. O nome que,<br />
muitas vezes também, lhe é atribuído, o Lício, explica-se de modo diferente; para uns, significa<br />
Deus-Lobo, para outros, Deus da Luz ou ainda Deus da Lícia. Na Ilíada, é chamado o Smíntio, o<br />
Deus-Rato, mas não se sabe ao certo por que razão, se por proteger os ratos se por os destruir.<br />
Frequentemente era também o Deus-Sol. O seu outro nome, Febo, significa «brilhante» ou<br />
«cintilante». Mais exactamente, porém, o Deus-Sol era Hélio, filho do titã Hiperíon.<br />
Em Delfos, Apolo era um poder puramente benéfico, um elo entre os deuses e os homens,<br />
ajudando estes a conhecer a vontade divina, mostrando-lhes como haviam de pactuar com eles;<br />
era também o purificador, capaz de tornar imaculados até aqueles que se manchavam com o<br />
sangue dos próprios parentes. Não obstante, contam-se histórias acerca dele que o revelam<br />
impiedoso e cruel. Duas ideias se digladiavam no seu íntimo, como em todos os deuses, aliás:<br />
uma, eivada de primitivismo e crueldade, outra, bela e poética. No caso de Apolo, apenas uns<br />
laivos de primitivismo ficaram associados à personalidade que o caracteriza habitualmente.<br />
O loureiro era a sua árvore, e havia muitos animais que lhe eram consagrados, entre os quais se<br />
destacavam o delfim e o corvo.<br />
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ARTEMISA (DIANA) .<br />
Também chamada Cíntia, de acordo com o nome do lugar em que nascera, o monte Cinto, em<br />
Delos.<br />
Irmã gémea de Apolo, filha de Zeus e de Leto, era uma das três deusas virgens do Olimpo:<br />
Afrodite aureolada de oiro insufla amor a toda a criação.<br />
Não é capaz de dominar nem armar cilada a três corações: a pura donzela Vesta,<br />
Atena dos olhos cinzentos, que só se preocupa com a guerra e com os trabalhos dos artesãos,<br />
Artemisa, amante dos bosques e da caça nas montanhas.<br />
Era a Senhora da Floresta, Caçadora-Chefe dos Deuses, cargo um tanto estranho para ser<br />
desempenhado por uma mulher. Como boa caçadora que era, tinha o cuidado de preservar os<br />
animais jovens, sendo, portanto, a «protectora da juventude». Não obstante, devido a uma dessas<br />
espantosas contradições tão vulgares na mitologia, impediu que a armada grega navegasse rumo<br />
a Tróia enquanto esta não sacrificou em sua honra uma donzela.<br />
Em muitas outras histórias mostra-se igualmente feroz e vingativa. Por outro lado, quando as<br />
mulheres morriam subitamente, sem sofrimentos prolongados, dizia-se que tinham sido vítimas<br />
das suas setas de prata.<br />
Assim como Febo era o Sol, ela era a Lua, chamada Febe e Selene (Luna, em latim). Nenhum<br />
destes nomes, porém, lhe pertenciam originariamente. Febe era um titã, um dos deuses da<br />
primitiva geração, tal como Selene - uma deusa da Lua, realmente, mas não relacionada com<br />
Apolo. Era irmã de Hélio, o Deus-Sol, com quem se confundia Apolo.<br />
Nos poetas posteriores, Artemisa foi identificada com Hécate. É a «deusa que pode assumir três<br />
aspectos», Selene, no Céu, Artemisa, na Terra, Hécate, nos Infernos e na Terra, quando esta se<br />
encontra envolta em trevas. Hécate era a Deusa da Lua Nova, das noites de breu, em que a Lua<br />
não é visível. Como Deusa das Encruzilhadas, lugares que eram considerados fantasmagóricos,<br />
de magia nefasta, estava associada a tudo o que acontecia na escuridão. A divindade terrível.<br />
Hécate dos infernos<br />
Capaz de aniquilar toda a rebeldia.<br />
Escuta! Escuta! Os seus cães andam a ladrar pela cidade,<br />
Onde três caminhos se cruzam, ela lá está!<br />
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É uma estranha transformação da encantadora Caçadora desferindo as suas setas por toda a<br />
floresta, da Lua embelezando tudo à sua volta com o luar, da casta Deusa-Virgem para quem<br />
Quem quer que seja absolutamente casto de espírito<br />
Pode colher folhas e flores e frutos.<br />
Os impuros nunca.<br />
Através dela é revelada o mais vividamente possível a hesitação entre o bem e o mal, mais ou<br />
menos evidente em todas as divindades.<br />
O cipreste era-lhe consagrado, bem como todos os animais selvagens, mas muito em especial a<br />
corça.<br />
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AFRODITE (VÉNUS)<br />
A Deusa do Amor e da Beleza, que seduzia todos, tanto deuses como mortais; a deusa alegre,<br />
que ria ora docemente ora de modo trocista daqueles que os seus ardis haviam conquistado; a<br />
deusa irresistível, que até aos mais sensatos subtraia as faculdades mentais.<br />
Filha de Zeus e de Dione, segundo a Ilíada; em poemas posteriores, porém, afirma-se ter<br />
brotado da espuma do mar, sendo o seu nome explicado precisamente como «a que nasceu da<br />
espuma do mar». Aphros é o vocábulo grego que significa espuma. Este nascimento marítimo<br />
ocorreu perto da ilha de Citera, donde foi levada suavemente pela brisa para Chipre. Ambas as<br />
ilhas foram, desde então, consagradas à deusa., daí serem tão correntes as designações de<br />
Citereia e de Cípria.<br />
Um dos Hinos Homéricos, que a chama de «bela deusa dourada», fala-nos assim:<br />
O sopro do vento poente fê-la brotar<br />
Do sussurrante mar,<br />
Por sobre a delicada espuma a impeliu<br />
Para Chipre envolta; em ondas, a sua ilha.<br />
E as Horas engrinaldadas de oiro<br />
Receberam-na com júbilo.<br />
Envolveram-na em vestes imortais<br />
E foram levá-la aos deuses.<br />
Todos ficaram maravilhados quando contemplaram<br />
A Citereia coroada de violetas.<br />
Os Romanos escreveram sobre ela no mesmo tom. Quando Vénus aparece surge a própria<br />
beleza. Os ventos e as nuvens da tempestade desaparecem na presença dela; a terra vê-se<br />
ornamentada de belas flores; as ondas do mar riem; a deusa move-se envolta num halo de luz<br />
radiosa. Sem ela não há alegria nem ,beleza em parte alguma - é a imagem que os poetas mais<br />
se deleitam em apresentar.<br />
Esta, porem, não era a sua única faceta. É perfeitamente natural que, na Ilíada, cujo tema é a<br />
luta entre heróis, Afrodite não passe de uma figura apagada. Nesse poema ela é, com efeito, um<br />
ser brando, débil, que qualquer mortal não receia atacar. Noutras obras posteriores, no entanto,<br />
é normalmente traiçoeira e má, exercendo sobre os homens uma influência fatal e destruidora.<br />
Na grande maioria das histórias surge como mulher de Hefesto (Vulcano), o Deus da Forja,<br />
disforme coxo.<br />
O mirto era a sua árvore; a pomba a sua ave, e, por vezes, o pardal e o cisne.<br />
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pp. 41...<br />
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HERMES (MERCÚRIO)<br />
Zeus era seu pai e Maia, filha de Atlas, sua mãe. Devido a uma estátua que o representa e que se<br />
tornou muito popular, o aspecto deste deus é-nos muito mais familiar do que o de qualquer outro.<br />
Os seus movimentos eram graciosos e rápidos. Usava sandálias aladas; tinha asas também no<br />
chapéu coroado, bem como no bastão, o caduceu. Era o Mensageiro de Zeus, que voava «tão<br />
célere como o pensamento, para cumprir as suas ordens».<br />
De todos os deuses era ele o mais arguto e o mais astuto. De facto era o Chefe dos Ladrões;<br />
dera início à sua carreira ainda antes de completar um dia de vida.<br />
Nasceu ao despontar do dia<br />
E antes da noite cair já tinha roubado<br />
Os rebanhos de Apolo.<br />
Zeus obrigou-o a restituir tudo, e Hermes conseguiu o perdão de Apoio presenteando-o com a<br />
lira que acabara de inventar e que fizera com uma concha de tartaruga. Talvez houvesse<br />
qualquer relação entre essa sua história, muito antiga, e o facto de ser o Deus do Comércio e<br />
dos Mercados, o protector dos comerciantes.<br />
Em estranho contraste com esta ideia, Hermes é considerado também o solene guia dos mortos,<br />
o Mensageiro dos Deuses, que conduzia as almas ate à sua última morada.<br />
Este deus aparece mais frequentemente nos contos de mitologia do que qualquer outro.<br />
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pp. 357 - 362<br />
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A CASA DOS ATRIDAS<br />
A principal importância da história de Atreu e dos seus descendentes reside no facto de o poeta<br />
trágico do século V Ésquilo a ter utilizado como tema da trilogia A Oréstia, constituída pelas<br />
suas maiores peças: Agamémnon, As Coeforas e As Euménides. Esta obra não tem rival em<br />
toda a tragediografia grega. excepção feita às quatro peças de Sófocles, cujo assunto se<br />
concentra em Édipo e nos seus filhos. Píndaro, nos princípios do século V, narra a versão<br />
corrente do festim que Tântalo ofereceu aos deuses, protestando não ser verdadeiro. O castigo<br />
infligido a Tântalo e descrito várias vezes, primeiro, na Odisseia, donde foi extraído para a<br />
presente obra. A história de Anfião, tal como a de Níobe, foram buscar-se a Ovídeo, que é o<br />
único e contá-las na íntegra. Para a vitória de Pélope na corrida de quadrigas preferiu-se<br />
Apolodoro (séculos I ou 11 da era cristã), que nos legou o relato mais completo que chegou até<br />
nós. A história dos crimes de Atreu e de Tiestes, bem como de todos os factos que se lhes<br />
seguiram. foi baseada na Oréstia, de Ésquilo.<br />
A Casa dos Atridas é uma das mais célebres da mitologia. Agamémnon, que chefiou os Gregos<br />
em Tróia, pertencia a essa família e todos os seus parentes mais próximos, a mulher,<br />
Clitemnestra, os filhos, Ifigénia, Orestes e Electra, foram tão conhecidos como ele; o irmão,<br />
Menelau, foi marido de Helena, a causadora da Guerra de Tróia.<br />
Trata-se efectivamente de uma casa malfadada. A causa de todos os infortúnios parece ter sido<br />
um antepassado, um rei da Lídia chamado Tântalo, que, ao come- ter um acto de perversidade<br />
atroz, fez cair sobre si um dos mais terríveis castigos. Mas o pior foi que a maldição não o<br />
atingiu só a ele. O mal que ele originou prolongou-se após a sua morte; os seus descendentes<br />
também incorreram em actos reprováveis e foram por isso punidos. Pairava sobre a família como<br />
que uma obsessão maldita; os homens eram levados a pecar, por vezes contra vontade,<br />
acarretando sofrimento e morte tanto a inocentes como a culpados.<br />
TANTALO e NÍOBE<br />
Tântalo, como filho de Zeus, era muito mais considerado pelos deuses do que qualquer outro<br />
descendente mortal do Senhor do Olimpo - convidavam-no para a sua mesa, saboreava a<br />
ambrosia e o néctar, que só ele podia partilhar com os imortais. Mais ainda: honraram com a<br />
sua presença um banquete que Tântalo ofereceu no seu palácio e condescenderam em conviver<br />
com ele na Terra. Em troca desses favores, ele agiu de modo tão medonho que não houve ainda<br />
nenhum poeta que conseguisse explicar cabalmente a sua conduta. Mandou matar seu filho<br />
Pélope, cozinhá-lo num grande caldeirão e servi-lo aos deuses. Aparentemente tal acto teria<br />
sido consequência de uma paixão de ódio que nutria por eles e que o dispôs a sacrificar o filho,<br />
a fim de lhes fazer sentir, o horror de serem canibais; mas também se põe a hipótese de ter<br />
querido mostrar-lhes da maneira mais espantosa e chocante, sem dúvida, quão fácil era para ele<br />
desapontar as divindades temíveis, veneradas e humildemente adoradas. Com este escarnecer<br />
dos deuses e a sua desmedida autoconfiança, Tântalo nunca sonhou que os convidados<br />
descobrissem a espécie de alimento que lhes apresentava.<br />
Fora um louco! Os Olimpianos estavam a par do que se passava. Retiraram-se, pois, do<br />
banquete execrando e insurgiram-se contra o criminoso que o havia idealizado. O seu castigo ia<br />
ser de tal ordem, declararam, que ninguém, depois dele, ao ter conhecimento do sofrimento a<br />
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que fora condenado, ousaria insultá-los de novo. O superpecador foi colocado num poço, no<br />
Hades, mas sempre que na sua atormentadora sede se inclinava para beber não conseguia<br />
chegar à água, pois ela desaparecia, infiltrando-se no chão, enquanto ele se curvava; quando se<br />
levantava, lá aparecia a água novamente. Por sobre o poço pendiam árvores de fruto<br />
carregadas de pêras, de romãs, de maçãs rosadas, de doces figos. Todas as vezes que esticava a<br />
mão para apanhar um fruto o vento punha os ramos fora do seu alcance, fazendo-os subir muito<br />
alto nos ares. Assim ficou para a eternidade, a garganta imortal sempre sedenta, a fome no meio<br />
da abundância, incapaz de a satisfazer.<br />
Os deuses restituíram Pélope à vida, mas tiveram de lhe moldar um ombro de marfim. Uma das<br />
deusas, uns dizem que Deméter, outros, Tétis, teria comido inadvertidamente do repugnante<br />
manjar; no momento em que os membros do rapaz foram repostos no seu lugar, deu-se pela falta<br />
de um ombro. Esta história detestável parece ter sido transmitida de geração em geração em toda<br />
a sua forma brutal e crua, sem qualquer tentativa de aligeiramento; os gregos das épocas<br />
posteriores, no entanto, protestaram contra ela, pois não era do seu agrado. O poeta Píndaro<br />
chamou-lhe:<br />
Conto envolto em mentiras reluzentes contra a palavra da verdade.<br />
Que não se fale de actos de canibalismo entre os deuses bem-aventurados!<br />
Desde então, a vida de Pélope correu sem mais incidentes; foi o único descendente de Tântalo<br />
não marcado pelo infortúnio. Fez um casamento feliz, embora cortejasse a perigosa princesa<br />
Hipodamia, causa de muitas mortes; contudo, os homens não morriam propriamente por ela,<br />
mas por culpa de seu pai (Enumau). O rei tinha uma maravilhosa parelha de cavalos, superiores<br />
aos cavalos mortais, como é natural - tinham sido uma oferta de Ares. Não queria que a filha<br />
casasse e, sempre que um pretendente lhe vinha pedir a mão de Hipodamia, punha-o ao corrente<br />
de que teria de competir com ele para conseguir o seu intento - se os cavalos do hipotético noivo<br />
ganhassem, a princesa casaria com ele; caso contrário, o jovem seria obrigado a pagar com a<br />
própria vida a sua derrota. Muitos pretendentes encontraram, assim, a morte. Pélope, apesar de<br />
tudo, ousou realizar a prova. Tinha confiança nos seus cavalos, que, no seu caso, haviam sido<br />
presente de Posídon. Ganhou a corrida. Há uma versão, porém, segundo a qual Hipodamia<br />
parece ter tido maior influência neste triunfo do que propriamente os cavalos de Posídon - ou se<br />
apaixonou por Pélope ou pensou ter chegado a altura de pôr termo àquelas corridas de<br />
consequências trágicas. Teria, então, subornado o cocheiro da quadriga do pai, Mirtilo, para<br />
que a ajudasse. Arrancou para o efeito os raios que prendiam as rodas do carro real, e a<br />
vitória coube, sem qualquer dificuldade, a Pélope. Posteriormente, este matou Mírtilo, que, ao<br />
expirar, amaldiçoou o assassino; há quem perfilhe a ideia de que foi esta a causa das<br />
infelicidades que vieram a suceder-se na família. A maioria dos escritores, no entanto, e<br />
certamente com boas razões, partilha a opinião de que foi a malvadez de Tântalo a fonte das<br />
desgraças que caíram sobre os seus descendentes.<br />
(Níobe – a Pedra donde correm dois rios de água...)<br />
Nenhum deles sofreu maior maldição que sua filha Níobe e, contudo, a princípio parecia que os<br />
deuses lhe tinham reservado melhor sorte que a do irmão Pélope. Foi feliz no casamento; o<br />
marido, Anfião (filho de Zeus) , era um músico incomparável. Ele e seu irmão gémeo, Zeto,<br />
empreenderam a fortificação de Tebas, mandando erguer uma alta muralha em redor da cidade.<br />
Zeto, homem de grande força física, costumava censurar a negligência do irmão pelos desportos<br />
viris e o seu gosto pelas artes. Mas, no momento em que se pretendia arranjar pedra suficiente<br />
para a construção das muralhas, foi o músico e a sua arte que prestaram melhores ser viços,<br />
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suplantando, de longe, o forte atleta - arrancou sons tão arrebatadores à sua lira que as<br />
próprias rochas se moveram e o seguiram para Tebas.<br />
Anfião e Níobe reinaram com inteiro agrado de todos. Chegou a altura, porém, em que a rainha<br />
mostrou que a louca arrogância de Tântalo estava também latente em si. Devido à grande<br />
prosperidade de que desfrutava, considerava-se superior, crendo-se acima de tudo o que os<br />
mortais temem e veneram. Era de nascimento nobre e descendente de famílias abastadas e<br />
poderosas; tivera sete filhos, que se tornaram jovens valentes e sete filhas, as mais belas entre<br />
as belas - julgava-se, pois, com poder suficiente não apenas para atraiçoar os deuses, tal como<br />
seu pai, mas também para os desafiar abertamente.<br />
Invocou o povo de Tebas a venerá-la: «Queimam incenso em honra de Leto e, no entanto, que é<br />
ela ~ parada comigo? Teve apenas dois filhos, Apolo e Artemisa; eu tive sete vezes mais. Além<br />
disso, sou rainha; e ela, até chegar à minúscula Delos, o único lugar do mundo que consentiu<br />
em recebê-la, afinal, não passava de uma vagabunda sem lar! Sou feliz, forte e poderosa -<br />
suficientemente poderosa para lutar contra quem se me opuser, quer seja homem quer seja deus.<br />
Dediquem-me os sacrifícios que oferecem no templo de Leto, que, a partir de agora, passará a<br />
ser meu, e não dela!»<br />
As palavras insolentes pronunciadas com a consciência arrogante do poder chegavam sempre<br />
ao Céu e nunca deixavam de ser punidas. Apolo e Artemisa deslizaram rapidamente do Olimpo<br />
até Tebas e, à uma, o Deus do Arco e a caçadora divina, atirando com pontaria certeira,<br />
abateram os filhos e as filhas de Níobe. A rainha assistiu à mortandade demasiado angustiada<br />
para poder falar. Afundou-se no meio daqueles corpos jovens e fortes, tão cedo ceifados à vida;<br />
caiu imobilizada pela dor imensa, muda como uma pedra, o coração empedernido dentro do<br />
peito; apenas as lágrimas brotavam em torrentes contínuas. Foi transformada em pedra, que<br />
ficou húmida para a eternidade devido às lágrimas que derrama.<br />
Pélope foi pai de dois filhos, Atreu e Tiestes. A herança do mal também desceu sobre eles na sua<br />
máxima força. Tiestes apaixonou-se pela mulher do irmão conseguindo que ela faltasse ao<br />
cumprimento dos votos do casamento. Atreu descobriu e jurou vingar-se como ninguém até<br />
então. Matou os dois filhinhos do irmão, mandou-os mutilar membro a membro, cozinhar e<br />
servir ao pai. Quando Tiestes acabou Ide comer...<br />
Pobre miserável! Ao saber dó acto execrando,<br />
Deu um grito terrível e caiu por terra - cuspiu<br />
A carne que tragara; amaldiçoou aquela casa, chamando sobre ela<br />
Todos os males intoleráveis; a mesa. do banquete esmagou-se contra o chão.<br />
Atreu era rei. Tiestes não tinha quaisquer poderes. O crime atroz não foi vingado durante a vida<br />
do soberano; foram os filhos e os filhos dos filhos que vieram a sofrer.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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Ver também in<br />
MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. HOPE MONCRIEFF, Editorial Estampa /<br />
Círculo de Leitores, Lisboa, 1992<br />
AFRODITE – VÉNUS - a Deusa do amor que brotou do mar... p. 9<br />
HERMES – MERCÚRIO – pai de Myrtilis – p. 12<br />
ARES – MARTE – que ofereceu os cavalos a ENOMÃO, pai da princesa Hipodamia... p. 12<br />
POSEIDON – NEPTUNO – que ofereceu a quadriga a Pélope ou Pélops... p. 13<br />
«O mito conta uma história sagrada; relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, no<br />
tempo fabuloso das origens.»<br />
Mircea Eliade<br />
In MITOLOGIA CLÁSSICA – Guia Ilustrado – A. R. Hope Moncrieff – editorial Estampa /<br />
Círculo de Leitores, Lisboa, 1992<br />
"INTRODUÇÃO<br />
Este volume é uma versão abreviada da obra de A. R. Hope Moncrieff Classic Myth and Legend.<br />
Como afirma o autor no prefácio original, "trata das célebres ficções lendárias da Grécia<br />
Antiga que tantos temas e alusões proporcionaram aos autores modernos".<br />
Transmitidas por via oral de geração em geração durante milhares de anos, estas antigas<br />
histórias foram eventualmente postas por escrito e depois aproveitadas pelos poetas e<br />
dramaturgos gregos do último período, e assim transmitidas através dos séculos até nós.<br />
Hope Moncrieff declara que a sua tarefa foi "reproduzir as características principais desta<br />
mitologia, geralmente segundo a versão mais conhecida, mas por vezes tendo em conta o gosto<br />
dos leitores que não digeririam facilmente as grosserias que não ofendiam os ouvintes de outros<br />
tempos. Uma certa selecção ou supressão praticadas justificam-se pelo exemplo clássico; mas a<br />
intenção é, na medida do possível, apresentar o espírito grego tal como se revela nas suas<br />
famosas fábulas, e tornar familiares os nomes e caracteres tantas vezes citados em poesia, em<br />
oratória e na história".<br />
Não há dúvida de que a mitologia grega, com o seu vasto elenco de deuses e semideuses, heróis<br />
e mortais, ninfas dos bosques e das águas, monstros da terra e do mar, as alturas do Olimpo e<br />
as profundezas do Hades, muito deve ao génio e à imaginação dos Gregos. A própria tradição<br />
destas histórias remonta ao tempo em que ainda não tinham sido contadas pela primeira vez,<br />
isto é, a um passado pré-helénico.<br />
Os dois grandes feitos épicos da mitologia grega são evidentemente os relatados por Homero na<br />
sua Ilíada, onde descreve a guerra de Tróia, e na Odisseia, que conta as aventuras de Ulisses na<br />
sua perigosa viagem de regresso à pátria. Homero escreveu estas histórias no ano 800 a. C. -<br />
quatrocentos anos depois da guerra de Tróia. Extraídos de Homero e do seu contemporâneo<br />
Hesíodo, estes temas e muitos outros mitos clássicos de fontes desconhecidas foram relatados<br />
nas peças de Ésquilo e Sófocles, nas Metamorfoses de Ovídio, nas Vidas Paralelas de Plutarco,<br />
nas Odes de Píndaro e nas Descrições da Grécia de Pausânias, entre outras.<br />
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O resultado, escreve Hope Moncrieff, foi que "podemos encontrar feitos semelhantes atribuídos<br />
a personagens diferentes e versões diversas, por vezes contraditórias, do que parece ser a,<br />
mesma história. Claro que isto não é novo em mitologia. Os escritores clássicos que tinham de<br />
lidar com esta confusão de tradições eram mais ou menos livres para as "deturpar" segundo os<br />
seus próprios gostos e preconceitos... Hércules aparece como contemporâneo de muitos heróis,<br />
alguns dos quais deviam ser demasiado velhos ou demasiado jovens para terem alguma<br />
utilidade entre os Argonautas, de quem ele era companheiro de bordo".<br />
O estilo lírico de Hope Moncrieff nestas histórias faz-se eco do próprio lirismo e da poesia com<br />
que os mitos épicos eram originariamente tratados. Com toda a sua natureza fantástica e a<br />
ausência de incrudelidade que a sua leitura requer, são histórias cujos temas ainda hoje dizem<br />
muito - o esforço, a perseverança e o espírito aventureiro dos homens, o amor e o ódio, a<br />
bravura e a cobardia, o ciúme, a tentação, a vingança e até o mérito.<br />
Uma relação completa de todos os personae dramatis da mitologia grega não tem aqui<br />
cabimento. A lista que se segue apresenta, porém, catorze das personagens mais notáveis, com<br />
pormenores tão bem documentados, que são geralmente aceites como "factos". O parentesco, as<br />
características, os triunfos e os desaires dos protagonistas mais importantes são revelados à<br />
medida que as histórias individuais se desenrolam; mas primeiro vamos remeter-nos à narrativa<br />
de Hope Moncrieff na sua descrição do Panteão.<br />
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O Panteão dos 14 DEUSES mais conhecidos<br />
Os poetas reconhecem geralmente entre doze e dezasseis grandes deuses e deusas, cujo domínio<br />
sobre o homem e a natureza só é interrompido pelas suas próprias rixas. (No entanto,<br />
curvavam-se ocasionalmente perante um Destino vagamente imaginado como senhor de toda a<br />
vida, humana e sobrenatural.) A lista que se segue destas personagens divinas apresenta<br />
primeiro o seu nome principal e depois, entre parênteses, os nomes mais familiares da divindade<br />
latina.<br />
ZEUS (Júpiter, Jove) era o rei da terra e do ar e senhor supremo do Olimpo, mas nem mesmo<br />
ele estava livre da força do que tem de ser. Apresenta-se com um aspecto magnificente, de barba<br />
encaracolada, por vezes com uma coroa de folhas de carvalho, segurando nas mãos os raios<br />
com que flagelava os ímpios. Uma águia serve-o como ministro da sua vontade e tem como<br />
pagem ou copeiro Ganimedes, um rapaz tão belo que Zeus mandou-o raptar do monte Ida, para<br />
o fazer imortal no céu.<br />
HERA (Juno), esposa de Zeus, era a rainha legítima do Olimpo. Com o seu ciúme deu ao<br />
marido uma vida agitada. As suas outras características eram o orgulho e a arrogância, e<br />
sempre se mostrava pronta a ofender-se por qualquer desfeita da parte de deuses ou de homens.<br />
Tinha como criada Íris, o arco-íris, que levava as suas mensagens para a Terra. A filha Hebe<br />
servia de copeira, juntamente com Ganimedes, da mesa celestial.<br />
APOLO (entre os seus muitos pseudónimos Febo é o mais conhecido) era o mais belo e o mais<br />
amado dos habitantes do Olimpo. Ao lado de sua irmã Selene, a Lua, figura como Hélio, o Sol, e<br />
era também conhecido por Hiperíon. Era filho de Zeus e de Leto (Latona), que foi levada para<br />
Delos por causa do ciúme de Hera (Juno). Em virtude da contínua perseguição que esta<br />
impunha a sua mãe, Apolo foi criado por Témis e tão bem se desenvolveu neste cenário que, ao<br />
seu primeiro gole de néctar e ambrósia, rebentou os cueiros e surgiu como um jovem adulto que<br />
pedia a lira e o arco de prata com que é habitualmente representado.<br />
ARTEMÍSIA (Diana), irmã gémea de Apolo, também tinha vários pseudónimos. Um era o<br />
famoso Diana, dos naturais de Éfeso, cujo templo figurava entre as Sete Maravilhas; outro era a<br />
cruel deusa Tauris. A Artemísia da Arcádia era uma deusa da caça e da vida selvagem. Casta<br />
em excesso, o seu ciúme fatal era mais facilmente suscitado pela presunção dos mortais do que<br />
pelo amor.<br />
ATENA (Minerva) era outra deusa virgem, cujo pseudónimo, Palas, pode ter derivado de um<br />
herói ateniense com esse nome. O seu nome principal, contudo, mostra a sua afinidade com a<br />
cidade que a glorificou com o célebre Parténon. Supõe-se que brotou, adulta e armada, da<br />
cabeça do pai, Zeus. É muitas vezes representada com uma armadura e por isso passava por<br />
deusa da guerra; mas a sua verdadeira vocação era a fantasia, as artes e ofícios e os trabalhos<br />
manuais femininos. Os seus animais sagrados eram a serpente,o galo e a coruja.<br />
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AFRODITE (Vénus), a deusa do amor, era filha de Zeus segundo uma lenda, embora um velho<br />
mito diga que brotou do mar. O seu nome, "nascida da espuma”, confirma essa origem. Era<br />
dotada de suaves encantos e a posse da sua faixa ajudava a inspirar amor.<br />
CUPIDO (o Eros grego, mas mais conhecido pelo nome latino) era filho de Vénus. Poetas e<br />
artistas muito têm aproveitado este diabinho divertido, nu e alado, com os olhos por vezes<br />
vendados. A sua luz incendiava corações e as setas que disparava com descuidada malícia<br />
tinham umas vezes a ponta de ouro para despertar o coração, outras vezes de chumbo para<br />
fazer parar o palpitar do amor.<br />
HEFESTO (Vulcano) era o deus do fogo, nas suas aplicações industriais. Este sujeito coxo e<br />
feio fazia de bobo do Olimpo - o seu manquejar fazia com que os deuses mais elegantes<br />
desatassem em gargalhadas infindáveis. Grosseiro e negro como era, não havia dúvidas quanto<br />
à sua utilidade. Para os heróis do mito imaginou obras-primas como o escudo de Hércules, a<br />
armadura de Aquiles e o ceptro de Agamémnon. As suas oficinas situavam-se naturalmente em<br />
ilhas vulcânicas, onde os Ciclopes actuavam como ajudantes.<br />
ARES (Marte), filho de Zeus e de Hera, era o deus da guerra. Na mitologia grega, este atleta<br />
fanfarrão não faz grande figura, apresentando algo do mau génio e da estupidez selvagem que<br />
são naturalmente atribuídos aos gigantes lendários. Em Roma, Marte guindou-se a uma<br />
categoria mais elevada.<br />
HERMES (Mercúrio) era outro filho de Zeus. A sua função específica era a de mensageiro e<br />
arauto dos deuses, pelo que é representado como um jovem belo e ágil, com sandálias aladas e<br />
um chapéu de abas largas, também com asas. Hermes veio a ser considerado deus dos rebanhos<br />
e também do comércio e dos ladrões, ligação natural quando o gado era o padrão dos preços.<br />
Era também o guardião das estradas, das invenções inteligentes, dos jogos de azar e de uma<br />
quantidade de outros aspectos da vida quotidiana aparentemente não relacionados uns com os<br />
outros.<br />
POSEIDON (Neptuno), irmão de Zeus, era deus dos mares, debaixo dos quais possuía um<br />
maravilhoso palácio dourado com grutas enfeitadas de corais e de flores marinhas e iluminado<br />
por luzes fosforescentes. O seu ceptro era o tridente e movia-se num carro puxado por golfinhos,<br />
cavalos-marinhos ou outras criaturas do mar.<br />
PLUTÃO, senhor do mundo subterrâneo, era o mais temível dos deuses, imaginado como uma<br />
figura carrancuda sentada num trono de ébano ou guiando um carro puxado por corcéis negros<br />
como carvão. Brandia uma lança de duas pontas e entre os seus pertences havia um elmo que<br />
tinha o poder de lançar um feitiço de invisibilidade.<br />
DIONISO (Baco), filho de Zeus, era sempre jovem, belo e efeminado. Vestido com uma pele de<br />
pantera, tinha uma coroa de folhas de videira e cachos de uvas e, como ceptro, segurava um<br />
bastão entrelaçado de folhas de hera ou de videira. Veio para a Grécia com a cultura da vinha e<br />
trouxe consigo orgias orientais que também tinham a sua faceta religiosa.<br />
PLUTO, o deus da riqueza, era uma personagem diferente de Plutão. Os antigos acreditavam<br />
que Zeus o tinha cegado, e os poetas e os moralistas, transmitindo a história ao longo dos<br />
tempos, continuaram a fazer notar que a riqueza nem sempre acompanha o mérito.<br />
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Outras FONTES consultadas:<br />
in http://mithos.cys.com.br/<br />
Mirtilo<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Filho de Mercúrio e de Mirto. Sendo cocheiro de Enomáo, traiu-o numa corrida em proveito<br />
de Penélope (ver PÉLOPE ou PÉLOPS) e, como castigo, foi precipitado no mar, donde foi<br />
transportado para o céu e colocado na constelação de Cocheiro.<br />
Ver A MITOLOGIA - Edith Hamilton p. 359... Era Cocheiro do pai da princesa<br />
Hipodamia e triu o rei em favor de Pélope o irmão de Niobe, filhos de Tântalo...<br />
Tântalo<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Rei da Lída, filho de Júpiter e da ninfa Plota. Por haver servido aos deuses os membros do<br />
próprio filho ( Pélops ), e roubar da mesa dos deuses o néctar e a ambrosia, foi condenado<br />
a morrer de fome e sede: precipitou-se no Tártaro, e as águas fugiam aos seus lábios;<br />
árvores repletas de frutos pendiam sobre a sua cabeça; ele, faminto, estendia as mãos<br />
crispadas, para apanhá-los, e o vento os arrebatava.<br />
Niobe<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Rainha frígia, filha de Tântalo, irmã de Pélops mulher de Amphion, foi mãe de sete filhos e<br />
sete filhas. Orgulhosa dessa sua fecundidade, zombou de Latona, que só teve um casal de<br />
gêmeos: Apolo e Diana; estes para vingarem sua mãe, mataram, a flechadas, todos os<br />
filhos de Niobe. A infeliz mãe, desesperada de dor e fechada em profundo mutismo, pediu a<br />
Júpiter que a mudasse em rochedo, e, em seguida, encaminhou-se para a montanha Sípile,<br />
onde as rochas cresceram ao redor do seu corpo, envolvendo-a em uma bainha de pedra;<br />
neste estado, um turbilhão arrebatou-a para a Lídia, e a depôs sobre o cimo de uma<br />
montanha, onde ela derrama lágrimas que, perpetuamente, correm de um bloco de<br />
mármore.<br />
Latona<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Filha do Céu e de Febe, foi amada de Júpiter, de quem teve Apolo e Diana. Juno, enciumada<br />
por esse desvio do seu esposo, mandou a serpente Piton perseguir a sua rival, e ordenou à<br />
Terra que não lhe desse abrigo. Nas vésperas de dar à luz Apolo, ela debalde percorria o<br />
mundo à procura de asilo, quando, já exausta e desanimada, Netuno veio em seu auxílio e,<br />
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fazendo uma rocha, com seu tridente, fez surgir a ilha de Delos, uma das Cícladas, onde<br />
nasceu o luminoso Ser. Latona personifica a noite, da qual parece nascer a aurora.<br />
Apolo<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Febo dos latinos. Divindade solar, filho de Júpiter e de Latona. É concebido como irmão de<br />
Diana, porque ambos, alternativamente, iluminam o mundo. Quando Apolo ( o Sol )<br />
desaparece no horizonte, Diana ( a Lua ) resplandece no céu. Latona, ao sentir aproximarse<br />
o momento de pôr no mundo o deus de cabeleira loura e de radiante beleza, saiu pelo<br />
mundo a fora, à procura de um asilo, e não o encontrava, porque Juno havia maldosamente<br />
ordenado à Terra que não lhe desse abrigo. Mas Netuno, fendendo uma rocha com o seu<br />
tridente, fez nascer a ilha de Delos, para onde Latona, transformada em codorniz, se<br />
transportou.<br />
Aí chegando, vários cisnes de imaculada brancura vieram saudá-la, ruflando as asas e<br />
sacudindo as lindas plumagens; a terra cobriu-se de flores; o mar e as montanhas,<br />
douradas pela luz solar, pareciam revestir-se de um manto de púrpura, e a criança veio ao<br />
mundo. Temis, descendo do Olimpo, chegou aos lábios do recém-nascido o néctar e a<br />
ambrosia. Mal Apolo saboreou esses licores da imortalidade, as faixas que o envolviam, bem<br />
como o cinto de ouro que cingia a sua cintura, se desataram, e ele, "entrando no seu<br />
brilhante carro, iniciou o giro através do esplendor do céu". Apenas com quatro dias de<br />
existência, já manifestou o seu poder, atravessando, com suas infalíveis flechas, o horrendo<br />
dragão Piton, tremendo flagelo de Parnaso. Amou a ninfa Coronis, que o tornou pai de<br />
Esculápio; e, como esse seu filho fosse fulminado por Júpiter ( vide Esculápio ), Apolo<br />
matou, a flechadas, os cíclopes que forjaram o raio fatal. Por este ato homicida, foi ele<br />
condenado ao exílio na terra, onde se entregou, durante nove anos, ao serviço de Admeto,<br />
rei da Tessália, cujo rebanho passou a apascentar. Certa vez, quando ali se achava,<br />
surpreendeu na solidão de um bosque, a colher flores, a formosa Dafne, filha de Gea. Por<br />
ela se apaixonando, tentou possuí-la: mas a donzela, rápida como uma corsa, abriu em<br />
desabrida carreira, e estava quase a ser alcançada, já sentia em suas faces o hálito<br />
escaldante do seu perseguidor, quando, a um supremo grito, a sua mãe ( a terra ) abriu o<br />
seio e a acolheu. Amou e foi amado por Jacinto, filho de Amiclos. Divertia-se com este<br />
mancebo, no jogo de arremesso de disco, quando o maldoso Zefiro, movido pelo ciúme,<br />
desviou, com seu sopro, a pesada massa de ferro, levando-a a vitimar o amigo. Apolo,<br />
cheio de dor, transformou-o na flor jacinto.<br />
Sendo Apolo o deus da claridade diurna, os gregos, para explicarem os dias brumosos do<br />
inverno, concebem-no como um deus viajante que, temporariamente, abandona o santuário<br />
grego, para onde torna na primavera. Além disso, é Apolo deus dos oráculos, da poesia, da<br />
medicina, da arte, dos pastores, do dia, da música e da dança. Com sua lira, preside o coro<br />
das musas e das graças e, no Olimpo, diverte os imortais. Tendo Mársias ousado rivalizar<br />
com a sua lira, foi por ele esfolado vivo ( vide Mársias ). Castigou o rei Midas, com orelhas<br />
de burro, por haver votado contra ele em concurso musical. Entre os seus inúmeros<br />
templos, os mais célebres foram localizados em Delfos, Leocotoe, Dafne, Clitia, etc. Eramlhe<br />
consagrados: o galo, o gavião e a oliveira. Os artistas representam-no com uma lira na<br />
mão, rodeado de instrumentos própios das artes; ou ainda, sobre um coche tirado por<br />
cavalos, correndo o zodíaco.<br />
Venus<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Ver Mirto como árvore e Mãe de Myrtilis??? in Edith Hamilton 358...<br />
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Divindade romana da Beleza, dos amores, da energia reprodutra, da volúpia e da vida<br />
universal, filha de Júpiter e de Dionéa, ou do Céu e do Dia, esposa de Vulcano, e mãe de<br />
Eros ( o Amor ). Os gregos chamam-na Afrodite, que quer dizer: " nascida de espumas ".<br />
Chamam-na também Anadyomina, que significa: " aquela que sobe, saindo das vagas ".<br />
Narra-se da seguinte forma a lenda do seu nascimento: Urano, tendo aversão aos seus<br />
filhos, havidos de Gea, encerrava-os no Tártaro. Gea, revoltando-se contra esse proceder,<br />
deliberou vingar-se: fabricou então uma foice, com metal tirado do seu seio, e entregou-a a<br />
Cronos que, assim armado, se pôs de emboscada e, de surpresa, decepou-lhe os orgãos<br />
sexuais. O sangue vertido, caindo sobre a terra, deu origem às fúrias e aos gigantes; mas<br />
algumas gotas caíram no mar e, sacudidas pelas ondas, formaram um floco de espuma<br />
nacarada que, banhado pelos fulgurantes raios do sol, deu nascimento a uma encantadora<br />
jovem de arrebatadora beleza, cuja dourada cabeleira flutuava ao sopro da brisa. Os tritões<br />
e demais divindades do mar cercaram-na, envolveram em véus o seu cândido corpo, e<br />
depositaram-na sobre uma nacarada concha marinha, enquanto dois zéfiros a conduziram<br />
até a ilha de Chipre e a entregaram aos cuidados das horas e das graças que, por sua vez,<br />
a fizeram subir para um carro de alabastro, tirado por cândidas pombas, e a transportaram<br />
para o Olimpo, onde os deuses, encantados com a sua fascinante formosura, proclamaramna<br />
rainha da beleza. Com a sua presença, toda a natureza sorria, os ventos serenavam e as<br />
ondas se acalmavam. Possuía um cinto mágico, dotado do poder de sedução e de encanto,<br />
Esse precioso talismã esteve em mãos de Juno, que Io pedira emprestado para atrair ao<br />
leito o volúvel esposo. Venus, tendo desposado Vulcano, o feio e disforme deus ferreiro,<br />
deixou-se enamorar por outros: Obteve de Júpiter permissão para que Adonis, morto por<br />
um javali, saísse dos infernos para passar junto dela quatro meses de cada ano. Vemos em<br />
Adonis uma representação alegórica da Natureza, que se apresenta bela e fecunda, durante<br />
os quatro meses primaveris para, em seguida, aparentar fenecimento. Venus amou ainda<br />
Anchises, de cuja ligação nasceu Enéas. Manteve relações adulterinas com Marte, até que,<br />
surpreendida e denunciada pelo Sol, foi castigada pelo esposo, que a apanhou, com o<br />
amante, em sua rede maravilhosa que armava no seu leito, e expôs ambos à irrisão dos<br />
deuses ( vide Marte ). Dessa união, nasceu Eros ou Cupido, o irrequieto deus do amor.<br />
Amou tambem Baco, de quem houve Príapo. Tendo Venus saído nua do seio das ondas, é,<br />
na maioria das vezes, representada com o pé sobre uma tartaruga, ou uma concha<br />
marinha, na simples e desataviada beleza que trazia ao nascer. Elevaram-lhe templos em<br />
Amatonte ( ilha de Chipre ), em Pafos, na ilha Cítera, etc. Daí os seus nomes: Chipris, Páfia,<br />
Citérea, etc. Foi também chamada Dionéa, como sua mãe.<br />
Zeus<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Júpiter dos latinos, Osíris dos egípcios e Amon do resto da África, filho de Cronos ( Saturno<br />
) e de Rea. Deus do raio do trovão, supremo rei do Olimpo, senhor do mundo e pai dos<br />
deuses e dos homens, agita o universo com um simples movimento de sua cabeça. Contanos<br />
a lenda que seu pai, símbolo do tempo, que devora tudo o que cria, obteve, do irmão<br />
mais velho Titão, a desistência dos direitos da progenitura, que lhe assegurava o império do<br />
universo, sob condição dele ir eliminando ( devorando-os ) todos os seus filhos varões que<br />
fossem nascendo da sua esposa Rea. Destarte, tais direitos, futuramente, se perpetuariam<br />
nos descendentes de Titão. Foi Zeus o único que escapou, graças às precauções de sua mãe<br />
que, ao sentí-lo estremecer nas entranhas, desceu do céu e encaminhou-se para um<br />
profundo vale, onde deu à luz o divino ser, e entregou aos cuidados de uma ninfa que o<br />
levou para a ilha de Creta e o ocultou em uma caverna, cuja entrada era velada por<br />
sombria vegetação. Em seguida, apresentou ao esposo uma enorme pedra envolta em<br />
cueiros, fazendo constar ser o recém-nascido. Iludido, Cronos devorou a pedra. No seu<br />
esconderijo, Zeus cresceu alimentado com o leite da cabra Amaltéa, com o mel que as<br />
abelhas lhe ofereciam e com ambrosias que as pombas traziam, enquanto uma linda águia<br />
oferecia-lhe o néctar, licor da imortalidade colhido numa fonte divina; as ninfas Adrastéia e<br />
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Ida vinha distraí-lo, e os coribantes ou curetas dançavam em torno dele, e abafavam seus<br />
vagidos com entrechocar de espadas, afim de que não despertassem a mais leve suspeita<br />
paterna. Tornando-se adulto, Zeus saiu da caverna e, a conselho da deusa Metis ( a<br />
Prudênica ), a quem se associou, obrigou o pai a ingerir uma beberagem, cujo efeito foi de<br />
fazê-lo vomitar a pedra e, em seguida, os seus irmãos Netuno e Plutão, e o destronou. Zeus<br />
iniciou, daí, o seu reinado no Olimpo; mas como os titãs não quisessem se submeter ao seu<br />
império e, sobrepondo o monte Pélion ao Ossa, pretendessem escalar o Olimpo, teve ele<br />
necessidade de eliminá-los; dardejando relâmpagos e raios, auxiliados por seus irmãos<br />
Netuno e Plutão, pelos cíclopes e por três dos gigantes de cinqüenta cabeças e cem braços (<br />
Egeon, Coto e Giges ), deu-lhes então renhido combate, no qual montanhas e rochedos<br />
eram arremessados, de parte a parte, formando novas montanhas, ao caírem na terra, ou<br />
semeando ilhas, quando precipitadas no mar. O vestígio deixado por essa luta épica é o<br />
panorama caótico que a natureza nos oferece. Completando a sua obra, Zeus encadeou,<br />
sob a massa do Etna e de outros vulcões, os últimos dos seus adversários: Tifeu, demônio<br />
do furacão, e os gigantes Encelado, Hiberbios, Efialto e Políbotes. Daí, os gregos explicam<br />
as freqüentes convulsões subterrâneas e os tremores de terra. Uma vez consolidado o seu<br />
poder, Zeus partilhou o universo com seus irmãos, cabendo-lhe o céu; a Netuno, o mar; e a<br />
Plutão, os infernos. Zeus teve muitas mulheres e inúmera prole: primeiramente, desposou<br />
Metis, a personificação da sabedoria. Querendo o poeta significar que ao poder de Zeus<br />
estava ligada a sabedoria, idealizou haver ele encerrado Metis no seio, assimilando-a e<br />
gerando Minerva. Chegado o tempo da gestação, ordenou a Vulcano que vibrasse, sobre a<br />
sua cabeça um profundo golpe de machado. A arma brandiu, e da divina fronte surgiu a<br />
deusa Athené ( Minerva ) vestida de armaduras guerreiras. Em seguida, Zeus teve por<br />
esposa Temis, a deusa da justiça, de quem houve as horas e as parcas. Da titanidade<br />
Mnemósine, deusa da memória, Zeus teve as nove musas; da oceânide Eurimone, as<br />
graças; de Demeter, Prosérpina; de Leto, ou Latona, Apolo e Diana; de Alcmene, Herácles;<br />
de Dione, a bela Afrodite; de Sêmele, Dionísio; e de Maia, Hermes. Metamorfoseado em<br />
touro, Zeus raptou Europa, de quem houve Minos e Radamanto, os juízes dos infernos.<br />
Finalmente, mudado em chuva de ouro, fecundou Danae, de quem teve Perseu. Os artistas<br />
representam-no sob aspecto majestoso, com barba espessa, cabeleira basta, sentado em<br />
seu trono de ouro ou de marfim, segurando o raio, com mão direita, e o cetro com a<br />
esquerda. Aos seus pés, vê-se a águia raptora de Ganímedes com as asas abertas. Muitas<br />
outras representações têm sido idealizadas pela fértil imaginação dos artistas.<br />
Diana<br />
Mitologia Greco-Romana<br />
Divindade romana, Artemis dos gregos, filha de Júpiter e de Latona, irmã mais velha de<br />
Apolo, nasceu em Delos; tem, no céu, os nomes de Lua e Febe e, nos infernos, o de Hécate.<br />
Deusa da Caça e da serena luz, é Diana a mais pura e casta das deusas e, como tal, tem<br />
sido fonte inesgotável da sublime inspiração dos artistas. Seu pai armou-a de flechas, deulhe<br />
uma corte de ninfas, e fê-la rainha dos bosques. Como a luz prateada da lua percorre<br />
todos os recantos dos prados, montes e vales, é Diana concebida como uma infatigável<br />
caçadora. Costumava banhar-se nas águas das fontes cristalinas; numa das vezes, tendo<br />
sido surpreendida pelo caçador Acteon que, ocasionalmente, para ali se dirigiu, afim de<br />
saciar a sede, transformou-o em veado, e fê-lo vítima da voracidade da própria matilha.<br />
Outra lenda nos conta que, apesar do seu voto de castidade, tendo ela se apaixonado,<br />
perdidamente, pelo jovem Orion, e se dispondo a consorciá-lo, o seu irmão Apolo impediu o<br />
enlace, mediante uma grande perfídia: Achando-se em uma praia, em sua companhia,<br />
desafiou-a a atingir, com a sua flecha, um ponto negro que indicava a tona da água, e que<br />
mal se distinguia, devido a grande distância. Diana, toda vaidosa, prontamente retesou o<br />
arco e atingiu o alvo, que logo desapareceu no abismo no mar, fazendo-se substituir por<br />
espumas ensangüentadas. Era Orion que ali nadava. Ao saber do desastre, Diana, cheia de<br />
desespero, conseguiu, do pai, que a vítima fosse transformada em constelação. Sob o nome<br />
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de Selene, apaixonou-se pelo jovem pastor Eudimião, a quem ia visitar todas as noites.<br />
Raptou Ifigênia no altar do sacrifício fazendo-a substituir por uma novilha ou uma cerva. É<br />
representada, como caçadora que é, vestida de túnica, calçada de coturno, trazendo aljava<br />
sobre a espádua, um arco na mão, um cão ao seu lado. Outras vezes vêmo-la<br />
acompanhada das suas ninfas, tendo a fronte ornada de um crescente. Representam-na<br />
ainda: ora no banho, ora em atitude de repouso, recostada a um veado, acompanhada de<br />
dois cães; ora em um carro tirado por corças, trazendo sempre o seu arco e aljava cheia de<br />
flechas. Há quem a represente com três cabeças de animais - uma de cavalo, a segunda de<br />
mulher e a terceira de cão; ou ainda - de touro, de cão e de leão. Sob este aspecto, era<br />
Diana a deusa triforme, adorada sob o nome de Trívia e guarda das encruzilhadas. Teve<br />
Diana o seu mais famoso templo em Efeso, considerado como uma das sete maravilhas do<br />
mundo.<br />
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In http://www.olimpo.hpg.ig.com.br/ares.htm<br />
PÉLOPE E HIPODÂMIA – ( e o papel de MIRTILIS...)<br />
Mas a chegada de Pélope à Elida veio terminar com a história de derrotas mortais.<br />
Pélope era o filho de Tântalo, a quem este tentou oferecer como manjar insultante aos<br />
deuses, fato pelo qual Tântalo foi castigado eternamente, enquanto o inocente Pélope<br />
era devolvido à vida por eles, após ser recomposto quase totalmente. Após o incidente,<br />
o jovem protegido dos deuses chegou às terras de Enomau e apaixonou-se pela bela<br />
Hipodâmia. Como era natural, o rei desafiou-o à mortal corrida e o jovem, sentindo-se<br />
acompanhado pela boa vontade divina, aceitou o desafio. Há quem diz que Pélope<br />
contava com uns cavalos ainda melhores, oferecidos por Possêidon, e a melhor<br />
qualidade dos corcéis foi a causa exclusiva do seu triunfo; há outros que preferem a<br />
versão do amor da princesa, e por isso asseguram que foi Hipodâmia quem decidiu<br />
terminar com a sanha do rei Enomau, que se negava a aceitar a possibilidade de ser o<br />
sogro, e preferia evitar o laço político potencial, atuando como um pai muito ciumento.<br />
Hipodâmia, farta de ter que resignar-se a ver desaparecer na fossa tantos admiradores<br />
valentes, sem chegar a desfrutá-los, inventou uma solução definitiva ao seu problema,<br />
fazendo com que um suborno chegasse a Mirtilo, moço de cavalariça do rei, para que<br />
este atentasse contra Enomau, deixando o eixo do carro real quase partido ao meio. A<br />
corrida começou e o carro real ficou de fora, sem nenhuma possibilidade de chegar,<br />
embora fosse o último, à meta. Para rematar a história, conta-se que Pélope deu morte<br />
a Mirto, não sem que este o maldissesse antes de morrer. Resulta trágico que Mirto<br />
morresse pelas mãos de quem tinha ajudado a viver, apesar de ter sido ele<br />
responsável do seu triunfo, mas isto pode ser interpretado como outro desses fatos<br />
infelizes que trouxeram a desgraça a toda a estirpe de Tântalo e que vêm justificar<br />
ainda mais o infortúnio do clã. O que se pode dizer com certeza é que o sanguinário e<br />
implacável deus do sofrimento alheio, Ares, embora só o fosse por intermédio do<br />
fracasso do seu amigo Enomau, também terminou a aventura numa má situação, dado<br />
que a derrota desse cúmplice era -em boa medida- também uma derrota própria. E<br />
sem nenhum gênero de dúvida, os gregos colocavam a prenda de Ares num lugar<br />
proeminente da lenda de Hipodâmia, para que se pudesse claramente ver a classe de<br />
indivíduo celestial que era o deus próprio das guerras.<br />
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CONTO 1 – A COMADRE MORTE<br />
ANX. 3.2 – CONTO/s<br />
In CONTOS POPUARES PORTUGU<strong>ESE</strong>S - inéditos – estudo Coordenação e<br />
Classificação – Alda da Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. I<br />
- Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação<br />
Científica, Lisboa, 1984, pp. 239 – 240<br />
n.º 157<br />
157 [A COMADRE MORTE]<br />
Dois casais vizinhos um do outro, dôs compadres e qualquer deles tinham um filho. De manêra<br />
que assim que apareceu a mulher embaraçada dum, outra vez disse:<br />
- Agora, nã sê onde hê-de ir convidar padrinhos, quem me faça o mê filho<br />
cristão.<br />
O filho, isso queria ele.<br />
- Eu vou por esse mundo a fora. A premêra pessoa que encontrar.<br />
E foi.<br />
Encontrou uma velhota (Essa teve um menino, essa mulher), encontrou uma<br />
velhota e disse-lhe:<br />
- Ó comadre, vossemecê quer-me fazer um favor? Fazer-me um filho<br />
cristão?<br />
- Sim, senhor.<br />
Antão, pôs-le, pôs ó afilhado o «Pouco-Juízo». Más tarde diz o compadre:<br />
- Antão, já baptizou o sê filho? - Já, sim, senhor.<br />
- Antão, como é que, quem sempre convidou alguém? - Foi a premêra<br />
pessoa qu'encontrei.<br />
- Ora, e a minha agora tá embaraçada tamém, e ê faço o mesmo. E a<br />
premêra pessoa qu'encontrar, se vierem bem, convido.<br />
Teve uma menina. Foi... encontrou a dita velhota. Disse-lhe: - Antão, querme<br />
fazer um favor? - Sim, senhora.<br />
Baptizou-le a filha, pôs-le a «Pouca-Vergonha».<br />
De manêra qu'era o «Pouco-JuÍzo» e a «Pouca-Vergonha». Casaram um<br />
com o outro e arrinjaram uma vidinha boa, viviam bem. Viviam bem. De<br />
manêra que um dia, belo dia, pareceu-lhe a madrinha o pé, em casa.<br />
Grande alegria com a visita da madrinha.<br />
- E vai já matar um pinrum - disse o homem à mulher.<br />
- Matar um pinrum? - diz-le ela - Não sabes o que venho fazer, afilhado?<br />
Venho-te buscar, qu'eu sou a Morte.<br />
- Nã me diga?! Uma vida tã boa qu'eu tenho e um homem novo! Antão, que<br />
jêto tinha isso?<br />
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- Nã sê, isto nã é lá por idades. Tens que, tens que ir. calhou-te à tua vez.<br />
Tomou o desgosto, mas ó depôji foi o homem, disse:<br />
- Venha cá. Quero le mostrar aqui o prédio qu'ê mandei fezêri...<br />
E tinha um alçapão por baxo do solo e empurrou a Morte. Diz a Morte:<br />
- Nã morre ninguém e é já munta famila. S. Pedro vêo e disse pra soltar a<br />
morte.<br />
- Não, qu'ela quer-me matar e, atão, nã a solto. Voltou ó Céu e disse:<br />
- O Pouco-Juízo nã solta a morte, nã quéri. O Divino Mestre diz:<br />
- Vai lá e diz-le que eu que le dou quenhentos anos de vida. Vêo ele outra<br />
vez.<br />
- O Divino Mestre manda dezer que le dá quenhentos anos, que le soltes a<br />
Morte.<br />
-Não, não quero, nã quero. Olhe! Voltou ó Céu e disse:<br />
- O Pouco-Juízo diz que nã solta a morte. Por modo que ó fim de quenhentos<br />
anos, ela sempre o mata.<br />
- Bom, antão, vai lá e diz-le qu'é interno. Veio ao Mundo outra vez e dissele:<br />
- O Divino Mestre diz qu'és interno más a tua mulher, que soltes a Morte.<br />
E, antão, soltou-a e deu a matar, antão, a família. E por isso o Pouco-Juízo e<br />
a Pouca-Vergonha não morre. Esses nã morrem. Existem sempre.<br />
[José Raposo, 77 anos de idade, alfaiate, natural de Facões, f. de S. João<br />
dos Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade,<br />
professora primária. Ano de recolha: 1976].<br />
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ANX. 3.2 – CONTO/s<br />
CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA<br />
In CONTOS POPUARES PORTUGU<strong>ESE</strong>S inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da<br />
Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto<br />
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 409 – 410<br />
620 [MAIS FACILIDADE DE ESCOLHA]<br />
Nas proximidades duma escola, uma menina e um menino também nas proximidades da mesma escola, que se<br />
juntavam a meio caminho, aonde havia duas veredas, que se juntavam no mesmo caminho, nas proximidades da<br />
escola.<br />
Pr'àli brincavam, pr'àli se entretinham. Às vezes, quando se demoravam e coisa e tal... Mas a<br />
menina, quando chegava a casa, só tinha em casa, quer dezer, a mãe e a avó, não tinha mais<br />
ninguém. E a mãe perguntava-lhe assim:<br />
- Menina, minha filha, atão, o menino além da vezinha que diz, quando se juntam ali, no<br />
barranco, quando brincam ali?<br />
- Ora, ele não diz nada.<br />
- Atão, e tu o que é que lhe dizes?<br />
- Ora, eu digo-lhe que tenho aqui umas rendinhas e ele só me responde que não tem rendinhas,<br />
mas que tem outra coisa.<br />
-Atão, diga lá..:<br />
- Ora, tenho vergonha de dezer..., vozinha e mãezinha.<br />
- Atão, diga lá.<br />
- Ora, ele disse-me assim: «Que tem ali uma pichinha». Diz-lhe a mãe assim para ela:<br />
- Pois, atão, minha filha, porte-se bem, veja se pode concluir a escola, que, quando for uma<br />
mulher, há-de ganhar, se se portar bem e tomar juízo. Aprenda bem as suas letrinhas e essa<br />
coisa toda, que se [se] portar bem e tomar juízo há-de ganhar, quando for mulher, há-de ganhar<br />
uma pichinha, muito boa.<br />
Responde-lhe a avó assim, porque era solteira, e nã tinha possuído marido<br />
Diz-lhe ela:<br />
- Olha, filha, e, se tu te portares mal, se não tomares juízo, ainda melhor escapas: tens aonde<br />
escolhas.<br />
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos<br />
Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja, 61 anos. Colector: Adélia Grade, professora primária.<br />
Ano de recolha: 1976].<br />
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ANX. 3.2 – CONTO/s<br />
CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR<br />
In CONTOS POPUARES PORTUGU<strong>ESE</strong>S inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da<br />
Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto<br />
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 418 – 421 Nº 633<br />
633<br />
[AS PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR]<br />
Numa escola, numa escola primária, aonde se juntavam três vezinhos, ali do mesmo sítio, que<br />
um, um deles, filho duns senhores muito ricos, o outro filho doutros assim mais remediados, um<br />
bocadito mais baixos, e o outro filho dum pobrezinho, muito pobrezinho. E, atão, acontece o<br />
seguinte. Em qu'eles juntavam-se, antes de chegar à escola, a brincar, qualquer caminho,<br />
qualquer motivo e tal, e que, um dia, faltaram à escola. Ora, o senhor professor, no dia seguinte,<br />
chamou-os à atenção e perguntando-lhe assim:<br />
- Por que motivo é que os meninos faltaram ontem à escola? E eles ficaram-se. Diz ele assim:<br />
- Pois vocês, amanhã, trazem-me a resposta por que motivo é que faltaram ontem à escola.<br />
Os meninos vêm de lá. À noite perguntaram às mães e tal... mas... ora... aquilo, quando lá<br />
chegaram, só quem se lembrava era o filho dos senhores mais ricos, é que se lembrava. Os<br />
outros já se nã lembravam daquilo que haviam de dizer. E, atão, basearam-se uns noutros. Diz o<br />
senhor professor assim prós meninos. Chamou-os todos à atenção: «Por que motivo que os<br />
meninos, tragam-me lá a resposta e tal dêem-me lá a resposta».<br />
Diz o filho dos senhores mais ricos, diz assim:<br />
- É... tal, Senhor Professor, eu faltei à escola, porque a minha mãe teve um menino.<br />
Diz ele:<br />
- Ah, sim, 'tá bem: a sua mãe teve um menino.<br />
Virou-se além, pró mais, outro a seguir, filho do outro mais rico, remediado, a seguir, a descer<br />
de escala. Perguntando, diz... e tal...<br />
- A minha mãe também teve um menino.<br />
Porque ele nã se lembrava já e disse o mesmo que o outro disse.<br />
- Bom, 'tá bem, a sua mãe teve um menino. Sim, muito bem. Atão e agora...<br />
Voltou-se além, procurou o outro, mais desgraçadinho, mais pobrezinho, perguntou-lhe:<br />
-Atão e o menino?<br />
Diz ele assim:<br />
- Oh, a minha mãe também teve um menino.<br />
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Diz ele:<br />
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- Bom, atão, 'tá bem. Atão, olhe.<br />
O senhor professor olhou pra eles, mostrou-lhe uma nota de quinhentos escudos e disse assim:<br />
-Tenho aqui uma nota de quinhentos escudos pra dar a qualquer dos meninos, que diga a<br />
resposta mais concreta amanhã, quando eu lhe fazer uma pergunta. Bem, têm-me que dizer<br />
donde é que veio o seu menino. Bom, donde vieram os seus meninos, qu'a mãe teve.<br />
Bem, ora passado isto, os meninos regressaram à sua casa. Começa o rico, filho do rico<br />
perguntando lá os pais.<br />
- Atão, ó mãe, e talo senhor professor zangou-se, coitado. Dá-nos quinhentos escudos, se eu<br />
desser lá donde é que veio o menino, que eu tinha dito que a mãe tinha um menino, quando eu<br />
tinha faltado à escola.<br />
Diz ela:<br />
- Ora, diz-Ihe que o menino que veio da Alemanha.<br />
- Tá bem.<br />
Ora, na mesma altura, estava o filho do remediado, o outro rico a seguir, a descer (Não é da<br />
classe mais baixa), a perguntar à mãe. E lá disse que tinha que dar aquela resposta concreta. E<br />
diz a mãe assim:<br />
- Ora, diz-lhe que o menino que veio dali, da Espanha.<br />
Bom, deixemos isto. Estava cá o filho do pobrezinho, perguntando à mãe na mesma altura, à<br />
noite, ali o serão.<br />
- Ó mãe, minha mãezinha, conte lá! O senhor professor diz que dá quinhentos escudos, se a<br />
gente desser bem a verdade e coisa.<br />
E a mãe toda agoniada de faltas e sacrifícios, dificuldades à vida, dezia:<br />
- Ora, deixa-te tar calado, não sejas parvo!<br />
- Oh! Porque ê disse que a mãe que tinha tido um menino, e agora nã sê o que hê-de dizer. E ele<br />
disse donde é que tinha vindo o menino...<br />
Diz-lhe a mãe assim:<br />
- Ora, diz-lhe que veio do olho do cu.<br />
Bom. Ora, os meninos todos ficaram elucidados da resposta, que a mãe lhes deu. No outro dia,<br />
apresenta-se o senhor professor lá o pé deles. Chamou-os à atenção. Diz-lhe assim:<br />
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- Também o menino - Derigiu-se ò rico, o mais rico - Atão, donde veio o sê menino?<br />
- A minha mãezinha diz que ele veio da Alemanha.<br />
- Sim... sim, da Alemanha. É uma nação boa, já é uma nação boa. Está certo. Muito bem. Atão,<br />
ali e o menino - que era o outro a seguir, logo a descer de classe.<br />
- Olhe, a minha mãezinha diz que ele veio ali, da Espanha.<br />
- Sim, „Tá certo. Olha que também não anda muito longe, não. Bom, atão e o menino?<br />
Começa o menino assim:<br />
- Ora, Senhor Professor, eu tenho vergonha de dizer.<br />
- Oh, não, diga lá donde é que a mãe diz que veio o menino. „Tá aqui os quinhentos escudos e,<br />
atão, tem que dizer.<br />
- Ora, senhor professor, ora.<br />
- Diga lá.<br />
- Oh, a minha mãe, minha mãe, assim que veio de...<br />
-Vá, diga lá...<br />
- Oh! Diz que veio ali, do olho do cu.<br />
Responde-lhe o senhor professor assim:<br />
- Olha lá, fostes tu que andastes ali mais perto. Toma lá, duzentos e cinquenta escudos. Os<br />
outros duzentos e cinquenta ficam pra mim, que não foi bem no sítio donde foi, mas bom ainda<br />
acertastes mais que os outros.<br />
Bom, e atão, tudo isto se passou.<br />
No outro dia, chama os três meninos à atenção o mesmo dito professor e perguntando a eles;<br />
- Atão - peguntando ò mais rico - Atão e, òs domingos, o que é que o menino faz com os seus<br />
pais, com as suas famílias, òs domingos? Qual é a sua destracção, e tal..., por que não vem à<br />
escola, bem entendido, claro que têm que...<br />
- Oh - diz ele assim, o menino diz assim: Oh, eu òs domingos vou com o meu paizinho, vamos<br />
prà televisão e, depois, viemos pra casa, ouvimos a rádio e...<br />
- Atão e há mais algum divertimento, que têm em casa?<br />
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- Oh, o divertimento que temos é vamos pró café, prà pensão, passear com o mê pai; depois, à<br />
noite, temos a rádio. E a nossa destracção, é o nosso divertimento, que temos, e coisa e tal.<br />
Perguntou depois ò outro a seguir, a descer, o filho do outro mais rico, a descer pra baixo.<br />
- Atão, e o menino, qual é a sua destracção, a sua música, a sua coisa, que tem òs domingos,<br />
quando o menino, é claro, vá.<br />
Diz ele:<br />
- Ora, olha, òs domingos, o mê pai vai à pesca e ê vou com o mê pai à pesca.<br />
- Atão e depois, cá à noite, não têm um divertimento, uma destracção, uma coisa qualquer?<br />
- Ora, olhe, o mê pai toca lá uma concertina. Atão, é... as coisas bonitas assim...<br />
- „Tá bem, muito bem. „Tá bem - dizia ele.<br />
Perguntando pró mais pobrezinho e disse-lhe assim:<br />
- Atão e o menino, como é que é que os seus acontecimentos o domingo?<br />
- Ora, Senhor Professor, ò domingo, o mê pai vai arrancar mato e eu vou ajudar o mê pai.<br />
- Atão e à noite, cá ò serão, depois... Não têm um divertimento?<br />
- Ah, ah! O mê pai vem derêto à taberna, bebe um copo de vinho e compra-me cinco tostões de<br />
rebuçados e depois viemos pra casa.<br />
- Atão, e qual é a sua destracção, cá em casa?<br />
- Ora, „tamos ao pé do lume.<br />
- Atão, e não têm uma música, um divertimento, uma coisa qualquer pra se rirem?<br />
- Oh, Senhor Professor, oh, oh, tenho vergonha de dezer...<br />
- Não, diga lá, diga lá, porque o menino ganhou duzentos e cinquenta escudos no outro caso, e<br />
agora também, claro, tem que dezer a verdade.<br />
- Ah, o nosso divertimento ora, Senhor Professor!<br />
- Não, diga lá!<br />
- Ora, olhe, o nosso divertimento. Olhe, o mê pai dá pêdos e a gente ri-se.<br />
Diz ele:<br />
- Sim, também está uma música muito boa, pois nã podem adquirir outra, „tá certo, sim, senhor.<br />
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Ficou, antão, coisa concluída perante os três alunos.<br />
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos<br />
Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja. Colector: Adélia Grade, professora primária. Ano de<br />
recolha: 1976. Vid. o número seguinte].<br />
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ANX. 3.2 – CONTO/s<br />
CONTO 4 – BOA RESPOSTA<br />
In CONTOS POPUARES PORTUGU<strong>ESE</strong>S inéditos – Estudo Coordenação e Classificação – Alda da<br />
Silva Seromenho e Paulo Caratão Seromenho Vol. II Centro de Estudos Geográficos – Instituto<br />
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1986, pp. 422 - 423 - n.º 634<br />
634<br />
[BOA RESPOSTA!]<br />
Juntaram-se dois professores e vai um, diz assim pró outro, assim:<br />
- Eh, pá, tenho lá um aluno. E que gajo tão esperto! Todos as perguntas, que lhe faço, o gajo<br />
responde-me bem. E os outros, é claro, responde-me sempre bem. Nã sei. Pois, aquele aluno,<br />
„tou admirado com ele.<br />
Diz o outro professor, pr'àquele assim:<br />
- Olha, eu sou capaz de lhe fazer uma pergunta qu'ele não é capaz de me responder.<br />
Diz ele:<br />
- Bom, vamos lá apostar.<br />
E apostaram. Fizeram a sua aposta. No outro dia, manda chamar o dito aluno, na presença dos<br />
dois professores. Diz o professor assim, esse tal teimoso, pergunta pró dito aluno:<br />
- Ouve lá uma coisa. Tu sabes o que é isto? Sabes o que é aquilo?<br />
Responde e coisa. Atão, pró atacar mais breve e mais possível, mais breve e pergunta-lhe assim:<br />
- Sabes o que é um freixo?<br />
- Pois, sei. Um freixo é uma árvores, nascida aí nas proximidades dos barrancos, e essa coisa<br />
uma árvore, ramuda, um freixeiro.<br />
- Pois, sim. Eu tenho um freixeiro, que mandei fazer um santo, mandei cortar o freixeiro, mandei<br />
fazer um santo e mandei fazer uma pia. E, atão, a pia pu-la ali ó pé do poço, aonde os burros<br />
bebem. Bebem os burros e bebem os cães e bebem aqueles animais, que passam por ali, todos. E<br />
o santo pu-lo lá na igreja. Ora, as mulheres, ali daquelas áreas, vão prà igreja, passam por a<br />
pia; como não têm sede, mesmo que tivessem sede, nã queriam lá ir beber nem olhem prà pia,<br />
mas vão lá adorar o santo. Pois, se ele é do mesmo pau, porque é que eles não, porque é qu'elas<br />
não ligam à pia, pois só ligam ao santo?<br />
Pergunta-lhe o aluno., assim pra ele assim:<br />
- Senhor Professor, o Senhor Professor é casado ou é solteiro? Diz ele assim:<br />
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- Sou casado e muito bem casado.<br />
- Atão, o Senhor Professor, não tem assim ocasiões de sair da sua casa, fazer uma visita a<br />
qualquer parte.<br />
Diz-lhe o professor:<br />
- Pois, tenho!<br />
- E, atão, o que é que lhe acontece com a sua senhora, quando não se despede dela?<br />
- Pois, despeço-me.<br />
- Atão e o que é qu'a sua senhora faz?<br />
Diz o aluno. Respondeu ao aluno que a sua senhora se despedia dele, quando ele ia ò seu<br />
passeio, que se destanciava dela e ele perguntou:<br />
- O que é que acontece, quando o senhor vai a qualquer parte com a sua senhora? Qual é o<br />
sistema do despedimento, diz ela?<br />
O Senhor Profesor disse:<br />
- Pois, a minha senhora dá-me um beijo no rosto.<br />
Responde-lhe o aluno assim:<br />
- Atão, pois, por qué que a sua senhora não lhe dá um bejo no cu, pois s'é do mesmo corpo?<br />
[João Francisco Palma, encarregado de obras, natural de Tacões, f. de S. João dos<br />
Caldeireiros, c. de Mértola, d. de Beja, de 61 anos de idade. Colector: Adélia Grade, professora<br />
primâria. Ano de recolha: 1976. Vid. o número anterior].<br />
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ANX. 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas...<br />
ANEDOTAS – Vide A. Machado Guerreiro e AlentejANEDOTAS in www.<strong>joraga</strong>.net<br />
As duas versões do CAVIAR – comida dos ricos...<br />
AM e FM – no Rádio<br />
AM e PM- no Relógio<br />
O lisboeta que vai comprar uma casa em Mértola...<br />
Algumas ANEDOTAS especialmente ligadas a MÉRTOLA:<br />
Um alentejano rico.<br />
Um alentejano ganha a lotaria e a primeira coisa que faz é ir a um restaurante de super luxo.<br />
- Quero comer aquelas coisas que comem os ricos.<br />
- Muito bem, então o senhor quer começar com champanhe e caviar?<br />
- Caviar? Que é isso de caviar?<br />
- São ovos de esturjão.<br />
- Então para mim, quero dois. E traga-mos bem estreladinhos e a cavalo num belo bife!<br />
(adaptada de - in IOL)<br />
Outra versão do ALENTEJANO rico de Mértola.<br />
Lembram-se daquele alentejano que ficou rico com o dinheiro da cortiça?... Esse mesmo que<br />
mandou o filho a Lisboa depositar o dinheiro no banco e na conseguiu...<br />
Ora, como ficou co'aquela dinheirama toda, vai um dia a Lisboa p'ra ver s'era verdade o c'o filho<br />
contara e óspois quis gastar algum à larga...<br />
- Ora vamos lá ver como é que comem os ricos, diss'ele prá Bia, mais pr'ó rapaz...<br />
Escolhem um dos melhores restaurantes da capital e pedem do melhor...<br />
- O melhor que temos e os ricos costumam comer é caviar e um bom champanhe para a entrada...<br />
- Ora venha lá esse champanhe que já temos ouvisto falar s'a senhora... e esse caviar é o quei???<br />
- Ora meu senhor, o caviar são ovas de estrujão! Temos do melhor vindo da Rússia!!!<br />
- AAAAAH! Atão ele é isso? O caviar são as ovas do solho!!!? Vamos imbora, Bia, qu‟ê na<br />
sabia c‟os ricos comiam aquilo que eu deitava fora quando era pobre!!!<br />
O Alentejano e com um RÁDIO portátil, que tem AM e FM:<br />
- Atão cumpadre, o sê rádio tem aí umas letrinhas: AM e FM... Pra que raio serve essa coisa?...<br />
- Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... FM é Fora de Mértola!!!...???<br />
(Isto parece mesmo ser verdade, porque uns amigos, que têm passado em Mértola, e vão no seu<br />
belo carro, ouvindo uma das estações de música, daquelas que se ouvem em todo o território<br />
nacional, começam a ter ruídos esquisitos, logo que entram nas curvas, mesmo antes de se ver<br />
Mértola e depois de atravessarem a vila, só voltam a poder ouvir, quase no cimo da serra, já<br />
quase à vista do Algarve!!!)<br />
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O Alentejano e com um RELÓGIO, que tem AM e PM...<br />
- Atão p‟ra qui‟é que serve?...<br />
- Atão vmc. qué tão esperto, no sabe? AM é Antes de Mértola... PM é PRA Fora de<br />
Mértola!!!...???<br />
O lisboeta aparece em Mértola e vai “apreçar” uma casa que está à venda:<br />
- Então meu amigo, como está?! Vi no jornal que tem a sua casa à venda, e como esta vila<br />
está em franco desenvolvimento, talvez eu a possa comprar para passar aqui uns tempos de vez<br />
em quando... Vamos lá ver a casa a ver se me convém...<br />
Lá foram pela rua estreitinha acima com as curvas todas e pararam num pardieiro a cair<br />
aos bocados e assim a modos que do tamanho duma casa de brincadeira...<br />
O comprador olhou, mirou e foi-se preparando para a “pechincha” do século... Com um parvo de<br />
um alentejano... uma casa naquele estado... e numa rua daquelas... Bem se pedir € 5.000, já é<br />
muito, mas dá para fazer uma obrazitas e ficar aqui com um cantinho!!!<br />
- Então, compadre, quanto está a pedir?!... Aí uns € 2.500, já é pedir de mais!!!?<br />
- Pois saiba o meu rico senhor que já m‟ofreceram € 250.000 e nã vendi!!!<br />
- !!! !!! !!! Eh! Na pá!!! Então quanto é que meu compadre pede?<br />
- Uolhe! Por‟ser p‟ra vcmcê que tem cara de simpático, são €500.000 e „stá o negócio<br />
arrumado!... Acha um preço justo ó‟quein?!<br />
- Um preço justo? Por esse preço compro um palácio em qualquer parte do mundo!!!<br />
- Ai compra?!!! Atão vmc. no „stá vendo o qu‟eu lhe‟stou oferecendo... Estas ruínas que aí<br />
vê deixou-mas o mê pai... que já as herdou do mê avô... Quando o mê cumpadre adregar<br />
de começar a fazer as obras e começar escavando, „ndo pois sorte vai encontrar alguma<br />
coisa do tempo dos templários, que andaram por í „inda no tempo do Senhor Dom<br />
Sancho II... S‟inda cavar mais, pode dar de caras com “coisa até dos árabes, quem<br />
sabe!!!?... Cum sorte „inda vai até ós visigodes... e ós romanos... e ós turdalos... Vmc. no<br />
„stá mesmo vendo o qu‟ê tenho p‟ra lhe venderi, cumpadre???!<br />
Um alentejano que chega a Lisboa... desembarcado do vapor que passa o Tejo sai-se com esta<br />
lengalenga:<br />
NO RESSIO, ENFIO<br />
CUM DESIMBARAÇO;<br />
LOGO ME PRANTI NO TERREIRO DO PAÇO.<br />
FOI ATÃO QUE VI<br />
E QUE PUDE OBSERVÁ-LO<br />
UM HOME DE CHUMBO<br />
EM RIBA DUM CAVALO!<br />
(Contada por uma Professora em Mértola, em 1985...)<br />
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Pistas para um ESQUEMAe, entre OUTROS, do modo como se podem organizar e LER as<br />
ANEDOTAS<br />
(é uma modesta, respeitável e discutível opinião... resumo do que é apresento em<br />
www.<strong>joraga</strong>.net - no Espaço das AlentejANEDOTAS)<br />
Dada a presença contante das interrelações, tanto quanto aos temas como quanto aos<br />
personagens e características implicados em cada ANEDOTA, como ainda quanto à<br />
oportunidade de a contar, (... a propósito, lembras-te daquela...), qualquer ESQUEMA ou<br />
ORGANIZAÇÃO, se torna aleatória e daí esta divsão ser, já em si, uma perfeita ANEDOTA...<br />
como qualquer outra...<br />
Seguindo a sugestão de Arnaldo Saraiva (ver nas Pistas para uma Bibliografia) citado por A.<br />
Machado Guerreiro in LIVRO DE ANEDOTAS, Edições Colibri, Lisboa, Maio de 1995, p. 12: «<br />
... a anedota pode dar um bom contributo para o estudo de uma comunidade - suas manias e<br />
fobias, seus hábitos sociais, seus desejos e recalcamentos, seus heróis e suas vítimas, sua visão<br />
do mundo e do destino».<br />
Assim uma ANEDOTA pode servir para um excelente treino da oralidade...<br />
Tal como no CONTO, a Estrutura com suas: Sequências... núcleos... indícios... informantes...<br />
- a linguagem como marca de uma identidade Cultural...<br />
Podem-se contar ANEDOTAS das ANEDOTAS e das AlentejANEDOTAS...<br />
ANEDOTA/s para mostrar o estilo de "regatinhar", “aciganado”, sem ofensa para os ciganos...<br />
... para mostrar a ligação à Terra...<br />
...para ver a lhaneza e simplicidade...<br />
... responder aos Lisboetas, como ini/a/migos de estimação...<br />
... a esperteza saloia...<br />
... a lei do menor esforço...<br />
Talvez, como reflexão principal, é dar conta que neste MUNDO DAS ANEDOTAS, afinal se<br />
passa o mesmo que no MUNDO REAL - a LINGUAGEM e os VALORES das PESSOAS de<br />
REGIÕES diferentes são, mesmo DIFERENTES...<br />
A respeito das Outras formas de expressão como: – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas –<br />
Cantilenas...<br />
não nos foi possível recolher, pelos motivos que já foram apresentados e só podem ser recolhidos<br />
e estudados por alguém que esteja mesmo ligado ao meio.<br />
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ANX. 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações...<br />
ANX. 3.4 – 1 - QUADRAS & CANTIGAS<br />
in Pereira – Cantigas e Quadras – o que podem exprimir.<br />
In Corais Alentejanos, de José Francisco Pereira – Edições Margem 1997 – p. 25 sobre a Flora...<br />
Ver p. 21... O que exprimem as CANTIGAS Populares: “sentimentos: Paixão do amor... prazer, dor,<br />
alegria e tristeza, ódio, ciúme, inveja, desgosto, resignação, saudade, melancolia, orgulho... tudo nela<br />
se versa...” “Os próprios sentimentos – religioso, moral, intelectual, estético, aí se retratam”.<br />
Ver ainda fenómenos e figuras de estilo...na mesma obra, pp. 34 e 35<br />
Ainda:<br />
1. Toponímia – Mértola... Guadiana...<br />
2. Fauna – Passarinhos... animais existentes na região... animais do trabalho... bois...<br />
3. Flora – Plantas flores... lírio roxo... Vivo no jardim do mundo... rosa roseira botão...<br />
4. Comoções, paixões, sentimentos... - (medo cólera, ternura, amor, ciúme, ódio, inveja orgulho,<br />
alegria e tristeza, prazer e dor, melancolia, desgosto, resignação, saudade... Ó minha mãe,<br />
minha mãe...<br />
5. Partes e órgãos do corpo humano – olhos... rosto... coração...<br />
6. Peças de vestuário e objectos de adorno... saia... anel... lenço...chapéu...<br />
7. Astros – Sol Lua...<br />
8. elementos da natureza... – água... montes... serras... terra<br />
Vivo no jardim do Mundo,<br />
Nos treze ramos matrizes,<br />
Com cinquenta e duas flores<br />
E vinte e cinco raízes.<br />
(Mértola)<br />
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ANX. 3.4 – 2 - QUADRAS & CANTIGAS<br />
in Delgado - QUADRAS<br />
In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - Manuel Joaquim Delgado – Com. Rec.<br />
Notas – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p.328<br />
3026<br />
O nosso olhar é espelho<br />
Do que sente o coração.<br />
A boca pode mentir,<br />
O nosso olhar é que não.<br />
(Mértola)<br />
3027<br />
Onte'à noite à meia-noite,<br />
A meia-noite seria,<br />
Eu ouvi cantar um Anjo<br />
No coração de Maria.<br />
(Beja e Mértola)<br />
3028<br />
Onze horas, meia-noite,<br />
Já por aqui tudo drome:<br />
Só este meu coração<br />
Quer descansar mas não pode.<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
3029<br />
Ó olhos azuis,<br />
Que já foram meus,<br />
Agora são doutro,<br />
Paciência, adeus.<br />
(Beja; Mina de S. Domingos; Ervidel e Vale de Santiago)<br />
3030<br />
Ó olhos doa minha cara,<br />
Não olhem para ninguém;<br />
Já que perderam a graça,<br />
Percam o olhar também.<br />
(Beja; Entradas, Castro Verde; Mértola; Vale de Santiago, Odemira)<br />
3031<br />
Ó olhos da minha cara,<br />
Não olhem para ninguém,<br />
Que eu não quero ter na cara<br />
Olhos que ofendam alguém.<br />
4554 (p. 482)<br />
S‟eu sobesse quem tu eras,<br />
Ou quem tu vinhas a ser,<br />
Nunca t‟eu teria dado<br />
Meus segredos a saber.<br />
(Colos, Odemira; Mina da juliana, Aljustrel; Mértola; Vale de Santiago, Odemira, etc.)<br />
p. 515<br />
4884<br />
Fui um dia à tua horta,<br />
Pisí a salsa sem querer;<br />
Mas regando-a bem regada,<br />
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Ela tronou a crescer<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
p. 495<br />
4690<br />
Vai-te, carta, feliz carta,<br />
Triste de quem a notou.<br />
Com lágrimas te escreveu,<br />
Com suspiros te fechou.<br />
(Mértola)<br />
p. 493<br />
4670<br />
Tudo no mundo se prende,<br />
Dele não há que fugir.<br />
Eu sinto-me presa a ti.<br />
E nã dei pr‟àdonde hê-de‟ir<br />
(Mértola)<br />
p. 491<br />
4649<br />
Todas as Marias são<br />
Doces como o caramelo.<br />
Eu, como guloso sou,<br />
Uma Maria é que eu quero.<br />
(Beja; Amaraleja; Vila Nova da Baronia; Ervidel; e Mina de S. Domingos)<br />
4650<br />
Todo o homem que embarca,<br />
Deve rezar uma vez.<br />
Quando vai p‟rá guerra, duas,<br />
E, quando se casa, três.<br />
(Mértola)<br />
p. 489<br />
4628<br />
Tenho carta no correio,<br />
A letra de quem será?<br />
S‟é de Manuel nã‟na quero,<br />
S‟é de João deita-a cá.<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
4629<br />
Tenho carta no correio,<br />
E a letra de quem será?<br />
S‟é do José nã‟na quero,<br />
S‟é do Manuel venha já.<br />
(Mértola)<br />
p. 488<br />
4623<br />
Tenho a minha fala presa,<br />
Mas não é do vinho tinto;<br />
É duma penguinha d‟água<br />
Que bubi na Corte Pinto.<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
p. 486<br />
4595<br />
Se te quis bem algum dia,<br />
Esse tempo já passou.<br />
S‟inda hôis pera ti ôlho,<br />
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Foi jeito que me ficou.<br />
(Corte Pinto – Mértola)<br />
p. 485<br />
4589<br />
Se queres qu‟ê seje tua,<br />
Manda ladrilhar o mar;<br />
Despois do mar ladrilhado,<br />
Sou tua se não faltar.<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
p. 484<br />
4581<br />
Se ouvires tocar os sinos,<br />
Nã‟ prèguntes quem morreu,<br />
Lembra-te de uma infeliz,<br />
Que tanto por ti sofre.<br />
(Mértola)<br />
p.482<br />
4554<br />
S‟eu soubesse quem tua eras,<br />
Ou quem tu vinhas a ser,<br />
Nunca t‟eu teria dado<br />
Meu segredos a saber.<br />
(Colos, Odemira; Mina da Juliana Aljustrel; Mértola; Vale de Santiago, Odemira, etc.)<br />
p. 481<br />
4546<br />
Se entrares no cemitério,<br />
Entra e pede licença,<br />
Verás o rico do pobre<br />
Mesmo lá fazer diferença.<br />
(Beja e Mértola)<br />
p. 480<br />
4534<br />
Se a liberdade dos presos<br />
Tivesse na minha mão,<br />
Soltava presos e presos,<br />
Quantos na cadeia estão.<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
p.479<br />
4526<br />
Sant‟Entónio é bom rapaz,<br />
Que livrou seu pai da morte.<br />
Também livrará meu bem<br />
Quando for “tirar as sortes”. (ir à inspecção militar)<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
4527<br />
Santo António é meu pai,<br />
S. Francisco é meu irmão,<br />
Os anjos são meus parentes,<br />
Oh! Que linda geração!<br />
(Beja; Ervidel; Barrancos e Mértola)<br />
4531<br />
S. João à minha porta,<br />
Nada tenho p‟ra lhe dar,<br />
Dom-le uma caninha verde – (dou-lhe)<br />
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Para a pôr no seu altar.<br />
p. 477<br />
4511<br />
Raparigas d‟hoje em dia<br />
Só pensam em se casar.<br />
Põem a panela ao lume<br />
E nã na sabem tratar.<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
p. 476<br />
4496<br />
Quem queser armar currais,<br />
Traga redes e atenchões,<br />
Qu‟ê tamém quer‟ir ô mêo<br />
Em certas àcsiões.<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
in “Vocabulário Alentejano” – A. Tomás Pires, Elvas, 1813 XIV (citado por Delgado in LPBB):<br />
XIV<br />
Acrâdita, mê amôri,<br />
Tenho-te munta amezade;<br />
Tu é que cudas que não,<br />
Pensas q‟isto é falsedade.<br />
(Mina de S. Domingos)<br />
Ouvidas numa rua de Mértola:<br />
A nobre vila de Mért‟la<br />
Tem dois rios, duas pontes:<br />
Uma é p‟rós automóiveins,<br />
A outra é p‟ros transuntes.<br />
A nobre vila de Mért‟la<br />
Tem dois rios, duas pontes:<br />
Num rio, nadam os pêxes,<br />
O outro é p‟ros (in)fluentes.<br />
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ANX. 3.4 – 3 - QUADRAS & CANTIGAS<br />
in J. LEITE V – QUADRAS – volume I<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com<br />
introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por<br />
Ordem da Universidade, 1975<br />
P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas:<br />
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />
Para comer é que se faz isto!<br />
(Dizem a começar a comer? Não pude averiguar, mas o 1º verso diz-se ao começar a comer).<br />
Em ofícios e ocupações (p. 216) sobre o mineiro, ver pp. 240 e 241<br />
Meu amor é barreneiro<br />
Trabalha na contramina<br />
À luz do seu candeeiro<br />
Tira ouro e prata fina.<br />
(Alentejo) (os barreneiros (= mineiros) cantam estas quadras enquanto trabalham.<br />
Ó _Senhora Santa «Barba»<br />
Tenha dó dos barreneiros:<br />
Trabalham debaixo do chão<br />
À luz dos seus candeeiros.<br />
(Mértola)<br />
Nota JRG - (Comparar com as cantigas dos mineiros de Aljustrel a S. Bárbara, Padroeira dos Mineiros<br />
– e influência dos mineiros do norte de Espanha...)<br />
no cap. X (p. 301) - AMORES, AMORES... 7. DECISÃO(p.371):<br />
p.375<br />
Uma silva, duas silvas,<br />
É uma brenha fechada<br />
Uma prende a outra arranha...<br />
Com silvas não quero nada.<br />
(Mértola)<br />
em 12. (p.400) AMOR PERFEITO:<br />
P. 405<br />
Dá-me, amor, a tua mão,<br />
Juntemos palma com palma,<br />
Que eu te dou meu coração,<br />
Toma posse da minh‟alma.<br />
(Mértola)<br />
em 13. ALEGRIA (418)<br />
P. 420<br />
Graças a Deus que já chove<br />
Pingas de água no jardim;<br />
Graças a Deus que já tenho<br />
Meu amor ao pé de mim!<br />
(Castelo Branco; Mértola)<br />
em 23 DESDÉNS E D<strong>ESE</strong>NGANOS (p. 516)<br />
539<br />
Se quere que eu seja tua<br />
Manda ladrilhar o mar;<br />
Depois do mar ladrilhado<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
183
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Serei tua sem faltar... (Ver a recolhida por Delgado...) “Serei tua se não faltar)<br />
Se te eu quis bem, foi um sonho,<br />
Se te amei foi falsidade:<br />
Foi enquanto não achei<br />
Amor à minha vontade.<br />
(Mértola)<br />
em 25 BEIJOS E ABRAÇOS (553)<br />
556<br />
Eu já fui ao céu em vida,<br />
Numa nuvem fiz encosto,<br />
Dei um beijo numa estrela,<br />
Julgando que era o teu rosto.<br />
(Mértola)<br />
em 30 RETRATOS (P. 619)<br />
622<br />
Meu amor moço<br />
É um bule-bule,<br />
É um rapazinho<br />
Vestido d‟azul.<br />
(Mértola)<br />
O CORAÇÃO MAIS OS OLHOS p. 632<br />
660<br />
Sobrancelhas arqueadas,<br />
Arcos que rogam a vida,<br />
Olhos que despedem raios<br />
Trazem a minha alma rendida!<br />
(Mértola)<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
184
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 4 - QUADRAS & CANTIGAS<br />
in J. LEITE V – QUADRAS – volume II<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com<br />
introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por<br />
Ordem da Universidade, 1979<br />
Cap. XI – AMOR E TRISTEZAS p. 1 3. AUSÊNCIA p.13<br />
16<br />
Desejava saber<br />
Onde a pena mais se auguenta:<br />
Se é no peito de quem fica<br />
Ou é no de quem se ausenta.<br />
(Mértola)<br />
em 4. SAUDADES p. 23<br />
25<br />
É de noite, é de noite,<br />
Para mim nunca amanhece!<br />
Nem a água me mata a sede,<br />
Nem o meu amor me esquece.<br />
(Mértola)<br />
em 3. DINHEIRO E POBREZA p. 191<br />
196<br />
Você diz que me não quer<br />
Porque eu não tenho fazenda :<br />
Não é o seu pai tão rico,<br />
Nem você tão boa prenda.<br />
(Mértola)<br />
No cap. XVII USOS E COSTUMES p. 197<br />
206<br />
1.<br />
Sou saloia trago botas<br />
E mantéu até ao meio,<br />
Lenço grande no pescoço<br />
P‟ra tapar meu lindo seio.<br />
2.<br />
Sou saloia, trago botas,<br />
Também trago as minhas meias,<br />
Tenho a cintura delgada<br />
Sem precisar de baleias. (Varas de baleia, para se apertar, usadas nos espartilhos.)<br />
3.<br />
Sou saloia, trago botas,<br />
Também trago meias pretas;<br />
Não me fales em namoro:<br />
Não creio nas tuas tretas...<br />
4.<br />
Sou saloia, trago botas,<br />
Também trago meu mantéu,<br />
Também tiro a carapuça<br />
A quem me tira o chapéu.<br />
5.<br />
Sou saloia, trago botas,<br />
Também trago o meu cordão,<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
185
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
E por medalha pendente<br />
De ouro um bom coração.<br />
(Mértola)<br />
Cap. XX – CANTIGAS CONCEITUOSAS P. 235<br />
245<br />
Eu não digo que não hei-de<br />
Desta fonte água beber...<br />
Pode-me a sede obrigar<br />
E outro remédio não ter.<br />
(Mértola)<br />
Cap. XXIV BOCAS DO MUNDO p. 289<br />
290<br />
Andas sempre a acreditar<br />
Coisas que não podem ser;<br />
A inveja faz falar,<br />
Não tens ouvisto dizer?<br />
(Mértola)<br />
291<br />
Andas sempre a duvidar<br />
Eu não sei o que arreceias...<br />
As nuvens descem ao mar<br />
Vazias e vêm cheias.<br />
(Mértola)<br />
302<br />
Você diz que me quer munto,<br />
Esse sê querer é engano:<br />
Você corta a minha vida<br />
Cuma a tesoura no pano.<br />
(Mértola)<br />
XXV GRAÇAS, CHALAÇAS E «CANTIGAS às AVESSAS» p. 303<br />
325<br />
Quando meus olhos te viram,<br />
„Stavs tu a assar castanhas,<br />
Na rua do merca-tudo,<br />
No armazém das aranhas.<br />
Quando Tróia se arrasou,<br />
Choveu três dias areia,<br />
Só uma alma se salvou<br />
No ventre de uma baleia.<br />
(Mértola)<br />
XXVI – CANTIGAS SATÍRICAS p. 339<br />
348<br />
1<br />
Estas meninas de agora<br />
Não querem senão casar;<br />
Põem na panela ao lume<br />
Nem volta lhe sabem dar.<br />
2.<br />
Estas meninas de agora<br />
Não querem senão regalo;<br />
Bom sapato, boa meia<br />
E a barriga dando estalo.<br />
(Mértola)<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
186
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 5 - QUADRAS & CANTIGAS<br />
in J. LEITE V – CANTIGAS – volume II<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com<br />
introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por<br />
Ordem da Universidade, 1983<br />
XXXIII CANTIGAS GEOGRÁFICAS E TÓPICAS p. 1<br />
p.22<br />
Beja<br />
Adeus, cidade de Beja,<br />
Cada vez me alembras mais!<br />
Adeus, quartel dos soldados,<br />
Sepultura dos meus ais!<br />
Adeus, cidade de Beja,<br />
Cativeiro da mocidade,<br />
Cativaste o meu amor<br />
Na felor da sua idade!<br />
Na rua nova de Beja<br />
„Stá um fio de algodão,<br />
Todos passam, não se prendem,<br />
Só eu fiquei na prisão.<br />
(Mértola)<br />
68<br />
Mértola<br />
Adeus, ó vila de Mértola,<br />
De ti me „stou a ausentar;<br />
Há-de ser tarde ou nunca<br />
Quando ê p‟ra cá voltar.<br />
(Mértola)<br />
69<br />
Adeus, ó vila de Mértola,<br />
És o meu acabamento,<br />
És a causa de eu não ver<br />
Meu amor há muito tempo<br />
Adeus, ó vila de Mértola,<br />
Onde a palma reverdece!<br />
Quem tem amores<br />
É porque não nos merece.<br />
70<br />
Mina de S. Domingos<br />
A Mina de São Domingos,<br />
Palácio de D. Diogo (Referência ao dono da mina)<br />
Onde assiste tanta gente,<br />
Cada um é do seu povo.<br />
(Mértola)<br />
107<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
187
Serpa<br />
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Eu não sei que tenho em Serpa<br />
Que sempre me está lembrando.<br />
Em chegando ao Guadiana<br />
As ondas me vão levando...<br />
(Mértola)<br />
122<br />
Vila Real de Santo António<br />
Ó Vila Real alegre,<br />
Lá ia morrendo à sede!<br />
Uma sécia me deu água (Sécia = flor; neste caso significa rapariga bonita e bem vestida)<br />
Da raiz da salsa verde.<br />
145<br />
Baixo Alentejo – Beja<br />
Adeus, estação de Beja,<br />
Adeus, jardim do quartel;<br />
Adeus, ó portas de Mértola,<br />
E a praça de Dom Manuel.<br />
(Mixilhoeira Grande, c. De Portimão)<br />
na secção de Rios e suas cercanias: (168)<br />
176<br />
Em setenta e seis se viu (Alusão à grande cheia de 1876)<br />
A desgraça em Portugal:<br />
Tanta água em Guadiana<br />
Nunca se lembra de tal.<br />
177<br />
1.<br />
No meio do Guadiana<br />
„Stá um copo de água-mel.<br />
Não é copo nem é água:<br />
São os olhos de Manel.<br />
2.<br />
No meio do Guadiana<br />
„Stá um copo de água fria.<br />
Não é copo nem é água:<br />
São os olhos de Maria.<br />
Ó rio Guadiana,<br />
Que para baixo correis:<br />
Não leves o meu amor<br />
Nessas ondas que fazeis.<br />
(Mértola)<br />
sobre grupos étnicos p.186<br />
187<br />
Quero cantar à saloia,<br />
Já que outra moda não sei:<br />
Minha mãe era saloia,<br />
E eu com ela me criei...<br />
Sou saloia, honro-me de isso,<br />
P‟ra casacas não sou má.<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
188
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Os janotas atrevidos<br />
Sei correr a varapau.<br />
Sou saloia trago botas,<br />
E mantéu até ao meio,<br />
Lenço grande no pescoço<br />
P‟ra tapar meu lindo seio. ( Ver já noutra citação)<br />
(Mértola)<br />
Sou saloia trago botas,<br />
Também tragao as minhas meias,<br />
Tenho a cintura delgada,<br />
Sem precisar de baleias (Varas de baleia usadas nos espartilhos, para apertar.) (Ver já citada)<br />
Sou saloia trago botas,<br />
Também trago meias pretas,<br />
Não me fales em namoro,<br />
Não creio nas tuas tretas...<br />
(Mértola) (já citada)<br />
Sou saloia trago botas,<br />
Também trago o meu mantéu,<br />
Também tiro a carapuça<br />
A quem me tira o chapéu...<br />
Sou saloia trago botas,<br />
Também trago o meu cordão,<br />
E por medalha pendente<br />
De ouro um bom coração.<br />
(Mértola) (já citada)<br />
Sou saloia,<br />
Na cedade de Lisboa;<br />
Dizem todos os janotas:<br />
- Ó saloia, és tão boa !<br />
(Mértola)<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
189
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 6 - QUADRAS & CANTIGAS<br />
in Delgado - JANEIRAS<br />
In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel<br />
Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p.<br />
147<br />
Janeiras<br />
Uma tradição que se cantava em grupos de Monte em monte, de casa em casa, levando à frente um burro que<br />
transportava as esmolas recebidas... Chegados às portas, tiravam os gorros ou chapéus e cantavam. Depois vinha<br />
ou não a esmola que consistia em geral em coisas de comer. Aceitavam-na de mão estendida e aberta e<br />
agradeciam com uma quadra.<br />
Variante parecida com uma de Beja...):<br />
Esta noite é de Janeiras,<br />
É de grande merecimento,<br />
Por ser a noite primeira<br />
Em que Deus passou tromento.<br />
Os tromentos que passou<br />
Eu lhe digo na verdade:<br />
O seu sangue derramou,<br />
Pra salvar a cristandade.<br />
Já os três reis estão chegados<br />
À Lapinha de Belém,<br />
Visitar o Deus-Menino,<br />
Que Nossa Senhora tem.<br />
Nossa Senhora lhe disse:<br />
- Filho meu, que te farei?<br />
Não tenho cama nem berço,<br />
Em meus braços te deitarei.<br />
(Mértola)<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 7 - ORAÇÃO<br />
in J. Leite de Vasconcellos – in Orações parodiadas<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com<br />
introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, I vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por<br />
Ordem da Universidade, 1975<br />
P. 91 – NAS ORAÇÕES Parodiadas:<br />
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />
Para comer é que se faz isto!<br />
(Dizem a começar a comer? Não pude averiguar, mas o 1º verso diz-se ao começar a comer).<br />
ANX. 3.4 – 8 – ORAÇÕES:<br />
Ver as referidas no RITUAL DO PÃO - ANX 2.6:<br />
Oração, quando se deixa a massa do pão a fintar:<br />
“Deus te acrescente no alguidar<br />
Como Deus Nosso Senhor está no altar”...<br />
E depois de meter todo o pão no forno:<br />
“Deus te acrescente,<br />
que é para muita gente”<br />
E no ritual, final, depois de pedir aos homens para saírem:<br />
«Faz-se um benzido com o sinal da cruz. Uma mulher vira-se de costas para o forno, levanta as<br />
saias e diz:<br />
Cresças tu, pão<br />
Como as saias afastadas do cu estão».<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 9 - ORAÇÃO DAS ALMAS<br />
in J. Leite de Vasconcellos –Orações in ROMANCEIRO<br />
in Romanceiro Popular Português, II Vol. - organização, introdução notas e Bibliografia de Maria Aliete<br />
dores Galhoz, Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa,<br />
1988 – nº 729<br />
p. – 910.<br />
- 729. ORAÇÃO DAS ALMAS (estrofe)<br />
Cristandade tão unida ouvindo gritos e ais<br />
2 Que lá tens na outra vida as almas dos vossos pais.<br />
Gritando em agonia toda a noite e todo o dia<br />
4 Pedindo que lhe rezais sequer uma Avé-Maria.<br />
É tã triste os pecadores tende compaixão daquela tã triste voz<br />
6 Que repete para nós ó tã tristes pecadores.<br />
As almas tão em clamores dando gritos tão sintidos<br />
8 Gritam contra os seus amigos que cá dêxaram no mundo<br />
Que são vivos e não dizem dá-me a mão qui eu os ajudo.<br />
10 Gritam contra os seus herdeiros pelos bens que lhe dêxaram<br />
Sendo os seus testamentêros ainda mais deles se lembraram.<br />
12 Gritam contra os seus parentes da sua sanguinidade<br />
Que são vivos e não se lembram de tanta necessidade.<br />
14 Muito mal faz quem desperdiça das almas a devoção<br />
Vamos-lhe ouvir uma missa dar-lhe esta consolação.<br />
16 Que desta sorte se consolam as almas que em pena estão<br />
Vamos pedir-lhe uma esmola andai com as almas irmão.<br />
18 Quando deres a esmola não olhes a quem na dais<br />
Considera que lá tens as almas dos vosso pais.<br />
20 Quando deres a esmola nã olhes p'ra fazenda<br />
Cada esmola que dais tiras uma alma da pena.<br />
22 Homens, mulheres, meninos deste povo aditório<br />
Mandai a esmola às almas às almas do prigatório.<br />
24 Que as almas do prigatório é que nos mandam pedir<br />
Que lhes mandem uma esmola qu'elas nâ podem cá vir.<br />
26 Fiquem-se com Deus irmãos qu'ê com Deus me vou embora<br />
Queira Deus que nos ajunte-nos lá no reino da Glória.<br />
Informador: José Raposo, 77 anos.<br />
Localidade: Tacões, fr. de S. João dos Caldeireiros, conc. de Mértola, d. de Beja.<br />
Ano de recolha: 1976.<br />
Colectora: Adélia Grade. [gravado]<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
192
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 10 A - DÉCIMAS<br />
in J. LEITE V. – MINEIRO TRAJA BEM<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria<br />
Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979<br />
XXXI – ASSUNTOS VÁRIOS VERSADOS EM DÉCIMAS (Dado o apreço em que tinha estas décimas, o Prof. Leite de<br />
Vasconcellos conserva-as em maços à parte de outras composições. Versando vários assuntos, servem, na maioria<br />
dos casos, de glosas de quadras.) Nota – ver tb. Na introdução os comentários de Ariete Galhoz sobre estas<br />
Décimas, onde se pode notar que não tem ideia nenhuma sobre o seu valor e origem e sobre a arte d sua<br />
construção... JRG.<br />
pp. 454 e 455 30<br />
O mineiro traja bem:<br />
Cas‟mira, bota engraxada,<br />
Us chapéu de fivela.<br />
Dinheiro, nunca tem nada.<br />
Enquanto as minas durar‟<br />
Vai a coisa assim, assim;<br />
Mas, se chegam a ter fim,<br />
O luxo há-de-se acabar.<br />
Cada um se há-de tornar<br />
Em vender aquilo que tem.<br />
Eu falo de mim também,<br />
Não me faço isento dos mais,<br />
Porque, enquanto houver minerais,<br />
O mineiro traja bem.<br />
Acho que e grande tortura<br />
Usar o que lhe não „stá dado,<br />
Muitas vezes andar empenhado<br />
Por causa da grande loucura.<br />
O luxo é p‟ra quem tem fartura,<br />
Não é p‟ró pobre que não tem nada.<br />
Passa a vida arrastada,<br />
P‟la semana trabalhando,<br />
P‟ró domingo andar trajando<br />
Cas‟mira, bota engraxada.<br />
Até o ponto desta idade<br />
Ê não costumei mentir<br />
E, senhores, que me estão a ouvir,<br />
Digõ se isto é verdade:<br />
Para que é tanta gravidade<br />
Que eu vejo nesta famelga? («Famelga» = família (de famélia).<br />
Andaram sempre em Palmela<br />
E nunca avezaram dez réis.<br />
P‟ra que serão tantos papéis<br />
Usarem chapéu de fivela?<br />
Chega o mineiro ao armazém<br />
Ou a outra qualquer panilha: (Panilha = «venda», taberna (calão).<br />
- Venha lá pão e morcilha ( Morcilha = linguiça (esp.)<br />
É a canha, vai dando bem. ( Canha = galeria)<br />
Pergunta vinho se tem:<br />
- Dête mais meia canada.<br />
Ali se lhe vai a pionada (Pionada = tempo de trabalho).<br />
E passa a noite sem dormir.<br />
E anda sempre co‟a bolsa a tinir,<br />
Dinheiro nunca tem nada.<br />
30 nota. Por não termos encontrado Décimas recolhidas em Mértola e por se tratar de uma (Composição da autoria de um mineiro) sem referência ao<br />
nome e local de recolha, e por a Mina de s. Domingos ter sido uma terra de mineiros e ter tido grande influência na vida económica de Mértola...<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 10 B - DÉCIMAS<br />
in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - I<br />
in CONCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite d Vasconcelos, coordenado e com introdução de Maria<br />
Arminda Zaluar Nunes, II vol. ACTA UNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS - Por Ordem da Universidade, 1979 31<br />
(ver p. 465) (Décimas feitas por Marcelino Ramos, de Lisboa. Com outro homem andava ele cantando estes versos<br />
por várias terras.) - pp. 462 –463<br />
Despique do Alentejo e do Algarve I :<br />
Alentejo Algarve<br />
Sou o Alentejo opulento,<br />
Tenho gado e cereias;<br />
Algarve, quero saber<br />
Qual de nós valerá mais.<br />
1.<br />
Sou na verdade crescido,<br />
Que a todos meto cobiça;<br />
Tenho montanhas de cortiça<br />
Que a muitos têm enriquecido.<br />
Tenho p‟ra fora vendido<br />
Cereais de valimento;<br />
Tu, Algarve, toma tento<br />
Em quem já te socorreu,<br />
Porque tu sabes que eu<br />
Sou o Alentejo opulento.<br />
2.<br />
Eu sou em tudo abundante:<br />
Tenho muitas azinheiras,<br />
Com a lande das sobreiras<br />
Engordo gado bastante;<br />
Tenho muito negociante,<br />
Tenho muitos olivais,<br />
Eu tenho de tudo mais<br />
Do que tu ninca hás-de ter;<br />
Contudo deves saber<br />
Tenho gado e cereais.<br />
3.<br />
Eu tenho em mim celeiros<br />
Cheios de trigo até mais não;<br />
Sou abundante de pão<br />
Tenho em mim muitos dinheiros.<br />
Até os teus corticeiros<br />
Ajudo-os bem a viver,<br />
Dou-te tudo p´ra comer<br />
Em toda a minha grandeza.<br />
E qual é a tua riqueza?<br />
Algrave, quero saber.<br />
4.<br />
Eu tenho muito toicinho<br />
E o precioso presunto,<br />
Eu tenho de tudo munto.<br />
Sou a fama do bom vinho,<br />
Sou da riqueza o beijinho,<br />
Porque tenho coisas tais.<br />
Até pessoas reais<br />
Em mim têm arvoredo.<br />
Responde, não tenhas medo,<br />
Qual de nós valerá mais?<br />
Cá na minha pequenez<br />
Sou todo uma povoação;<br />
Tu, com a tua grandeza,<br />
És um verdadeiro sertão.<br />
1.<br />
P‟ra que te estás a abnar?<br />
Que és muito rico eu bem sei,<br />
Mas defeitos te porei<br />
Que tu não hás-de gostar.<br />
Eu tenho praias no mar,<br />
Não acreditas talvez,<br />
Que eu dou banho mais de um mês.<br />
Sou o recreio do teu povo<br />
E sou cheio como um ovo<br />
Cá na minha pequenez.<br />
2.<br />
És mui grande e muito forte,<br />
Mas és pouco povoado,<br />
És muito desabitado,<br />
Só tens charnecas e mato.<br />
Por isso tu toma tacto:<br />
Se muito valor te dão,<br />
Eu, por mim, digo que não<br />
Na explicação que te faço.<br />
Mas, em meu pequeno espaço<br />
Sou todo uma povoação.<br />
3.<br />
Se tu tens tanta valia<br />
Como estás a apresentar,<br />
P‟ra que vens a mim buscar<br />
P‟ra ti tanta pescaria?<br />
Não passa nem um só dia<br />
Nem um sequer, com certeza,<br />
Que eu não mande com franqueza<br />
Peixe para a minha vizinha;<br />
Não pescas nem uma sardinha,<br />
Tu, com a tua grandeza.<br />
4.<br />
Quem em ti tem passeado<br />
O que vem p‟ra cá dizer?<br />
Que és um país de temer<br />
P‟los lobos que tens criado.<br />
Eu sou todo cultivado<br />
P‟la minha população.<br />
Pois na estação do Verão<br />
Sou de Portugal o beijo.<br />
E tu, ó Alentejo,<br />
És um verdadeiro sertão.<br />
31 Talvez, por ser Mértola uma ligação entre Alentejo e Algarve, seja oportuno transcrever estas Décimas que<br />
teriam sido feitas por<br />
( ver p. 465) (Décimas feitas por Marcelino Ramos, de Lisboa. Com outro homem andava ele cantando estes<br />
versos por várias terras.)<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
194
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 10 C - DÉCIMAS<br />
in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - II<br />
Alentejo Algarve<br />
Cala-te, Algarve faminto,<br />
Que me estás a provocar !<br />
Se te mostro o meu valor<br />
Hás-de ter que te calar.<br />
1.<br />
Tu decerto tens desejo<br />
De ser rico como eu sou<br />
E dar, assim como eu dou,<br />
Muita cera, mel e queijo.<br />
Eu por todo o modo almejo,<br />
Que sou poderoso o sinto<br />
Tenho muito homem distinto,<br />
Senhor‟s de propriedads.<br />
Escuta muitas verdades,<br />
Cla-te, Algarve faminto.<br />
2.<br />
Os homes que tes em ti,<br />
Coitados, como andarão?<br />
Espr‟ando que venha o V‟rão<br />
P‟ra virem ceifar p‟ra aqui:<br />
Se eu o teu peixe comi,<br />
Tenho pão para te dar<br />
Ou tenhpo, p‟ra te pagar,<br />
Muito oiro, prata e cobre.<br />
Cala-te, fminto e pobre,<br />
Que me está a provicar.<br />
3.<br />
Se te mostro o meu valor.<br />
4.<br />
Nos meus matos tu verás<br />
Gados de lã a valer<br />
Que dão p‟ra roupa fazer,<br />
Que tu muito pouco dá.<br />
P‟ra que é que falando estás,<br />
Se estás somente a errar?<br />
Tu não devias falar<br />
P‟ra não caires no laço;<br />
Olhando aos favor‟s que te faço,<br />
Hás-de ter que te calar.<br />
De tudo o que tens em ti<br />
Tenho eu cá um pouquechinho;<br />
Eu tenho coisas em mim<br />
Que tu não tens, amiguinho.<br />
1.<br />
Eu tenho navegações<br />
Que tu lá não podes ter,<br />
Pois, p‟ra melhor te dizer,<br />
Tenho muitas armações.<br />
De fábricas tenho milhões,<br />
Tudo que é rico há aqui.<br />
A riqueza que te vi<br />
Mais tarde dizer-te venho:<br />
No Algarve também tenho<br />
De tudo o que tens em ti.<br />
2.<br />
Embora menos porção<br />
Eu tenha de olivais,<br />
Mas também tenho olivais,<br />
Tenho cortiça e pão;<br />
Em mim tenho o bom feijão,<br />
Tenho o grão e o bom vinho,<br />
Também tenho algum toicinho<br />
Para te imitar um dia,<br />
De tudo o que lá se cria<br />
Tenho eu cá um puquechinho.<br />
3.<br />
Eu tenho alfarrobeiras<br />
Que tu nunca tens craido,<br />
Tenho bom figo passado,<br />
Estou coberto de figueiras<br />
E milhar‟s de amendoeiras<br />
Que tu não lhe vês o fim.<br />
Por isso te digo assim,<br />
Se ainda bem não me ouviste,<br />
Que tu ninca possuiste,<br />
Eu tenho coisas em mim.<br />
4.<br />
Tenho tido vultos meus<br />
Da ilustração comum,<br />
Como há pouco morreu um:<br />
O ilustre João de Deus.<br />
Mostra então os vults teus,<br />
Alentejo, um instantinho.<br />
Tu chamas-me pobrezinho,<br />
Dizes que não tenho nada<br />
Mas tenho gente ilustrada,<br />
Que tu não tens, amiguinho.<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 10 D.1 – DÉCIMAS de Manuel Guerreiro Martins (Mina de S. Domingos)<br />
in SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação<br />
de Defesa do Património, Mértola, s/d. – p. 106<br />
És jovem, sou reformado<br />
Tu tens o mundo na mão;<br />
Olha bem para o meu passado<br />
Luta sempre p‟la razão.<br />
Se eu tivesse a tua idade<br />
Tua força e valentia<br />
Com certeza arranjaria<br />
Outra nova sociedade<br />
Onde houvesse só liberdade<br />
Mas ninguém fosse roubado<br />
Nem o povo explorado<br />
Que já vem de antigamente<br />
Tu tens o futuro à frente<br />
És jovem, sou reformado. (vide p. 106 – no livro faltou este 10º verso)<br />
És livre e podes votar<br />
Vivemos em democracia<br />
Até que enfim chegou o dia<br />
Para o país libertar<br />
Agora podemos falar<br />
.............................ão..................(no livro falta este verso por ex: Dizer a nossa razão ???!!!)<br />
Não temer a reacção<br />
Dos gulosos egoístas<br />
Dar o fim aos parasitas<br />
Tu tens o mundo na mão.<br />
Foi bem triste o meu viver<br />
Nos campos e nas fábricas<br />
Às vezes bebia as lágrimas<br />
E nada podia dizer<br />
Tantos anos a sofrer<br />
Mal comido e mal tratado<br />
E nas prisões torturado<br />
Pela nossa autoridade<br />
Só por dizer a verdade<br />
Olha bem o meu passado<br />
Lutando com garras e esperança<br />
Nós havemos de ganhar<br />
Nunca deixes de lutar<br />
P‟ra destruir a vingança<br />
É preciso ter lembrança<br />
De quem me roubava o pão<br />
E me chamava ladrão<br />
E deixava-me envergonhado<br />
Tu não lutes enganado<br />
Luta sempre p‟la razão<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 10 D.2 – DÉCIMAS de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da Serra)<br />
in SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação<br />
de Defesa do Património, Mértola, s/d. – p. 143<br />
VIVA AMENDOEIRA DA SERRA<br />
JÁ PARECE UMA CIDADE<br />
RUAS TUDO ALCATROADO<br />
JÁTEMOS ELECTRICIDADE<br />
Era uma escuridão<br />
O que faz os administradores<br />
Podemos dar os louvores<br />
A quem olhou à povoação<br />
Foi o administrador Serrão<br />
Que se encontra debaixo da terra<br />
Esta palavra tudo encerra<br />
Foi pelo concelho<br />
Hoje parece um espelho<br />
Viva amendoeira da Serra<br />
Temos telefone e correio<br />
E centro cultural<br />
Já encontramos menos mal<br />
Já se encontra algum recreio<br />
Foi tarde mas já veio<br />
Serrão teve cedo a infelicidade<br />
Homem cheio de vontade<br />
Sem excepção de criatura<br />
Amendoeira já faz figura<br />
Já parece uma cidade<br />
Há transporte para o passageiro<br />
Levou os alunos ao Liceu<br />
Antes, não aconteceu<br />
Só olhavam o dinheiro<br />
Administrador foi o primeiro<br />
Para todos foi um achado<br />
A outro com o lugar ocupado<br />
Da mesma opinião veio<br />
Pode-se ver o asseio<br />
Ruas tudo alcatroado<br />
Foi a luz inaugurada<br />
A vinte e oito de Outubro de oitente e três<br />
A boa vontade tudo fez<br />
Temos a causa preparada<br />
Dentro de pouco não falta nada<br />
É para a eternidade<br />
Para os velhos e mocidade<br />
Fica escrito na História<br />
Fica-nos bem em memória<br />
Já temos electricidade<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
197
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 11 A - RIMANCE<br />
in Delgado – LAURA LINDA<br />
In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel<br />
Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980,<br />
pp. 154 - 155<br />
Romances Populares<br />
LAURA LINDA, ÉS TÃO LINDA<br />
Ele – Laura linda, és tão linda!<br />
„Stás tão linda como o Sol<br />
Deixa-me dormir contigo<br />
Nas barras do teu lençol!<br />
Ela – Sim, sim, cavalheiro sim,<br />
Esta noite, amanhã não,<br />
Meu marido não está cá,<br />
Foi à Feira de Garvão.<br />
Era meia-noite em ponto<br />
Marido à porta bateu;<br />
Bateu uma, bateu duas,<br />
Mas ninguém lhe respondeu.<br />
Laura linda não responde,<br />
Pois já tem novos amores,<br />
Foi lá bàxo a 'scar as chaves,<br />
Lá ós fins dos corredores.<br />
Ele - De que é aquele cavalo<br />
Que na minha esquadra entrou?<br />
Ela - Será pra ti meu marido,<br />
Foi teu pai que to mandou.<br />
Ele - De quem é aquele capote<br />
Q'ue além está pendurado?<br />
Ela - Será pra ti, meu marido,<br />
Que tão bem o tens ganhado.<br />
Ele- De quem é aquele chapéu<br />
Todo cheio de galões?<br />
Ela - Será pra ti, meu marido,<br />
Fize-o (1) eu por minhas mãos. (por Fi-lo)<br />
Ele - De quem é aquele suspiro<br />
Que na minha cama entrou?<br />
Laura linda não responde,<br />
Dé-le'um ai e desmaiou.<br />
Ele - Vom dezer (2) às tuas manas – (Vou dizer)<br />
Que já tens novos amores;<br />
Tu por seres a mais velhinha<br />
Dás-les tão lindos louvores!<br />
(Por Gerturdes Augusta Pinto, criada de servir e natural de Mina de S. Domingos)<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
198
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 11 B - RIMANCE<br />
in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA<br />
In Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo - II Vol. - Com. Rec. Notas de Manuel<br />
Joaquim Delgado – Instituto Nacional de Investigação Científica Lx. – Editorial império 2ª Ed. 1980, p.<br />
155<br />
ISOLINA MUI FERMOSA<br />
Isolina mui fermosa<br />
Já se aparta o teu guerreiro!<br />
- A Palestina me chama,<br />
Adeus, que sou cavaleiro!<br />
Senhora, sinto o seu choro,<br />
Nas suas lágrimas creio;<br />
Mas, temo o novo amante,<br />
As circunstâncias receio.<br />
- Afonso, não receies,<br />
Nada tens que arrecear;<br />
Juro amar-te vivo ou morto,<br />
Mais ninguém m'há-de lograr!<br />
Se eu quebrar as minhas juras,<br />
Se minhas juras quebrar,<br />
Tua sombra me apareça<br />
No dia em que m'eu casar.<br />
Tua sombra me apareça,<br />
Com teu direito requer<br />
Que ao sepulcro me arrastes<br />
Dizendo que eu sou tua mulher.<br />
Graças de amor são prendas,<br />
Nelas Isolina deu todas;<br />
Finezas quebraram juras,<br />
Trovador acode às bodas.<br />
(Recitados por Aura dos Mártires Gomes de Brito, de Mértola)<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 12 – OS ÚLTIMOS SÃO OS PRIMEIROS<br />
NOTA IMPORTANTE:<br />
O melhor exemplo de tudo o que temos dito até aqui fomos encontrar in:<br />
SUBSÍDIOS PARA O PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO CONCELHO DE<br />
MÉRTOLA, Mário Elias, Edição da Assocoação de Defesa do Património, Mértola, s/d.<br />
Para além do seu CURRICULUM entranhadamente ligado a Mértola e às suas “pedras”, “cacos”<br />
e “gentes”, apresenta-nos um enorme painel de Mertolenses ilustres, artistas e escritores... e, em<br />
especial, apresenta, a partir da p.91 – SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO CANCIONEIRO<br />
POPULAR DO CONCELHO DE MÉRTOLA, que afinal é a realização do projecto que temos<br />
vindo a propor e está ali concretizado, dum modo e com elementos que nós nunca poderíamos<br />
conseguir.<br />
Apresenta-nos além dos ilustres anteriores “As figuras de maior destaque, que conheço de<br />
momento, são, segundo a minha concepção: António Dionísio Gonçalves, de Corte Sines; Bento<br />
Neto, de Corte da Velha; Francisco Horta (Hortinha), de Moreanes; José Alves dos Santos, de<br />
Mértola; Bartolomeu Godinho, de Mértola; e João Alves Baiôa, também de Mértola.»<br />
Além disso, grande número de QUADRAS, além das recolhidas “com o apoio da poetisa Maria<br />
Olívia Diniz Sampaio elaborada em vários estudos etnográficos editados no país...” e tem muitas<br />
das que nos foi possível recolher e aparecem com anónimas, Mário Elias apresenta-nos muitas<br />
com os nomes dos seus autores além das suas próprias... Para além das de Mário Elias e dos<br />
autores atrás citados, aparecem ainda: José Erva (Mértola) António Venâncio (Mértola),<br />
Francisco Viegas (Moreanes), Palma Raposo (Espargosa). M. D. O. (Mértola), Francisco Barão<br />
(Mértola), António Pedro da Costa (Mértola), Xavier Carrilho (S. João dos Caldeireiros), Manuel<br />
Silva (Mértola), Manuel Seno (Santana de Cambas), Álvaro Costa (Espargosa) e vai até António<br />
serrão Martins, que toda a gente conhece em Mértola, como o malogrado impulsionador do<br />
desenvolvimento que desde os anos de depois de Abril de 1974, se vem assistindo na vila e em<br />
todo o concelho;<br />
uma DÉCIMA (p. 106) de Manuel Guerreiro Martins, pseudónimo – o Alentejano – natural da<br />
Mina de S. Domingos e que reproduzimos, com a devida vénia em ANX. 3.4 – 10 – D -<br />
DÉCIMAS.<br />
Uma DÈCIMA (p. 143) de Joaquim Manuel Bento, nascido na Amendoeira da Serra e contava,<br />
na altura da escrita da obra, tinha 74 anos, e vamos reproduzir com a devida anotação em ANX.<br />
3.4 – 10 – E - DÉCIMAS.<br />
Ver ainda outras figuras importantes para a Cultura em Mértola... nas outras obras...<br />
De Mário Elias ver ainda as outras obras in BIBLIOGRAFIA...<br />
De Heitor Domingos – ver obras citadas in BIBLIOGRAFIA...<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
200
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS<br />
MODAS<br />
recolhidas por João RANITA da Nazaré in MOMENTOS VOCAIS DO BAIXO ALENTEJO –<br />
Cancioneiro da Tradição Oral – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – 1986. – Caoítulo:<br />
Quintas variações: Mértola pp. 269 – 296:<br />
Profanas:<br />
O meu anel<br />
Rio Guadiana<br />
As cobrinhas de água<br />
Mértola do Guadiana<br />
Nossa Senhora das Neves<br />
Passarinho prisioneiro<br />
Não quero que vás à monda<br />
Maria pega na carta<br />
Ao romper da bela aurora<br />
Lírio Roxo<br />
Religiosas:<br />
Os Reis<br />
As Janeiras<br />
Quadra:<br />
Mértola estás situada<br />
Entre o rio e a ribeira,<br />
Firme nas tuas muralhas<br />
A viver de cantaneira.<br />
(in Momentos Vacais do Baixo Alentejo – Cancioneiro da Tradição Oral – João Ranita da Nazaré – Imprensa<br />
Nacional da Casa da moeda, 1986, p. 269<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
201
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - Teoria<br />
Lopes Graça sobre a canção Alentejana:<br />
«Tem de ir ao coração do Alentejo, a Serpa e seu termo quem quiser conhecer uma das mais<br />
genuínas e curiosas manifestações do génio do nosso povo: as canções corais, que os íncolas da<br />
região, na sua maioria rudes trabalhadores do campo e pequenos mesteirais, cantam com uma<br />
admirável musicalidade nata e a compenetração de quem cumpre um velho ritual.<br />
É vê-los, concentrados e um tanto bisonhos, formar os seus grupos, cerrados uns aos outros,<br />
muitas vezes as raparigas os braços nos braços, e, numa cadenciação suave do corpo, como<br />
messe de altas espigas tocada pela brisa, darem início à função.<br />
Uma voz entoa a melodia: canta sozinha os primeiros compassos; em geral, outra lhe dá uma<br />
como que réplica - e logo as restantes se lhes juntam, numa harmonização instintiva, em que<br />
um que outro gostoso arcaísmo lembra a arte medieva do Organum e do Discantus.<br />
Esta gente canta com verdadeira paixão e todas as ocasiões lhe são boas para dar largas ao seu<br />
lirismo ingénito. Não há trabalho, folga, festa ou reunião de qualquer espécie sem um rosário<br />
infindo de cantigas. A alma do alentejano é profundamente musical e o canto é o elo vital que<br />
liga aqueles seres primitivos no sentimento de uma fraternidade de destinos, na afirmação de<br />
uma comunidade telúrica. Em qualquer parte o alentejano se reconhece e identifica,<br />
reconhecendo e identificando, do mesmo passo os seus irmãos em carne e espírito, mediante o<br />
viático das suas canções.<br />
O ar e a paisagem vibram constantemente de melodias. É, porém, no silêncio da noite, da vasta<br />
e profunda noite alentejana, que estas ganham toda a sua altura e projecção anímica...<br />
[. . .] A canção alentejana é, por via de regra, larga, dolente e triste, de uma tristeza nada<br />
depressiva, antes nobre e serena, de um colorido sóbrio, de uma linha severa, nisto reflectindo a<br />
monotonia grandiosa, hierática e, por assim dizer, ensimesmada da própria planura<br />
alentejana.»<br />
FERNANDO LOPES-GRAÇA, «Apontamento sobre a canção alentejana», in A canção popular portuguesa, Lisboa, Europa-América, 1953, pp.<br />
41-43.<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
202
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5– MODAS – CANTE - Teoria<br />
In MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS:<br />
«Hoje a rádio, levada à mais humilde aldeia ou lugarejo, tem de algum modo apagado certos<br />
usos tradicionais dos cantos alentejanos que, insensivelmente, vão perdendo muito de seu<br />
natural e típico sabor, alterando-se e substituindo-se por inexpressivas e, porventura, duvidosas<br />
canções. Nem por isso, creio, terão a rádio e os modernos 'jazes' força bastante para obliterar<br />
por completo muitos dos nossos patriarcais costumes e usos que nossos maiores nos legaram<br />
por via da tradição. É que tão enraizados eles estão na alma do povo, que não podem perder-se<br />
ou alterar-se senão por lenta evolução.<br />
I. . .] O valor das 'modas' alentejanas está em serem um canto misteriosamente afectivo,<br />
apaixonado, tendo algo de religioso e místico, como se desprende dos acordes e melodias. .<br />
A dolência e o vagaroso do canto vem-lhe do mundo ambiente - paisagem extensa, largos<br />
horizontes, influência climática.. etc.. em que vive o alentejano. Da liturgia recebeu a forma<br />
indefinida e simbólica, o que lhe dá carácter hierático. A tristeza e melancolia, de sentido vago<br />
que estes cantos traduzem e deixam transparecer, está na etnopsicologia do alentejano.<br />
Na verdade, o canto alentejano é expressivamente belo e, penetrando fundo na alma, cria-lhe<br />
suavidade e doçura.»<br />
MANUEL JOAQUIM DELGADO, Subsídio para o cancioneiro popular do Baixo Alentejo, vol. 11, Lisboa, Ed. Álvaro Pinto, 1955, pp. 8-9.<br />
293 Momentos – J Ranita d Nazaré<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
203
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 1<br />
1ª Moda – O Meu Anel:<br />
Eu perdi o eu anel<br />
Meu anel ‘stá perdido<br />
Eu perdi o meu anel<br />
‘Stava falando contigo.<br />
‘Stava falando contigo<br />
Contig’ estava faland(o)<br />
E eu perdi o eu anel<br />
Meia noite estava dando.<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
204
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 2<br />
Moda 2<br />
Guadiana tens saudades<br />
Das canoas e vapores<br />
As tuas águas só servem<br />
Pra as lanchas dos pescadores.<br />
Pra as lanchas dos pescadores<br />
Guadiana tem saudades<br />
Guadiana tem saudades<br />
Das canoas e vapores.<br />
Mér’la velha cidade<br />
De serranias cercada<br />
Tens o espelho o Guadiana<br />
Fostes tu a namorada.<br />
As tuas velhas muralhas<br />
Recordam a tu’ idade<br />
De serranias cercada<br />
Mér’la velha cidade.<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
205
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 3<br />
Moda 3<br />
Algum di’ eu era<br />
Agora já não<br />
Da tua roseira<br />
E o melhor botão.<br />
O melhor botão<br />
Algum di’ eu era<br />
Algum di’ eu era<br />
Agora já não.<br />
As cobrinhas d’água<br />
São nossas comadres<br />
Se por lá passares<br />
Dá-lhe saudades.<br />
Dá-lhe saudades<br />
Saudades minhas<br />
Se por lá passares<br />
Ao pé das cobri(nhas).<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
206
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 4<br />
Moda 4<br />
Ande lá por aond’ andar<br />
Nada vejo de mais belo<br />
Do que o nosso Guadiana<br />
A mesquita e o castelo.<br />
A mesquita e o castelo<br />
Ande lá por aond’ andar<br />
Ande lá por aond’ andar<br />
Nada vejo de mais belo.<br />
Ó Mértola do Guadiana<br />
Por D. Sancho conquistada<br />
Foi o berço que a embalou<br />
Os filhos da terra amada.<br />
Foste sim mas hoje és vila<br />
És uma terra raiana<br />
Por d. Sancho conquistada<br />
Ó Mértola do Guadiana.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
207
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 5<br />
Moda 5<br />
Ó minha mãe minha mãe<br />
Ó minha mãe minha amada<br />
Quem tem uma mãe tem tudo meu amor<br />
Quem não tem mãe não tem nada.<br />
Quem não tem mãe não tem nada<br />
Ó minha mãe minha mãe<br />
Ó minha mãe minha mãe meu amor<br />
Ó minha mãe minha amada.<br />
Nossa Senhora das Neves<br />
És a nossa Padroeira<br />
Tens uma casa velhinha meu amor<br />
Serás nossa a vid’ inteira.<br />
Serás nossa a vid’ inteira<br />
Tão velhinha como deves<br />
És a nossa padroeira meu amor<br />
Nossa Senhora das Neves.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
208
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 6<br />
Moda 6<br />
Ó minha mãe minha mãe<br />
E ó minha mãe minha amada<br />
Quem tem uma mãe tem tudo<br />
Quem não tem mãe não tem na(da).<br />
Quem não tem mãe não tem na(da)<br />
E ó minha mãe minha mãe<br />
Ó minha mãe minha mãe<br />
Ó minha mãe minha ama(da).<br />
Passarinho prisioneiro<br />
Diz-me lá quem te prendeu<br />
Pela minha liberdade<br />
Eu cantando peço a Deus.<br />
Eu cantando peço a Deus<br />
Que livre do cativeiro<br />
Diz-me lá quem te prendeu<br />
Passarinho prisioneiro.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 7<br />
Moda 7<br />
Ó minha mãe minha mãe<br />
Ó minha mãe minha amada<br />
Quem tem uma mãe tem tudo<br />
E ó meu lind’ amor<br />
Quem não tem mãe não tem nada.<br />
Quem não tem mãe não tem nada<br />
Ó minha mãe minha mãe<br />
Ó minha mãe minha mãe<br />
E ó meu lind’ amor<br />
Ó minha mãe minha ama(da).<br />
Não quero que vás à monda<br />
Nem à ribeira lavar<br />
Quero que fiques em casa<br />
E ó meu lind’ amor<br />
Para à noite namorar.<br />
Para à noite namorar<br />
Hás-de ser minha madrinha<br />
Não quero que vás à monda<br />
E ó meu lind’ amor<br />
Nem à ribeira sozi(nha).<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 8<br />
Moda 8<br />
Anda lá para diante<br />
Que eu atrás de ti não vou<br />
Não me quedo o coração<br />
Amar a quem me deixou.<br />
Maria pega na carta<br />
Toma sentido ó filha<br />
Vai levála e ò correio<br />
Que lhe ponh’ uma ‘stampilha.<br />
‘Stampilh’ uma ‘stampilha<br />
A paixão nasce de o peito<br />
E uma paixão rigorosa<br />
Todos nós ‘stamos sujeitos.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 9<br />
Moda 9<br />
Duas noites há no ano<br />
Que me alegr’ o coração<br />
É e a noite de Natal<br />
E a noite de S. João.<br />
E a noite de S. João<br />
Duas noites há no ano<br />
Duas noites há no ano<br />
Que me alegr’ o coração.<br />
Ao romper da bela aurora<br />
O campo é um jardim<br />
Cantam lindos passarinhos<br />
Na rama do alecrim.<br />
Na rama do alecrim<br />
Ouvi eu há meia hora<br />
E os passarinhos dizerem<br />
Já lá em rompendo a aurora.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
212
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 10<br />
Moda 10<br />
Vou-me embora vou-me embora<br />
Não me vou embora não<br />
Meu lírio roxo<br />
Não me vou embora mão.<br />
Antes que eu memvá embora<br />
Cá fica meu coração<br />
Me lírio roxo<br />
Cá fica meu coração.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 11<br />
Os Reis<br />
Esta cas’ é gente nobre<br />
Se ‘scutarem eu direi<br />
Ao romper do Oriente<br />
São chegados os três Reis.<br />
Lá da terr’ estão chegando<br />
Lá das ilhas de Belém<br />
Vêm visitar Deus-Menino<br />
Que a Nossa Senhora tem.<br />
Nossa Senhora nos disse<br />
Filho meu que te farei<br />
Não tenho cama nem berço<br />
E em meus braços deitarei.<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE - 12<br />
As Janeiras<br />
Esta noit’ é de Janeiras<br />
É de grande mer’cimento<br />
Por ser a noit’ a primeira<br />
É que Deus passou tormento.<br />
Os tormentos que passou<br />
Eu lhes digo na verda(de)<br />
O seu sangue derramou<br />
Pra salvar a cristandade.<br />
Ó raminho dai raminho<br />
De o raminho de salsa crua<br />
O raminho de salsa crua<br />
Lá ao pé da sua cama<br />
Nasce o sol e põe-se a çua<br />
Nasce o sol e põe-se a lua.<br />
Daqui donde eu ‘stou bem vejo<br />
E um canivet’ a bailar<br />
Um canivet’ a bailar<br />
Para cortar a choriça<br />
Que a senhora me há-de dar<br />
Que a senhora me há-de dar.<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
215
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
OS GRUPOS CORAIS<br />
GRUPO CORAL «GUADIANA»DE MÉRTOLA<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
216
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
GRUPO CORAL DA MINA DE SÃO DOMINGOS – VER NOMES E FOTO<br />
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Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
217
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
GRUPO CORAL DOS AMIGOS DA MINA DE SÃO DOMINGOS EM SACAVÉM<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
218
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras...<br />
ALGUMAS PEDRAS QUE FALAM... talvez um pouco mais que OUTRAS...<br />
Fotos recolhidas in CD PORTFOLIO – MÉRTOLA VILA MUSEU -<br />
Fig 1 - ESTA TORRE MANDOU FAZER DOM JOÃO FERNANDES PRIMEIRO MESTRE QUE HOUVE EM PORTUGAL ERA DE 1330 0U SEJA 1292<br />
Fig. 2 - Em destaque o símbolo dos Templários e no cruzeiro a palavra "OBLATVS" part. de offero - apresentar - expor - oferecer...<br />
Incricção em redor da base da Cruz: «OBLATVS EST QUIA IPSE VOLUIT ...»<br />
Vide Antifona da Feria V in Coena Domini<br />
- (in LIBER USUALIS MISSAE ET OFFICII PRO DOMINICIS ET FESTIS CUM CANTU GREGORIANO EX EDITIONE VATICANA... Typis<br />
Societatis S. Joannis Evangelistae - Desclée & Socii - S. Sedis Apostolicae et Sacrorum Rituum Congregationis Typographi - Parisiis, Tornaci, Romae - 1950 - p. 651)<br />
«Oblatus est, quia ipse voluit, et peccata nostra ipse portavit.» - «Foi oferecido, porque Ele próprio o quis, e Ele carregou com os nossos pecados.»<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
219
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Fig. 3 - «As suas cinco naves são cobertas por um belo reticulado de abóbadas»<br />
Fig. 4 - «Dos poucos elementos da Antiga Mesquita restam dois capitéis reutilizados na reconstrução do século<br />
XVI»<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
220
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Fig. 5 - Porta da Igreja que segue o modelo do Renascimento Italiano<br />
Fig. 6 - «Esta peça excepcional, fabricada no século XI, na antiga Tunísia, mostra, em traços<br />
rápidos, uma cena de caça, em que um corso é atacado por um galgo e um falcão»<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
221
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Fig 7 - «Os motivos decorativos animais ou vegetais passam a geométricos ou epigráficos.»<br />
Fig. 8 - Algumas das seis dezenas de lápidas epigrafadas:<br />
«ANTÓNIA ...<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
222
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Fig. 10 Amanda...<br />
Fig. 9 - FESTELUS...<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
223
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Fig 11 - SÃO HABITANTES DA CIDADE DE MYRTILIS E CONTEMPORÂNEOS DE ANDREAS REGENTE DO<br />
CORO DA IGREJA<br />
Fig. 14 - «Lápida com uma escrita, ainda hoje por decifrar, gravada em caracteres greco-púnicos.»<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
224
ÍNDICE<br />
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
A Tradição Oral na Identidade de um Povo ..........................................................................................................2<br />
Projecto de Plano de Trabalho – para a TRADIÇÃO ORAL na Identidade de um Povo: ................................ 5<br />
ANEXOS – Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS ........................................................................................ 6<br />
0. – INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 7<br />
1. FALAM OS MESTRES ......................................................................................................................... 9<br />
1.1 - Mértola no Espaço - ALENTEJO com marcas de Colonização... ...........................................................16<br />
2. - Mértola – os Nomes ...............................................................................................................................20<br />
2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME.............................................................................20<br />
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina ..............................................................................20<br />
2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia greco-latina ..............................................................................21<br />
2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... .......................................................22<br />
2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... ........................................................24<br />
2.4 – MÉRTOLA – NOMES – as ALCUNHAS – um mundo delicado, pouco estudado... ................................26<br />
2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... ..............................................................................27<br />
PEIXES ...........................................................................................................................................28<br />
AVES ...............................................................................................................................................30<br />
Ver ainda da mesma obra Espécies citadas no texto sobre as AVES..................................................31<br />
2.6 – MÉRTOLA – Expressões mais vulgarizadas: AS COMIDAS... ..............................................................32<br />
Saudações, formas de tratamento... ..............................................................................................................32<br />
3. – Outras Formas de Expressão.................................................................................................................36<br />
3.1 – LENDA/s .............................................................................................................................................37<br />
3.1.1 – Mitologia Greco-Latina ....................................................................................................................42<br />
3.2 – CONTO/s ............................................................................................................................................44<br />
3.3 – ANEDOTA/s & Outras formas de linguagem:- Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... ..47<br />
3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... .......................................................................50<br />
3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS .............................................................................................................55<br />
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... ......................................................................58<br />
Conclusão ...................................................................................................................................................61<br />
BIBLIOGRAFIA ..........................................................................................................................................62<br />
BIBLIOGRAFIA – 1. in Enciclopédia Verbo – Luso Brasileira de Cultura – in Mértola: ........................................62<br />
BIBLIOGRAFIA –2. onde se foram buscar os Textos da Tradição Oral – Literatura Popular e Informação<br />
complementar, como alguns dados sobre a MITOLOGIA GRECO LATINA: ..........................................................64<br />
BIBLIOGRAFIA – 3. Artigos Publicados em Revistas e Outras Publicações Periódicas .........................................66<br />
BIBLIOGRAFIA - 4. Artigos do Professor in Vilas e Cidades 68<br />
MULTIMEDIA: ....................................................................................................................................................68<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
225
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANEXOS - COLECTÂNEA DE TEXTOS<br />
Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS ANEXOS de A Tradição Oral na Identidade de um Povo ........................ 69<br />
PLANO DA COLECTÂNEA DE TEXTOS & RECOLHAS – ANEXOS Esquema paralelo ao da apresentação do<br />
trabalho..........................................................................................................................................................70<br />
ANX. 1. – FALAM OS MESTRES – .................................................................................................................71<br />
ANX. 1.1 – Mértola no Espaço – ALENTEJO com marcas de Colonização... ...................................................78<br />
ANX. 2. - Mértola – a NOMINALIA ou a festa dos Nomes ...............................................................................81<br />
ANX. 2.1 – MÉRTOLA - os diversos NOMES do mesmo NOME.......................................................................82<br />
ANX. 2.1.1 - as possíveis evocações da Mitologia Greco-Latina ......................................................................86<br />
ANX. 2.2 – MÉRTOLA – NOMES - a Toponímia – as Freguesias e Lugares... .................................................88<br />
Mértola tem nove freguesias – os LUGARES E RUAS...: .................................................................................90<br />
ANX. 2.3 – MÉRTOLA – NOMES – os APELIDOS mais numerosos e raros... ..................................................97<br />
NOMINÁLIA – APELIDOS – uma AMOSTRA dos mais repetidos e alguns raros .............................................98<br />
ANX 2.5 – MÉRTOLA – outros NOMES: a Fauna... a Flora... ....................................................................... 103<br />
ANX. 3. – Outras Formas de Expressão ........................................................................................................ 117<br />
ANX. 3.1 – LENDA/s..................................................................................................................................... 118<br />
LENDAS 3.1 - 1 – SERPÍNEA e MIRTILIS .......................................................................................................... 118<br />
ANEXO 3.1 – 2 - LENDA – A LENDA DE SERPÍNEA ......................................................................................... 120<br />
ANEXO 3.1 – 3 – SERPÍNEA E A FUNDAÇÃO DE SERPA ................................................................................ 122<br />
ANEXO 3.1 – 4 – SERPA EN/CANTADA EM LENDAS ....................................................................................... 131<br />
ANEXO 3.1 – 5 – A LENDA DE MYRTILIS em honra da Deusa MIRTO que o teve de Mercúrio .......................... 132<br />
ANEXO 3.1 – 6 - LENDA – A TESOURINHA DA MOURA .................................................................................. 138<br />
ANX. 3.1.1 – Mitologia Greco-Latina – LENDA/s ......................................................................................... 140<br />
MÉRTOLA – Alguns dados sobre MITOLOGIA GRECOROMANA ...................................................................... 141<br />
ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 165<br />
CONTO 1 – A COMADRE MORTE..................................................................................................................... 165<br />
ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 167<br />
CONTO 2 – MAIS FACILIDADES DE ESCOLHA............................................................................................... 167<br />
ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 168<br />
CONTO 3 – PERGUNTAS DO SENHOR PROFESSOR....................................................................................... 168<br />
ANX. 3.2 – CONTO/s .................................................................................................................................... 173<br />
CONTO 4 – BOA RESPOSTA ............................................................................................................................. 173<br />
ANX. 3.3 – ANEDOTA/s & Outras – Provérbios – Adivinhas – Lengalengas – Cantilenas... .......................... 175<br />
ANEDOTAS – Vide A. Machado Guerreiro e AlentejANEDOTAS in www.<strong>joraga</strong>.net ........................................... 175<br />
ANX. 3.4 – POESIA – Quadras – Cantigas – Décimas – Orações... ............................................................... 178<br />
ANX. 3.4 – 1 - QUADRAS & CANTIGAS in Pereira – Cantigas e Quadras – o que podem exprimir. ................... 178<br />
ANX. 3.4 – 2 - QUADRAS & CANTIGAS in Delgado - QUADRAS...................................................................... 179<br />
ANX. 3.4 – 3 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – QUADRAS – volume I ................................................ 183<br />
ANX. 3.4 – 4 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – QUADRAS – volume II ............................................... 185<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
226
<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
ANX. 3.4 – 5 - QUADRAS & CANTIGAS in J. LEITE V – CANTIGAS – volume II .............................................. 187<br />
ANX. 3.4 – 6 - QUADRAS & CANTIGAS in Delgado - JANEIRAS ...................................................................... 190<br />
ANX. 3.4 – 7 - ORAÇÃO ..................................................................................................................................... 191<br />
ANX. 3.4 – 8 – ORAÇÕES:Ver as referidas no RITUAL DO PÃO - ANX 2.6: 192<br />
ANX. 3.4 – 9 - ORAÇÃO DAS ALMAS in J. Leite de Vasconcellos –Orações in ROMANCEIRO ......................... 192<br />
ANX. 3.4 – 10 A – DÉCIMAS in J. LEITE V. – MINEIRO TRAJA BEM ............................................................... 193<br />
ANX. 3.4 – 10 B – DÉCIMAS in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - I........................................ 194<br />
ANX. 3.4 – 10 C – DÉCIMAS in J. LEITE V. – DESPIQUE ALENTEJO ALGARVE - II ...................................... 195<br />
ANX. 3.4 – 10 D.1 – DÉCIMAS de Manuel Guerreiro Martins (Mina de S. Domingos) ........................................ 196<br />
ANX. 3.4 – 10 D.2 – DÉCIMAS de Joaquim Manuel Bento (Amendoeira da Serra) .............................................. 197<br />
ANX. 3.4 – 11 A – RIMANCE in Delgado – LAURA LINDA ................................................................................ 198<br />
ANX. 3.4 – 11 B – RIMANCE in Delgado – ISOLINA MUI FERMOSA ............................................................... 199<br />
ANX. 3.4 – 12 – OS ÚLTIMOS SÃO OS PRIMEIROS .......................................................................................... 200<br />
ANX. 3.5 – GRUPOS CORAIS & MODAS MODAS ...................................................................................... 201<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – Teoria Lopes Graça sobre a canção Alentejana:.............................................. 202<br />
ANX. 3.5– MODAS – CANTE – Teoria In MJ DELGADO – sobre AS MODAS ALENTEJANAS: .................... 203<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 1 1ª Moda – O Meu Anel: ................................................................................ 204<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 2 Moda 2 ......................................................................................................... 205<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 3 Moda 3 ......................................................................................................... 206<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 4 Moda 4 ......................................................................................................... 207<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 5 Moda 5 ......................................................................................................... 208<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 6 Moda 6 ......................................................................................................... 209<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 7 Moda 7 ......................................................................................................... 210<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 8 Moda 8 ......................................................................................................... 211<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 9 Moda 9 ......................................................................................................... 212<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 10 Moda 10...................................................................................................... 213<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 11 Os Reis ....................................................................................................... 214<br />
ANX. 3.5 – MODAS – CANTE – 12 As Janeiras ................................................................................................. 215<br />
OS GRUPOS CORAIS .................................................................................................................................. 216<br />
4. – PEDRAS que FALAM – umas talvez mais que as outras... ............................................................................. 219<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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<strong>ESE</strong> JEAN PIAGET – ALMADA – CURSO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL – 2002 - 2003<br />
Placa de estrada, na Feira de Castro Verde a indicar a ENCRUZILHADA de gentes e produtos...<br />
Mértola o «esporão rochoso» que se ergue «entre-ambas-as-águas» e pode evocar NOMES e<br />
Figuras da MITOLOGIA greco-romana...<br />
FIM<br />
Da<br />
Colectânea de TEXTOS e RECOLHAS<br />
ANEXOS de<br />
A Tradição Oral na Identidade de um Povo<br />
Aluna: Maria de Fátima da Vinha Borges; n.º 58<br />
ESCOLA SUPERIOR de EDUCAÇÃO <strong>Jean</strong> <strong>Piaget</strong> – Almada<br />
Curso: Qualificação Para o Exercício de Outras Funções Educativas em Animação Sociocultural<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico<br />
Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
FÁTIMA BORGES – Aluna N.º 58 – Tema - Tradição Oral na Identidade de um Povo -<br />
Disciplina: Gestão de Espaços Culturais e Património Histórico - Professor: Dr. Francisco Jacinto<br />
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