Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial
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Os apoios e alavancas identitários,<br />
apoios e alavancas para<br />
ações e palavras de grupos e de<br />
pessoas, desmoralizados, ficam<br />
sem apreço num ambiente de<br />
desprezo. É preciso resistir contra<br />
a desmoralização e combater<br />
a dominação.<br />
TROCA DE INFLUÊNCIAS<br />
A identidade não pode ser confundida<br />
com a própria pessoa<br />
que, em situação que não seja<br />
de dominação, tem necessidade<br />
de trocar influências com pessoas<br />
de outras raízes. Simone<br />
Weil frisava a necessidade de<br />
raiz, o enraizamento, o direito à<br />
raiz, o que para ela era o direito<br />
à participação real, ativa e natural<br />
em grupos que vivamente<br />
conservam tesouros do passado<br />
e pressentimentos do futuro.<br />
A defesa das raízes é defesa da<br />
identidade cultural. Mas Simone<br />
Weil igualmente frisava a necessidade<br />
de trocar influências, a<br />
troca entre pessoas e mundos<br />
diferentes, contanto que a troca<br />
não fosse uma espécie de<br />
importação pela pessoa ou<br />
nação rebaixadas dos traços<br />
característicos de pessoas ou<br />
nações acimadas.<br />
Na dominação não há troca.<br />
Uma cultura, como nos diz<br />
Ecléa Bosi, deixa de valer como<br />
uma revelação, pois há imposição<br />
de uma identidade contra<br />
outra.<br />
Identidade e troca: há dialética<br />
aqui. O bem não está numa ou<br />
noutra tanto quanto entre elas.<br />
Aquele que ama suas raízes<br />
consistentemente e não imaginariamente,<br />
idealizando-as, estima<br />
raízes alheias. E a pessoa<br />
capaz de amar raízes de um<br />
outro é pessoa que cresce no<br />
amor desprendido pela própria<br />
raiz: amor desprendido, amor<br />
consistente. Um movimento<br />
leva ao outro.<br />
Se me perguntassem o que preciso<br />
fazer para respeitar as raízes<br />
do outro, eu diria: respeitar<br />
minhas próprias raízes. E para<br />
respeitar minhas próprias raízes,<br />
o que preciso fazer? Respeitar<br />
as raízes do outro.<br />
PAPEL DOS BRANCOS<br />
Os brancos precisam compreender<br />
que sua dignidade supõe<br />
a defesa da dignidade dos<br />
negros. Precisamos atinar com o<br />
fato de que dominação é violência<br />
e faz estragos gerais, entre<br />
dominados, entre dominadores,<br />
entre uns e outros. Não é simplesmente<br />
a condição do dominado<br />
que é miserável, a condição<br />
complementar, do dominador,<br />
também o é.<br />
Necessitamos compreender que<br />
as lutas concretas e particulares<br />
são o caminho para as lutas<br />
universais. A gente não luta universalmente<br />
pelo direito, se não<br />
lutar concreta e particularmente<br />
pelo direito do negro, do índio,<br />
da mulher, do operário e assim<br />
sucessivamente. O universal<br />
não tem meio de alcance que<br />
não seja o concreto e o<br />
particular.<br />
A superação da dominação será<br />
particular e concreta. Ninguém<br />
sabe o que é o preconceito, se<br />
não tiver atinado com o preconceito<br />
contra o negro, contra<br />
a mulher, contra os pobres.<br />
Ninguém sabe o que é o preconceito<br />
se não tiver feito uma<br />
experiência concreta de exposição<br />
ao preconceito.<br />
Se a gente dispara a luta contra<br />
essas experiências singulares de<br />
violência e a interrogação sobre