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Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial

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70<br />

Os apoios e alavancas identitários,<br />

apoios e alavancas para<br />

ações e palavras de grupos e de<br />

pessoas, desmoralizados, ficam<br />

sem apreço num ambiente de<br />

desprezo. É preciso resistir contra<br />

a desmoralização e combater<br />

a dominação.<br />

TROCA DE INFLUÊNCIAS<br />

A identidade não pode ser confundida<br />

com a própria pessoa<br />

que, em situação que não seja<br />

de dominação, tem necessidade<br />

de trocar influências com pessoas<br />

de outras raízes. Simone<br />

Weil frisava a necessidade de<br />

raiz, o enraizamento, o direito à<br />

raiz, o que para ela era o direito<br />

à participação real, ativa e natural<br />

em grupos que vivamente<br />

conservam tesouros do passado<br />

e pressentimentos do futuro.<br />

A defesa das raízes é defesa da<br />

identidade cultural. Mas Simone<br />

Weil igualmente frisava a necessidade<br />

de trocar influências, a<br />

troca entre pessoas e mundos<br />

diferentes, contanto que a troca<br />

não fosse uma espécie de<br />

importação pela pessoa ou<br />

nação rebaixadas dos traços<br />

característicos de pessoas ou<br />

nações acimadas.<br />

Na dominação não há troca.<br />

Uma cultura, como nos diz<br />

Ecléa Bosi, deixa de valer como<br />

uma revelação, pois há imposição<br />

de uma identidade contra<br />

outra.<br />

Identidade e troca: há dialética<br />

aqui. O bem não está numa ou<br />

noutra tanto quanto entre elas.<br />

Aquele que ama suas raízes<br />

consistentemente e não imaginariamente,<br />

idealizando-as, estima<br />

raízes alheias. E a pessoa<br />

capaz de amar raízes de um<br />

outro é pessoa que cresce no<br />

amor desprendido pela própria<br />

raiz: amor desprendido, amor<br />

consistente. Um movimento<br />

leva ao outro.<br />

Se me perguntassem o que preciso<br />

fazer para respeitar as raízes<br />

do outro, eu diria: respeitar<br />

minhas próprias raízes. E para<br />

respeitar minhas próprias raízes,<br />

o que preciso fazer? Respeitar<br />

as raízes do outro.<br />

PAPEL DOS BRANCOS<br />

Os brancos precisam compreender<br />

que sua dignidade supõe<br />

a defesa da dignidade dos<br />

negros. Precisamos atinar com o<br />

fato de que dominação é violência<br />

e faz estragos gerais, entre<br />

dominados, entre dominadores,<br />

entre uns e outros. Não é simplesmente<br />

a condição do dominado<br />

que é miserável, a condição<br />

complementar, do dominador,<br />

também o é.<br />

Necessitamos compreender que<br />

as lutas concretas e particulares<br />

são o caminho para as lutas<br />

universais. A gente não luta universalmente<br />

pelo direito, se não<br />

lutar concreta e particularmente<br />

pelo direito do negro, do índio,<br />

da mulher, do operário e assim<br />

sucessivamente. O universal<br />

não tem meio de alcance que<br />

não seja o concreto e o<br />

particular.<br />

A superação da dominação será<br />

particular e concreta. Ninguém<br />

sabe o que é o preconceito, se<br />

não tiver atinado com o preconceito<br />

contra o negro, contra<br />

a mulher, contra os pobres.<br />

Ninguém sabe o que é o preconceito<br />

se não tiver feito uma<br />

experiência concreta de exposição<br />

ao preconceito.<br />

Se a gente dispara a luta contra<br />

essas experiências singulares de<br />

violência e a interrogação sobre

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