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Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial

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idiota de um problema privado,<br />

mas a fome do outro me transporta<br />

para a esfera espiritual de<br />

um problema político.<br />

DOMINAÇÃO<br />

Penso que na base de toda discriminação<br />

está a violência do<br />

rebaixamento político. O<br />

machismo, por exemplo, começa<br />

pela posição da mulher<br />

numa condição de serviço unilateral.<br />

O ato de servir fica<br />

reservado à mulher mais do<br />

que ao homem. Não há revezamento<br />

de homem e mulher no<br />

ato de servir. O homem começa<br />

a assumir posição de comando<br />

em relação à mulher. E isso<br />

também está na base do racismo.<br />

Para o branco, o negro deve ser<br />

mantido na posição compulsória<br />

de um servidor, um serviçal,<br />

um subordinado. Não há revezamento<br />

na posição de serviço<br />

entre brancos e negros. Claro<br />

que o revezamento supõe que<br />

o ato de servir nunca seja servil,<br />

quando o ato de servir é unilateral<br />

tende ao servilismo.<br />

Insisto que a dominação está na<br />

base do racismo.<br />

Os negros enquanto negros,<br />

percebidos por raça e por cultura,<br />

possivelmente provoquem<br />

nos brancos algum estranhamento<br />

e, nessa medida, alguma<br />

resistência. Gostaria de mais<br />

argumentar, mas vou apressar e<br />

simplesmente afirmar que essa<br />

resistência desmancha-se com<br />

o tempo, contanto que o contato<br />

seja um encontro, uma troca<br />

entre brancos e negros. Agora,<br />

se a desigualdade marca o contatos,<br />

as resistências vão ser<br />

agravadas, aprofundadas, cada<br />

vez mais racionalizadas e congeladas.<br />

A razão do congelamento não<br />

está no estranhamento, está no<br />

horror dos brancos em renunciar<br />

à posição de superiores.<br />

Está no horror de verem os<br />

negros em posição que não<br />

fosse a dos trabalhadores a seu<br />

serviço e sob seu comando. Os<br />

brancos tem horror da igualdade<br />

política e este horror é originariamente<br />

horror de morrer, é<br />

expressão de um apego à vida<br />

privada; só em terceiro tempo é<br />

que o horror vai comutar-se em<br />

horror dos negros, tendo em<br />

segundo tempo comutado-se<br />

em horror de um contato igualitário<br />

com trabalhadores. Uma<br />

sociedade de gente livre, uma<br />

sociedade igualitária vai ser mais<br />

modesta do que a nossa, porque<br />

não poderemos sacrificar<br />

vidas por razão de tanta riqueza<br />

e tanto luxo, por razão de tanta<br />

segurança contra a morte, por<br />

razão de tanto medo de morrer.<br />

Uma sociedade igualitária terá<br />

mais gente dispensada do trabalho<br />

manual, o que também<br />

quer dizer mais gente reconciliada<br />

com o trabalho manual,<br />

porque mais oferta de trabalho<br />

manual qualificado. É que a<br />

superação do antagonismo<br />

entre administradores e operários,<br />

a participação dos trabalhadores<br />

no governo do trabalho,<br />

tende a recuperar dimensões<br />

intelectuais do trabalho manual<br />

(exceção feita as trabalhos<br />

muito simples, necessariamente<br />

muito simples e que, então,<br />

deverão ser socialmente generalizados,<br />

um dever de todos e<br />

cada um, sem mais serem<br />

reservados a uma classe de pessoas<br />

aviltadas). Ao invés de<br />

gente rebaixada para trabalhos<br />

manuais simplificados, o trabalho<br />

outra vez complexo terá<br />

que supor vocação e estudo<br />

para serem exercidos. Essas coisas<br />

mexem muito com segu-<br />

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