19.05.2013 Views

Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial

Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial

Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O GOSTO DE GENTE<br />

Eu esperava servir pessoas.<br />

Encontrei, então, Ecléa Bosi e a<br />

psicologia social. Passei a trabalhar<br />

com pesquisa, com docência,<br />

e prossegui com serviços<br />

comunitários antes assumidos<br />

na Vila Joanisa. Alguma tarefa<br />

clínica, pouca, mas importante e<br />

persistente, vivida com muita<br />

consideração, sempre me ajudou:<br />

prestar demais atenção à<br />

vida social pode embriagar, a<br />

gente pode um tanto abandonar<br />

a pesquisa de dentro. Havia<br />

um risco pessoal de me tornar<br />

distante e superficial em relação<br />

às pessoas: foi por necessidade<br />

e por precaução que pedi a<br />

mão dos psicólogos e dos<br />

psicanalistas.<br />

A psicologia se torna psicologia<br />

social porque a alma humana<br />

tem raiz eminentemente social.<br />

Ouvimos sempre: os seres<br />

humanos são animais sociais.<br />

Isso quer dizer não apenas que<br />

a gente tem necessidade dos<br />

outros para contar com certos<br />

benefícios de vida. É evidente<br />

que a gente tem necessidade<br />

dos outros para morar, comer,<br />

vestir-se. Temos uma necessidade<br />

funcional dos outros. Mas a<br />

vida social não é só feita dessas<br />

necessidades nem sobretudo<br />

dessas necessidades. Nós<br />

temos, mais radicalmente, uma<br />

necessidade dos outros para<br />

alcançar de modo mais sólido a<br />

experiência de nossa própria<br />

humanidade.<br />

Há certas capacidades humanas<br />

que só assumem suficiente realidade<br />

em companhia dos<br />

outros humanos. Certas capacidades<br />

humanas de que a gente<br />

é potencialmente capaz não<br />

chegariam a se realizar, não chegariam<br />

a assumir realidade para<br />

nós, se não fossem praticadas<br />

em companhia dos outros.<br />

BELEZA<br />

Os seres humanos são capazes<br />

de apreciar a beleza das coisas,<br />

o que significa que somos capazes<br />

de nos deter longamente na<br />

mera aparência das coisas. E de<br />

um modo desinteressado, sem<br />

nada pedir delas. Não estou<br />

falando aqui da fruição de beleza<br />

que é controlada pelo mercado<br />

das imagens. O mercado<br />

das imagens confunde beleza e<br />

aparência padronizada. A beleza<br />

é um fenômeno ligado à aparição<br />

e não tanto à aparência.<br />

As aparências são rastros deixados<br />

pela beleza, mas beleza é<br />

aparição.<br />

A beleza sempre está associada<br />

à liberdade de manifestação. A<br />

beleza das pessoas é ligada de<br />

perto à liberdade de agir, de<br />

falar, de movimentar-se no meio<br />

dos outros. Também a liberdade<br />

de sossegar no meio dos<br />

outros. Pessoas livres são necessariamente<br />

muito bonitas. A<br />

experiência de olhar a beleza<br />

das pessoas justifica-se por si<br />

mesma, não tem outro fim<br />

senão transcorrer: a beleza não<br />

é como instrumento para outra<br />

coisa, mas ela mesma vale a<br />

experiência.<br />

E a beleza é dessas experiências<br />

que, se a gente não compartilhar,<br />

pode ficar perdida. A gente<br />

pode, no isolamento, deixar<br />

sem vigor a experiência. No<br />

meio de quem se fechou para a<br />

beleza e vive de aparências, a<br />

gente pode perder a capacidade<br />

de manter-se sensível ao que é<br />

bonito.<br />

59

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!