Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial
Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial
Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
DOCUMENTÁRIO “ OLHOS AZUIS” E DEBATE<br />
Comentários dos debatedores:<br />
“No primeiro momento,<br />
achei o vídeo agressivo. Pensei: a<br />
consciência da violência da discriminação<br />
poder ser conquistada de<br />
forma menos traumática. Fiquei<br />
incomodada da professora ter proposto<br />
um jogo tão cruel para crianças.<br />
Não estou desmerecendo a dor<br />
da criança negra ao ser constantemente<br />
discriminada, mas não sei se<br />
jogar de “inverter papéis”, tornará<br />
o indivíduo um cidadão melhor.<br />
Por outro lado, talvez eu esteja<br />
pensando com cabeça de branco, se<br />
considerarmos que as crianças<br />
brancas viveram a situação por<br />
horas, enquanto as crianças negras<br />
a vivem constantemente.”<br />
“O vídeo “Olhos Azuis”<br />
me fez lembrar de coisas que senti<br />
na faculdade, por seu caráter<br />
muito opressor. Ela tem a dinâmica<br />
de um querer negar o outro, de<br />
um querer negar a condição do<br />
outro. Eu me sentia péssima,<br />
quando o professor devolvia um<br />
texto meu todo riscado. Eu pensava:<br />
será que ele não vê que eu não<br />
fiz cursinho? Ele não percebe que<br />
eu vim da escola pública? Fico confusa.<br />
Não sei se faculdade discrimina<br />
por uma questão racial ou se<br />
ela é assim mesmo, incapaz de<br />
enxergar os alunos em suas diferenças.”<br />
“O que eu achei mais interessante<br />
no vídeo é o tema de que<br />
o racismo é uma questão para ser<br />
resolvida por toda a sociedade.<br />
Não é uma questão que diz respeito<br />
somente aos negros. Isso significa<br />
que a luta anti-racista tem que<br />
incluir os brancos. A solução é de<br />
responsabilidade de brancos e<br />
negros.”<br />
“O vídeo “Olhos Azuis”<br />
confirmou que eu tenho que trabalhar<br />
duro para entrar em contato<br />
com a dor. Só assim poderei discernir<br />
e sair das confusões.”<br />
“Uma das características<br />
do racismo é fazer com que a pessoa<br />
discriminada tenha dúvidas se<br />
está sendo discriminada, ou se está<br />
paranóica. Por exemplo, no Brasil,<br />
já existem recursos em favor dos<br />
discriminados, só que pouca gente,<br />
de fato, vai na delegacia fazer a<br />
queixa. Acho que a pessoa fica em<br />
dúvida. Ela pergunta: será que isto<br />
está acontecendo de verdade?”<br />
“Eu vejo a professora do<br />
vídeo como aliada. Uma mulher<br />
branca aliada. Ter parcerias com<br />
brancos pode ser de grande ajuda<br />
para o negro. Mas a gente ainda<br />
não conseguiu juntar um grupo<br />
anti-racista com 50% de negros e<br />
50% de brancos.”<br />
“Eu desconfio um pouco<br />
da professora branca de “Olhos<br />
Azuis”. Talvez ela se sinta tão confortável<br />
e segura, exatamente, por<br />
ser uma mulher branca puxando a<br />
orelha de outros brancos. Tenho<br />
dúvidas se uma mulher negra, ocupando<br />
o lugar dela, se sentiria tão<br />
segura.”<br />
“O que mais gostei na<br />
experiência “Olhos Azuis” foi o<br />
trabalho em grupo. Ele permitiu o<br />
acordo e que as pessoas aceitassem<br />
participar de um jogo traumático.”<br />
“Tenho que dar os parabéns<br />
para a ousadia da educadora<br />
Jane Elliot. Pois deve ser difícil<br />
para o outro reconhecer que ele<br />
não é uma pessoa tão bacana como<br />
se imaginava.”<br />
“Achei significativo observar<br />
como as crianças têm uma<br />
prontidão para experimentar<br />
muito mais aguçada do que os<br />
adultos. Os adultos parecem<br />
entrar em pânico com as pergunta:<br />
“Como vou agir diferente?”.<br />
Muitas vezes, a cristalização impede<br />
a transformação. Fazendo a leitura<br />
corporal das crianças e dos<br />
adultos, a hora em que um dos<br />
meninos tira o lenço (o estigma), o<br />
ritmo é rápido. Ele se livra rapidamente.<br />
Isso tem a ver com a flexibilidade<br />
das crianças. Já o adulto<br />
tira o “estigma” mais lentamente,<br />
com uma expressão meio sem<br />
graça.”<br />
“Eu gostei muito. A Elliot<br />
também deu uma oportunidade<br />
para os brancos. Porque, de uma<br />
maneira geral, brancos não discutem<br />
sua etnia. É como se ela pairasse.<br />
Quando os brancos pensam<br />
em raça, parece que a raça é sempre<br />
do outro. Parece que só existe<br />
a raça negra.”<br />
37