Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial
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P2 - Meu primeiro dia de escola foi horrível.<br />
Minha avó era lavadeira. Ela tinha uma<br />
amiga mais velha que ela e também negra.<br />
As duas ficavam o dia inteiro lavando roupa<br />
e conversando baixinho. Falavam dos tempos<br />
da escravidão. Minha mãe dizia que elas<br />
falavam em nagô para ninguém entendêlas.<br />
No meu primeiro dia de escola, achei<br />
que a minha avó, a qual chamava de mãe,<br />
estava me abandonando. Chorei muito!<br />
Depois me acostumei.<br />
Uma vez tive dor de dente e procurei o<br />
dentista da escola. Mostrei-lhe o dente e ele<br />
o arrancou a sangue frio. Doeu muito.<br />
Depois daquela experiência, peguei trauma<br />
de dentista. Quando tinha dor de dente,<br />
sofria silenciosamente. Naquela época,<br />
1969, segundo relatos de amigos, muitos<br />
dentistas de escolas públicas tratavam<br />
assim a maioria dos negrinhos e negrinhas.<br />
P3 - Fui discriminada recentemente na<br />
faculdade. Em uma aula da disciplina de<br />
Psicologia Social, eu falei acerca do “branqueamento<br />
da escola”. Critiquei o modelo<br />
de escola imposto pelos brancos. Levantei<br />
dados históricos. Fiz tudo direitinho. A sala<br />
era predominantemente branca. O professor<br />
da disciplina interrompeu várias vezes a<br />
minha explanação. Chegou a dizer que eu<br />
estava fazendo uma piada. Ou seja, ele me<br />
desqualificou e desqualificou as questões<br />
que eu estava trazendo.<br />
Fazendo um trabalho proposto pelo <strong>AMMA</strong><br />
para os participantes deste curso, entrevistei<br />
algumas pessoas que responderam à pergunta:<br />
Você já sofreu alguma discriminação<br />
em sua vida? De que tipo? Se sim, como<br />
você se sentiu e como reagiu a ela?<br />
Confira duas respostas:<br />
1) Estudante, 20 anos:<br />
“Quando eu estava na primeira série, um<br />
coleguinha de classe falou: “Essa preta aí”.<br />
Eu respondi: “Seu burro”! Mas pegou tanto<br />
em mim, que eu lembro até hoje...”<br />
2) Arte-educadora, 22 anos:<br />
“No magistério, eu era considerada fora<br />
dos padrões, diziam que eu não tinha postura<br />
de professora. Porém nem foi preciso<br />
reagir. Minhas aulas foram as próprias respostas,<br />
só que na voz dos alunos. O fato é<br />
que a escola, além de rançosa, nos ensina<br />
desde cedo a segregação.”<br />
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