Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial
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Qual o compromisso da escola na promoção da igualdade racial?<br />
Eliana - Na escola encontramos um caldeirão, no qual fervilham todas as etnias. A cultura<br />
brasileira está na sala de aula, principalmente na escola pública. Portanto, caberia à escola o<br />
compromisso fundamental de trabalhar a promoção da igualdade racial. E o que vemos? Um<br />
paradoxo: a escola é o espaço que não poderia discriminar, mas acaba sendo o que mais discrimina.<br />
Uma das origens desse paradoxo vem do fato de, por séculos, a escola ter trabalhado<br />
com um currículo de modelo europeu.<br />
Um modelo que não tem nada a ver com os brasileiros?<br />
Eliana - Exatamente. Esse modelo favorece a homogeneização. Como se houvesse, no país,<br />
uma única cultura, no caso, branca e de ascendência européia. Dentro dessa concepção, fica<br />
quase impossível trabalhar com as diferenças. Trata-se de um currículo que favorece a discriminação<br />
racial/étnica.<br />
Discriminação que incide sobre os alunos negros?<br />
Eliana - Discriminação que expulsa as crianças negras da escola. Elas sofrem um desgaste<br />
continuado quando são chamadas de “negrinho” ou de “negrinha”. Muitas vezes, o professor<br />
nem tem consciência do quanto isso dói na criança, e do quanto isso dificulta o aprendizado.<br />
Assim, cada vez que a criança negra vai para a escola ela é ridicularizada e tem sua complexidade<br />
reduzida a atributos estereotipados. Isso provoca menos interesse pelos estudos, além da<br />
recusa em ir para a escola, dificuldade de aprendizagem e, por fim, provoca a evasão escolar.<br />
Há também outra conseqüência da discriminação: o não-pertencimento. O aluno negro não se<br />
vê representado na maioria dos livros didáticos. Como exemplo, a contribuição dos africanos<br />
na construção do país, constituição da diversidade, valores culturais etc. Também não percebe<br />
nem um pingo de respeito por ele, pela sua origem familiar e social. Quando chega na idade<br />
do ensino médio, ele não está mesmo na escola, ele está na rua.<br />
Qual o caminho para transformar essa situação?<br />
Eliana - Não existe um caminho. Há vários. Hoje, temos discutido como trabalhar a partir do<br />
aluno e não do professor. Também estamos esperançosos com a Lei 10639/2003 que inclui a<br />
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da Rede<br />
de Ensino. Mas, por fim, insistimos para que os professores parem de naturalizar as<br />
desigualdades, repetindo velhas mentiras: “pobre é negro e não aprende, para quê eu vou me<br />
esforçar?” “Ela vai ser empregada doméstica mesmo”. “O pai dele é faxineiro, ele vai continuar<br />
sendo faxineiro”.Dentro desse determinismo não há espaço para um pensamento maior<br />
em favor da criança. Não há um trabalho para aproveitar o potencial inerente a todo o ser<br />
humano.<br />
Os professores não têm sensibilidade?<br />
Eliana – A Lei 10.639/2003 (11.645/08) não basta. É preciso qualificar o professor.<br />
Poucos são sensíveis às questões raciais, mas quando se sensibilizam tornam-se professores e<br />
pessoas melhores. A transformação pode ser rápida, na medida em que eles começam a compreender<br />
a riqueza da diversidade. O racismo é a maior causa dos problemas educacionais<br />
dos alunos negros. A escola pode e deve desempenhar um papel decisivo no sentido de eliminar<br />
o racismo institucional. Daí perceber a necessidade de um currículo multicultural, que leve<br />
em consideração todas as culturas. Nesse momento, o professor ou professora desperta na<br />
criança ou o adolescente para o gosto de estudar. Precisamos ajudar o professor a entender<br />
que a desigualdade também passa pela escola e que eles têm um papel importante para dirimir<br />
os danos causados por essa desigualdade.<br />
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