Instituto AMMA - Psique & Negritude - Imprensa Oficial
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Como historiador e professor de História, você crê que o conhecimento dos fatos<br />
históricos pode nos ajudar na resolução de problemas cotidianos?<br />
Marco Antonio - Bom, a maneira como a Escola de primeiro e segundo graus apresenta a<br />
História não ajuda muito. O currículo escolar de História deveria ser repensado para que o<br />
aluno pudesse associar o passado coletivo ao seu presente individual. Eu me interessei pelo<br />
estudo da História, justamente, por vislumbrar nela a possibilidade de ação social e de entender<br />
o Brasil. Quando eu era criança, assistia ao telejornal e não entendia o que as pessoas<br />
falavam. Eu não compreendia qualquer notícia sobre política. Verdade que eu era bem jovem,<br />
natural que não atinasse. Mas não compreender, me incomodava muito. Eu acredito que, não<br />
só a História mas também as Ciências Humanas nos ajudam a ler a realidade e, a partir daí,<br />
podemos pautar nossas ações.<br />
Por anos a fio, os livros didáticos brasileiros contaram a História de um ponto<br />
de vista branco e masculino. Você concorda com esta afirmação?<br />
Marco Antonio - Os livros de História estão melhores, mas ainda longe do ideal. Na prática,<br />
existe um descompasso entre o que se discute na universidade e o que se transmite na sala<br />
de aula do ensino fundamental. A discussão da História do Brasil, dentro da academia, é<br />
avançada e delicada. É uma discussão preciosa. O problema é que essa discussão de qualidade<br />
demora muito para chegar ao ensino fundamental. A História estudada na universidade já<br />
não tem esse caráter eurocêntrico, masculino. Há muitas pesquisas sobre a História da<br />
Mulher no Brasil e sobre a História do Negro também. Por exemplo, a escravidão é muito<br />
estudada. Diria até que a academia está se voltando para a África, principalmente, para<br />
entendermos como se compôs a nacionalidade brasileira, ou de onde vieram os negros. Enfim,<br />
compreender as conexões. Hoje se considera, inclusive, uma História Atlântica: Europa, África<br />
e Brasil, tendo o Oceano Atlântico como ponte e palco de atuação. Repito: o problema é o<br />
descompasso entre o conhecimento acadêmico e a transmissão desse conhecimento na Escola<br />
Fundamental. Cabe aos historiadores se organizar e fazer valer seus saberes.<br />
A Lei 10.639/03 (11.645/08) institui a obrigatoriedade do ensino das histórias e<br />
culturas africana e afro-brasileira. Isso pode melhorar o ensino da História na Escola<br />
Fundamental?<br />
Marco Antonio - Quando eu entrei na Universidade de São Paulo, em 1992, não existia<br />
uma cadeira dedicada à África no Departamento de História. Hoje já temos. Vários pesquisadores<br />
se interessam pelo tema. Esse interesse tem muito a ver com a Lei. Ela cria uma<br />
demanda. Agora, o professor que ensina na base não tem livros didáticos que dêem conta da<br />
África. Muitos professores não têm a mínima idéia do assunto. Eles ainda vêem o continente<br />
africano como fonte de mão-de-obra. Sou otimista. As mudanças são lentas, mas vão acabar<br />
acontecendo.<br />
Quando se fala em Educação pela Igualdade Racial, comenta-se muito em resgatar<br />
heróis e heroínas negros, com o objetivo de aumentar a auto-estima do alunato<br />
afrodescendente. Heróis e heroínas são necessários?<br />
Marco Antonio - O ideal seria não precisarmos de heróis e nem cultuá-los. Mas havendo<br />
heróis brancos, que haja heróis negros. Tem que existir um equilíbrio. Como temos um pan-<br />
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