a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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18.05.2013 Views

ambientes onde temos mais respostas do que perguntas estão, em geral mais preocupados com treinamento e adestramento de pessoas. o indivíduo participa de uma oficina, onde toma contato com informações, procedimentos e competências. A partir dali produz experiências e conhecimentos novos, com o auxílio do grupo e do coordenador. Os bons programas de prevenção não prescindem da informação, apenas não retificam. Os bons programas de prevenção priorizam indivíduos e sua trajetórias de vida, e não as informações técnicas. Politizar para Paiva (2002, p.25) "significa olhar além do nosso próprio espelho narcísico, recuperar o que nos une como excluídos por aquela parte que nos difere de 'todos', expandir uma identidade política defensiva para nos juntarmos a 'toda gente', porque todos temos direito à liberdade de ser e sonhar". Politizar requer reconhecer e declarar que existem muitos outros excluídos, e amenizar a frustração imposta pelo contexto sociocultural, buscando superar a culpa de não obedecer aos guias formatados para ‘ser’, e a culpa inconsciente das condições históricas que produziram maior vulnerabilidade e exclusão; lembremos que a desigualdade não é natural, ela é socialmente construída e pode ser desconstruída e suplantada coletivamente. Politizar pede o nosso empenho de cultivar uma maior plasticidade com as decisões e respostas definitivas e prontas, porque temos que nos comunicar e negociar. Politizar significa negociar soluções a dois, e conquistar mais ‘poder de’ ao invés de ter mais ‘poder sobre’. As iniciativas no campo da AIDS que ousam trabalhar um processo educativo que tenham como objetivo a politização, é sempre mais difícil, porque a arte da política é a arte da negociação, tem menos glamour e requer mais tempo e paciência, fato que normalmente representa um stress na vida dos profissionais de saúde e educadores. Por isso os processos educativos tendem sempre a tecnificação (PAIVA, 2002; SEFFNER, 2002), ação que reflete as concepções e os paradigmas do pensamento racionalista que fragmenta o processo saúde/doença dentro de um modelo de causa e efeito, imputando ao sujeito a responsabilidade por seu adoecer e morrer, como se fossem ordenamentos estáticos e isentos de história, de subjetividade, de individualidade, de diferenças e de coletividade. O que a vulnerabilidade revela é um compromisso radical, que envolve novos empenhos como: 79

superar fronteiras entre ciência e filosofia: conhecer pensando, pensar conhecendo; romper a unilateralidade da racionalidade instrumental: tomar a tecnociência a partir de nós, não ao invés de nós ou para nós; refletir criticamente sobre os saberes da saúde, a epidemiologia, as estratégias de prevenção: não deixar o conhecimento e a intervenção se cristalizarem, torná-los experiências sempre vivas e humanas; reconstruir as práticas da saúde como encontro de sujeitos; encarar os objetivos das ações de saúde mais como busca compartilhada de meios que como alcance absoluto de fins; viver radicalmente a comunidade humana de destinos de que experiência da AIDS vem nos lembrar (AYRES et al., 1999, p.69-70). Redundante dizer que a proposta de transmutar nossas atitudes e práticas modeladas pela racionalidade que subjaz e orienta nossas intervenções, é uma tarefa lenta, complexa e difícil, embora jamais impossível. Para tanto, há necessidade de implementar ações que promovam a cidadania e estimulem as pessoas a serem agentes e sujeitos de suas vidas, que escolham e decidam, adaptando os guias e as propostas à sua cotidianidade, e que sejam apoiadas neste caminho, permitindo que as pessoas reflitam e modifiquem modos de vida, atitude ou comportamento, conscientes da teia que engendra sua vulnerabilidade. Se há algo que a trágica história da AIDS trouxe-nos para refletir, bem como os abalos e as críticas que ela vem provocando nas respostas tecno-científicas, é a necessidade de rever a racionalidade de nossas práticas, "abandonando a onipotência iluminista da razão-instrumento em favor de uma razão que seja um 'estar-no-mundo', o eu e o outro, um construir comum desse mundo" (AYRES et al., 1999, p.70). O conceito de vulnerabilidade abre caminhos para a renovação, que pode ser sintetizada por uma proposta de superação da idéia de intervenção em saúde como uma ação transformadora, menos instrumental e racionalista e mais humanizadora, que desponta no conceito de cuidado, especialmente no que diz respeito ao aspecto prevenção. Para isso, o autor propõe um giro filosófico no dimensionamento da própria concepção do sentido prático da intervenção em saúde, buscando transpor a lógica mais curativa, voltada para o tratamento, para uma concepção orientada pelo cuidado do outro. O caminho proposto por Ayres (2002) aponta para uma re-descrição de nossas atividades de prevenção, que nos auxilie a passar do ato de tratar para o ato de cuidar, permitindo, desta forma, a criação de espaços de intersubjetividade (social 80

ambientes on<strong>de</strong> temos mais respostas <strong>do</strong> que perguntas estão, em geral mais<br />

preocupa<strong>do</strong>s com treinamento e a<strong>de</strong>stramento <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong>. o indivíduo participa <strong>de</strong> uma<br />

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produz experiências e conhecimentos novos, com o auxílio <strong>do</strong> grupo e <strong>do</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r.<br />

Os bons programas <strong>de</strong> prevenção não prescin<strong>de</strong>m da informação, apenas não retificam.<br />

Os bons programas <strong>de</strong> prevenção priorizam indivíduos e sua <strong>trajetória</strong>s <strong>de</strong> vida, e não as<br />

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Politizar para Paiva (2002, p.25) "significa olhar além <strong>do</strong> nosso próprio<br />

espelho narcísico, recuperar o que nos une como excluí<strong>do</strong>s por aquela parte que<br />

nos difere <strong>de</strong> 'to<strong>do</strong>s', expandir uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> política <strong>de</strong>fensiva para nos juntarmos<br />

a 'toda gente', porque to<strong>do</strong>s temos direito à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser e sonhar". Politizar<br />

requer reconhecer e <strong>de</strong>clarar que existem muitos outros excluí<strong>do</strong>s, e amenizar a<br />

frustração imposta pelo contexto sociocultural, buscan<strong>do</strong> superar a culpa <strong>de</strong> não<br />

obe<strong>de</strong>cer aos guias formata<strong>do</strong>s para ‘ser’, e a culpa inconsciente das condições<br />

históricas que produziram maior vulnerabilida<strong>de</strong> e exclusão; lembremos que a<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> não é natural, ela é socialmente construída e po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sconstruída e<br />

suplantada coletivamente. Politizar pe<strong>de</strong> o nosso empenho <strong>de</strong> cultivar uma maior<br />

plasticida<strong>de</strong> com as <strong>de</strong>cisões e respostas <strong>de</strong>finitivas e prontas, porque temos que<br />

nos comunicar e negociar. Politizar significa negociar soluções a <strong>do</strong>is, e conquistar<br />

mais ‘po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>’ ao invés <strong>de</strong> ter mais ‘po<strong>de</strong>r sobre’.<br />

As iniciativas no campo da AIDS que ousam trabalhar um processo educativo<br />

que tenham como objetivo a politização, é sempre mais difícil, porque a arte da política<br />

é a arte da negociação, tem menos glamour e requer mais tempo e paciência, fato que<br />

normalmente representa um stress na vida <strong>do</strong>s profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educa<strong>do</strong>res.<br />

Por isso os processos educativos ten<strong>de</strong>m sempre a tecnificação (PAIVA, 2002;<br />

SEFFNER, 2002), ação que reflete as concepções e os paradigmas <strong>do</strong> pensamento<br />

racionalista que fragmenta o processo saú<strong>de</strong>/<strong>do</strong>ença <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> causa e<br />

efeito, imputan<strong>do</strong> ao sujeito a responsabilida<strong>de</strong> por seu a<strong>do</strong>ecer e morrer, como se<br />

fossem or<strong>de</strong>namentos estáticos e isentos <strong>de</strong> história, <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

individualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> diferenças e <strong>de</strong> coletivida<strong>de</strong>. O que a vulnerabilida<strong>de</strong> revela é um<br />

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