a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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abordagem limitada, na qual a intervenção preventiva reduz-se apenas a um problema de atitude individual, atribuindo culpa à pessoa por ter se infectado. É fato que sob o ponto de vista biológico, todas as pessoas, ou a maioria delas, se expostas ao HIV por meio da relação sexual ou sangue pode teoricamente se infectar. Ademais há uma realidade epidemiológica essencial, que é a necessidade de ações ou comportamentos específicos e identificáveis envolvendo uma ou mais pessoas para que ocorra a transmissão do vírus. E por ser visível, específica e tangível, a transmissão do HIV também pode ser evitada mediante comportamentos, igualmente sabidos, específicos e concretos. Não obstante a esses dois denominadores, as forças, os fatores e as influências caracterizam, sustentam ou aceleram o curso da epidemia do HIV pelo mundo. Grosso modo, o comportamento individual é o determinante final da vulnerabilidade à infecção pelo vírus, portanto é necessário um enfoque no indivíduo, embora claramente não seja suficiente (MANN et al., 1993). O comportamento individual é tanto mutável quanto conectado socialmente, variando durante a vida da pessoa (por exemplo, comportamento sexual na adolescência, meiaidade e terceira idade), mudando em resposta à história e experiência pessoal e fortemente influenciado por indivíduos-chave (família, amantes, amigos), comunidades e entidades sociais e culturais mais abrangentes, como religiões e estados-nações. Portanto, ao avaliar a vulnerabilidade, é importante considerar a comunidade, além de fatores nacionais e internacionais, que possam influenciar a vulnerabilidade pessoal durante o curso de uma vida (MANN et al., 1993, p.276). Destarte, o conceito de vulnerabilidade avalia que as pessoas não têm a mesma possibilidade de transformar a sua realidade em termos de evitar uma infecção e, portanto, de adotar para suas vidas de modo perene medidas preventivas. Logo, daí, uma das maiores riquezas da forma como a vulnerabilidade possibilita reconstruir os discursos tecno-científicos sobre o HIV e a AIDS. Esse conceito não pretende determinar a probabilidade de uma pessoa qualquer se expor ao HIV ou a AIDS, mas busca proporcionar elementos que analisem objetivamente as diferentes possibilidades de cada pessoa ou grupo populacional tem de se infectar, "dado o conjunto formado por certas características individuais e sociais de seu 77
cotidiano, julgadas relevantes para a maior exposição ou menor chance de proteção diante do problema" (AYRES et al., 1999, p.5). Ao optarmos por construir novos objetivos e práticas preventivas mais coerentes como o conceito de vulnerabilidade, faz-se necessário que o educador – seja do serviço público, seja da escola – demova-se da posição autoritária e normatizadora de comportamentos adequados, censurando àqueles que não seguem as prescrições higienistas, para uma relação dialógica na qual as ações de saúde possam ser construídas e compartilhadas não na busca de um fim, mas como um processo de construção da emancipação das pessoas (FONSECA, 2002; PAIVA, 2002). Assim, é preciso pensar a prevenção como uma ação político-pedagógica situada no campo da educação, refere Seffner (2002). Ele crê que talvez estejamos politizando e pedagogizando pouco a prevenção, e que desta maneira abrimos lacunas para que ela seja entendida como uma atividade eminentemente técnica, dito de outra forma: talvez a maioria das campanhas de prevenção tenha visado à formação de consumidores de camisinha, e não de cidadão educados para a autonomia das decisões de saúde. Esta é uma espécie de "questão arriscada": estamos formando cidadãos ou consumidores de camisinha? Se a AIDS tem-se verificado um marcador muito eficiente da opressão social e sexual, não temos outra saída se não politizar (...) a prevenção (SEFFNER, 2002, p.30). O autor descreve que educar é politizar os sujeitos e o processo, e quando se enfatiza a informação, ela tende a asfixiar as possibilidade de formação das pessoas e a possibilidade de trabalhar na formação de identidades com um certo grau de autonomia. Importante lembrar que os processos educativos não são simples mediadores, eles são, de fato, formadores de indivíduos e, portanto, construtores de identidades, que estão em permanente processo de construção. Assim, se o objetivo mais profundo é gerar condições e auxiliar o indivíduo para que ele continue a educar-se para o cuidado de si e para o cuidados dos outros, é necessário criar ambientes que gerem mais perguntas do que respostas, momentos que alimentem debates em que cada pessoa coloque a sua identidade em discussão. Segue Seffner (2002, p.3) dizendo que: 78
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diante <strong>do</strong> problema" (AYRES et al., 1999, p.5).<br />
Ao optarmos por construir novos objetivos e práticas preventivas mais<br />
coerentes como o conceito <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, faz-se necessário que o educa<strong>do</strong>r –<br />
seja <strong>do</strong> serviço público, seja da escola – <strong>de</strong>mova-se da posição autoritária e<br />
normatiza<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> comportamentos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, censuran<strong>do</strong> àqueles que não<br />
seguem as prescrições higienistas, para uma relação dialógica na qual as ações <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> possam ser construídas e compartilhadas não na busca <strong>de</strong> um fim, mas como<br />
um processo <strong>de</strong> construção da emancipação das <strong>pessoas</strong> (FONSECA, 2002; PAIVA,<br />
2002). Assim, é preciso pensar a prevenção como uma ação político-pedagógica<br />
situada no campo da educação, refere Seffner (2002). Ele crê que talvez estejamos<br />
politizan<strong>do</strong> e pedagogizan<strong>do</strong> pouco a prevenção, e que <strong>de</strong>sta maneira abrimos<br />
lacunas para que ela seja entendida como uma ativida<strong>de</strong> eminentemente técnica,<br />
dito <strong>de</strong> outra forma:<br />
talvez a maioria das campanhas <strong>de</strong> prevenção tenha visa<strong>do</strong> à formação <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>res<br />
<strong>de</strong> camisinha, e não <strong>de</strong> cidadão educa<strong>do</strong>s para a autonomia das <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Esta<br />
é uma espécie <strong>de</strong> "questão arriscada": estamos forman<strong>do</strong> cidadãos ou consumi<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
camisinha? Se a AIDS tem-se verifica<strong>do</strong> um marca<strong>do</strong>r muito eficiente da opressão social e<br />
sexual, não temos outra saída se não politizar (...) a prevenção (SEFFNER, 2002, p.30).<br />
O autor <strong>de</strong>screve que educar é politizar os sujeitos e o processo, e quan<strong>do</strong><br />
se enfatiza a informação, ela ten<strong>de</strong> a asfixiar as possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação das<br />
<strong>pessoas</strong> e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar na formação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s com um certo<br />
grau <strong>de</strong> autonomia. Importante lembrar que os processos educativos não são<br />
simples media<strong>do</strong>res, eles são, <strong>de</strong> fato, forma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> indivíduos e, portanto,<br />
construtores <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, que estão em permanente processo <strong>de</strong> construção.<br />
Assim, se o objetivo mais profun<strong>do</strong> é gerar condições e auxiliar o indivíduo para que<br />
ele continue a educar-se para o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> si e para o cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s outros, é<br />
necessário criar ambientes que gerem mais perguntas <strong>do</strong> que respostas, momentos<br />
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