a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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Em países de todo o mundo, existem casos documentados de reações adversas da sociedade em relação a pessoas portadoras do HIV e da AIDS ou a grupos específicos associados à epidemia pelo imaginário popular. Estimulados pela interseção de valores culturais, estes indivíduos são maltratados ou levam as acusações de culpa e punição por todos os reveses e desgraças, e, em casos extremos, pode acontecer ato de violência e até homicídios. Atitudes contra homens supostamente homossexuais, trabalhadoras do sexo, crianças de rua e usuários de drogas, já foram documentados em países como o Brasil, Colômbia, Índia, Etiópia, África do Sul e Tailândia (PANOS apud PARKER e AGGLETON, 2001). A estigmatização e a discriminação do HIV e da AIDS seja por meio de medidas e mecanismos concretos codificados em sistemas legais e administrativos, seja mediante formas mais informais (mas nem por isso menos coletivas, de penalizar em nível individual ou coletivo), funcionam dentro de um sistema amplo de exclusão social e desigualdade: a desigualdade baseada no gênero; as desigualdades que negam dignidade e os direitos humanos às profissionais do sexo comercial; as desigualdades baseadas na sexualidade em geral e à homossexualidade, em específico. Piot apud ONUSIDA/OMS (2003a) declara na sessão plenário da Conferência Mundial contra o Racismo, proferida em Durban – África do Sul, o seguinte: A epidemia relacionada com o HIV e à AIDS, precede de uma poderosa combinação de vergonha e medo: vergonha porque as relações sexuais e o uso de drogas injetáveis que transmitem o HIV estão rodeadas por tabu e juízo moral, e o medo porque a AIDS é uma doença relativamente nova e considerada mortal. Responder à AIDS com culpa ou maus tratos às pessoas infectadas, serve apenas para ocultar a epidemia, criando as condições ideais para a propagação do HIV. A única forma de realizar progressos contra a epidemia é substituir a vergonha por solidariedade, e o medo pela esperança (PIOT apud ONUSIDA/OMS, 2003a, p.7). No plano individual, a roupagem simbólica que o estigma da AIDS assumiu, passou a ser um dos grandes obstáculos que impedem as pessoas de revelarem seu status sorológico pelo medo do abandono, do julgamento e de reações hostis ou negativas por parte dos outros, o que pode impedir algumas delas de ter acesso aos serviços de saúde e, por conseguinte, melhorar a qualidade de suas vidas 67
(ZAMPIERE, 1996; ONUSIDA/OMS, 2003a). Também resultam evidências de auto- estigmatização ou de vergonha, o que pode conduzir à depressão, retraimento e a sentimentos autodestrutivos. Estes sentimentos podem resultar em auto-isolamento e exclusão da vida social e de relacionamentos sexuais, e em circunstâncias extremas até chegar ao suicídio (ONUSIDA/OMS, 2003a). Tais considerações levam algumas pessoas a não se sentirem mais parte da sociedade civil não conseguindo procurar os serviços de saúde e apoio a que têm direito. A este fenômeno Daniel (1991) chamou de morte social. A despeito do amplo cabedal de pesquisas que versam sobre os segmentos populacionais mais marginalizados e que congregam indivíduos sob particular risco, como os homossexuais, as trabalhadoras do sexo comercial e os usuários de drogas injetáveis, as pesquisas da ONUSIDA/OMS (2002a) revelam que o impacto do HIV e da AIDS no plano individual, e em particular às mulheres, mostra-se severo. Uma vez que se encontram em desvantagem econômica, política, cultural e social, esses eixos de desigualdades têm gerado condições adversas às mulheres, o que vem agravando ao longo de muitas décadas por meio da feminilização da pobreza, em muitos países em desenvolvimento (PARKER e AGGLETON, 2001; ONUSIDA/OMS, 2003a). As pesquisas da ONUSIDA/OMS (2002a; 2003a) apontam alguns caminhos para promover respostas mais eficazes com vistas a minimizar o estigma e a discriminação relacionada ao HIV e à AIDS. A ação deve ser realizada em vários eixos, quais sejam: comunicação e educação para facultar uma maior compreensão na construção de novos conceitos e idéias de relevância à estigmatização e à discriminação relacionadas ao HIV e à AIDS, proporcionado, assim, novas maneiras de aprender os processos de mudanças, movimentos sociais e transformações culturais, bem como o questionamento das estruturas de igualdade e desigualdade em qualquer cenário social; ação e intervenção para estabelecer um contexto de políticas mais eqüitativo, e um procedimento jurídico, para exigir a observância dos direitos das pessoas que vivem com o HIV e a AIDS, no sentido de pedir contas aos 68
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(ZAMPIERE, 1996; ONUSIDA/OMS, 2003a). Também resultam evidências <strong>de</strong> auto-<br />
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extremas até chegar ao suicídio (ONUSIDA/OMS, 2003a). Tais consi<strong>de</strong>rações levam<br />
algumas <strong>pessoas</strong> a não se sentirem mais parte da socieda<strong>de</strong> civil não conseguin<strong>do</strong><br />
procurar os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e apoio a que têm direito. A este fenômeno Daniel<br />
(1991) chamou <strong>de</strong> morte social.<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>do</strong> amplo cabedal <strong>de</strong> pesquisas que versam sobre os segmentos<br />
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como os homossexuais, as trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> sexo comercial e os usuários <strong>de</strong> drogas<br />
injetáveis, as pesquisas da ONUSIDA/OMS (2002a) revelam que o impacto <strong>do</strong> HIV e da<br />
AIDS no plano individual, e em particular às mulheres, mostra-se severo. Uma vez que<br />
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As pesquisas da ONUSIDA/OMS (2002a; 2003a) apontam alguns caminhos<br />
para promover respostas mais eficazes com vistas a minimizar o estigma e a<br />
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em qualquer cenário social; ação e intervenção para estabelecer um contexto <strong>de</strong><br />
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