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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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Diferentemente <strong>do</strong>s hemofílicos, que também sofrem <strong>de</strong> um mal genético e<br />

que precisam freqüentemente <strong>de</strong> transfusão <strong>de</strong> sangue, os negros foram incluí<strong>do</strong>s<br />

na categoria <strong>de</strong> ‘grupo <strong>de</strong> risco’, <strong>de</strong> forma bastante perversa, porque eram<br />

percebi<strong>do</strong>s como sexualmente diferentes, <strong>pela</strong>s suas diversas práticas sexuais.<br />

Assim a sexualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s negros, associada à imagem das DST, tornou-se uma<br />

categoria <strong>de</strong> marginalização (TRONCA, 2000, p.141). O autor observa que na década<br />

<strong>de</strong> 1980, <strong>de</strong>pois da América branca ter si<strong>do</strong> repreendida da inaceitável situação <strong>do</strong>s<br />

negros no país pelo movimento <strong>do</strong>s direitos civis, "tornou-se difícil localizar a origem<br />

da síndrome entre os americanos negros. Por isso, a fonte <strong>de</strong> poluição foi <strong>de</strong>slocada<br />

para o exterior, recain<strong>do</strong> sobre os negros e haitianos. De qualquer maneira, a fonte<br />

<strong>do</strong> mal continuou localizada no interior <strong>do</strong> paradigma racista americano".<br />

O Haiti segun<strong>do</strong> Gilman apud Tronca (2000) era visto nos EUA como um<br />

centro genuíno da AIDS, porque lá a <strong>do</strong>ença fora encontrada numa socieda<strong>de</strong><br />

heterossexual, cujo tipo <strong>de</strong> transmissão <strong>do</strong> HIV era classificada pelos pesquisa<strong>do</strong>res<br />

como um estágio primitivo. Seu padrão <strong>de</strong> contágio distinguia-se <strong>do</strong> padrão americano,<br />

que se circunscrevia somente entre os segmentos marginaliza<strong>do</strong>s, incluin<strong>do</strong> os negros.<br />

Os rumos que a epi<strong>de</strong>mia tem toma<strong>do</strong> nos últimos anos <strong>de</strong>ixam claro que a<br />

pobreza, muitas vezes associada ou em conjunção com a opressão étnica, tem se<br />

torna<strong>do</strong> uma das maiores fontes <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> estigma. Com efeito, a<br />

própria pobreza tem si<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificada como, possivelmente, a força socioeconômica<br />

central na <strong>de</strong>terminação da epi<strong>de</strong>mia e, virtualmente, toda a literatura estrutural e<br />

ambiental tem enfatiza<strong>do</strong> a po<strong>de</strong>rosa interação entre a pobreza e outras formas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, instabilida<strong>de</strong> e discriminação <strong>do</strong> HIV (CAMARGO e PARKER, 2000).<br />

Em resumo, esses quatro <strong>do</strong>mínios preexistentes <strong>de</strong> estigma e discriminação<br />

agem sobre as formas <strong>pela</strong>s quais evoluíram as respostas sociais diante da epi<strong>de</strong>mia<br />

<strong>do</strong> HIV e da AIDS. Certamente eles não são as únicas fontes <strong>de</strong> estigmatização, <strong>de</strong><br />

vulnerabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> vetos sociais exerci<strong>do</strong>s contra aqueles que estão infecta<strong>do</strong>s ou<br />

percebi<strong>do</strong>s sob o risco da infecção, mas a interação <strong>de</strong>sses <strong>do</strong>mínios com o estigma da<br />

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