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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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Segun<strong>do</strong> Berger e Luckmann (2003, p.175-176), toda pessoa ao nascer<br />

"encontra uma estrutura social objetiva pronta, <strong>de</strong>ntro da qual esbarra com outros<br />

significativos que se encarregam <strong>de</strong> sua socialização. Estes outros significativos são-lhe<br />

impostos". Para os autores, a socialização primária implica mais <strong>do</strong> que o aprendiza<strong>do</strong><br />

cognoscitivo, ela "ocorre em circunstâncias carregadas <strong>de</strong> alto grau <strong>de</strong> emoção" quer<br />

dizer, "a criança i<strong>de</strong>ntifica-se com os outros significa<strong>do</strong>s por uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong>s emocionais, e qualquer que sejam, a interiorização só se realiza quan<strong>do</strong> há<br />

i<strong>de</strong>ntificação". Assim, ela absorve os papéis e as atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s outros significativos, isto<br />

é, interioriza-os, tornan<strong>do</strong>-os seus. É por meio <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ntificação que a criança torna-se<br />

capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a si mesma, <strong>de</strong> adquirir uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> subjetivamente coerente e<br />

aceitável e quan<strong>do</strong> se torna membro <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>.<br />

Nessa linha <strong>de</strong> raciocínio, aquele que rompe com o i<strong>de</strong>ário hegemônico<br />

estabeleci<strong>do</strong> coletivamente passa a representar o mal e o perigo, e precisa ser excluí<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> convívio social. A <strong>de</strong>scoberta da AIDS funda-se neste universo<br />

simbólico <strong>de</strong> exclusão e a pessoa porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> HIV passa a ser confundida com a<br />

própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sujeito aparenta<strong>do</strong> como ‘aidético’ (DOMINGUES, 2004).<br />

Temos, aí, <strong>de</strong> forma sutilmente bem-acabada, um mecanismo <strong>de</strong> exclusão social on<strong>de</strong> o<br />

diferente transmuta-se em <strong>de</strong>sigual e o sujeito, mesmo portan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os quesitos que lhe<br />

garantem status <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong>, per<strong>de</strong> direitos e se vê rompi<strong>do</strong> com o gênero humano. É<br />

apenas um vírus circulante que ameaça, mas que, uma vez i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> e <strong>de</strong>vidamente<br />

marca<strong>do</strong>, po<strong>de</strong> ser controla<strong>do</strong>. Esse mecanismo exclu<strong>de</strong>nte não é <strong>de</strong>finitivamente atual,<br />

porém assume dimensões assusta<strong>do</strong>ras. Ao se <strong>de</strong>marcar territórios, a partir <strong>de</strong> signos que<br />

fazem com que a possibilida<strong>de</strong> da singularida<strong>de</strong> se transforme em marcas <strong>do</strong> que é<br />

estrangeiro e, assim, ameaça<strong>do</strong>r, obtém-se uma imaginária proteção garantida <strong>pela</strong><br />

distância da não i<strong>de</strong>ntificação (DOMINGUES, 2004, p.75).<br />

O estigma para Goffman (1988, p.2) é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como uma marca ou um<br />

mal moral, profundamente <strong>de</strong>preciativo, <strong>de</strong> quem o apresenta. Tais atributos e<br />

estereótipos tornam a pessoa diferente das outras a ponto <strong>de</strong> não ser aceita<br />

plenamente, "assim <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-la criatura comum e total, reduzin<strong>do</strong>-a a<br />

uma pessoa estragada e diminuída". O termo em si tem um caráter histórico que<br />

remonta à Grécia Clássica, on<strong>de</strong> se referia a sinais feitos com cortes ou fogo no<br />

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