a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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necessárias e nascimentos surpreen<strong>de</strong>ntes que criam o verda<strong>de</strong>iro relacionamento<br />
(ESTÉS, 1994).<br />
As <strong>pessoas</strong> que não conseguem encarar com naturalida<strong>de</strong> as perdas<br />
necessária da existência humana e evitam o estar com o outro, evitam, em última<br />
instância, o mergulho em suas próprias trevas, pois engendrar na própria escuridão<br />
é perceber que não somos tão belos como queremos acreditar ser, que temos<br />
falhas, fantasias infantis, sentimentos obscuros, a indigência e solidão <strong>de</strong> nossas<br />
almas. Para alguns, é mais fácil ter pensamentos eleva<strong>do</strong>s, mais belos e tocar aquilo<br />
que <strong>de</strong>cididamente nos transcen<strong>de</strong> <strong>do</strong> que tocar, ajudar e apoiar o que não é tão<br />
positivo. É fácil rejeitar o não belo e ainda ter uma sensação enganosa <strong>de</strong> perfeição.<br />
Mas vivenciar diretamente a própria natureza sombria e criar o melhor<br />
relacionamento possível com as piores coisas <strong>de</strong> si mesmo, significa um bálsamo<br />
para velhas feridas, e faz dissipar a tensão entre quem se apren<strong>de</strong>u a ser e quem se<br />
realmente é. Permitir, afinal, a morte <strong>do</strong> velho eu para o nascimento <strong>do</strong> novo, mais<br />
forte, mais verda<strong>de</strong>iro e mais sábio (ESTÉS, 1994).<br />
Reconhecida que a relação <strong>do</strong> conviver com a AIDS está imbuída <strong>de</strong> uma<br />
pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s que revela o espectro <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s tabus da humanida<strong>de</strong>,<br />
o sexo e a morte, e fustiga aqueles por elas atingi<strong>do</strong>s; importante acrescentar que a<br />
epi<strong>de</strong>mia também <strong>de</strong>flagra a nossa relação, ainda não resolvida, com a "diferença" e<br />
o "diferente", lembran<strong>do</strong>-nos da longa história que sempre relacionou o me<strong>do</strong> da<br />
diferença com a discriminação, o estigma e o preconceito.<br />
Como dizem Lent e Valle (1998), o HIV atinge o aparato imunológico <strong>do</strong><br />
organismo da pessoa infectada, mas o fantasma <strong>do</strong> vírus ameaça o planeta,<br />
atingin<strong>do</strong> as emoções <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s nós. A AIDS, sen<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>ença sexualmente<br />
transmissível (DST), cuja cura ainda é <strong>de</strong>sconhecida e que po<strong>de</strong> ser causa <strong>de</strong> morte<br />
prematura, não po<strong>de</strong> menos que nos apavorar a to<strong>do</strong>s. Ela estremece as relações<br />
mais íntimas, expõe as orientações sexuais e os comportamentos priva<strong>do</strong>s ao<br />
<strong>do</strong>mínio público, reforça as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong><br />
recursos, <strong>de</strong> educação e das ciências médicas, e divi<strong>de</strong> aqueles que estão atrás <strong>do</strong><br />
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