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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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natureza da morte foi encoberta por vários <strong>do</strong>gmas e <strong>do</strong>utrinas até o ponto em que<br />

se separou <strong>de</strong> vez da outra meta<strong>de</strong>, a vida. Fomos ensina<strong>do</strong>s, equivocadamente, a<br />

aceitar a forma mutilada <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s aspectos mais básicos e profun<strong>do</strong>s da natureza<br />

humana, a morte, e apren<strong>de</strong>mos que ela é sempre acompanhada <strong>de</strong> mais morte.<br />

Isso simplesmente não é verda<strong>de</strong>, pois a sua existência está sempre no processo <strong>de</strong><br />

incubar uma vida nova e que se renova com seu auxílio. É a certeza da morte que<br />

nos engendra em direção à vida, e se quisermos ser alimenta<strong>do</strong>s por toda a vida,<br />

precisamos (re)encarar e <strong>de</strong>senvolver um relacionamento vital <strong>do</strong> processo vida-<br />

morte-vida 10 , pois é a existência da morte que <strong>de</strong>marca uma vida e que a torna<br />

suportável, nos fluxos e refluxos, em to<strong>do</strong>s os finais e reinícios. Enquanto um la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

coração se esvazia, o outro se enche; quan<strong>do</strong> uma respiração termina, a outra se<br />

inicia; a noite é seguida <strong>do</strong> dia; o a<strong>do</strong>rmecer <strong>do</strong> <strong>de</strong>spertar; a chegada da partida; as<br />

perdas <strong>do</strong>s ganhos, e o sexo <strong>do</strong> gozo final.<br />

É fato que a existência humana é permeada por muitos finais, mas estamos<br />

viven<strong>do</strong> num mun<strong>do</strong> em que os seres humanos têm tanto me<strong>do</strong> da perda que<br />

constroem um excesso <strong>de</strong> muralhas protetoras contra o mergulho na numinosida<strong>de</strong> 11<br />

<strong>de</strong> outra alma humana e que se afasta, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se autoproteger. Mas encarar<br />

com coragem, harmonia, inteligência e persistência os ciclos da vida-morte-vida da<br />

natureza humana e <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino, permite "estar" 12 com o outro e viver por muito tempo e<br />

o melhor possível. Quan<strong>do</strong> temos esse tipo <strong>de</strong> relacionamento, não saímos mais por aí<br />

à caça <strong>de</strong> fantasias e crenças infundadas, mas nos tornamos conhece<strong>do</strong>res das mortes<br />

10 Estés (1995) utiliza o termo arquetípico vida-morte-vida para explicar que a integralida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

relacionamentos humanos advém da submissão à antiga natureza da vida-morte-vida que é um ciclo<br />

<strong>de</strong> animação, <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>clínio e morte que sempre se faz seguir <strong>de</strong> um reflorescer. Este<br />

ciclo afeta toda a vida física e os aspectos da vida psicológica. Usa como exemplo o sol, as estrelas<br />

novas e a lua, as questões <strong>do</strong>s seres humanos e das menores criaturas – células e átomos – que<br />

possuem características <strong>de</strong> agitação/movimento, hesitação/recuo e novamente agitação/movimento.<br />

11 Consciência <strong>do</strong> que é sagra<strong>do</strong> (CALDAS AULETE, 1985).<br />

12 A palavra estar foi utilizada no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ir ao encontro, <strong>de</strong> auscultar, <strong>de</strong> sentir o outro na sua<br />

plenitu<strong>de</strong>.<br />

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