18.05.2013 Views

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Os sentimentos que se pren<strong>de</strong>m à metáfora AIDS/morte fundam-se diante<br />

<strong>do</strong> mal e se ligam à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conter sua disseminação – o contágio – e à<br />

conseqüência inevitável – a morte. Jeolás (1999, p.242) complementa que o me<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> contágio sempre se pren<strong>de</strong>u, intimamente, ao da morte, a qual, por impor<br />

absolutos limites à vida, tornou-se figura apavorante. A expressão e o temor da<br />

morte, por meio da <strong>do</strong>ença ou da epi<strong>de</strong>mia, como constantes no imaginário<br />

oci<strong>de</strong>ntal, materializam-se no pânico <strong>do</strong> contágio. Assim, a idéia <strong>de</strong> contágio pelo<br />

simples contato torna-se terrificante, porque combina com o me<strong>do</strong> da morte. Em<br />

suma, "o me<strong>do</strong> da morte e o da <strong>do</strong>ença contaminam um ao outro – uma<br />

contaminação <strong>de</strong> mão dupla – e se disseminam nas epi<strong>de</strong>mias, alimentadas pelo<br />

me<strong>do</strong> da morte coletiva e pelo me<strong>do</strong> coletivo da morte".<br />

França (2000, p.497) exemplifica esse fenômeno no seu ensaio, ao perceber<br />

a dificulda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s enfermeiros em estabelecer relações interpessoais com as <strong>pessoas</strong><br />

soropositivas, que, ao se <strong>de</strong>pararem com elas, e "ao se colocar no lugar <strong>do</strong> outro, o<br />

enfermeiro busca disfarçar seus sentimentos, racionalizan<strong>do</strong> suas atitu<strong>de</strong>s, assumin<strong>do</strong><br />

um papel que os obriga ao uso da ”máscara" <strong>de</strong> alguém frio e calculista", mostran<strong>do</strong>,<br />

assim, que a correlação da AIDS com a morte <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia a existência <strong>do</strong> me<strong>do</strong><br />

atávico que se traduz no subjetivo, a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contágio e morte.<br />

As representações negativas sobre a <strong>do</strong>ença e as expressões <strong>de</strong> me<strong>do</strong><br />

acabam sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>sfocadas para o ‘outro’ num claro mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, com o<br />

intuito <strong>de</strong> se proteger <strong>de</strong> perturbações e conflitos, e que po<strong>de</strong>m colocar em perigo o<br />

seu equilíbrio. Acredito que, em última instância, talvez as <strong>pessoas</strong> não saibam<br />

como elaborar o caráter inequívoco <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino – a morte.<br />

Urgente se faz à busca <strong>de</strong> um novo olhar sobre a acepção AIDS/morte e<br />

perscrutar sobre a subjetivida<strong>de</strong> em curso, que flagela aqueles por ela atingi<strong>do</strong>s, ou seja,<br />

toda a humanida<strong>de</strong>. É possível e necessário <strong>de</strong>smanchar estes significa<strong>do</strong>s, buscan<strong>do</strong><br />

novas maneiras <strong>de</strong> interpretação, <strong>de</strong> novos senti<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> novas sensibilida<strong>de</strong>s.<br />

Ao a<strong>de</strong>ntrar nesse mun<strong>do</strong> sombrio Estés (1994) nos ajuda a <strong>de</strong>svelar a<br />

morte <strong>de</strong> forma simples como ciclo vital da vida. Explica que a figura original da<br />

46

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!