18.05.2013 Views

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mulheres no Brasil. As relações entre os sexos sob o sistema patriarcal eram<br />

baseadas num princípio <strong>de</strong> extrema diferenciação e oposição (PARKER 1991).<br />

O homem e a mulher e, por extensão, os próprios conceitos <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> e<br />

feminilida<strong>de</strong> foram assim <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s, em termos <strong>de</strong> sua oposição fundamental (...) Com o<br />

po<strong>de</strong>r investi<strong>do</strong> inteiramente em suas mãos, o homem era caracteriza<strong>do</strong> em termos <strong>de</strong><br />

superiorida<strong>de</strong>, força, virilida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong>, potencial para a violência e o legítimo uso da<br />

força. A mulher, em contraste, em termos <strong>de</strong> sua evi<strong>de</strong>nte inferiorida<strong>de</strong>, como sen<strong>do</strong> em<br />

to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s o mais fraco <strong>do</strong>s 2 sexos – bela e <strong>de</strong>sejável, mas <strong>de</strong> qualquer mo<strong>do</strong><br />

sujeita à absoluta <strong>do</strong>minação <strong>do</strong> patriarca (PARKER, 1991, p.58).<br />

Essa gran<strong>de</strong> diferenciação acabava por carregar consigo um dualismo<br />

moral explícito que contribuiu para legitimar e reforçar uma or<strong>de</strong>m aparentemente<br />

natural da hierarquia <strong>do</strong>s sexos. Por esta exagerada diferenciação, justifica-se o<br />

chama<strong>do</strong> padrão duplo <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>, dan<strong>do</strong> ao homem – <strong>pela</strong> <strong>do</strong>minação<br />

inquestionável e <strong>de</strong> sua fundamental superiorida<strong>de</strong> física e moral – uma liberda<strong>de</strong><br />

sexual quase que absoluta e limitan<strong>do</strong> a mulher a ir para cama com o mari<strong>do</strong> todas<br />

as vezes em que ele estiver disposto a procriar (PARKER, 1991).<br />

A visão <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> que surge aqui é razoavelmente bem <strong>de</strong>lineada e<br />

unificada. É uma visão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, ação e virilida<strong>de</strong>, ajustada à absoluta <strong>do</strong>minação<br />

<strong>do</strong> patriarca sobre to<strong>do</strong>s os que o ro<strong>de</strong>iam. É, sem dúvida, <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> e<br />

submissão em face da autorida<strong>de</strong> patriarcal (PARKER, 1991).<br />

Enquanto homem era quase complemente sinônimo da figura <strong>do</strong> próprio patriarca,<br />

elaborou-se uma caracterização mais diversificada da mulher, enca<strong>de</strong>an<strong>do</strong>, mas ao<br />

mesmo tempo, diferencian<strong>do</strong> visões da esposa e mãe legítima, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, das imagens<br />

da concubina <strong>de</strong> outro. Que estas figuras fossem tão facilmente combinadas, numa única<br />

representação da mulher é, claramente, <strong>de</strong> crucial importância, pois permitiu que a noção<br />

<strong>de</strong> mulher como uma estrutura i<strong>de</strong>ológica, fosse muito mais facilmente manipulada... para<br />

reforçar e legitimar a estrutura <strong>de</strong> <strong>do</strong>minação patriarcal. E, igualmente importante... ela<br />

fornecia um mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>ológico que continuou a exercer profunda influência sobre as<br />

maneiras <strong>pela</strong>s quais as mulheres brasileiras têm si<strong>do</strong> conceituadas e classificadas – as<br />

formas <strong>pela</strong>s quais uma compreensão da feminilida<strong>de</strong> tem si<strong>do</strong> construída no <strong>de</strong>correr da<br />

vida cotidiana (PARKER, 1991, p.62).<br />

Importante registrar que o mo<strong>do</strong> como a organização sociocultural das<br />

relações <strong>de</strong> gênero e as formas como as noções simbólicas sobre gênero estruturam<br />

as relações sexuais entre homens e mulheres, baseadas num rígi<strong>do</strong> dinamismo<br />

40

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!