a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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A complexida<strong>de</strong> da organização cultural, no que diz respeito às interações<br />
com o mesmo sexo, faz com que os homens bissexuais sintam-se menos propensos<br />
a perceber a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mudança <strong>de</strong> comportamento para a redução <strong>do</strong><br />
risco da infecção <strong>do</strong> HIV e da AIDS, especialmente nas suas relações com mulheres,<br />
e po<strong>de</strong>m não respon<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>quadamente à promoção da saú<strong>de</strong> ou às intervenções<br />
educacionais direcionadas aos homens homossexuais (PARKER, 1991). Tais<br />
questões <strong>de</strong>monstram por que as propagandas <strong>de</strong> informação/educação têm ti<strong>do</strong><br />
pouca penetração nesta categoria, e conseqüentemente importante participação na<br />
ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> transmissão <strong>do</strong> vírus da AIDS.<br />
Relevante citar que a forma como a estrutura <strong>de</strong> gênero da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira se a<strong>de</strong>qua não é um fim por si só, ela carrega consigo os remanescentes<br />
<strong>de</strong> sua própria bagagem histórica e está profundamente arraigada nas estruturas<br />
i<strong>de</strong>ológicas da tradição patriarcal.<br />
O mo<strong>de</strong>lo clássico da família patriarcal herda<strong>do</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial era<br />
segun<strong>do</strong> Cândi<strong>do</strong> apud Parker (1991), dualista. Consistia <strong>de</strong> um núcleo composto<br />
pelo patriarca e sua mulher, assim como pelos filhos legítimos, to<strong>do</strong>s moran<strong>do</strong> juntos<br />
sob o mesmo teto. Na periferia <strong>de</strong>ste núcleo, existia um grupo <strong>de</strong> indivíduos muito<br />
maior, constituí<strong>do</strong> como grupo por meio <strong>de</strong> seus vários vínculos com o próprio<br />
patriarca: suas concubinas e amantes, seus filhos ilegítimos, escravos e ren<strong>de</strong>iras,<br />
amigos e clientes. A figura <strong>do</strong> patriarca era um retrato quase ilimita<strong>do</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa estrutura e que para mantê-la, usava da força, ou seja, até o seu<br />
direito <strong>de</strong> a<strong>pela</strong>r para a violência.<br />
A estrutura hierárquica da <strong>do</strong>minação patriarcal foi assim cristalizada tanto<br />
na imagem como na realida<strong>de</strong> da violência. A autorida<strong>de</strong> <strong>do</strong> patriarca representada<br />
pelo potencial da violência estabeleceu a distância social entre ele e seus<br />
continua<strong>do</strong>s – entre o senhor e seus escravos, o pai e seus filhos, o macho e suas<br />
fêmeas (PARKER, 1991).<br />
Em verda<strong>de</strong>, o simbolismo da violência (muito freqüentemente exerci<strong>do</strong> na<br />
realida<strong>de</strong>) é crucial para a completa compreensão das relações entre homens e<br />
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