a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
esses fatores convergiam para a inferência <strong>de</strong> que se tratava <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>ença, ainda<br />
não classificada, <strong>de</strong> etiologia provavelmente infecciosa e transmissível (CAMARGO JR.,<br />
1994; PARKER, 1994). Basea<strong>do</strong> nos da<strong>do</strong>s antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> que ela agredia apenas<br />
homossexuais masculinos, o Centro <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Doenças (CDC), no final <strong>de</strong> 1982,<br />
<strong>de</strong>cidiu nomeá-la <strong>de</strong> Gay Related Immno Deficiency (GRID) – Imuno<strong>de</strong>ficiência ligada<br />
aos homossexuais, ou Peste Gay. A posteriori a <strong>do</strong>ença foi <strong>de</strong>nominada "AIDS<br />
(Acquired Deficiency Syndrome) nas línguas anglo-saxônicas e SIDA (Síndrome da<br />
Imuno<strong>de</strong>ficiência Humana) nas línguas neolatinas. No caso particular brasileiro, embora<br />
<strong>de</strong> língua neolatina, foi a<strong>do</strong>tada a sigla inglesa AIDS" (RISCADO, 2000, p.33).<br />
Essa nova <strong>do</strong>ença que se disseminava rapidamente, que apresentava uma<br />
alta taxa <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong> e que suscitava intensas emoções <strong>de</strong> pânico, <strong>de</strong> me<strong>do</strong> e <strong>de</strong><br />
contágio, aspectos fortemente reputa<strong>do</strong>s pelos meios <strong>de</strong> comunicação, precisava ser<br />
prontamente caracterizada e entendida a fim <strong>de</strong> minimizar as conseqüências <strong>de</strong> um<br />
mal que já se imaginava aboli<strong>do</strong> da experiência humana: a ‘peste’ (PÁDUA, 1986;<br />
HERZLICH e PIERRET, 1992). Rapidamente, a partir <strong>de</strong> uma interrogação científica<br />
sobre os <strong>do</strong>entes, cujo número na época era muito limita<strong>do</strong>, produziu-se um discurso<br />
no qual se configurou o sentimento <strong>de</strong> uma ameaça extrema, <strong>de</strong> um risco global que<br />
repercutia sobre toda a coletivida<strong>de</strong>, questionan<strong>do</strong> nossos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida e nossos<br />
valores (HERZLICH e PIERRET, 1992).<br />
Tal questão diz respeito à construção social da AIDS, pois, ao se fazer<br />
presente para o mun<strong>do</strong> humano, este precisava iniciar um processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong><br />
código <strong>de</strong> interpretações <strong>de</strong>sta nova realida<strong>de</strong>. A questão imediata era estabelecer<br />
símbolos que partilha<strong>do</strong>s <strong>pela</strong> socieda<strong>de</strong> lhe permitissem a comunicação a respeito da<br />
mesma, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrá-la (PÁDUA, 1986). O fato interessante da AIDS é que a<br />
construção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> e a elaboração <strong>do</strong> seu conhecimento comum, produzi<strong>do</strong><br />
<strong>pela</strong> socieda<strong>de</strong> e <strong>pela</strong> opinião pública, aconteceram paralelamente à codificação<br />
médica, situação a que talvez nunca tenhamos assisti<strong>do</strong> (PÁDUA, 1986; HERZLICH e<br />
PIERRET, 1992).<br />
13