a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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possibilita imergir para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós mesmos e perscrutar o ver e tocar, o ser e<br />
sentir. O caminho permite o <strong>de</strong>senrolar <strong>do</strong>s sentimentos, emoções, pulsões, <strong>de</strong>sejos,<br />
o mun<strong>do</strong> das idéias e <strong>do</strong>s fantasmas, e oferece os recursos essenciais para o início<br />
<strong>de</strong> uma nova compreensão e confiança <strong>de</strong> que quan<strong>do</strong> ocorre o final, surgirá sempre<br />
o novo começo. Estés (1994) expressa que quan<strong>do</strong> o homem verte a lágrima da <strong>do</strong>r<br />
da alma 25 , é quan<strong>do</strong> ele se <strong>de</strong>parou com a concretu<strong>de</strong> da própria <strong>do</strong>r e estremeceu<br />
ao tocá-la. Chora porque percebe como a vida foi vivida <strong>de</strong> forma protegida em<br />
virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s temores/ferimentos. Percebe tu<strong>do</strong> o que per<strong>de</strong>u na vida <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu<br />
flagelo e vê que cerceou seu amor à vida, a si mesmo e ao outro.<br />
Caracterizo meu trabalho como uma travessia, rumo ao encontro <strong>do</strong><br />
momento vivencial com as <strong>pessoas</strong> que vivem com o HIV e a AIDS. Pessoas que<br />
convivem numa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>marcada por uma cultura que constrói significa<strong>do</strong>s sobre<br />
a epi<strong>de</strong>mia ancoran<strong>do</strong>-os, consciente ou inconscientemente, na <strong>de</strong>sconstrução da<br />
vida e na construção da morte, na <strong>de</strong>ssexualização <strong>do</strong>s corpos e a<strong>de</strong>stramento das<br />
condutas, e que expressa por meio <strong>de</strong> pesos e <strong>de</strong>smedidas, <strong>de</strong> menos valor e mais<br />
valia, o <strong>de</strong>stino das <strong>pessoas</strong> por ela acometida.<br />
Consi<strong>de</strong>rar que a forma como ‘olhamos’ a AIDS ela também nos ‘olha’, <strong>de</strong><br />
mo<strong>do</strong> que "não nos esqueçamos da mão-dupla que tem a estrutura subjetiva <strong>do</strong><br />
olhar: o objeto olha<strong>do</strong> olha quem o olha. Olhamos e somos olha<strong>do</strong>s com a vigorosa<br />
sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrirmos a verda<strong>de</strong> <strong>do</strong> outro. Olhar da AIDS! Como a AIDS olha?<br />
Com 'mau olha<strong>do</strong>' inventan<strong>do</strong> 'aidéticos' por toda parte ou <strong>de</strong>rruban<strong>do</strong> com 'olho<br />
gran<strong>de</strong>'. Olhar a AIDS é uma tarefa comunitária <strong>de</strong> dimensão ética a respeito da<br />
humanida<strong>de</strong>" (COSTA FILHO, 1995, p.18).<br />
Coexistir nesta epi<strong>de</strong>mia permitiu-me coexistir comigo mesma e apreen<strong>de</strong>r<br />
novos olhares <strong>de</strong> forma virtuosa às muitas realida<strong>de</strong>s em que vivemos, <strong>de</strong> substituir<br />
25 É um aspecto da vida humana que po<strong>de</strong> ser entendida como corrente <strong>de</strong> energia, a união com o<br />
la<strong>do</strong> selvagem, esperança <strong>de</strong> futuro, a paixão <strong>pela</strong> criação, um jeito <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> fazer, o mun<strong>do</strong> das<br />
sensações e <strong>do</strong>s fantasmas (ESTÉS, 1994).<br />
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