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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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conseqüências no nível das relações sociais e to<strong>do</strong> o cabedal <strong>de</strong> problemas que<br />

<strong>de</strong>las advêm ao assumirem a sua sorologia.<br />

Percebo que o diagnóstico reagente para o HIV constitui-se num marco na<br />

vida das <strong>pessoas</strong>, à medida que estabelece mudanças drásticas que provocam<br />

rupturas e conflitos, principalmente ao se tratar <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>ença estigmatizante. As<br />

respostas geradas diante <strong>de</strong>sta vivência, traduzem-se pelo emergir <strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong><br />

insegurança permea<strong>do</strong>s pelo me<strong>do</strong>, ou seja, o me<strong>do</strong> das perdas que o estigma<br />

carrega, componente marcante nos <strong>de</strong>poimentos orais <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res.<br />

A observância e análise em relação aos motivos que dificultam os<br />

colabora<strong>do</strong>res a buscar os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>s sob o prisma <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>poimento individual, distinguem-se <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais, uma vez que a <strong>trajetória</strong> <strong>de</strong> cada<br />

pessoa, em si, é polissêmica. No entanto, como preceitua o méto<strong>do</strong> da história oral, a<br />

importância <strong>do</strong> testemunho oral po<strong>de</strong> estar não em seu apego aos fatos, mas na<br />

verda<strong>de</strong> simbólica e no imaginário, e, como local <strong>de</strong> expressão da socieda<strong>de</strong> e uma<br />

das forças regula<strong>do</strong>ras da vida coletiva, acaba explican<strong>do</strong> as atitu<strong>de</strong>s individuais.<br />

Destarte, os motivos que interferem na procura aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

referi<strong>do</strong>s pelos colabora<strong>do</strong>res parece ter sua gênese e se explicam no mo<strong>do</strong> como<br />

se <strong>de</strong>u o processo <strong>de</strong> simbolização da AIDS a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrá-la e como foi<br />

significada, quan<strong>do</strong> lhe <strong>de</strong>ram um senti<strong>do</strong> profundamente <strong>de</strong>preciativo, ancoran<strong>do</strong>-a<br />

no imaginário <strong>do</strong> mal, das pestes, <strong>do</strong> sexo e da morte. Este senti<strong>do</strong> é o núcleo <strong>do</strong><br />

estigma <strong>do</strong> qual as marcas físicas e o diagnóstico positivo constituem as<br />

manifestações perceptíveis <strong>do</strong> sinal que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia as condutas estigmatizantes.<br />

Como os colabora<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sta pesquisa não revelaram sua sorologia a<br />

público e não portam os estigmas <strong>de</strong>nuncia<strong>do</strong>s pelo corpo, como manchas na pele,<br />

emagrecimento, queda <strong>de</strong> cabelo – na medida em que são estes sinais físicos e o<br />

senti<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong> a eles que provocam reações – salvo os <strong>de</strong> culpa <strong>de</strong> caráter que<br />

não po<strong>de</strong>m ser visíveis, conseguem por meio da estratégia <strong>de</strong> dissimulação, mentira,<br />

isolamento e silêncio encobrir as marcas estigmatizantes para que não venham a<br />

serem conhecidas pelos ‘normais’ e se manter na posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>sacreditáveis. Mas,<br />

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