a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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prospecções futuras. E ao serem assim <strong>de</strong>signadas pelo preconceito e pelo estigma,<br />
<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> existir na relação com os <strong>de</strong>mais e a significar como seres humanos.<br />
Sentem-se inferiorizadas e inseguras e não aceitas como iguais aos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />
‘normais’. Assim, são marginalizadas e levam o rótulo <strong>de</strong> culpadas em razão <strong>do</strong> seu<br />
estilo <strong>de</strong> vida consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> imoral e con<strong>de</strong>nável.<br />
Essas constatações apresentam-se fortemente impregnadas nos relatos<br />
orais <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res, principalmente no que tange aos aspectos liga<strong>do</strong>s ao<br />
exercício <strong>de</strong> sua sexualida<strong>de</strong>, que, no imaginário e na construção da AIDS moral,<br />
está associada a comportamentos ilícitos, vergonhosos e merece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> injúria.<br />
E, mesmo que uma pessoa se infecte em uma situação que é aceita no contexto<br />
social, como, por exemplo, em uma relação <strong>de</strong> casamento monogâmica e com amor,<br />
levantam-se hipóteses moralistas sobre a forma <strong>de</strong> contágio e sempre ficam<br />
pairan<strong>do</strong> suspeitas no ar.<br />
Constatações referidas por Sontag (1989, p.32) quan<strong>do</strong> diz que a "transmissão<br />
sexual <strong>de</strong>sta <strong>do</strong>ença, encarada como calamida<strong>de</strong> da qual a vítima é culpada e mais<br />
censurada <strong>do</strong> que os outros", ou seja, "...contrair a <strong>do</strong>ença através <strong>de</strong> uma prática<br />
sexual parece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da vonta<strong>de</strong>, e, portanto, implica mais culpabilida<strong>de</strong>".<br />
Fato que reflete a reação emocional <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res, pois diante da<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s como porta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> vírus da AIDS e, por<br />
conseguinte receberem um julgamento moral preferem calar-se para não receberem<br />
estes estereótipos, e que não <strong>de</strong>sejam assumi-lo para si. Esta vivência <strong>de</strong> culpa é<br />
ainda mais acentuada, quan<strong>do</strong> vem atrelada a <strong>pessoas</strong> que já são socialmente<br />
discriminadas como os homossexuais, visto que rompem os valores sociais e<br />
religiosos introjeta<strong>do</strong>s, e se comportam <strong>de</strong> forma inapropriada aos códigos vigentes<br />
e aos scripts (regras e condutas) apreendi<strong>do</strong>s no processo <strong>de</strong> socialização. Assim, o<br />
sentimento <strong>de</strong> culpa se intensifica e vivenciam a <strong>do</strong>ença como um justo castigo e<br />
conseqüência natural <strong>de</strong> seus atos transgressores. Como diz Ferreira (2003, p.298),<br />
"a culpa originada <strong>do</strong>s conflitos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> tem na AIDS um fértil campo <strong>de</strong><br />
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