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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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na qual parece prevalecer Thánatos, ou seja, a morte, ao invés <strong>de</strong> Eros, vida,<br />

minan<strong>do</strong> a cada dia <strong>de</strong> sua existência seus sonhos, seus projetos e seu po<strong>de</strong>r vital<br />

(LABRONICI, 2002).<br />

Apesar <strong>de</strong> sabermos que a morte é o nosso inexorável <strong>de</strong>stino, em termos<br />

inconscientes ela nunca acontecerá quan<strong>do</strong> se trata <strong>de</strong> nós mesmos, pressupostos<br />

teóricos comenta<strong>do</strong>s por Kübler-Ross (2002). Porém, para as <strong>pessoas</strong> que se<br />

<strong>de</strong>scobrem soropositivas, a morte não paira mais no plano <strong>do</strong> inconsciente,<br />

concretiza-se próxima e real, fora <strong>de</strong> seu tempo i<strong>de</strong>al, e, talvez não seja mais<br />

possível negá-la. Além <strong>de</strong>sta configuração, os aspectos metafóricos liga<strong>do</strong>s à AIDS/<br />

morte, cita<strong>do</strong>s por Sontag (1989), dão-lhe um caráter <strong>de</strong> morte indigna, associa<strong>do</strong> à<br />

<strong>do</strong>r, à <strong>de</strong>terioração <strong>do</strong> corpo, à rejeição social e afetiva, levan<strong>do</strong> estas <strong>pessoas</strong> a um<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> estagnação diante <strong>de</strong> seus i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> vida, como se estivesse apenas<br />

esperan<strong>do</strong> a morte bater à sua porta. Esses significa<strong>do</strong>s conduzem a uma carga <strong>de</strong><br />

angústia e para se proteger negam na busca <strong>de</strong> aliviar a <strong>do</strong>r emocional.<br />

Seguramente o estágio da negação, pelo menos por algum tempo, traz<br />

uma sensação <strong>de</strong> alívio, diminuin<strong>do</strong> a angústia perante a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sofrimento<br />

físico e moral advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> da AIDS. Entretanto, se ela perdurar por muito<br />

tempo, a evolução <strong>do</strong> vírus po<strong>de</strong> assumir proporções maiores, pioran<strong>do</strong> o seu<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> físico, mental e social.<br />

Percebo que as dificulda<strong>de</strong>s em relação à elaboração e aceitação <strong>do</strong><br />

diagnóstico reagente para o HIV estão relacionadas, não apenas aos aspectos<br />

psicológicos próprios <strong>de</strong> cada uma, mas, e principalmente, aos aspectos metafóricos<br />

da AIDS. Torna-se mais complexa quan<strong>do</strong> ele é recente, e a pessoa não<br />

<strong>de</strong>senvolveu nenhum sintoma específico da <strong>do</strong>ença, ou apresenta temor em revelá-<br />

lo. Resulta<strong>do</strong>s que se confirma com a pesquisa <strong>de</strong> Ferreira (2003).<br />

A palavra AIDS, comentada por Seffner (2001), carrega a imagem <strong>do</strong><br />

preconceito que leva à discriminação e à con<strong>de</strong>nação das <strong>pessoas</strong>. Diante <strong>de</strong>ste<br />

fato, a elas lhes é da<strong>do</strong>, tão, e somente, o papel <strong>de</strong> <strong>do</strong>entes <strong>de</strong> AIDS, con<strong>de</strong>nadas ao<br />

sofrimento e à morte, <strong>de</strong>stituídas <strong>de</strong> nenhum outro atributo e qualida<strong>de</strong>, ou<br />

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