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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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profundas mudanças no mo<strong>do</strong> como se percebem e vivem; um perigo que vem <strong>de</strong><br />

fora, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma força avassala<strong>do</strong>ra, um fantasma sem face <strong>de</strong>finida que está<br />

em to<strong>do</strong>s os lugares e personifica uma ameaça originada <strong>pela</strong> real convivência com<br />

uma socieda<strong>de</strong> preconceituosa e discriminatória que lhe atribui a marca da<br />

<strong>de</strong>gradação. Diante <strong>de</strong>sses fatos, acreditam que seu <strong>de</strong>stino está traça<strong>do</strong>.<br />

Essas situações levam as <strong>pessoas</strong> a vivenciarem emoções singulares e<br />

particulares <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> suas <strong>trajetória</strong>s <strong>de</strong> vida – mas que são significadas no<br />

imaginário coletivo da AIDS – permeadas pelo me<strong>do</strong> da rejeição e <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no,<br />

encerran<strong>do</strong>-as numa imperiosa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocultação <strong>do</strong> diagnóstico, seja no<br />

âmbito familiar, seja nas relações sociais e <strong>de</strong> trabalho. Ocultam a sua sorologia,<br />

não <strong>pela</strong> informação objetiva e afirmativa <strong>de</strong> ter um vírus, já que não é um vírus<br />

qualquer. É o HIV, que <strong>pela</strong> sua roupagem metafórica conduz a um julgamento moral<br />

e reprovável que inva<strong>de</strong> a vida privada, revela um la<strong>do</strong> obscuro, ilícito e <strong>de</strong>svela os<br />

prazeres <strong>do</strong> corpo que exce<strong>de</strong>ram ao ‘controle da carne’. E como o <strong>de</strong>stino já está<br />

inscrito aos transgressores, sabem que serão puni<strong>do</strong>s, excluí<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>verão sofrer<br />

pelo ato que cometeram. Em função <strong>de</strong>ssas possibilida<strong>de</strong>s gera<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> sofrimento,<br />

escolhem o segre<strong>do</strong> e muitas vezes se isolam no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> se proteger, pois<br />

enfrentar essas situações significa ultrapassar as forças <strong>de</strong> que dispõem.<br />

Evi<strong>de</strong>ncia-se que a família, por escolha consciente <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res, não<br />

foi informada <strong>de</strong> sua sorologia. Fato que po<strong>de</strong> ser explica<strong>do</strong>, pois se porventura um<br />

<strong>do</strong>s membros <strong>de</strong> uma família for porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> HIV, este acontecimento po<strong>de</strong> ser um<br />

elemento <strong>de</strong>sagrega<strong>do</strong>r que põe em risco o papel da mesma como instância <strong>de</strong><br />

controle sobre os comportamentos, instalan<strong>do</strong>-se a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m.<br />

A representação social que agrega a AIDS a um aspecto físico <strong>de</strong>teriora<strong>do</strong><br />

e, conseqüentemente, ao i<strong>de</strong>ário da morte no qual encontra rebôo no tipo <strong>de</strong><br />

imagem edificada pelos meios <strong>de</strong> comunicação e reforça<strong>do</strong> <strong>pela</strong>s ciências<br />

biomédicas, tem como postula<strong>do</strong> responsabilizar a pessoa por sua <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> física<br />

e emocional, <strong>de</strong> tal sorte que a pessoa que se <strong>de</strong>scobre porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> HIV ou <strong>do</strong>ente<br />

<strong>de</strong> AIDS acaba carregan<strong>do</strong> consigo, em seu imaginário, uma imagem estereotipada,<br />

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