a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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18.05.2013 Views

(GIACOMINI, 1992). O que o autor quis dizer até aqui sobre a organização de serviços é que "uma determinada concepção de saúde corresponde a uma determinada organização da prestação de serviços" (GIACOMINI, 1992, p.61). As questões que busquei trazer para discussão sobre o sistema de saúde não dizem respeito, de forma alguma, as outras áreas de ação da saúde, uma vez que a SMS tem garantido conquistas extremamente importantes, assim como sobre os usuários soropositivos que já ingressaram no sistema, aliás, um campo vasto para futuras pesquisas. Verso sobre a lógica como foi concebido o novo modelo de atenção para o enfrentamento da epidemia da AIDS e sobre as experiências vivenciadas no cotidiano das pessoas que não conseguem suplantar de forma saudável os estigmas da doença. Utilizando-me das palavras de Raggio e Giacomini (1995, p.8), parece que o novo modelo de intervenção é mais uma reoferta do velho, que se reproduz continuamente, ou seja, uma novidade velha, a serviço da modernização retrógrada. Pensar em um novo modelo assistencial não se restringe a treinar pessoal que mantenha a essência do historicamente modelo hegemônico, pois rapidamente se exaurem nos tributos que lhe prestam. "Trata-se de habilitar prestadores, gestores e usuários para que se tornem sujeitos de um processo de construção (...). À questão dos modelos deve-se contrapor a visão de processo que negue ao setor saúde como máscara sanitária de uma sociedade mórbida, produtora de doença". Assim, coloco para reflexão que o modo como se estabelece o ingresso ao sistema de saúde tendo a Unidade Básica de Saúde como única porta de entrada, concomitante ao modelo assistencial das pessoas soropositivas, afiançado pelos paradigmas biologicista, revela fragilidade, pois deixa soltos na ponta aqueles agentes do sistema que estão mais fragilizados e vulneráveis. Tais questões trazem implícitos o enfoque da doença e a reprodução do território-sistema, desta forma conserva e revigora o sistema hegemônico, e que, segundo Mckeown apud Minayo (2004, p.60), mostra sua ineficácia, pois "não tem significado necessariamente a melhoria de qualidade de saúde da população". Isto é bastante comprometedor, uma vez que exclui os já excluídos. 143

CONCLUINDO O PERCURSO ANALÍTICO 144 Ver, olhar nos olhos; ouvir, escutar as palavras; sentir a presença das pessoas, os odores dos lugares são condições que nada supera. As máquinas registram as vozes e as imagens. Apenas as vozes e as imagens. As emoções são captadas por nossos sentidos. (Juan Mollinari) Utilizar o referencial metodológico da história oral como caminho para conhecer uma determinada faceta da realidade concreta das pessoas soropositivas para o HIV foi gratificante, pois me trouxe a plausibilidade de escutar a história viva passada e presente, desvelando todo o complexo das relações interpessoais. Desta maneira, os depoimentos orais ganharam alcance social na medida da inscrição de cada colaborador nos grupos sociais que os explicaram, deixaram de ser indivíduos atomizados e passaram a serem significados. Com a intenção de compreender os testemunhos orais dos colaboradores que vivem com o HIV ou a AIDS, procurando apreender os motivos que interferem na busca de um serviço de assistência do SUS para acompanhamento de suas necessidades de saúde, procurei realizar uma interpretação que me possibilitasse transitar entre os pontos gerais e específicos por eles evidenciados. Embora os relatos tenham sido individuais, próprios da vida de cada um, obtive com as entrevistas o descortinar de uma trama coletiva de existência social, que deu contorno à forma como pensam, vivem e reagem à doença. Assim, os motivos relatados foram analisados de modo a lhes permitir atribuir significado social, no qual a imaginação e o simbólico almejam emergir, como preconiza o método da história oral. A descoberta da soropositividade mostrou-se um momento crítico na vida dos colaboradores, evocando sentimento de ansiedade, angústia e medo, no qual não vislumbram a possibilidade de um desfecho sereno. Há a consciência de um perigo emanado não apenas pelo significado da doença que define o limite de sua existência, mas também a possibilidade de grandes perdas que inscreverão

(GIACOMINI, 1992). O que o autor quis dizer até aqui sobre a organização <strong>de</strong><br />

serviços é que "uma <strong>de</strong>terminada concepção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong> a uma<br />

<strong>de</strong>terminada organização da prestação <strong>de</strong> serviços" (GIACOMINI, 1992, p.61).<br />

As questões que busquei trazer para discussão sobre o sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

não dizem respeito, <strong>de</strong> forma alguma, as outras áreas <strong>de</strong> ação da saú<strong>de</strong>, uma vez que<br />

a SMS tem garanti<strong>do</strong> conquistas extremamente importantes, assim como sobre os<br />

usuários soropositivos que já ingressaram no sistema, aliás, um campo vasto para<br />

futuras pesquisas. Verso sobre a lógica como foi concebi<strong>do</strong> o novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção<br />

para o enfrentamento da epi<strong>de</strong>mia da AIDS e sobre as experiências vivenciadas no<br />

cotidiano das <strong>pessoas</strong> que não conseguem suplantar <strong>de</strong> forma saudável os estigmas<br />

da <strong>do</strong>ença.<br />

Utilizan<strong>do</strong>-me das palavras <strong>de</strong> Raggio e Giacomini (1995, p.8), parece que<br />

o novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção é mais uma reoferta <strong>do</strong> velho, que se reproduz<br />

continuamente, ou seja, uma novida<strong>de</strong> velha, a serviço da mo<strong>de</strong>rnização retrógrada.<br />

Pensar em um novo mo<strong>de</strong>lo assistencial não se restringe a treinar pessoal que<br />

mantenha a essência <strong>do</strong> historicamente mo<strong>de</strong>lo hegemônico, pois rapidamente se<br />

exaurem nos tributos que lhe prestam. "Trata-se <strong>de</strong> habilitar presta<strong>do</strong>res, gestores e<br />

usuários para que se tornem sujeitos <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> construção (...). À questão<br />

<strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>ve-se contrapor a visão <strong>de</strong> processo que negue ao setor saú<strong>de</strong><br />

como máscara sanitária <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> mórbida, produtora <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença".<br />

Assim, coloco para reflexão que o mo<strong>do</strong> como se estabelece o ingresso ao<br />

sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ten<strong>do</strong> a Unida<strong>de</strong> Básica <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> como única porta <strong>de</strong> entrada,<br />

concomitante ao mo<strong>de</strong>lo assistencial das <strong>pessoas</strong> soropositivas, afiança<strong>do</strong> pelos<br />

paradigmas biologicista, revela fragilida<strong>de</strong>, pois <strong>de</strong>ixa soltos na ponta aqueles<br />

agentes <strong>do</strong> sistema que estão mais fragiliza<strong>do</strong>s e vulneráveis. Tais questões trazem<br />

implícitos o enfoque da <strong>do</strong>ença e a reprodução <strong>do</strong> território-sistema, <strong>de</strong>sta forma<br />

conserva e revigora o sistema hegemônico, e que, segun<strong>do</strong> Mckeown apud Minayo<br />

(2004, p.60), mostra sua ineficácia, pois "não tem significa<strong>do</strong> necessariamente a<br />

melhoria <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população". Isto é bastante compromete<strong>do</strong>r, uma<br />

vez que exclui os já excluí<strong>do</strong>s.<br />

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