a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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sua sorologia e, principalmente, sua homossexualida<strong>de</strong> venham a ser <strong>de</strong>scobertas<br />
pelos seus pais, fato que o faz retroce<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>cisão.<br />
135<br />
Eu já pensei em ir ao posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que meus pais freqüentam, mas lembrei que<br />
eles são muito conheci<strong>do</strong>s no posto e se eu me i<strong>de</strong>ntificar vão saber que sou filho<br />
<strong>de</strong>les e que tenho o HIV, e aí <strong>de</strong>sisti. Sei também que tem <strong>pessoas</strong> que visitam a<br />
casa da gente, e se fossem na minha e falassem <strong>de</strong> mim para os meus pais. Não,<br />
eu prefiro não facilitar! (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />
Para finalizar a análise <strong>de</strong>sta categoria, argumento que administrar as<br />
inseguranças, as contradições e os temores em relação à vivência duais<br />
homossexualida<strong>de</strong>/AIDS presentes nos relatos <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res, parece ser<br />
questão mais premente <strong>do</strong> que aquelas que dizem respeito à busca ou afirmação<br />
<strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> homossexual. Conviver com a ameaça <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scoberto<br />
<strong>de</strong>sponta nesta pesquisa como um problema para muitos homens, acha<strong>do</strong> que<br />
vem reforçar os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Terto Jr. (1996), quan<strong>do</strong> relata que "...são conheci<strong>do</strong>s<br />
casos <strong>de</strong> homens que preferem morrer ou não buscar acompanhamento médico<br />
a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> por me<strong>do</strong> <strong>de</strong> se expor e ser <strong>de</strong>scoberto e ter <strong>de</strong> sofrer <strong>de</strong><br />
constrangimentos e acusações" (TERTO JR., 1996, p.99).<br />
Outra categoria <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque diz respeito à entrada das <strong>pessoas</strong> <strong>porta<strong>do</strong>ras</strong><br />
<strong>do</strong> HIV ao Sistema <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, e que <strong>de</strong>nominei O sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
Nesta procurei enfatizar os aspectos mais relevantes das falas <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res.<br />
Na medida em que surgem questões que dizem respeito à assistência às<br />
<strong>pessoas</strong> <strong>porta<strong>do</strong>ras</strong> <strong>do</strong> HIV e da AIDS, faz-se mister consi<strong>de</strong>rar o i<strong>de</strong>ário <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> intervenção que procura colocar a AIDS na ‘or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> dia’ como uma <strong>do</strong>ença<br />
potencialmente controlável, a ser manejada em nível das Unida<strong>de</strong>s Básicas <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong>. Ao ser encarada como tantas outras patologias <strong>de</strong> caráter evolutivo crônico,<br />
a idéia <strong>de</strong> que o acompanhamento clínico nesses serviços respon<strong>de</strong>rá satisfatoriamente<br />
um problema <strong>de</strong> notória magnitu<strong>de</strong> parece-me falaciosa, pois a AIDS é muito mais<br />
uma <strong>do</strong>ença <strong>de</strong> âmbito social <strong>do</strong> que biológico, por conseguinte precisamos<br />
consi<strong>de</strong>rar a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste fenômeno, e como ele foi socialmente construí<strong>do</strong> e