a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
134<br />
também pararam <strong>de</strong> cobrar. (...) Gostaria muito <strong>de</strong> estar mais perto da minha<br />
família, mas ao mesmo tempo não consigo porque eles não aceitariam que sou<br />
gay e que tenho o vírus da AIDS. (...) Meus pais são muito velhinhos e foram<br />
cria<strong>do</strong>s com uma moral muito rígida e acho que não suportariam a notícia. (...)<br />
tenho me<strong>do</strong> <strong>de</strong> fazer mamãe sofrer, sabe ela é muito velhinha e não quero dar<br />
essa <strong>de</strong>cepção á ela. (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> a AIDS revelar os fantasmas que estavam a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s, e<br />
<strong>de</strong>smistificar a homossexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>moven<strong>do</strong>-a <strong>do</strong> jugo <strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s, das alcovas<br />
e das penumbras, ela lembra o importante papel da família como auditório interno<br />
que regula os dispositivos da sexualida<strong>de</strong>, no qual inscreve um gran<strong>de</strong> controle<br />
social (SILVA, 1986). Embora a família <strong>de</strong>sconfie da homossexualida<strong>de</strong> ou da AIDS<br />
<strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus membros, estes assuntos ainda são regi<strong>do</strong>s pelo código <strong>do</strong> silêncio:<br />
não se fala da homossexualida<strong>de</strong>, nem da AIDS.<br />
Nunca abri isto para os meus pais, mas eu penso e sinto que eles já sabem, mas<br />
não comentam. Nunca falamos sobre isto, e acho que (...) eles <strong>de</strong>sconfiam.<br />
(colabora<strong>do</strong>r 1)<br />
Ainda não me sinto prepara<strong>do</strong> para isto [falar com seus pais sobre a sua<br />
homossexualida<strong>de</strong> e o HIV]. Acho que quan<strong>do</strong> acontecer [a<strong>do</strong>ecer <strong>de</strong> AIDS] vou<br />
abrir a minha vida, eu não estou prepara<strong>do</strong> para falar, nem eles prepara<strong>do</strong>s para<br />
ouvir. (colabora<strong>do</strong>r 4)<br />
Segun<strong>do</strong> Silva (1986), a dissimulação <strong>de</strong>sses fatos tanto por parte daquele<br />
que vive a homossexualida<strong>de</strong> ou com a AIDS, como por parte <strong>de</strong> sua família, parece<br />
ser um jogo que visa menos evitar a <strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma nova condição existencial (a AIDS)<br />
para ambos, <strong>do</strong> que ocultar uma falha que cada um parece tomar como sua. A<br />
autora prossegue seu pensamento, dizen<strong>do</strong> que a família finge não perceber a<br />
orientação sexual <strong>do</strong> filho porque, no seu imaginário, ela também falhou. Falhou na<br />
sua educação, facilitan<strong>do</strong>, assim, as condições que o tornaram homossexual.<br />
No relato que se suce<strong>de</strong>, o primeiro colabora<strong>do</strong>r <strong>de</strong>monstra que diante <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> iniciar o acompanhamento <strong>de</strong> sua infecção em um serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
pensa na família que freqüenta o mesmo serviço e questiona a possibilida<strong>de</strong> que