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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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<strong>de</strong> sua <strong>do</strong>ença. Caso ele fique ao seu la<strong>do</strong> (permaneça casada) e se a<strong>do</strong>ecer,<br />

necessitará <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s, que certamente receberá <strong>de</strong> uma esposa<br />

<strong>de</strong>dicada, abdicada, cuida<strong>do</strong>sa e exemplar – mesmo em prejuízo a sua saú<strong>de</strong>.<br />

127<br />

Nós não conseguimos até hoje conversar direito sobre isto [a infecção pelo HIV]<br />

(...). Fico muito triste porque ele não fala comigo sobre a <strong>do</strong>ença que eu tenho e<br />

tenho certeza que ele também tem [o mari<strong>do</strong> se nega a fazer o teste anti-HIV].<br />

Sinto como se não quisesse cuidar <strong>de</strong> mim. Parece que não está nem aí. Tem<br />

horas que sinto muita raiva <strong>de</strong>le. Eu às vezes tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> largar <strong>de</strong>le e ir<br />

embora com meu filho, [mas não o faz] (...) porque eu não estu<strong>de</strong>i e não sei fazer<br />

nada, e penso que já que se tenho o HIV vou ficar com ele que também tem.<br />

(colabora<strong>do</strong>ra 2)<br />

Quan<strong>do</strong> a AIDS começou a infectar as mulheres, atacou barreiras e<br />

armadilhas milenares que acobertavam uma verda<strong>de</strong> singular, ou seja, que elas não<br />

são apenas reprodutoras e guardiãs <strong>do</strong> lar e da família. As mulheres também<br />

possuem uma sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejante que nem sempre visa à reprodução, mas sim<br />

ao prazer. Apesar <strong>de</strong>sta verda<strong>de</strong> incontestável, o valor <strong>do</strong> feminino ainda se<br />

expressa na vigilância <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo supon<strong>do</strong> o controle, a constrição e a aniquilação <strong>do</strong><br />

mesmo. Atrever-se a romper os limites da feminilida<strong>de</strong> tradicional é expor-se a uma<br />

ameaça (GUIMARÃES, 1992). Aquela que se arrisca em fazê-lo, põe-se em perigo<br />

por ser transgressora, e será perseguida, estigmatizada, marginalizada e culpada,<br />

sofren<strong>do</strong> <strong>de</strong> violência, humilhação e agressão cotidianas. Estes atos trazem uma<br />

conseqüente restrição e diminuição <strong>do</strong>s prazeres, <strong>de</strong> aceitação, <strong>de</strong> contatos com o<br />

outro e <strong>do</strong>s seus sonhos. A negação <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong> faz com que se <strong>de</strong>svaneça<br />

o prazer das coisas, e a vivência <strong>do</strong> cotidiano transforma-se em um problema repleto<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cepções, terminan<strong>do</strong> num gran<strong>de</strong> vazio.<br />

Eu sou a segunda filha <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> 4 filhos (2 mulheres e 2 homens) e<br />

sempre fui consi<strong>de</strong>rada a mais rebel<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os filhos. Comecei a namorar<br />

ce<strong>do</strong>, tive vários namora<strong>do</strong>s e na época que comecei a namorar não se falava <strong>de</strong><br />

AIDS como se fala hoje. Minha mãe era uma pessoa super retraída, nunca<br />

conversou comigo sobre coisas <strong>de</strong> sexo, ela só dizia – Vê se não vai aprontar!<br />

Mas nunca me disse como não aprontar. O que eu sabia <strong>de</strong> sexo era ao que as<br />

minhas amigas falavam na escola e na rua que eu morava. (colabora<strong>do</strong>ra 3)

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