a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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Quan<strong>do</strong> se refere ao fato <strong>de</strong> o mari<strong>do</strong> não querer fazer o teste anti-HIV e<br />
conseqüentemente não buscar assistência médica, justifica, também, sua não<br />
a<strong>de</strong>são ao acompanhamento clínico, pois tem a sensação que será responsabilizada<br />
<strong>pela</strong> infecção <strong>de</strong> ambos.<br />
126<br />
Eu tenho a sensação <strong>de</strong> que se disser que tenho HIV eu serei a responsável por<br />
isto. (...). É que vai parecer que eu é que tenho o HIV, e que eu é que passei para<br />
ele. É que parece que o primeiro que sabe que tem AIDS é o responsável por ter<br />
passa<strong>do</strong> para o outro. Eu já vi isto acontecer aqui no bairro. Tinha uma mulher<br />
que ficou saben<strong>do</strong> que tinha o HIV, e ela foi culpada por isto, inclusive pelo mari<strong>do</strong><br />
que era um sem vergonha e to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sabia que ele transava com to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
Mas ela coitada, é que levou a culpa. (colabora<strong>do</strong>ra 2)<br />
Pesquisas da ONUSIDA/OMS (2002a) trazem exemplos importantes que<br />
reforçam os estigmas em relação ao papel <strong>de</strong> gênero, nos quais os homens são<br />
freqüentemente per<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s pelo comportamento que resultou na sua infecção,<br />
enquanto as mulheres são responsabilizadas (mesmo em relações monogâmicas ou<br />
quan<strong>do</strong> tinham pouco ou nenhum controle sobre o seu comportamento), são<br />
aban<strong>do</strong>nadas pelos mari<strong>do</strong>s que as infectaram, rejeitadas pelos conheci<strong>do</strong>s e <strong>pela</strong><br />
família. Por temerem esta trágica situação, muitas <strong>de</strong>las preferem não conhecer sua<br />
condição sorológica, ou se souberem, preferem mantê-la em segre<strong>do</strong>.<br />
O relato da segunda colabora<strong>do</strong>ra faz menção à condição existencial <strong>de</strong><br />
muitas mulheres que são infectadas a sua ‘revelia’, cujo único fator <strong>de</strong> risco aparente<br />
seria o fato <strong>de</strong> não usarem camisinha com seus parceiros sexuais estáveis 22 .<br />
Guimarães (1992) afirma que a mulher após a comunicação <strong>de</strong> sua situação<br />
sorológica para o HIV assume o seu <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> vítima sob o jugo <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r masculino,<br />
muitas vezes sem receber o seu apoio e cuida<strong>do</strong>. Se o parceiro não estiver presente,<br />
em função <strong>de</strong> separação ou morte, a mulher freqüentemente assumirá sozinha o ônus<br />
22 Enten<strong>do</strong> parceria sexual estável aquela que envolve além <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> casamento ou união<br />
consensual, relação afetiva-sexual com relações sexuais regulares, classificadas como sen<strong>do</strong> uma<br />
relação igual ou semelhante a <strong>de</strong> mari<strong>do</strong>/esposa, noivo/noiva, namora<strong>do</strong>/namorada, amante/<br />
amante e mesmo um caso.