18.05.2013 Views

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Essa questão po<strong>de</strong> estar relacionada ao fato <strong>de</strong> que a AIDS traz à tona os<br />

valores, as normas e os comportamentos interioriza<strong>do</strong>s no processo <strong>de</strong> socialização<br />

primária, ten<strong>do</strong> a família como o principal agente <strong>de</strong>sta socialização e, portanto,<br />

quan<strong>do</strong> se pensa em fazer alguma coisa ou quan<strong>do</strong> algo foge aos padrões da norma<br />

apreendida, a primeira instituição a ser lembrada é a família. Destaco que os<br />

colabora<strong>do</strong>res que entrevistei não comentaram sua sorologia com seu núcleo<br />

familiar <strong>de</strong> origem (pai e mãe).<br />

122<br />

Não contei nada pra ninguém, até hoje eles [os seus pais] não sabem. Minha mãe<br />

percebeu que eu estava muito triste e ela achou que era por causa da minha<br />

separação. Ela e meu pai nem <strong>de</strong>sconfiam que tenho AIDS. (...), nunca consegui<br />

contar porque sei que eles não iriam me ajudar (...) Tenho me<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser julgada...<br />

(colabora<strong>do</strong>ra 2)<br />

Quan<strong>do</strong> cheguei em casa [logo após ter recebi<strong>do</strong> o diagnóstico] a primeira pessoa<br />

que liguei foi a C. [amiga que também era soropositiva] e comecei a chorar um<br />

montão. Ela foi corren<strong>do</strong> lá em casa e nós duas choramos muito juntas. Ainda<br />

bem que eu estava sozinha em casa, porque eu não queria contar para a minha<br />

mãe nem para os meus irmãos (...) Imagina a filha <strong>de</strong> Dona M. [a mãe] tem AIDS,<br />

isto seria uma vergonha para toda a família. (colabora<strong>do</strong>ra 3)<br />

Eu não tive coragem <strong>de</strong> contar para o meu pai. Ele morreu sem saber, e também<br />

não contei para o meu irmão que mora comigo. (colabora<strong>do</strong>r 5)<br />

Emergem relatos que <strong>de</strong>monstram como os valores e as crenças parentais<br />

refletem na experiência das <strong>pessoas</strong> <strong>porta<strong>do</strong>ras</strong> <strong>do</strong> HIV, cujo me<strong>do</strong> da rejeição <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> casa e da comunida<strong>de</strong> local impe<strong>de</strong>-as <strong>de</strong> revelar seu status sorológico aos seus<br />

familiares, como afirmam Parker e Aglleton (2001). Para os autores, as famílias<br />

po<strong>de</strong>m rejeitar os seus membros soropositivos não só pelo fato <strong>de</strong> estarem infecta<strong>do</strong>s,<br />

mas também em virtu<strong>de</strong> das conotações <strong>de</strong> homossexualida<strong>de</strong>, uso <strong>de</strong> drogas e<br />

promiscuida<strong>de</strong>, significa<strong>do</strong>s que a AIDS carrega.<br />

Meu pai (...), ele sempre foi muito distante, teve uma educação muito severa,<br />

sabe ele nem me beija! Diz que homem não beija homem, e todas aquelas coisas<br />

<strong>de</strong> machão como homem não chora, tem que mostrar que é forte, e assim por<br />

diante! Acho que se ele souber que sou gay e que tenho AIDS não chega mais<br />

nem perto, já não me beija, se souber nem a mão vai me dar. (colabora<strong>do</strong>r 1)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!