a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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vez que a realida<strong>de</strong> da saú<strong>de</strong> se contrapõe à fantasia <strong>de</strong> morte iminente<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada pelo diagnóstico <strong>do</strong> HIV" (FERREIRA, 2003, p.192). Assim, passam a<br />
conviver melhor com o vírus, e muitas angústias diante <strong>de</strong>sse momento vivencial<br />
dissipam-se, possibilitan<strong>do</strong> que reconstruam as suas vidas com novos i<strong>de</strong>ais, mais<br />
fortes e verda<strong>de</strong>iros.<br />
Para finalizar a discussão sobre a morte, gostaria <strong>de</strong> pontuar que as<br />
mensagens sinalizadas nas entrelinhas <strong>do</strong>s <strong>de</strong>poimentos fazem menção não<br />
necessariamente à morte <strong>do</strong> corpo físico, visto que uma pessoa porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> HIV<br />
vive por muito tempo, principalmente após o progresso das ciências biomédicas,<br />
que, dadas as novas tecnologias (medicamentos e exames), têm um impacto<br />
significativo em relação ao combate <strong>do</strong> HIV, e retardam o aparecimento <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças<br />
graves. Po<strong>de</strong>mos, então, inferir que a AIDS se tornou uma <strong>do</strong>ença crônica.<br />
Posto isso, na minha compreensão, a questão essencial que se evi<strong>de</strong>ncia<br />
na fala <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res em relação à morte está muito mais relacionada ao<br />
processo <strong>de</strong> morrer, como alu<strong>de</strong> Ferreira (2003), permea<strong>do</strong> por sentimentos <strong>de</strong><br />
me<strong>do</strong> diante da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r 'coisas' que lhe são tão caras. Obviamente<br />
a vida, após um diagnóstico reagente para o HIV, como um palco se transforma, e ao<br />
ator lhe será atribuí<strong>do</strong> um novo papel social que o diferenciará <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais –<br />
<strong>de</strong> soronegativo para soropositivo – cuja representação já lhe foi transmitida (seja no<br />
plano imaginário, seja no plano social). Isto lhe dá me<strong>do</strong>, pois sabe que, ao assumir<br />
este novo papel <strong>de</strong> 'diferente', sofrerá <strong>de</strong> preconceito e discriminação que o levarão<br />
ao isolamento e ao aban<strong>do</strong>no. Desse mo<strong>do</strong>, estará <strong>de</strong>cretada a sentença <strong>de</strong> morte<br />
para os seus projetos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> e plenitu<strong>de</strong> humana.<br />
Ao se <strong>de</strong>parar com o diagnóstico positivo para o HIV, as <strong>pessoas</strong>, segun<strong>do</strong><br />
Silva (1986), convivem com <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>s: estar com a <strong>do</strong>ença, ou portar<br />
um vírus que <strong>de</strong>marca o limite <strong>de</strong> sua existência, como vimos nas análises<br />
supracitadas, acresci<strong>do</strong> da preocupação em escondê-la, a to<strong>do</strong> custo, das <strong>pessoas</strong><br />
mais próximas, principalmente <strong>do</strong>s seus familiares.<br />
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