18.05.2013 Views

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

para analisar as <strong>pessoas</strong> consi<strong>de</strong>radas menos valorizadas, crian<strong>do</strong> assim, rótulos<br />

que estigmatizam, discriminam e excluem certos grupos.<br />

Além <strong>do</strong>s entendimentos da peste e <strong>do</strong> estigma, as representações<br />

construídas para significar a AIDS tiveram, outrossim, como base as crenças e<br />

interpretações morais, principalmente relacionadas à sexualida<strong>de</strong>, que acabaram<br />

instituin<strong>do</strong> valores para explicar a origem da situação que provocou a infecção. Esse<br />

posicionamento moral da socieda<strong>de</strong> acaba inscreven<strong>do</strong> culpa e responsabilida<strong>de</strong><br />

pelo fato <strong>de</strong> uma pessoa estar <strong>do</strong>ente <strong>de</strong> AIDS ou porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> HIV, dirigin<strong>do</strong>-lhe o<br />

rótulo <strong>de</strong> culpada, pois o seu estilo <strong>de</strong> vida rompeu com os comportamentos<br />

socialmente aceitáveis, e assim, a <strong>do</strong>ença reafirma seu caráter <strong>de</strong> pena e castigo.<br />

Outros aspectos também <strong>de</strong>sempenharam um papel essencial na epi<strong>de</strong>mia<br />

da AIDS, pois ela provocou um profun<strong>do</strong> impacto sobre a maneira <strong>de</strong> se pensar o<br />

processo saú<strong>de</strong>/<strong>do</strong>ença e sobre o relacionamento entre socieda<strong>de</strong> e medicina. Ela<br />

tem evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> as possibilida<strong>de</strong>s e limitações das ciências biomédicas, enquanto<br />

enfatiza a atenção na busca <strong>de</strong> soluções para as dimensões sociais, culturais,<br />

econômicas e políticas no que diz respeito à saú<strong>de</strong> coletiva (ALMEIDA et al., 2004),<br />

diante <strong>de</strong> uma epi<strong>de</strong>mia tão dinâmica e volátil, como diz Mann et al. (1993).<br />

Ressalte-se que a AIDS <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou uma crise na medicina, ao questionar<br />

enfaticamente suas crenças originais, ou seja, a idéia <strong>de</strong> cura e <strong>do</strong>ença, consagradas<br />

<strong>pela</strong> ciência como verda<strong>de</strong>s médicas (FARIA e VAZ, 1995). Em face da contextualização<br />

da epi<strong>de</strong>mia, muitas das suposições <strong>de</strong>sse antigo paradigma estavam sen<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>safiadas, ao se <strong>de</strong>parar com as exigências impostas por uma nova <strong>do</strong>ença que não<br />

po<strong>de</strong>ria ser curada nem prevenida <strong>pela</strong>s ciências biomédicas, questionan<strong>do</strong> sua<br />

hegemonia, bem como a necessida<strong>de</strong> premente da criação <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los que iam<br />

muito além <strong>do</strong> alcance da saú<strong>de</strong> pública tradicional (ALTMAN, 1995).<br />

A epi<strong>de</strong>mia da AIDS trouxe também um <strong>de</strong>sconforto duplo para o discurso<br />

biomédico, porque coloca, primeiramente, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ante uma<br />

sexualida<strong>de</strong> tida como perversa e o uso <strong>de</strong> drogas ilícitas, situações polêmicas<br />

recheadas <strong>de</strong> tabus para as quais não se encontravam prepara<strong>do</strong>s, uma vez que não<br />

4

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!