18.05.2013 Views

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Porém, algum tempo <strong>de</strong>pois, resolveu realizar o exame, e foi quan<strong>do</strong><br />

recebeu o diagnóstico positivo para o HIV. Com a palavra a colabora<strong>do</strong>ra:<br />

120<br />

Logo que soube que tinha o HIV fiquei superabalada (...), mas a moça que me<br />

entregou o resulta<strong>do</strong> foi atenciosa comigo e me acalmou porque o meu <strong>de</strong>sejo era<br />

<strong>de</strong> naquela hora me jogar da janela. Ela me disse que o HIV não era como<br />

antigamente que a <strong>do</strong>ença po<strong>de</strong>ria ser controlada, mas que para isto eu <strong>de</strong>veria ir<br />

ao médico para ele ver como estavam minhas <strong>de</strong>fesas. Aí eu perguntei para on<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>via ir e ela me disse que eu po<strong>de</strong>ria acompanhar lá na Saú<strong>de</strong> Pública. Aí eu<br />

gelei, porque me veio à cabeça toda aquela gente que eu via quan<strong>do</strong> ia ao médico<br />

com a C. [amiga]. Eu disse, então, que iria pensar, e saí dali meio tonta sem saber<br />

o que iria fazer da minha vida. (colabora<strong>do</strong>ra 3)<br />

Depois da realização <strong>do</strong> exame, a colabora<strong>do</strong>ra não voltou para o serviço<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ao qual havia si<strong>do</strong> referendada. Atrevo-me a inferir que, para ela, aquele<br />

local <strong>de</strong> atendimento às <strong>pessoas</strong> com HIV ou com AIDS acabou assumin<strong>do</strong> um<br />

caráter simbólico, representa<strong>do</strong> <strong>pela</strong> figura apavorante da AIDS e da morte –<br />

"pareciam umas múmias" – contatos que ela não estava preparada para enfrentar.<br />

No final da entrevista me disse o quanto se sentia insegura a respeito das escolhas<br />

que havia feito para a sua vida, mas que para ela eram as escolhas possíveis:<br />

Gostaria <strong>de</strong> dizer que eu não sei se estou fazen<strong>do</strong> a coisa certa quan<strong>do</strong> não<br />

quero fazer nada para me cuidar, ir ao médico, tomar remédio, e que ninguém<br />

saiba, enfim, todas essas coisas. Mas eu estou fazen<strong>do</strong> aquilo que para mim<br />

neste momento é possível. Sei que um dia vou ter que contar para alguém,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> eu ficar <strong>do</strong>ente, porque nesta hora será impossível<br />

escon<strong>de</strong>r, mas até lá eu tenho tempo para pensar o que vou fazer. (colabora<strong>do</strong>r 4)<br />

Gostaria <strong>de</strong> pontuar que no perío<strong>do</strong> em que as entrevistas foram realizadas<br />

os colabora<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sfrutavam <strong>de</strong> boa saú<strong>de</strong> e tinham uma história <strong>de</strong> infecção<br />

recente (no máximo <strong>de</strong> quatro anos). Isto parece ter feito diferença no aparecimento<br />

<strong>do</strong>s outros estágios cita<strong>do</strong>s por Kübler-Ross, uma vez que, segun<strong>do</strong> Ferreira (2003),<br />

o tempo <strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong> diagnóstico modifica o nível <strong>de</strong> aceitação e, portanto, a<br />

adaptação à nova situação sorológica.<br />

Segue o autor dizen<strong>do</strong> que "para a ameaça da morte imediata que muitas<br />

<strong>pessoas</strong> sentem, o tempo em que permanecem saudáveis é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> auxílio, uma

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!