a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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Porém, algum tempo <strong>de</strong>pois, resolveu realizar o exame, e foi quan<strong>do</strong><br />
recebeu o diagnóstico positivo para o HIV. Com a palavra a colabora<strong>do</strong>ra:<br />
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Logo que soube que tinha o HIV fiquei superabalada (...), mas a moça que me<br />
entregou o resulta<strong>do</strong> foi atenciosa comigo e me acalmou porque o meu <strong>de</strong>sejo era<br />
<strong>de</strong> naquela hora me jogar da janela. Ela me disse que o HIV não era como<br />
antigamente que a <strong>do</strong>ença po<strong>de</strong>ria ser controlada, mas que para isto eu <strong>de</strong>veria ir<br />
ao médico para ele ver como estavam minhas <strong>de</strong>fesas. Aí eu perguntei para on<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>via ir e ela me disse que eu po<strong>de</strong>ria acompanhar lá na Saú<strong>de</strong> Pública. Aí eu<br />
gelei, porque me veio à cabeça toda aquela gente que eu via quan<strong>do</strong> ia ao médico<br />
com a C. [amiga]. Eu disse, então, que iria pensar, e saí dali meio tonta sem saber<br />
o que iria fazer da minha vida. (colabora<strong>do</strong>ra 3)<br />
Depois da realização <strong>do</strong> exame, a colabora<strong>do</strong>ra não voltou para o serviço<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ao qual havia si<strong>do</strong> referendada. Atrevo-me a inferir que, para ela, aquele<br />
local <strong>de</strong> atendimento às <strong>pessoas</strong> com HIV ou com AIDS acabou assumin<strong>do</strong> um<br />
caráter simbólico, representa<strong>do</strong> <strong>pela</strong> figura apavorante da AIDS e da morte –<br />
"pareciam umas múmias" – contatos que ela não estava preparada para enfrentar.<br />
No final da entrevista me disse o quanto se sentia insegura a respeito das escolhas<br />
que havia feito para a sua vida, mas que para ela eram as escolhas possíveis:<br />
Gostaria <strong>de</strong> dizer que eu não sei se estou fazen<strong>do</strong> a coisa certa quan<strong>do</strong> não<br />
quero fazer nada para me cuidar, ir ao médico, tomar remédio, e que ninguém<br />
saiba, enfim, todas essas coisas. Mas eu estou fazen<strong>do</strong> aquilo que para mim<br />
neste momento é possível. Sei que um dia vou ter que contar para alguém,<br />
principalmente quan<strong>do</strong> eu ficar <strong>do</strong>ente, porque nesta hora será impossível<br />
escon<strong>de</strong>r, mas até lá eu tenho tempo para pensar o que vou fazer. (colabora<strong>do</strong>r 4)<br />
Gostaria <strong>de</strong> pontuar que no perío<strong>do</strong> em que as entrevistas foram realizadas<br />
os colabora<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sfrutavam <strong>de</strong> boa saú<strong>de</strong> e tinham uma história <strong>de</strong> infecção<br />
recente (no máximo <strong>de</strong> quatro anos). Isto parece ter feito diferença no aparecimento<br />
<strong>do</strong>s outros estágios cita<strong>do</strong>s por Kübler-Ross, uma vez que, segun<strong>do</strong> Ferreira (2003),<br />
o tempo <strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong> diagnóstico modifica o nível <strong>de</strong> aceitação e, portanto, a<br />
adaptação à nova situação sorológica.<br />
Segue o autor dizen<strong>do</strong> que "para a ameaça da morte imediata que muitas<br />
<strong>pessoas</strong> sentem, o tempo em que permanecem saudáveis é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> auxílio, uma