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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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O primeiro apresenta aspectos contraditórios diante <strong>de</strong> sua vivência <strong>de</strong><br />

porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> HIV, ao mostrar que tem conhecimento sobre AIDS, e refere que sabe a<br />

diferença entre ser um porta<strong>do</strong>r saudável e estar <strong>do</strong>ente, como ele mesmo diz:<br />

117<br />

Leio muito sobre isto. Sei que uma pessoa com HIV po<strong>de</strong> viver normalmente, e<br />

que tem AIDS é que po<strong>de</strong> ter uma série <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças que po<strong>de</strong>m levar à morte.<br />

(colabora<strong>do</strong>r 1)<br />

A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> ter esse conhecimento, jamais procurou um médico para<br />

saber a evolução <strong>de</strong> sua infecção:<br />

Eu não sei se estou com AIDS, po<strong>de</strong> ser, mas também po<strong>de</strong> ser que eu seja<br />

apenas um porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> HIV. (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />

E diante <strong>de</strong>ssa dúvida, <strong>de</strong> repente, se dá conta que não está buscan<strong>do</strong><br />

respostas para minimizá-la, ele relata:<br />

Agora está cain<strong>do</strong> a ficha. (...) Eu estou perceben<strong>do</strong> que eu não estou fazen<strong>do</strong><br />

nada por mim, não vou ao médico, não quero saber como está a minha carga viral<br />

nem minhas <strong>de</strong>fesas. (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />

Na seqüência da entrevista, retoma a questão da morte, contu<strong>do</strong> o seu<br />

significa<strong>do</strong>, nesse momento, vem atrela<strong>do</strong> pelo me<strong>do</strong> da discriminação e por um<br />

sentimento <strong>de</strong> culpa.<br />

Vivo muito triste, penso muito na minha morte, no me<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser discrimina<strong>do</strong> e<br />

carrego uma culpa que não sei <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem. (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />

Ressoa-me que o que realmente lhe confere sofrimento é o confrontar-se<br />

com os constrangimentos impostos não <strong>pela</strong> <strong>do</strong>r infringida ao corpo <strong>do</strong>ente (ser ou<br />

não ser <strong>do</strong>ente <strong>de</strong> AIDS), mas <strong>pela</strong> pungência <strong>do</strong> preconceito e da discriminação<br />

<strong>de</strong>creta<strong>do</strong> pelo meio externo. O sentimento <strong>de</strong> culpa que reflete a metáfora<br />

estigmatizante da AIDS e que se instala no imaginário social – e, portanto, não sabe<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem –, ‘celebra’ a exploração moralista que se faz em torno da AIDS,<br />

castigan<strong>do</strong>-o pelo seu comportamento divergente <strong>do</strong>s valores morais e sexistas da<br />

socieda<strong>de</strong> tradicional. Tal é esta con<strong>de</strong>nação, que o impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> se relacionar<br />

afetivamente com outras <strong>pessoas</strong>. Continuo o relato:

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