a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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Outro fator significante que emergiu do conteúdo das entrevistas foi o medo perante o limiar da vida, pressentido pela proximidade da morte. A imagem desta é descortinada com a revelação da sorologia positiva para o HIV, caindo por terra a sensação de imortalidade, e acaba sendo representada pela acepção de que a vida acabou. 115 Naquele momento [em que estava recebendo o diagnóstico], tive medo (...) de como seria morrer. (colaborador 1) Quando recebi o diagnóstico, (...) a partir daquele momento comecei a morrer. Achei que não passaria de um ano, mas aqui estou, vivo. Mas apesar de estar super bem, eu espero a qualquer momento ficar doente. (colaborador 4) O fato de a AIDS não ter ganhado o estatuto de doença curável, Brasil (1996) alude que isto faz com que se produza uma imagem imediata e direta entre ela e morte. Esta forma de se pensar tem sido um dos eixos fundamentais de um certo tipo de construção em torno da epidemia, ou seja, aquele que se vê diante de um diagnóstico positivo para o HIV vive uma decretação de morte antecipada pela equivalência – imaginária – que é feita entre o binômio AIDS e morte. Eu tenho AIDS, e qual o destino de quem tem AIDS? Não é morrer? (colaborador 1) É interessante ressaltar que todos os colaboradores que entrevistei estavam bem de saúde, mesmo antes de descobrirem que portavam o HIV. Entretanto, parece que diante da súbita ‘invasão’ pelo vírus, passaram a acreditar que já não podiam viver aquilo que haviam planejado em seus ideais de vida, tendendo a perder as ilusões do futuro. Vejamos alguns relatos: O que me dói é a morte prematura, sou muito jovem só tenho 36 anos, queria viver muito, ainda. Mas tenho a sensação de estar esperando por ela [a morte], e isto me dá muito medo [olhos marejados de lágrimas]. (colaborador 1) Eu tenho muitos planos para a minha vida, quero continuar trabalhando e estudando, mas também não sei se vou conseguir concretizá-los, (...) porque não sei se terei este tempo. (colaborador 4)
As pessoas que têm uma doença incurável ou terminal segundo Kübler- Ross (2002), vivenciam reações emocionais que a autora ordena em seis estágios pelos quais elas passam com o objetivo de buscar enfrentar essa nova e difícil situação, quais sejam: negação, isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Vale salientar que, ao buscar no conteúdo das entrevistas as fases descritas pela autora, para fins de análise, percebi que elas não são vivenciadas como etapas isoladas, que seguem uma seqüência lógica e que todas estejam presentes. Portanto, procurei analisá-las no conjunto do conteúdo vivido, sem segmentá-las, pois, se assim o fizesse, poderia estar perdendo a essência do significado da morte nas histórias de vida dos colaboradores. Pude observar que a negação apareceu de forma mais freqüente na fala dos colaboradores, e, portanto é o estágio em que procurarei me aprofundar. A negação é para Ferreira (2003), um sentimento que resulta de um mecanismo de defesa das pessoas que, na busca desesperada de proteção contra o sofrimento, afastam-se da realidade do HIV com o intento de se protegerem da dor emocional, como podemos perceber nos presentes relatos: 116 Quero negar a doença, negando parece que sofro menos, e como não tenho nada fica mais fácil. Depois, pensando bem, parece que me coloco na posição de coitadinho e tenho dó de mim mesmo, aí não faço nada e fico só sofrendo pela minha vida e minha dor. Eu sou um pouco assim, tenho medo de enfrentar a situação, aí parece que me escondendo eu estou me protegendo. (colaborador 1) Eu não tenho o que fazer deixo a vida rolar, continuo trabalhando, porque o trabalho me faz bem, quando eu trabalho eu não penso na vida, se não penso também não sofro. (...) Sabe, quando eu tenho algum problema grave, demoro a tomar alguma atitude, principalmente quando sei que não posso resolver. Eu tento esquecer, sei que é para negar, porque assim o medo não me toma toda. E quando eu fico com medo fico paralisada. (colaboradora 3) Ambos os colaboradores negam a doença perante o medo que sentem e que os paralisa, não apenas pelo significado metafórico da AIDS/morte, mas pela forma como respondem ao enfrentar conflitos, aspectos próprios de seus processos psicológicos.
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Outro fator significante que emergiu <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das entrevistas foi o<br />
me<strong>do</strong> perante o limiar da vida, pressenti<strong>do</strong> <strong>pela</strong> proximida<strong>de</strong> da morte. A imagem<br />
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terra a sensação <strong>de</strong> imortalida<strong>de</strong>, e acaba sen<strong>do</strong> representada <strong>pela</strong> acepção <strong>de</strong> que<br />
a vida acabou.<br />
115<br />
Naquele momento [em que estava receben<strong>do</strong> o diagnóstico], tive me<strong>do</strong> (...) <strong>de</strong><br />
como seria morrer. (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />
Quan<strong>do</strong> recebi o diagnóstico, (...) a partir daquele momento comecei a morrer.<br />
Achei que não passaria <strong>de</strong> um ano, mas aqui estou, vivo. Mas apesar <strong>de</strong> estar<br />
super bem, eu espero a qualquer momento ficar <strong>do</strong>ente. (colabora<strong>do</strong>r 4)<br />
O fato <strong>de</strong> a AIDS não ter ganha<strong>do</strong> o estatuto <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença curável, Brasil<br />
(1996) alu<strong>de</strong> que isto faz com que se produza uma imagem imediata e direta entre<br />
ela e morte. Esta forma <strong>de</strong> se pensar tem si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s eixos fundamentais <strong>de</strong> um<br />
certo tipo <strong>de</strong> construção em torno da epi<strong>de</strong>mia, ou seja, aquele que se vê diante <strong>de</strong><br />
um diagnóstico positivo para o HIV vive uma <strong>de</strong>cretação <strong>de</strong> morte antecipada <strong>pela</strong><br />
equivalência – imaginária – que é feita entre o binômio AIDS e morte.<br />
Eu tenho AIDS, e qual o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> quem tem AIDS? Não é morrer? (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />
É interessante ressaltar que to<strong>do</strong>s os colabora<strong>do</strong>res que entrevistei<br />
estavam bem <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mesmo antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrirem que portavam o HIV.<br />
Entretanto, parece que diante da súbita ‘invasão’ pelo vírus, passaram a acreditar<br />
que já não podiam viver aquilo que haviam planeja<strong>do</strong> em seus i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> vida,<br />
ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a per<strong>de</strong>r as ilusões <strong>do</strong> futuro. Vejamos alguns relatos:<br />
O que me dói é a morte prematura, sou muito jovem só tenho 36 anos, queria<br />
viver muito, ainda. Mas tenho a sensação <strong>de</strong> estar esperan<strong>do</strong> por ela [a morte], e<br />
isto me dá muito me<strong>do</strong> [olhos mareja<strong>do</strong>s <strong>de</strong> lágrimas]. (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />
Eu tenho muitos planos para a minha vida, quero continuar trabalhan<strong>do</strong> e<br />
estudan<strong>do</strong>, mas também não sei se vou conseguir concretizá-los, (...) porque não<br />
sei se terei este tempo. (colabora<strong>do</strong>r 4)