a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...
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aceita e estimada pelo grupo, distancian<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>le, mesmo que tenha outros atributos<br />
pessoais que <strong>de</strong>staquem a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e que gostaria que fossem consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s.<br />
Com a palavra, os colabora<strong>do</strong>res:<br />
Me senti extremamente só, e parecia que ninguém podia me ajudar. (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />
114<br />
...prefiro ficar calada, e ficar na minha, assim eu sofro <strong>pela</strong>s minhas coisas, mas<br />
não sofro pelo que as <strong>pessoas</strong> vão pensar <strong>de</strong> mim. (...) Queria que minha mãe me<br />
enten<strong>de</strong>sse e me aceitasse, só isto. (colabora<strong>do</strong>ra 3)<br />
Os comentários subseqüentes evi<strong>de</strong>nciam que o trabalho também é uma<br />
preocupação central após o conhecimento <strong>do</strong> diagnóstico, pois os colabora<strong>do</strong>res<br />
têm me<strong>do</strong> <strong>de</strong> que, se sua sorologia for <strong>de</strong>scoberta, sejam <strong>de</strong>miti<strong>do</strong>s ou não<br />
consigam ser admiti<strong>do</strong>s, situação esta que gera insegurança. Na pesquisa <strong>de</strong> Silva<br />
(1986) essa preocupação é real, e se isso ocorrer às <strong>pessoas</strong> soropositivas, estas<br />
terão gran<strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>mitidas.<br />
O primeiro colabora<strong>do</strong>r, ao ter conhecimento <strong>do</strong> diagnóstico, pressentiu a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitas perdas, <strong>de</strong>ntre elas <strong>do</strong> seu trabalho:<br />
Tive me<strong>do</strong> <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r (...) o meu trabalho. Eles po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>scobrir [a sua<br />
soropositivida<strong>de</strong>] e me mandar embora. Então preferi ficar anônimo. (...) Eu até<br />
pensei em fazer um seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pelo banco, mas e se eu começar a tratar<br />
eles po<strong>de</strong>m avisar o recurso humano <strong>do</strong> banco e me mandar embora.<br />
(colabora<strong>do</strong>r 1)<br />
Quan<strong>do</strong> foi para entrar na empresa eu fiquei morren<strong>do</strong> <strong>de</strong> me<strong>do</strong>, pois eles<br />
po<strong>de</strong>riam fazer o HIV para o ingresso, mas graças a Deus que isto não<br />
aconteceu. (...) Eu ainda não consegui buscar ajuda no médico. Até cheguei a ir à<br />
médica da empresa, mas fiquei com me<strong>do</strong> que ela espalhasse para toda a<br />
empresa e eu acabasse sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>miti<strong>do</strong>. (colabora<strong>do</strong>r 4)<br />
A assistência à saú<strong>de</strong>, <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res acima, é assegurada <strong>pela</strong> empresa<br />
on<strong>de</strong> trabalham, entretanto, o me<strong>do</strong> da revelação <strong>do</strong> diagnóstico foi um obstáculo para<br />
procurarem acompanhamento médico. Assim, a idéia <strong>do</strong> anonimato lhes proporcionou a<br />
sensação que seus empregos seriam preserva<strong>do</strong>s.