18.05.2013 Views

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

transgressores (SONTAG, 1989). Como conseqüência acaba geran<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

moralmente "<strong>de</strong>terioradas" (GOFFMAN, 1988).<br />

Outras falas exprimem pensamentos que ‘marcam’ as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>poentes, como vemos a seguir:<br />

113<br />

É difícil assumir que eu tenho AIDS, porque me coloca em um lugar, aon<strong>de</strong> as<br />

<strong>pessoas</strong> vão me olhar <strong>de</strong> forma diferente. Como fizeram com meu primo e com a<br />

C. [amiga]. Eu sei que hoje a coisa tá diferente, mas mesmo assim as <strong>pessoas</strong><br />

olham para quem tem AIDS <strong>de</strong> forma diferente, é como se fosse um ET, e por eu<br />

ter AIDS é como se eu não fosse mais eu, como se sentisse diferente, pensasse<br />

diferente e me comportasse diferente. Não vão mais lembrar o que fiz <strong>de</strong> bom, e<br />

as minhas qualida<strong>de</strong>s, vão sim me colocar na cruz e me apedrejar como uma<br />

pessoa <strong>de</strong>squalificada, sem valor. Mudar isto é muito difícil e por mais que eu fale<br />

ou sinta que não é assim, sei que não posso mudar o jeito das <strong>pessoas</strong><br />

pensarem. (...) E você sabe, né, as <strong>pessoas</strong> são muito mal<strong>do</strong>sas, é como se elas<br />

quisessem mesmo é o seu mal, e não te ver feliz, alegre. (colabora<strong>do</strong>ra 3)<br />

Nunca falei que tinha o vírus. (...) As <strong>pessoas</strong> são muito mal<strong>do</strong>sas aqui no bairro,<br />

tem um ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> gente fofoqueira que vive falan<strong>do</strong> da vida <strong>do</strong>s outros. Não quero<br />

que a minha vida vá cair na boca <strong>de</strong>ssa gente mal<strong>do</strong>sa. (colabora<strong>do</strong>ra 2)<br />

Esses <strong>de</strong>poimentos refletem como a pessoa porta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> HIV carrega<br />

consigo os estigmas construí<strong>do</strong>s em torno da AIDS, repercutin<strong>do</strong> sobre a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

e sua história <strong>de</strong> vida.<br />

Relembran<strong>do</strong> os preceitos <strong>de</strong> Goffman (1988) a pessoa estigmatizada pa<strong>de</strong>ce<br />

<strong>de</strong> diversas conseqüências nefastas em função <strong>de</strong>ste fato. Sua diferença atrai a<br />

atenção das <strong>pessoas</strong> afastan<strong>do</strong>-as e impedin<strong>do</strong>-as <strong>de</strong> perceber suas outras<br />

características, passa a não ser vista e tratada como humana (um ET, por exemplo), e<br />

tem suas chances <strong>de</strong> vida limitadas. A ela agrega-se a idéia <strong>de</strong> periculosida<strong>de</strong> e<br />

inferiorida<strong>de</strong>, e qualquer coisa que faça para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, será explicada <strong>pela</strong> presença<br />

<strong>do</strong> atributo estigmatizante. Ainda, o autor complementa que, freqüentemente, a pessoa<br />

estigmatizada passa a interiorizar as mesmas crenças daqueles que a estigmatizam, e<br />

assim, não se sente ‘normal’ e digna <strong>de</strong> direitos e oportunida<strong>de</strong>s legítimas. Passa a<br />

sentir vergonha por portar tal atributo, bem como almejar não tê-lo. Apreen<strong>de</strong> que não é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!