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a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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contemporânea da humanida<strong>de</strong>, nenhuma <strong>do</strong>ença suscitou questões tão complexas,<br />

exigiu tamanha amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> respostas ou revelou tão impie<strong>do</strong>samente os sérios<br />

<strong>de</strong>sequilíbrios, as ina<strong>de</strong>quações, injustiças e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s nas socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s os países afeta<strong>do</strong>s <strong>pela</strong> AIDS (ALMEIDA et al., 2004).<br />

A AIDS ao se fazer realida<strong>de</strong> para o mun<strong>do</strong> mesmo antes <strong>do</strong> HIV ser<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> e a <strong>do</strong>ença conhecida, criaram-se diversas hipóteses buscan<strong>do</strong> <strong>de</strong>cifrá-la<br />

e entendê-la; moléstia que se mostrava extremamente letal, com rápida disseminação<br />

e originava intensas emoções <strong>de</strong> me<strong>do</strong> e pânico. Assim, diante <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> a<br />

socieda<strong>de</strong> produziu representações apoiadas na idéia <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença contagiosa,<br />

incurável e mortal, recru<strong>de</strong>scen<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong> ‘peste’ cujo significa<strong>do</strong> representava<br />

uma ameaça extrema à socieda<strong>de</strong>, atrelada a atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> evitamento daquele que a<br />

portava. Além <strong>de</strong>sses entendimentos a AIDS era uma <strong>do</strong>ença que levava à <strong>de</strong>formação<br />

física e estava associada a grupos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s discrimina<strong>do</strong>s e marginaliza<strong>do</strong>s,<br />

como os homossexuais, usuários <strong>de</strong> drogas injetáveis e as prostitutas. Essa forma <strong>de</strong><br />

representá-la serviu para retirá-la <strong>do</strong> campo das <strong>do</strong>enças transmutan<strong>do</strong>-a para o<br />

campo das <strong>do</strong>enças malignas, mobilizan<strong>do</strong> sentimentos e preconceitos arraiga<strong>do</strong>s e<br />

evocan<strong>do</strong> comportamentos e políticas discriminatórias, principalmente em relação aos<br />

grupos supracita<strong>do</strong>s. Assim a AIDS conglomerou vários estigmas, transforman<strong>do</strong>-se<br />

ela mesma em um gran<strong>de</strong> estigma (DANIEL, 1997).<br />

A discussão em torno <strong>do</strong> estigma, em especial relacionada ao HIV e à AIDS<br />

parte <strong>do</strong> trabalho clássico <strong>de</strong> Erving Goffman, que <strong>de</strong>fine estigma como um atributo<br />

que tem um significa<strong>do</strong> <strong>de</strong>preciativo <strong>de</strong> quem o porta, e que a socieda<strong>de</strong> utiliza-o<br />

para <strong>de</strong>squalificar a pessoa, uma vez que tal atributo é entendi<strong>do</strong> como <strong>de</strong>feito,<br />

fraqueza ou <strong>de</strong>saprovação. O autor (1988) enuncia que a pessoa estigmatizada<br />

porta uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> marcada e <strong>de</strong>teriorada, associa<strong>do</strong>s à culpa e à <strong>de</strong>sonestida<strong>de</strong>.<br />

Logo, os estigmas <strong>de</strong> uma pessoa ou grupo acabam <strong>de</strong>tonan<strong>do</strong> reações e<br />

comportamentos <strong>de</strong> evitação e repulsa, e até mesmo reações violentas. Tais<br />

questões são fruto <strong>de</strong> um processo social e histórico das relações sociais que se dão<br />

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