a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ... a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

ppgenf.ufpr.br
from ppgenf.ufpr.br More from this publisher
18.05.2013 Views

A segunda fase é o momento da aplicação da fase anterior, podendo haver necessidade de várias idas e vindas sobre o material a ser analisado. A terceira fase compreende o momento de buscar revelar o conteúdo subjacente ao que está manifesto no documento, procurando se voltar para as ideologias, tendências e outros determinantes particulares e essenciais dos fenômenos que estamos analisando. Assim, a análise dos relatos dos colaboradores alicerçou-se nos passos propostos por Minayo (DESLANDES, 1994) e iniciou tão logo apreendi e transcrevi todos os discursos que compuseram esta investigação. Iniciei pela leitura do material, no qual por meio de sucessivas aproximações busquei tomar contato com sua estrutura. De acordo com o objetivo do estudo, relacionei as unidades de registro no conteúdo analisado, chegando às unidades de contexto que serviram para dar uma compreensão exata da unidade de registro, representada pelo segmento da mensagem. Em posse desse material, comecei a estabelecer as categorias configuradas a partir dos dados colocados, e que foram elencadas buscando um encadeamento claro das idéias. Definiram-se três categorias específicas: As vivências diante da situação limite; A expressão da sexualidade; O sistema de saúde. A categoria sobre As vivências diante da situação limite foi definida como o momento logo após o diagnóstico reagente para o HIV, e a repercussão deste resultado na vida dos colaboradores, analisada sob o aspecto vivencial desta circunstância, no qual as emoções e sentimentos se fizeram presentes. A segunda categoria de análise, definida como A expressão da sexualidade foi analisada tomando-se por base os valores e as crenças relacionados à sexualidade, construída e compartilhada socialmente, mas que são significados e interpretados na vivência de cada colaborador, explicando suas atitudes, comportamentos e suas conseqüências ante o sentido atribuído ao viver com o HIV ou a AIDS. A terceira categoria específica denominada O sistema de saúde foi analisada sob a ótica de como o sistema de saúde e o modelo de assistência às pessoas soropositivas estabelecem e regulamentam suas normas internas definindo a forma de inclusão e participação deste grupo de pessoas ao SUS. 109

CAPÍTULO 6 O DESCORTINAR DOS RESULTADOS 110 O dia que recebi meu diagnóstico foi muito difícil, me lembro como se fosse hoje. Ficava olhando o envelope e a pessoa que iria me entregar demorava a me dizer algo, ou sei lá, o tempo parecia andar em câmara lenta, e eu naquele momento queria saber rápido, pois o sofrimento já estava me maltratando muito (...). Demorei muito para me decidir fazer o exame, e agora que estava com ele na minha frente queria saber rápido, rápido. E foi quando a ouvi dizer que o resultado tinha dado positivo. (...) Aquele momento foi horrível (...) e fiquei com medo... (colaborador 1) O conteúdo que emergiu dos relatos orais dos colaboradores institui uma riqueza enorme de dados a serem trabalhados na análise e discussão dos resultados. Com o fito de buscar respostas para apreender o objetivo deste estudo, elegi como primeira categoria de análise: As vivências diante da situação limite. A doença é um momento de transição na vida da pessoa, que desorganiza seu ser, suas relações e seus ajustamentos à vida em sociedade, e, precisamente, aqueles que estão mais próximos, como família, trabalho, amigos, lazer e paixões. E esta constatação é acompanhada de muitas incertezas, gerando ansiedade, insegurança, medo e o sentimento de perda de uma situação, por ora, conhecida para um porvir desconhecido e assustador. E é no confronto com essa nova realidade que a pessoa passa a vivenciar momentos de grande sofrimento. O mundo naquela hora acabou, senti como se tivessem puxado o meu tapete. (colaboradora 3) Fiquei muito perdido e sem rumo, com aquele diagnóstico assustador e sem saber o que fazer. (colaborador 4) Em se tratando especificamente da AIDS, além das proposições supracitadas, ela comporta um julgamento moral, vez que é tomada como uma doença que atinge pessoas que têm um comportamento considerado transgressor e, portanto, moral e socialmente reprovável. Posto isto, podemos perceber que a primeira especificidade

CAPÍTULO 6<br />

O DESCORTINAR DOS RESULTADOS<br />

110<br />

O dia que recebi meu diagnóstico foi muito difícil, me lembro como<br />

se fosse hoje. Ficava olhan<strong>do</strong> o envelope e a pessoa que iria me<br />

entregar <strong>de</strong>morava a me dizer algo, ou sei lá, o tempo parecia<br />

andar em câmara lenta, e eu naquele momento queria saber<br />

rápi<strong>do</strong>, pois o sofrimento já estava me maltratan<strong>do</strong> muito (...).<br />

Demorei muito para me <strong>de</strong>cidir fazer o exame, e agora que estava<br />

com ele na minha frente queria saber rápi<strong>do</strong>, rápi<strong>do</strong>. E foi quan<strong>do</strong><br />

a ouvi dizer que o resulta<strong>do</strong> tinha da<strong>do</strong> positivo. (...) Aquele<br />

momento foi horrível (...) e fiquei com me<strong>do</strong>... (colabora<strong>do</strong>r 1)<br />

O conteú<strong>do</strong> que emergiu <strong>do</strong>s relatos orais <strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res institui uma<br />

riqueza enorme <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s a serem trabalha<strong>do</strong>s na análise e discussão <strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s. Com o fito <strong>de</strong> buscar respostas para apreen<strong>de</strong>r o objetivo <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>,<br />

elegi como primeira categoria <strong>de</strong> análise: As vivências diante da situação limite.<br />

A <strong>do</strong>ença é um momento <strong>de</strong> transição na vida da pessoa, que <strong>de</strong>sorganiza<br />

seu ser, suas relações e seus ajustamentos à vida em socieda<strong>de</strong>, e, precisamente,<br />

aqueles que estão mais próximos, como família, trabalho, amigos, lazer e paixões. E<br />

esta constatação é acompanhada <strong>de</strong> muitas incertezas, geran<strong>do</strong> ansieda<strong>de</strong>,<br />

insegurança, me<strong>do</strong> e o sentimento <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> uma situação, por ora, conhecida<br />

para um porvir <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> e assusta<strong>do</strong>r. E é no confronto com essa nova<br />

realida<strong>de</strong> que a pessoa passa a vivenciar momentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sofrimento.<br />

O mun<strong>do</strong> naquela hora acabou, senti como se tivessem puxa<strong>do</strong> o meu tapete.<br />

(colabora<strong>do</strong>ra 3)<br />

Fiquei muito perdi<strong>do</strong> e sem rumo, com aquele diagnóstico assusta<strong>do</strong>r e sem saber<br />

o que fazer. (colabora<strong>do</strong>r 4)<br />

Em se tratan<strong>do</strong> especificamente da AIDS, além das proposições supracitadas,<br />

ela comporta um julgamento moral, vez que é tomada como uma <strong>do</strong>ença que atinge<br />

<strong>pessoas</strong> que têm um comportamento consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> transgressor e, portanto, moral<br />

e socialmente reprovável. Posto isto, po<strong>de</strong>mos perceber que a primeira especificida<strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!