a trajetória silenciosa de pessoas portadoras do hiv contada pela ...

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18.05.2013 Views

5.2 PERCURSO METODOLÓGICO Conforme aponta Meihy (2002), os trabalhos em história oral devem seguir alguns procedimentos e princípios, tais como: a escolha das colônias, a formação de rede, a entrevista, a transcrição, a conferência, o uso autorizado dos textos e o arquivamento dos depoimentos. Para o autor, a definição de colônia é um passo imprescindível, entendida como comunidade de destino que se liga aos fundamentos da identidade cultural do grupo, formado por elementos amplos que precisam demarcar o indivíduo geral do segmento a ser analisado de forma que a organização da memória empreenda fatos relevantes para a vida. Perfilhando este passo, escolhi como colônia pessoas que vivem sob a égide de uma doença epidêmica, uma vez que esta identidade acaba evocando memórias que se organizam a partir dos atos/circunstâncias do viver com o HIV e a AIDS. A escolha da rede, segundo Meihy (2002), segue uma especificidade maior, é uma subdivisão da colônia e que funciona como indicativo de como as entrevistas devem ser articuladas. Assim, a rede de escolha desta pesquisa foi àquelas pessoas que não procuram os serviços para acompanhamento de sua doença e que já conheciam a sua sorologia há mais de um ano. A delimitação do tempo do conhecimento do diagnóstico foi ‘cabalística', ou seja, aleatória, pois minha suposição era a de que nesse período de tempo ou mais a pessoa já teria tido possibilidade de digerir o primeiro impacto diante do resultado positivo e tivesse elaborado e organizado na memória algumas considerações sobre a sua condição de portador do HIV. Uma vez que a colônia e a rede estavam delimitadas, o segundo passo foi encontrar as pessoas. Considerando que os colaboradores da pesquisa não utilizam os serviços do SUS para monitorar a sua infecção, julguei necessário solicitar ajuda aos atores e líderes de Organizações Não-Governamentais (ONG) que militam na AIDS. Visto que eles têm legitimidade desta comunidade, e em respeito às questões éticas do sigilo e anonimato das pessoas portadoras do HIV, precisava de ajuda na intermediação 99

e comunicação, além do meu próprio reconhecimento como pesquisadora diante dos colaboradores, pois, como não me conheciam, eu poderia representar uma ameaça no sentido de romper com o anonimato. Foram os militantes das ONG/AIDS que colaboraram nesta difícil empreitada para achar as pessoas ocultas do serviço. O primeiro passo dado foi o reconhecimento dos colaboradores, e se correspondessem aos critérios de rede e colônia, eram convidados a participar da pesquisa. Por intermediário dos militantes, recebia o telefone de contato dos colaboradores com anuência deles. Então, entrava em contato por telefone e me certificava do seu perfil e mediante o aceite de participar da pesquisa, marcávamos a data, o horário e o local da realização da entrevista. Foram agendadas, ao todo, oito entrevistas; entretanto, três pessoas não compareceram aos encontros, das quais, duas não justificaram o porquê e uma não pode ir, pois precisava viajar e não sabia quando iria retornar a Curitiba. As entrevistas foram realizadas na própria sede das ONG, sendo que uma delas se deu no CTA, a pedido do colaborador. No que diz respeito aos aspectos éticos, respeitei as diretrizes e as normas que regulam as pesquisas envolvendo seres humanos, estabelecidas pela Resolução n. o 196 do Conselho Nacional de Saúde (1996). Encaminhei o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Paraná, em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde da UFPR, e após obter o consentimento, que se deu em oito de junho de 2004 com registro CEP/SD: 074.SM 037/04-05, iniciei a coleta de dados. Esta aconteceu durante o mês de julho e agosto de 2004. Atenta aos aspectos éticos que envolvem a pesquisa com seres humanos, preservei as identidades dos atores participantes mediante o anonimato. Utilizei uma ordem numérica aleatória para cada colaborador. Elaborei uma declaração de consentimento livre e esclarecido em duas vias, sendo uma entregue ao colaborador (Apêndice 1). As entrevistas aconteceram em três momentos: o primeiro chamado pré- entrevista que correspondeu à etapa de preparação do encontro em que se deu a gravação dos depoimentos por meio de gravador de fita cassete. Neste momento o 100

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Conforme aponta Meihy (2002), os trabalhos em história oral <strong>de</strong>vem seguir<br />

alguns procedimentos e princípios, tais como: a escolha das colônias, a formação <strong>de</strong><br />

re<strong>de</strong>, a entrevista, a transcrição, a conferência, o uso autoriza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s textos e o<br />

arquivamento <strong>do</strong>s <strong>de</strong>poimentos. Para o autor, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> colônia é um passo<br />

imprescindível, entendida como comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino que se liga aos fundamentos<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural <strong>do</strong> grupo, forma<strong>do</strong> por elementos amplos que precisam<br />

<strong>de</strong>marcar o indivíduo geral <strong>do</strong> segmento a ser analisa<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma que a organização<br />

da memória empreenda fatos relevantes para a vida. Perfilhan<strong>do</strong> este passo, escolhi<br />

como colônia <strong>pessoas</strong> que vivem sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>ença epidêmica, uma vez<br />

que esta i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> acaba evocan<strong>do</strong> memórias que se organizam a partir <strong>do</strong>s<br />

atos/circunstâncias <strong>do</strong> viver com o HIV e a AIDS.<br />

A escolha da re<strong>de</strong>, segun<strong>do</strong> Meihy (2002), segue uma especificida<strong>de</strong><br />

maior, é uma subdivisão da colônia e que funciona como indicativo <strong>de</strong> como as<br />

entrevistas <strong>de</strong>vem ser articuladas. Assim, a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong>sta pesquisa foi<br />

àquelas <strong>pessoas</strong> que não procuram os serviços para acompanhamento <strong>de</strong> sua<br />

<strong>do</strong>ença e que já conheciam a sua sorologia há mais <strong>de</strong> um ano. A <strong>de</strong>limitação <strong>do</strong><br />

tempo <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> diagnóstico foi ‘cabalística', ou seja, aleatória, pois minha<br />

suposição era a <strong>de</strong> que nesse perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo ou mais a pessoa já teria ti<strong>do</strong><br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> digerir o primeiro impacto diante <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> positivo e tivesse<br />

elabora<strong>do</strong> e organiza<strong>do</strong> na memória algumas consi<strong>de</strong>rações sobre a sua condição<br />

<strong>de</strong> porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> HIV.<br />

Uma vez que a colônia e a re<strong>de</strong> estavam <strong>de</strong>limitadas, o segun<strong>do</strong> passo foi<br />

encontrar as <strong>pessoas</strong>. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que os colabora<strong>do</strong>res da pesquisa não utilizam os<br />

serviços <strong>do</strong> SUS para monitorar a sua infecção, julguei necessário solicitar ajuda aos<br />

atores e lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> Organizações Não-Governamentais (ONG) que militam na AIDS.<br />

Visto que eles têm legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong>, e em respeito às questões éticas <strong>do</strong><br />

sigilo e anonimato das <strong>pessoas</strong> <strong>porta<strong>do</strong>ras</strong> <strong>do</strong> HIV, precisava <strong>de</strong> ajuda na intermediação<br />

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