Untitled - Arquidiocese de Florianópolis

água viva que jorram até à vida eterna”, “o sangue e a água” que purificam e santificam a Igreja (Is
12,3; Jo 7, 38-39; 4,14). São Paulo aponta o mistério central da Cruz como síntese de toda a
sabedoria e consistência de sua pregação: “Pregamos o Cristo crucificado... poder e sabedoria da
parte de Deus: justiça, santificação e redenção” (1 Cor 1, 23 e 30). Não podemos temer a cruz, como
conseqüência de uma ação evangelizadora que segue os passos de alguém que foi crucificado. Seu
ministério, suas opções, os conflitos que enfrentou, o martírio que sofreu, a vitória sobre o mal,
precisam ser atualizados na vida de cada evangelizador.
NA PALAVRA
A Palavra de Deus é a fonte na qual bebemos constantemente. São Jerônimo, grande
estudioso da Bíblia e tradutor da Palavra de Deus para o latim, a língua vulgar do seu tempo,
ensinou que a ignorância das Escrituras é ignorância do próprio Cristo. Os textos sagrados, quando
acolhidos com a mesma atenção com que as multidões escutavam a Jesus, produzem em nós
autêntica conversão e despertam a paixão pelo seguimento.
Nas primeiras comunidades cristãs, a palavra que os Apóstolos ensinavam, lembrando os fatos
e ensinamentos de Jesus, servia para ler a vida e entender o que o próprio Deus estava falando. Era
a luz do caminho e fonte de força na hora das perseguições (At 4, 23-31). Como os primeiros
cristãos, sabemos que todo aquele que ouve e pratica a Palavra do Senhor, é sábio e previdente,
porque constrói a sua vida, os seus ideais e valores sobre um fundamento tão sólido que nenhuma
força adversa poderá derrubar (Mt 7, 24-25; 1 Cor 2, 4-5).
A eficácia da ação evangelizadora brota da própria força da Palavra, e do testemunho que ela
exige: “Como a chuva e a neve descem do céu, e para lá não voltam, mas regam a terra, para ela
ficar fértil e produtiva, para dar semente ao semeador e pão para comer, assim acontece com a
palavra que sai da minha boca: não volta para mim sem efeito, sem ter realizado a minha vontade,
sem ter cumprido a sua missão” (Is 55, 10-11).
Sendo assim, devemos fortalecer a presença da Bíblia em toda a nossa vida de Igreja, como
fonte vital, estudada, refletida e rezada, pessoalmente e em comunidade. Sua leitura e meditação
deve acontecer na família, nos grupos de reflexão, na catequese, nos cursos de formação de
lideranças, nas celebrações da Palavra e da Eucaristia e de outros sacramentos. Em toda a parte a
Palavra de Deus deve ser a nossa luz e força.
NO TESTEMUNHO
A missão específica dos cristãos é dar testemunho de Jesus Cristo, da força transformadora de
sua Palavra e do Reino que ele veio anunciar e iniciar. Antes de deixar este mundo, para assumir
um outro tipo de presença junto dos seus amigos, Jesus lhes disse: “O Espírito Santo descerá sobre
vós e dele recebereis força, e sereis minhas testemunhas” (At 1,8). As primeiras comunidades
cristãs eram caracterizadas pelo testemunho que davam de Jesus Cristo: anunciando o Evangelho,
mesmo às custas de perseguições, prisões e mortes, pregando o Reino de Deus de casa em casa,
perseverando na fé em Deus e no amor aos irmãos e irmãs, partilhando os bens que possuíam.
“Não podemos nos calar diante do que vimos e ouvimos” (At 4,20), diziam os discípulos diante
das autoridades judaicas que os proibiam de falar sobre Jesus. Assim, testemunho e anúncio são
inseparáveis. A palavra vem sempre acompanhada da prática de uma vida dedicada ao Reino de
Deus e à Igreja. O testemunho não era privilégio ou dever de alguns, mas compromisso de todos,
conforme a missão e as condições de cada qual.
Como as primeiras comunidades cristãs, somos também chamados a um compromisso
profético, corajoso, em favor da vida, anunciando a força e a alegria da ressurreição, na linha da
transformação de nossa realidade, tão marcada pela violência e pelo poder da morte. Devemos
concentrar nossa ação evangelizadora no mistério pascal da morte e da ressurreição de Jesus
Cristo, anunciando-o com a própria vida, com gratidão e humildade, sem fanatismo, sem
agressividade, sem sectarismo.