QUANDO A MORTE INVADE A VIDA: MORTE TRÁGICA E ... - anpuh
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com as atitudes sociais que recobriam os significados da morte. Na composição do<br />
mundo, seus sentidos correspondiam aos limites humanos perante o firmamento da fé e<br />
a crença na continuidade da existência em outro lugar.<br />
Na cultura fúnebre, a morte era dizível, (re)pensada, comemorada e, portanto,<br />
integrada ao cotidiano dos narradores como uma experiência que não representava<br />
finitude. Correspondia a uma passagem na qual os vivos poderiam contribuir, entre os<br />
intercursos e entremeios percorridos pela alma, para sua bem-aventurança, através da<br />
tradição dos ritos fúnebres.<br />
Por contrário, como vimos nas narrativas dos devotos, a experiência da morte<br />
da Rufina foi entendida como a vivência da forma mais temida, sofrida e traumática,<br />
que fizera sofrer o corpo e a alma, diferente dos casos de “boa morte” presentes na<br />
cultura fúnebre de outrora. Na tradição oral, ela padeceu de forma brutal, precoce,<br />
repentinamente, sozinha e abandonada, sem sepultura certa, na ausência de orações e da<br />
compaixão dos vivos. Dessa forma, ao invés de ser presenciada e compartilhada, o que<br />
seria semelhante a um acontecimento social, sua partida isolara o corpo em uma mata<br />
selvagem, sem receber os devidos ritos fúnebres de passagem necessários para a<br />
travessia e incorporação da alma no mundo celestial. A morte, antes comemorada,<br />
tornara-se um tormento nos pensares: um modelo não exemplar.