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O motor da violência na Grande Goiânia - Arquidiocese de Goiânia

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8<br />

Brasil Central Março <strong>de</strong> 2009<br />

TRÂNSITO<br />

Se você estiver lendo este<br />

jor<strong>na</strong>l em um dia comum<br />

do meio <strong>de</strong> sema<strong>na</strong>, saiba<br />

que hoje, quando termi<strong>na</strong>r<br />

o expediente do Detran, pelo menos<br />

mais 285 veículos novos terão<br />

sido emplacados em <strong>Goiânia</strong>.<br />

Ao fim do mês, serão 6,2 mil. Em<br />

12 meses, serão 75 mil a mais. O<br />

avanço <strong>da</strong> frota <strong>na</strong> capital é<br />

muito superior ao crescimento <strong>da</strong><br />

população e o fenômeno se esten<strong>de</strong><br />

pelas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s vizinhas:<br />

Apareci<strong>da</strong>, Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>, Se<strong>na</strong>dor<br />

Canedo, em to<strong>da</strong>s elas a aquisição<br />

<strong>de</strong> novos veículos disparou.<br />

Quando você estiver lendo<br />

este jor<strong>na</strong>l, certamente também<br />

uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> do Corpo <strong>de</strong> Bombeiros<br />

ou do Samu estará aten<strong>de</strong>ndo<br />

um aci<strong>de</strong>nte (ou mais <strong>de</strong><br />

um) – são mais <strong>de</strong> 80 socorros<br />

por dia, contando-se ape<strong>na</strong>s os<br />

dos Bombeiros. Muito provavelmente<br />

a vítima será um pe<strong>de</strong>stre,<br />

um ciclista ou um motociclista.<br />

Como carros e motos são<br />

sonhos <strong>de</strong> consumo, mas não<br />

são <strong>de</strong>scartáveis, o resultado é<br />

que novos veículos se somam<br />

aos antigos: ou seja, o que acaba<br />

ocorrendo é a superlotação <strong>na</strong>s<br />

ruas. Mais veículos, mais aci<strong>de</strong>ntes.<br />

Mais aci<strong>de</strong>ntes, mais<br />

mortes (por atropelamentos, colisões<br />

etc.). Essa é uma lógica,<br />

CIDADES A rquidiocese <strong>de</strong> <strong>Goiânia</strong><br />

Excesso <strong>de</strong> veículos, <strong>de</strong>spreparo e imprudência multiplicam risco <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes (foto) e<br />

levam caos às ruas. O estresse ao dirigir po<strong>de</strong> também provocar ou agravar doenças<br />

Assessoria <strong>de</strong> Comunicação/Bombeiros<br />

Perigo <strong>na</strong>s ruas<br />

Cenário constante<br />

<strong>de</strong> mortos e feridos<br />

SR. VOLANTE<br />

Motorista estressado no trânsito não é<br />

novi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em Motor Mania, <strong>de</strong>senho<br />

animado <strong>de</strong> 1950, Walt Disney<br />

personificou os indivíduos<br />

esquentadinhos <strong>da</strong> época com o Senhor<br />

Volante, “interpretado”pelo Pateta.<br />

Numa referência clara ao clássico do<br />

cinema O Médico e o Monstro, o filme<br />

mostra a história <strong>de</strong> um sujeito pacífico<br />

fora <strong>da</strong>s ruas (o Senhor An<strong>da</strong>nte) que se<br />

transforma praticamente em um louco<br />

raivoso ao entrar em seu carro.<br />

mas não a única. Outra possível<br />

é: mais veículos, mais estresse.<br />

Mais estresse, mais mortes (assassi<strong>na</strong>tos<br />

após discussões no<br />

trânsito, enfarte etc.).<br />

Assessoria <strong>de</strong> Comunicação/Bombeiros<br />

Equipe <strong>de</strong><br />

resgate dos<br />

bombeiros<br />

chega a<br />

hospital com<br />

vítima <strong>de</strong><br />

aci<strong>de</strong>nte em<br />

<strong>Goiânia</strong><br />

Disney<br />

Em outras palavras, o trânsito<br />

mata direta e indiretamente,<br />

mostrando uma <strong>violência</strong> típica<br />

dos tempos mo<strong>de</strong>rnos: o uso do<br />

automóvel como uma forma <strong>de</strong><br />

ostentação e <strong>de</strong> imposição do<br />

po<strong>de</strong>r e <strong>da</strong> rua como local <strong>de</strong><br />

disputas. “Vivemos em meio a<br />

uma guerra entre carros e motociclistas”,<br />

resume o tenente-coronel<br />

Martiniano Gondim. “O<br />

automóvel se tornou uma espécie<br />

<strong>de</strong> extensão do corpo <strong>de</strong><br />

quem o dirige”, completa Wadson<br />

Arantes Gama, especialista<br />

em psicologia social.<br />

Motivos<br />

Álcool, celular, imprudência,<br />

<strong>de</strong>satenção. O que não falta ao<br />

capital Waldimar Dias Marques,<br />

subcoman<strong>da</strong>nte do Batalhão <strong>de</strong><br />

Trânsito <strong>da</strong> capital, são motivos<br />

para explicar o caos no trânsito.<br />

“O motociclista é um dos gran<strong>de</strong>s<br />

problemas em <strong>Goiânia</strong>. Não<br />

é raro encontrar um <strong>de</strong>les falando<br />

ao celular e conduzindo a<br />

moto, por exemplo”, relata.<br />

Ocupação <strong>da</strong> via <strong>de</strong> forma erra<strong>da</strong>,<br />

ultrapassagem pela direita<br />

e veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> baixa em relação à<br />

estabeleci<strong>da</strong> no trecho são outros<br />

pecados mortais cometidos pelos<br />

motociclistas (infelizmente, muitas<br />

vezes no sentido literal do adjetivo).<br />

A questão é tão séria e o<br />

fluxo <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> veículo pelas<br />

ruas aumentou tanto que mais <strong>de</strong><br />

10% <strong>da</strong>s ocorrências já envolvem<br />

colisão entre duas motos.<br />

Aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

moto custa<br />

R$ 5 mil<br />

O excesso <strong>de</strong> veículos <strong>de</strong><br />

duas ro<strong>da</strong>s ultrapassou a questão<br />

básica do trânsito: virou<br />

também um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

pública, pelo gasto com atendimento<br />

médico-hospitalar. Ca<strong>da</strong><br />

motociclista aci<strong>de</strong>ntado custa<br />

em média mais <strong>de</strong> R$ 5 mil em<br />

operações <strong>de</strong> resgate, <strong>da</strong>nos materiais,<br />

assistência médica,<br />

per<strong>da</strong> <strong>de</strong> pessoas em i<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva<br />

e <strong>de</strong>spesas previ<strong>de</strong>nciárias,<br />

segundo estudo <strong>da</strong> Associação<br />

Brasileira <strong>de</strong> Medici<strong>na</strong> <strong>de</strong><br />

Tráfego (Abramet).<br />

Maior uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do<br />

Estado, o Hospital <strong>de</strong> Urgências<br />

<strong>de</strong> <strong>Goiânia</strong> (Hugo) é o mais afetado<br />

em termos <strong>de</strong> gastos. Em levantamento<br />

para a última Sema<strong>na</strong><br />

Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Trânsito, realiza<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> 18 a 24 <strong>de</strong> setembro do<br />

ano passado, foram registrados<br />

394 atendimentos a vítimas do<br />

trânsito. A <strong>de</strong>man<strong>da</strong> cresce ain<strong>da</strong><br />

mais em fins <strong>de</strong> sema<strong>na</strong> e feriados<br />

prolongados.<br />

“ São ca<strong>da</strong> vez mais<br />

frequentes os casos <strong>de</strong><br />

brigas <strong>de</strong> trânsito e<br />

algumas termi<strong>na</strong>m <strong>de</strong><br />

forma trágica.<br />

O estresse do trânsito<br />

po<strong>de</strong> transformar um<br />

‘ci<strong>da</strong>dão <strong>de</strong> bem’em<br />

um assassino em<br />

poucos segundos.”<br />

Outros<br />

riscos do<br />

trânsito<br />

Em meio a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>na</strong>s<br />

ruas, é melhor pensar duas vezes<br />

antes <strong>de</strong> buzi<strong>na</strong>r ou gritar com<br />

outro condutor. São ca<strong>da</strong> vez<br />

mais frequentes casos <strong>de</strong> brigas<br />

<strong>de</strong> trânsito e algumas termi<strong>na</strong>m<br />

<strong>de</strong> forma trágica quando há uma<br />

arma <strong>de</strong> fogo à mão. O estresse<br />

do trânsito po<strong>de</strong> transformar um<br />

“ci<strong>da</strong>dão <strong>de</strong> bem” em um assassino<br />

em poucos segundos.<br />

Felizmente, segundo o psicólogo<br />

Wadson Gama, esse tipo <strong>de</strong><br />

resposta radical é raro. “Todos<br />

nós temos uma ‘agressivi<strong>da</strong><strong>de</strong>’<br />

<strong>na</strong>tural, até mesmo para que possamos<br />

sobreviver, e a maioria <strong>de</strong><br />

nós ca<strong>na</strong>liza isso <strong>de</strong> forma correta”,<br />

diz. As exceções é que são o<br />

problema. “Há indivíduos que<br />

<strong>de</strong>scarregam to<strong>da</strong>s as frustrações<br />

do dia a dia ao entrar no carro.”<br />

Além <strong>da</strong>s consequências imediatas,<br />

os acessos <strong>de</strong> fúria no trânsito<br />

po<strong>de</strong>m acarretas outros problemas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à repetição<br />

do estado <strong>de</strong> estresse. Wadson<br />

Gama consi<strong>de</strong>ra “enlouquecedor”<br />

o ritmo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>.<br />

“Vivemos numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ‘fastfood’<br />

e o individualismo do brasileiro<br />

não aju<strong>da</strong> em <strong>na</strong><strong>da</strong> a termos<br />

um trânsito mais saudável”, diz.

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