O motor da violência na Grande Goiânia - Arquidiocese de Goiânia

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2 Brasil Central Março de 2009 PALAVRA DO ARCEBISPO Comunhão e participação DOM WASHINGTON CRUZ, CP Arcebispo Metropolitano de Goiânia A recomendação dada por Cristo aos primeiros discípulos torna-se constante desafio dentro da missão de todos os batizados nos dias atuais: “O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados”(Mt 10, 27). Em cada ação evangelizadora que temos realizado encontra-se algum sinal de que precisamos avançar nos métodos e no conteúdo de nossa comunicação para aprofundarmos nossa resposta a essa dimensão importante do compromisso cristão. Por anos, tivemos um excelente instrumento de formação e informação, na Arquidiocese, representado pelo boletim Comunhão e Participação. Com o resgate do jornal Brasil Central – publicação da Arquidiocese em seus primeiros anos e em cuja reestreia focamos a segurança pública, tema da Campanha da Fraternidade –, pretendemos honrar a herança do boletim arquidiocesano e continuar fomentando a comunhão e a participação de todos no grande projeto de anúncio do Evangelho. A ênfase a ser dada neste jornal que chegou às suas mãos é simples: estabelecer um diálogo com a sociedade sobre os temas relevantes do mundo político, econômico e cultural a partir da sensibilidade e do compromisso com Cristo. A linha editorial será norteada pelos compromissos efetivos e históricos da Igreja. O trabalho jornalístico vai respeitar as indicações e os interesses dos vicariatos, foranias, paróquias e comunidades, pastorais e movimentos eclesiais. As matérias, notas e entrevistas serão apresentadas com o firme propósito de informar com a marca da verdade, da transparência e da busca pela promoção da vida. Artigos e opiniões respeitarão o princípio da pluralidade respeitosa e da intenção de promover a comunhão fraterna e o progresso positivo e sustentável do mundo de hoje. Recomendo a leitura de nosso jornal sob a inspiração de uma memorável palavra de João Paulo II em sua última Carta Apostólica: “Quer a comunicação no âmbito da comunidade eclesial quer a da Igreja com o mundo exigem transparência e uma nova forma de enfrentar as questões relacionadas com o universo dos mass media. Essa comunicação deve tender para um diálogo construtivo a fim de promover na comunidade cristã uma opinião pública retamente informada e capaz de discernimento (O Rápido Desenvolvimento, n. 12).” Neste espírito, espero o empenho de todos nesta nossa iniciativa de comunicação e solicito, com particular acento, que continuemos em comunhão por meio da participação fraterna. Informativo mensal da Arquidiocese de Goiânia Jornalista responsável Pe. Rafael Vieira DRT-GO 01078JP Vigário para a Comunicação Edição Elder Dias e Pe. Rafael Vieira Redação Diego Joaquim, Elder Dias, Meirene Souza e Renatho Melo Revisão Jane Greco Projeto gráfico© e diagramação Edson de Melo Alves “ Em cada ação evangelizadora encontra-se algum sinal de que precisamos avançar nos métodos e no conteúdo de nossa comunicação para aprofundarmos nossa resposta a essa dimensão importante do compromisso cristão.” Colaboração Valéria Corrêa e Marcelo Igor Departamento Comercial Renatho Melo Fotolito e impressão Gráfica da UCG Distribuição Distribuidora jardim Ltda. Correspondências Vicariato para a Comunicação Praça Dom Emanuel s/n, Centro CEP 74001-970 - Goiânia - GO Fone: (62) 3229-2673 / Fax: 3229-2683 Caixa Postal 174 - Goiânia - GO www.arquidiocesedegoiania.org.br E-mail para cartas vicom@arquidiocesedegoiania.org.br OPINIÃO LAÉRCIO ARTIGO Medos coletivos e individuais MARCELO CAIXETA Médico psiquiatra O medo é um comportamento biologicamente construído, ancorado no espírito humano. No decorrer da nossa evolução enquanto espécie humana, desde os habitantes das árvores até o Homo sapiens atual, o medo foi um importante instrumento para nos livrar da morte e do desaparecimento. É ele que nos impede de tomar decisões arriscadas, autodestrutivas, ou ainda, é ele que nos faz temer o futuro e nos precavermos no presente. Mas nem tudo são flores : quando exagerado, o medo paralisa, cria a fobia social – necessidade de isolamento –, a ansiedade mórbida, e esta, por sua vez, pode desembocar na depressão. O mundo atual, muito informado e violento, faz de tudo para aumentar nosso medo – basta constatar-se como a violência dá ibope e este dá dinheiro. Portanto, estamos cada vez mais informados, mais inteligentes – e mais medrosos. CARTAS E MENSAGENS A partir da próxima edição do Brasil Central, este espaço vai ser ocupado com os seus textos, caro leitor e cara leitora. Envie sua opinião, crítica ou sugestão e ajude-nos a fazer deste veículo um serviço para a nossa sociedade. Mande seu e-mail para: vicom@arquidiocesedegoiania.org.br Ou escreva para: Vicariato para a Comunicação Praça Dom Emanuel s/n, Centro CEP 74001-970 Goiânia - GO Caixa Postal 174 A rquidiocese de Goiânia Há pessoas cuja estrutura biológica do psiquismo predispõe ao medo e ansiedade exagerados, podendo vir, inclusive, cair na patologia : fobias, ansiedade, estresse, depressão. Por incrível que pareça, para muitos desses, o melhor remédio é a confiança e a noção de que há um Deus e que, portanto, nossa vida não está friamente entregue ao temido acaso. O homem moderno, por causa de sua grande exposição midiática àquela bíblica “má notícia que enfraquece os ossos” (Eclesiastes), e por causa da crônica insegurança e isolamento em que vive nas grandes cidades , necessita mais que nunca de Deus, pois só Ele pode nos oferecer aconchego, coragem, força e segurança para fazermos face ao medo do que está – ou não – por vir. O mal existe e sabemos disto, somos informados – e mesmo bombardeados – a todo momento acerca disso. Tememos que aconteça com os nossos aquilo que vemos na TV – nenhum ser humano pode nos garantir que isto não irá acontecer conosco. Quanto a isso, só podemos buscar em Deus o refúgio – se não contra o mal que pode nos atingir, pelo menos contra o desespero que pode nos envenenar. vicom@arquidiocesedegoiania.org.br Envie sua carta ou mande um e-mail com sugestões e comentários sobre as matérias publicadas! VEJA OS ENDEREÇOS AO LADO Acesse o conteúdo do jornal Brasil Central, com material exclusivo, pela página da Arquidiocese de Goiânia (www.arquidiocesedegoiania.org.br)
Fábio Rodrigues/ABr A rquidiocese de Goiânia Era 11 de janeiro. Gedielson Rodrigues, de 22 anos, filho de um PM, saiu para curtir uma noitada numa boate no Setor Bueno, em Goiânia. Como companhia, três amigos: Jefferson Henrique Silva, Ocilmar Soares Eduardo e Fabiano Alves Néia. Não se pode dizer que estavam bem-intencionados: levavam no carro uma pistola ponto 40. À exceção de Jefferson, todos já tinham pelo menos uma passagem pela polícia. Durante a balada, uma suposta olhada de um jovem de outra turma – Marcondes José da Silva – para a namorada de Fabiano gerou uma briga entre os grupos. No meio da confusão, Gedielson saiu, pegou a pistola no carro e voltou. Atirou várias e várias vezes contra os rivais. Eram mais de 3 horas da madrugada. A noite de diversão se tornava a última de Higor Bruno Borges Esteves, que, aos 23 anos e com uma carreira como farmacêutico pela frente, levou um tiro na cabeça e morreu no local. A tragédia vai ser conhecida durante muito tempo como “o crime da boate Santafé”. Autor dos disparos, Gediel- son, apesar da pouca idade, tem várias anotações na ficha policial. Na Justiça tramitam contra ele três ações: acusação de roubo e corrupção de menor em crime ocorrido em 2005, na cidade de Iporá, a 235 quilômetros de Goiânia; homicídio qualificado, também naquele ano; e tráfico de drogas, em 2008. Por não ter sido condenado por nenhum dos crimes, Gedielson gozava o direito de responder as acusações em liberdade, conforme o Código Penal brasileiro em vigência. E por estar solto, agora também consta em sua ficha o homicídio qualificado que vitimou Higor e que é considerado crime hediondo. Após 24 dias de investigação, o acusado foragido foi capturado pela polícia. Para a família de Higor, a vítima, é tarde demais. O caso de Gedielson é um típico exemplo do quadro em que se encontra a segurança pública: afinal, tendo três acusações graves nas costas, ele deveria estar solto? De acordo com o que preveem as leis brasileiras, sim: ele não foi preso em flagrante, era (e continua sendo) réu primário e com endereço fixo. “A lei prevê que ele poderia responder aos CONJUNTURA SEGURANÇA PÚBLICA Soldados da Força de Segurança Nacional em Luziânia, Goiás: reação à criminalidade sem resultados significativos Um rápido olhar para a segurança pública no Brasil, especialmente em Goiás, mostra o seguinte quadro: são muitos os problemas a enfrentar “ A criminalidade é um problema nacional e o governador tem demonstrado interesse em reduzir a violência com as medidas adotadas para tornar o estado um lugar mais seguro” ERNESTO ROLLER, secretário de Segurança Pública Um sistema em ruínas processos em liberdade”, afirma a delegada que cuida do caso, Adriana Ribeiro. Para ela, a liberdade de indivíduos assim representa uma ameaça à segurança da sociedade, que é obrigada a conviver com indivíduos violentos e de inclinação para o crime. A delegada considera o Código Penal “obsoleto” é o principal gargalo na estrutura jurídicoprisional do País. Hoje os juristas precisam fazer malabarismos para adaptar o Código Penal às especificidades dos crimes de hoje. “A pedofilia, por exemplo, não dispõe de uma tipificação própria”, cita Adriana. “Vergonha” Não é exatamente o que pensa o deputado federal João Campos, que já comandou a Comissão de Segurança Pública na Câmara Federal. Mesmo sem uma reforma do Código Penal, para ele seria possível ter cidades mais tranquilas mesmo com as leis de hoje, caso isso fosse prioridade para o governantes. “Os Estados e a União fingem que investem em segurança. Colocam custeios como se fossem investimento. É uma vergonha”, afirma. Citando como exemplo o Estatuto da Criança e do Adolescente, João Campos critica o fato de o Poder Executivo não implementar o que é aprovado pelos parlamentares. “Há uma distância enorme entre a norma que o Legislativo faz e sua implementação pelos governos.” Mas ele admite que para tudo há de se ter vontade política. É o caso do novo Deputado João Campos: “Os Estados e a União fingem que investem em segurança” Código de Processo Penal. “O projeto ficou engavetado por quatro anos na Comissão de Constituição e Justiça. Com a morte do João Hélio (garoto morto barbaramente ao ser arrastado por ladrões em um carro em movimento), houve sua volta à pauta”, relata. A proposta está dividida em sete anteprojetos, dos quais quatro já foram sancionados pelo presidente Lula. Uma das conseqüências da nova lei? “Com certeza, a morosidade da Justiça vai diminuir”, diz o deputado. Dinheiro Durante o lançamento da etapa estadual da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública, em janeiro, com a presença do ministro da Justiça, Tarso Genro, foi anunciada a liberação de R$ 57 milhões para o setor. Do total, R$ Brasil Central Março de 2009 3 43 milhões vêm do governo federal e R$ 1 milhão como contrapartida do Estado. Na ocasião, o governador Alcides Rodrigues assinou ordens de serviço autorizando a execução de 30 projetos que vão beneficiar Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Superintendência da Polícia Técnico-Científica. O dinheiro deverá ser aplicado na compra de equipamentos, aparelhagens, armamentos e melhorias na estrutura de diversas áreas operacionais de segurança, além da construção de um prédio para abrigar a Academia da Polícia Militar. A iniciativa tem como objetivo melhorar as condições de trabalho de cerca de 20 mil servidores que atuam nesses órgãos, o que vai refletir na qualidade de vida dos cidadãos. “Acriminalidade é um problema nacional e o governador tem demonstrado interesse em reduzir a violência com as medidas adotadas, aumentando o policiamento ostensivo, preventivo e repressivo para tornar o estado um lugar mais seguro e tranquilo para se viver”, ponderou o secretário de Segurança Pública, Ernesto Roller. A permanente referência que as autoridades fazem à situação geral tem se tornado uma constante e ilustre desculpa para justificar a inexistência de medidas efetivas para melhorar o sistema inteiro. A promessa do Secretário de Segurança Pública pode se enquadrar nesse tipo de caso ou pode ser, finalmente, uma esperança. Resta esperar para cobrar.
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