Nas teias da memória : o oficio das rezadeiras e ... - Itaporanga.net
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Em Itabaiana, a origem do ritual <strong>da</strong>s <strong>rezadeiras</strong> é desconheci<strong>da</strong>, caracterizando o<br />
fato folclórico. A tradição remota é passa<strong>da</strong> oralmente de geração para geração,<br />
propiciando não só a perpetualização dos saberes, como também o enriquecimento do<br />
ritual, devido as contínuas trocas culturais. É provável que na socie<strong>da</strong>de itabaianense de<br />
outrora, o deficitário atendimento médico e espiritual, respectivamente por parte dos<br />
médicos e do clero, tenha contribuído de forma decisiva para a disseminação e<br />
legitimação <strong>da</strong>s práticas dos rezadores. Também contribuiu para a propagação do<br />
fenômeno o forte sentimento de religiosi<strong>da</strong>de associado ao vasto imaginário <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de nos períodos colonial e imperial. De uma forma ou de outra o ritual foi<br />
incorporado pela socie<strong>da</strong>de, passando a ser uma necessi<strong>da</strong>de. Com isso, mesmo nos dias<br />
atuais, caracterizados pela suposta e polêmica “socie<strong>da</strong>de seculariza<strong>da</strong>”, as <strong>rezadeiras</strong><br />
permanecem com suas inaudíveis orações, balançando seus ramos, expurgando os males<br />
que tanto atormentam sua fiel clientela. As <strong>rezadeiras</strong> constituem um fenômeno atual,<br />
intrínseco aos nossos dias e que precisa ser mais bem estu<strong>da</strong>do.<br />
Neste artigo temos o propósito de compreender o referido fenômeno no município<br />
de Itabaiana, nos detendo mais especificamente no âmbito rural. Assim buscaremos<br />
fazer uma discussão sobre as relações de poder presentes no universo simbólico que<br />
circun<strong>da</strong> o ritual. A explanação está dividi<strong>da</strong> em quatro momentos. No primeiro,<br />
abor<strong>da</strong>mos sobre “As <strong>rezadeiras</strong> e o seu mundo”, destacando aspectos dos perfis dos<br />
rezadores e de sua clientela, do mesmo modo que descreveremos o espaço físico e o<br />
imaginário que os circun<strong>da</strong>m, ou seja, o mundo <strong>da</strong>s <strong>rezadeiras</strong>.<br />
No segundo momento enfocamos a simbologia do ritual, buscando compreender<br />
os principais elementos simbólicos presentes no ato de rezar, nas orações e nos<br />
mecanismos legitimadores de tais orações. Analisamos no terceiro tópico as <strong>rezadeiras</strong><br />
inseri<strong>da</strong>s no campo religioso em Itabaiana considerando os mecanismos de inclusão e<br />
legitimação no campo, as disputas internas pelo melhor posicionamento e acúmulo de<br />
capital simbólico, quase nunca convertido em capital cultural. Por fim, enfocamos os<br />
elementos de controle presentes no ritual, a casa e o corpo como formas passíveis de<br />
manipulação na micro-física do poder.