MUDANÇAS DIACRÔNICAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

MUDANÇAS DIACRÔNICAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Roberta Correia de Oliveira
Orientadora: Solange Mendes Oliveira
O objetivo específico deste trabalho é investigar o empobrecimento do paradigma verbal, pesquisando
quantitativamente, sob uma perspectiva diacrônica, o emprego do paradigma verbal do pretérito maisque-perfeito
e do futuro do presente, em jornais do século XIX. A pesquisa no momento é bibliográfica e
posteriormente documental. Serão consultados autores, teses e artigos relevantes para o enriquecimento
do trabalho. Os dados serão retirados de jornais escritos durante o século XIX, época em que
presumivelmente ocorreram as mudanças no português do Brasil. O trabalho está sendo construído
através de uma literatura bem fundamentada e com vários autores sobre o mesmo tema. Isso mostra
como as mudanças diacrônicas do Português Brasileiro atraem diversos estudiosos. Pesquisar essas
mudanças contribui não só para entendermos as variações que a nossa língua sofreu, desde seu
“descobrimento” até os dias atuais, mas também para investigarmos o porquê de determinadas
mudanças na oralidade, com conseqüências na escrita, para esclarecermos o abismo vivido na educação
da população brasileira atual. Os estudos têm proporcionado uma visão rica e abrangente sobre a
formação linguística brasileira, pois a cada busca bibliográfica, conhecimentos são expandidos, através
de um tema rico e amplo. Segundo Mattos e Silva (2004), o português brasileiro culto só começa a
definir-se da segunda metade do século XVIII para cá. O acontecimento histórico que favoreceu sua
aprendizagem foi decorrente da política geral e da política lingüística pombalinas, que definem que a
partir de então, a língua portuguesa passaria a ser a língua oficial da colônia brasileira e inicia-se o
incentivo a seu ensino, já que essa variante culta passa necessariamente por questões relativas à
escolarização, ao seu uso escrito e sua normativização. Para Bearzoti Filho (2002, p.58), a realidade
lingüística brasileira se formou sob a égide da diglossia, ou seja, da contradição entre o português de
cunho conservador da pequena elite colonial e as mesclas lingüísticas ou o português crioulo da maioria
populacional. Desde a época da colonização, o Brasil passou por diversos processos que influenciaram
na origem do português falado atualmente. Para Mattos e Silva (2004), o português brasileiro não é
apenas heterogêneo e variável, mas também plural e polarizado. Essa complexidade só pode ser
compreendida através de um estudo diacrônico, ou seja, do nosso passado lingüístico. Para Mattos e
Silva (2004), os portugueses e sua língua chegaram ao Brasil em 1500 e continuaram a vir por todo o
período colonial. Nesse longo tempo histórico, o português continuou seus processos de mudanças
lingüísticas, próprio às línguas históricas em uso por uma sociedade, necessariamente condicionados
por fatores lingüísticos e sócio-históricos. A primeira política lingüística implícita implantada na colônia
foi a dos jesuítas, que chegaram aqui em 1.549, com o 1º Governador-geral, que foi a de aprender e
gramaticalizar a língua mais usada na costa do Brasil. Os jesuítas tinham como princípio de catequese
usar as línguas da terra a que chegavam. Sobre a multiplicidade das línguas indígenas no Brasil, tudo
indica que foi a versão jesuítica da língua brasílica um veículo fundamental como instrumento na interação
lingüística entre os portugueses, que aqui chegavam para a colonização, e os indígenas predominantemente
do tronco lingüístico tupi. A língua da colonização dos interiores brasileiros utilizada pelos bandeirantes
que partiam de São Paulo era chamada de língua geral, transmitida pela oralidade, sem controle de
escolarização sistemática e em situação de aquisição imperfeita, pois muitos indivíduos precisavam ser
bilíngües (português/língua geral) ou multilingües (português /língua geral / línguas indígenas e/ou
africanas). O que recobre o significante língua geral, na documentação do passado colonial brasileiro,
ainda precisa de minuciosa e precisa investigação. Segundo Mattos e Silva (2004), em função da cruel
realidade sócio-histórica em que os índios brasileiros foram dizimados, não foram eles os difusores do
português geral brasileiro, mas os escravos e os afro-descendentes da população colonial, que em nova
terra e em contato com novas línguas, precisaram se comunicar e provavelmente utilizaram a língua do
colonizador. Desde a época da colonização, a língua portuguesa, na sua variante brasileira,
predominantemente nas variantes populares e vernáculas, mas não apenas nelas, deve as suas
características inovadoras tanto no plano sintático como fônico, à forma como foi aprendida pela massa

populacional predominante ao longo do período colonial: como segunda língua. Desde então, o
português brasileiro sofre mudanças, pois a lingua é viva e se molda às necessidades de uma época.
Dentre tantas mudanças, o empobrecimento do paradigma verbal através do abandono progressivo das
suas formas pelas perífrases verbais, faz parte do cotidiano da população atual. No século XIX, por
exemplo, predominavam as formas verbais simples de verbos no pretérito mais-que-perfeito (comera) e
verbos no futuro do presente (comerei), constatadas por meio dos jornais da época. Essas formas foram
substituídas pelas formas compostas (tinha comido) e (vou comer), respectivamente. Investigar o
progressivo abandono desses tempos verbais é entender como a construção da nossa história influenciou
na nossa maneira de falar, e porque insistimos, mesmo sem nos darmos conta, no empobrecimento da
nossa língua materna como um todo. A língua sofreu alterações sonoras e gramaticais, que transformaram
sua morfologia e a sintaxe. A elite e o povo português, que aqui aportaram e se instalaram, geraram uma
heterogeneidade regional e social, em que o português europeu continuou seus processos de mudanças
lingüísticas, próprios às línguas históricas em uso por uma sociedade. Após a posse epistolar e simbólica
da terra, aqui ficaram ou foram sendo deixados portugueses, que foram chamados de “os línguas”, que
entendiam e falavam as línguas em confronto para fins práticos, através de contatos interétnicos (Houaiss
1992, p.51). Para Ilari (2007, p.60), a população estimada nativa no Brasil, antes do descobrimento, era
de seis milhões de indígenas. Os portugueses precisaram aprender e usar essas línguas por questões
de sobrevivência e para impor seu domínio aos nativos. Os contatos entre portugueses e índios tupis do
litoral ocorreram já nos primeiros anos após o descobrimento. Inicialmente foram através de contatos
mímicos e, acaso interjetivos. Conforme Naro (2007, p.28), pode-se atestar no Brasil documentação da
existência de duas línguas gerais de base indígena: a língua geral paulista e a amazônica, que em
momentos distintos serviram de contacto entre europeus e mestiços com outros povos indígenas. Sobre
a multiplicidade das línguas indígenas no Brasil, tudo indica que foi a versão jesuítica da língua brasílica
um veículo fundamental como instrumento na interação lingüística entre os portugueses, que aqui
chegavam para a colonização, e os indígenas predominantemente do tronco lingüístico tupi. O termo
língua geral designa línguas indígenas amplamente difundidas em um determinado território, funcionando
como meio de contato entre os povos de origem não somente indígena. A língua geral de base tupi era
empregada pela população envolvida no processo colonial de forma ampla. Em função da cruel realidade
sócio-histórica em que os índios brasileiros foram dizimados, não foram eles os difusores do português
geral brasileiro, mas os escravos e os afro-descendentes brasileiros da população colonial, que em nova
terra e em contato com novas línguas, precisaram se comunicar. Provavelmente utilizaram a língua do
colonizador. O contato entre os portugueses e africanos resultou num sistema de comunicação
inicialmente precário, baseado em gestos para finalidades comerciais. Esse sistema utilizava a fusão
das línguas de contato e recebeu o nome de línguas pidgins, as quais, para Bearzoti Filho (2002, p.46),
são sistemas de mesclas linguísticas que apresentam grande alteração fonológica e simplificação
gramatical em relação às línguas de que se originaram. Sua funcionalidade é restrita a poucos e a
determinados contextos sociais. Se o uso da língua pidgin vai além das relações comerciais, tornandose
cotidiana, e tornando-se, por conseqüência, a língua materna de uma nova geração de crianças, não
se trata mais de uma “língua de emergência”, mas de uma língua adquirida através de um processo de
aquisição, como de outra qualquer - nesse momento a língua pidgin se torna uma língua crioula. Os
quilombos, embora os estudos não falem da “língua” como gostaríamos, em termos lingüísticos,
contribuíram na formação do português geral brasileiro. Seriam laboratórios de formação. Para Mattos e
Silva (2004, p.105), nesses espaços ilegítimos, que além de escravos se agrupavam índios e fugitivos de
qualquer etnia, inclusive portugueses e luso-descendentes, circulavam configurações lingüísticas
diversas. Para Bearzoti Filho (2002, p. 50), a ideia tradicional de que os escravos foram separados nos
portos brasileiros, ou nos africanos, sem vínculos familiares e religiosos, sustenta a tese de que eles
adotaram cedo o tupi ou o português como língua prática de comunicação. Apesar da riqueza das
fontes disponíveis a respeito da fala dos índios e dos brancos, para Naro e Scherre (2007, p.28), é
escassa qualquer evidência documentária específica quanto ao português ou outras línguas faladas
pelos africanos no Brasil.
Palavras-chave: mudança lingüística; tempos verbais; futuro do presente; pretérito mais-que-perfeito.