A NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA E A HERANÇA DOS ... - Unicamp
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E4 CORREIO POPULAR<br />
Campinas, sábado, 14 de abril de 2012<br />
CRIANÇA<br />
EduardoGregori<br />
DA AGÊNCIA ANHANGUERA<br />
gregori@rac.com.br<br />
Quem vive em Campinas já<br />
passou, pelo menos uma vez<br />
na vida, pela Estrada do Diabo<br />
Velho — aquela que liga<br />
São Paulo ao interior Paulista.<br />
Não sabe onde é? Tudo bem,<br />
mas a Rua Barão da Onça,<br />
bem no Centro da cidade todo<br />
mundo sabe onde fica.<br />
Não? E Avenida das Ilhas Férteis,<br />
ali onde se toma o ônibus<br />
para Viracopos e aeroportos<br />
de São Paulo. Essa sim, é<br />
bem conhecida. Também<br />
não? Será que estamos falando<br />
de Campinas mesmo?<br />
A influência do<br />
Tupi e do Guarani<br />
na vida atual<br />
Sim, estamos falando de<br />
uma rodovia, rua e avenida<br />
que todos nós, pelo menos<br />
já ouvimos falar,<br />
a única diferença<br />
é que<br />
traduzimos<br />
os nomes<br />
que foram<br />
dados a<br />
elas. O significado<br />
de Diabo<br />
Velho é<br />
Anhanguera,enquanto<br />
Onça<br />
quer dizerJaguara<br />
e Ilhas<br />
Férteis é<br />
Aquidabã.<br />
Estas<br />
palavras<br />
seriam das<br />
línguas inglesa,espanhola<br />
ou italiana?<br />
Nada disso,<br />
trata-se<br />
do Tupi e<br />
do Guarani,conjunto<br />
de línguasutili-<br />
/ 19 DE ABRIL / Cultu<br />
A <strong>NOSSA</strong> <strong>LÍNGUA</strong> PO<br />
E A <strong>HERANÇA</strong> DO<br />
O professor da<br />
<strong>Unicamp</strong> Wilmar da<br />
Rocha d’Angelis<br />
ensina as origens de<br />
algumas palavras<br />
NOMES MAIS CONHECI<strong>DOS</strong><br />
FRUTAS<br />
Abacaxi, açaí, jabuticaba, caju,<br />
maracujá<br />
ANIMAIS<br />
Arara, jacaré, jabuti,<br />
jararaca, jiboia, tamanduá,<br />
piranha, tucano, sagui,<br />
urubu<br />
zadas no Brasil e parte da<br />
América do Sul pelos índios<br />
que viviam aqui antes mes-<br />
CIDADES E ESTA<strong>DOS</strong><br />
Araxá, Curitiba, Ibitinga, Iguaçu,<br />
Indaiá, Itajubá, Itatiba, Itaúna,<br />
Jundiaí, Macapá, Marajó, Paraná,<br />
Pará, Paraíba, Paraty,<br />
Pernambuco, Piauí, Piracicaba<br />
OUTROS<br />
Canoa, mandioca, mingau, pirarucu<br />
mo dos portugueses e espanhóis<br />
descobrirem o continente<br />
em que vivemos e<br />
Elcio Alves/AAN<br />
que permanecem vivas até<br />
hoje como herança cultural<br />
dos povos indígenas.<br />
Mas por que estamos falando<br />
de idiomas e de índios?<br />
Porque na quinta-feira,<br />
dia 19, é comemorado<br />
no Brasil o Dia do Índio e a<br />
língua indígena tem uma<br />
grande importância no português<br />
falado e escrito no<br />
Brasil e que inclusive nos<br />
distancia do português dos<br />
nossos colonizadores, o português<br />
de Portugal.<br />
História<br />
Muito anos antes de 22 de<br />
abril de 1.500, data em que
ura<br />
RTUGUESA<br />
S ÍNDIOS<br />
Pedro Álvares Cabral chegou<br />
ao Brasil com suas caravelas,<br />
os idiomas dos índios<br />
eram os únicos falados por<br />
aqui, assim como hoje o<br />
português é a língua oficial<br />
do Brasil. E esses idiomas<br />
eram tão importantes que<br />
os portugueses perceberam<br />
que só dominariam os índios<br />
aprendendo a língua<br />
deles. "Naquele época não<br />
havia como impor o português<br />
porque os nossos colonizadores<br />
eram poucos<br />
em relação aos índios.<br />
Eles viram que os índios<br />
que viviam em<br />
boa parte da costa<br />
brasileira, do Maranhão<br />
a Santa Catarina,<br />
falavam línguas<br />
parecidas e<br />
que se quisessem<br />
se entender<br />
com eles teriam<br />
de aprender o<br />
idioma", explica<br />
Wilmar da Rocha<br />
D'Angelis,<br />
professor do Departamento<br />
de<br />
Linguística da<br />
Universidade Estadual<br />
de Campinas<br />
(<strong>Unicamp</strong>).<br />
A importância do<br />
Tupi e Guarani e de<br />
outras línguas indígenas<br />
fez, inclusive que<br />
as missas católicas<br />
não fossem rezadas<br />
em Latim, como era<br />
feito em todo o<br />
mundo. Por aqui<br />
os padres rezavam<br />
em Tupi e a missão<br />
de transformar<br />
índios em ca-<br />
tólicos (catequização) também<br />
era feita na língua dos<br />
índios. E o idioma Tupi perdurou<br />
como o mais importante<br />
muito tempo depois.<br />
Os responsáveis por espalhar<br />
o idioma dos índios pelo<br />
País foram, em grande<br />
parte, os Bandeirantes. No<br />
século 16, estes desbravadores<br />
paulistas — portugueses,<br />
índios e filhos de índios<br />
com brancos —, abriram<br />
caminhos pelo sertões<br />
em busca de riquezas. Nesta<br />
época, de acordo com<br />
o professor Wilmar,<br />
nem mesmo os filhos<br />
de portugueses nascidos<br />
no Brasil falavam<br />
português. A única<br />
maneira de se comunicar<br />
era o Tupi.<br />
E a língua não<br />
era falada apenas<br />
no interior ou no<br />
litoral, nos domínios<br />
das tribos, a<br />
essa altura o Tupi<br />
havia chegado às<br />
cidades, pequenas<br />
e grandes. "Há registros<br />
históricos<br />
que mostram que<br />
até no século 18, o<br />
Tupi era falado na<br />
cidade de São Paulo.<br />
Em outro documento,<br />
um bispo de Itu<br />
pede que a Igreja Católica<br />
envie um padre<br />
que fale Tupi para<br />
que a população<br />
possa acompanhar e<br />
entender a missa. E a<br />
população era de<br />
brancos e não de índios",<br />
conta o professor.<br />
CRIANÇA<br />
Palavras indígenas estão<br />
no nosso vocabulário<br />
Mais de 500 anos se<br />
passaram desde a<br />
descoberta do<br />
Brasil e a língua indígena<br />
permanece presente no<br />
nosso cotidiano. Alguém<br />
acredita que "cutucar",<br />
ação tão comum no<br />
Facebook é uma<br />
palavra Tupi? A<br />
marca que os índios<br />
deixaram em nosso<br />
idioma é tão forte<br />
que a língua é<br />
praticamente a<br />
responsável pelas<br />
diferenças do<br />
português<br />
escrito e falado<br />
aqui do<br />
português de<br />
Portugal e de outras<br />
colônias no mundo.<br />
Foi o idioma<br />
indígena que<br />
predominou quando<br />
os europeus tiveram<br />
que dar nomes a uma<br />
infinidade de animais,<br />
plantas e comidas que<br />
só existiam no nosso<br />
continente. "Não havia<br />
nome em português de<br />
Portugal por exemplo<br />
para tatu. Para não<br />
inventar uma nova<br />
palavra, os<br />
CORREIO POPULAR<br />
Campinas, sábado, 14 de abril de 2012<br />
E5<br />
portugueses resolveram<br />
adotar a que já existia em<br />
Tupi", explica o professor.<br />
Hoje, além de formar a<br />
língua portuguesa do<br />
Brasil, os índios dão nomes<br />
a ruas, avenidas,<br />
monumentos, cidades e<br />
até estados, como o<br />
Amapá, que é uma<br />
árvore cujo látex que<br />
corre em seu<br />
interior, tem<br />
propriedades<br />
medicinais.<br />
Mas não é<br />
preciso ir longe<br />
para encontrar<br />
cidades com nomes<br />
indígenas, como<br />
Piracicaba, que em<br />
Tupi quer dizer: "o<br />
lugar onde o peixe<br />
chega". Na região de<br />
Campinas, outra<br />
cidade também foi<br />
fundada com nome<br />
Tupi: Itatiba, que<br />
significa<br />
"ajuntamento de<br />
pedras". Em<br />
Campinas, até<br />
um dos times de<br />
futebol leva<br />
nome de uma<br />
tribo: o Guarani.<br />
(EG/AAN)