Urgências metabólicas no paciente oncológico - Revista Onco
Urgências metabólicas no paciente oncológico - Revista Onco
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O terceiro tipo está relacionado ao aumento da produção de 1,25dihidroxivitamina<br />
D (calcitriol). Essa é a causa de quase todos os casos<br />
de hipercalcemia em linfoma de Hodgkin e aproximadamente um<br />
terço dos casos de linfoma não-Hodgkin. Também tem sido descrita<br />
em <strong>paciente</strong>s com disgermi<strong>no</strong>ma de ovário. Em indivíduos <strong>no</strong>rmais, a<br />
conversão de 25-hidroxivitamina D (calcidiol) em 1,25-dihidroxivitamina<br />
D (calcitriol, o metabólito mais ativo da vitamina D) ocorre<br />
através de uma 1-hidroxilase <strong>no</strong> rim que está sob o controle fisiológico<br />
do hormônio da paratireoide (PTH). A alta concentração sérica de fosfato<br />
pode alterar esse controle. A hipercalcemia deve suprimir a libe -<br />
ração de PTH e, portanto, a produção de 1,25-dihidroxivitamina D<br />
(1,25 D). O aumento da absorção de cálcio <strong>no</strong> intesti<strong>no</strong> induzida pela<br />
alta concentração sérica de 1,25 D é a a<strong>no</strong>rmalidade primária.<br />
O quarto tipo está associado à produção ectópica de PTH (e não<br />
PTH-rp). É uma condição rara, havendo poucos casos descritos na li -<br />
teratura. Alguns tumores como rabdomiossarcoma metastático, carci<strong>no</strong>ma<br />
papilífero de tireoide e carci<strong>no</strong>ma de pulmão podem ocasionar<br />
hipercalcemia em virtude dessa produção ectópica.<br />
Quadro clínico<br />
Dependendo da severidade e da rapidez de instalação, os <strong>paciente</strong>s<br />
com hipercalcemia podem apresentar graus variados de sinais e sintomas.<br />
Os sintomas da hipercalcemia incluem a<strong>no</strong>rexia, náusea,<br />
vômito, constipação e poliúria. Os sintomas relacionados ao sistema<br />
nervoso central predominam, tais como progressivo declínio da capacidade<br />
cognitiva, estupor e coma. As alterações na função renal (incapacidade<br />
de concentrar a urina, acarretando poliúria) e <strong>no</strong> trato<br />
gastrointestinal (a<strong>no</strong>rexia, náuseas e vômitos) corroboram para a<br />
desidratação e agravam a hipercalcemia.<br />
Alterações <strong>no</strong> aparelho cardiovascular, como hipertensão, bradicardia,<br />
encurtamento do intervalo QT, bloqueio AV, assim como<br />
fraqueza muscular, dores ósseas e artralgias, fazem parte do quadro.<br />
Em geral, as complicações neurológicas e renais são proporcionais ao<br />
grau da hipercalcemia.<br />
Diagnóstico<br />
O diagnóstico da hipercalcemia é geralmente feito através da<br />
dosagem do cálcio sérico total. Porém, esse método pode sofrer interferências<br />
que levam ao diagnóstico de resultados falso-positivos e<br />
negativos. Na presença de hipoalbuminemia, podemos ter níveis falsamente<br />
baixos, e o valor do cálcio deve ser corrigido. Por outro lado,<br />
alguns raros mielomas múltiplos produzem imu<strong>no</strong>globulinas ligadoras<br />
de cálcio, e teremos cálcio total superestimado. Assim, em alguns<br />
casos seria me lhor considerar o cálcio ionizado. Adota-se, atualmente,<br />
que a elevação de cálcio até 12 mg/dl corresponde a uma al-<br />
teração leve, cuja avaliação deve ser feita em ambulatório. Níveis de<br />
cálcio plasmático entre 12-14 mg/dl configuram uma elevação mo -<br />
derada de cálcio, e acima de 14 mg/dl correspondem a hipercalcemia<br />
grave, que se associa a um quadro amplo de manifestações clínicas.<br />
Essa situação configura, em geral, uma urgência médica, e o seu<br />
pronto reconhecimento e tratamento implicam em redução acentua -<br />
da de morbimortalidade.<br />
A dosagem de PTH-rP circulante só é necessária quando a origem<br />
da hipercalcemia não pode ser definida com base <strong>no</strong>s exames clínicos.<br />
Da mesma forma, a dosagem de 1,25 dihidroxivitamina D terá valor<br />
na presença de linfomas e outros raros tumores que produzem essa vitamina.<br />
A radiografia do esqueleto é muito útil <strong>no</strong>s casos de mieloma,<br />
enquanto a cintigrafia óssea auxiliará na identificação das metástases<br />
<strong>no</strong>s demais tumores.<br />
Deve-se suspeitar de hipercalcemia humoral em qualquer <strong>paciente</strong><br />
com um tumor sólido na ausência de metástases ósseas. E também em<br />
<strong>paciente</strong>s com hipercalcemia de outra forma inexplicável, que apresentam<br />
uma concentração baixa de PTH <strong>no</strong> soro. Níveis de PTH ina -<br />
propriadamente <strong>no</strong>rmais/altos em um <strong>paciente</strong> que sabidamente tem<br />
câncer <strong>no</strong>s remetem à pesquisa de hiperparatireoidismo primário ou<br />
a mais um raro caso em que o PTH é produzido pela neoplasia.<br />
O diagnóstico de hipercalcemia humoral maligna (HHM) pode ser<br />
confirmado ao se demonstrar uma alta concentração sérica de PTHrP.<br />
Essa alta concentração está presente na maioria dos <strong>paciente</strong>s com tumores<br />
sólidos hipercalcêmicos. As concentrações séricas de PTHrP são<br />
baixas (indetectável na maioria dos ensaios) em <strong>paciente</strong>s com hiperparatiroidismo<br />
primário e em indivíduos <strong>no</strong>rmais.<br />
Além de sua importância diagnóstica, os níveis séricos de PTHrP<br />
em <strong>paciente</strong>s com hipercalcemia induzida por tumor podem fornecer<br />
informações sobre o prognóstico. Pacientes com hipercalcemia induzida<br />
por PTHrP relacionados ao câncer <strong>no</strong>rmalmente têm doença<br />
avançada e um mau prognóstico.<br />
Tratamento<br />
O tratamento definitivo da hipercalcemia em <strong>paciente</strong>s com neoplasia<br />
requer o tratamento da doença de base e deve ser instituído logo que<br />
possível. Além disso, é necessária a correção da desidratação e dos distúrbios<br />
metabólicos. O tratamento baseia-se em:<br />
1. Medidas gerais: Remover o cálcio da alimentação parenteral,<br />
interromper medicamentos que contribuem para a hipercalcemia (suplementação<br />
de cálcio e vitamina D, lítio, tiazídicos), além de reduzir<br />
sedativos para melhorar o nível de consciência e favorecer a deambulação,<br />
sempre que possível.<br />
2. Hidratação: Os <strong>paciente</strong>s habitualmente encontram-se<br />
desidratados, pela me<strong>no</strong>r ingestão de alimentos e fluidos causada por<br />
<strong>Onco</strong>& outubro/<strong>no</strong>vembro 2011 45